segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Os cemitérios do Lugar da Barra

Vila de Manáos, 1847. Fonte: MARCOY, Paul. Voyage à travers l'Amérique du Sud, de l'Océan Pacifique à L'Océan Atlantique. Paris: Librairie de L. Hachette etc Co, 1869.

Os colonizadores, ao se estabelecerem no território brasileiro, introduziram instituições e práticas milenares de origem Medieval que passaram a ditar o cotidiano da população. A Igreja Católica, primeira delas, fundamental no processo de invasão e conquista, destribalizando os povos nativos, cuidava de seus fiéis em vida e na morte, acolhendo seus corpos.

Os enterros eram realizados dentro das Igrejas Católicas e em seus largos, tipo de sepultamento conhecido como "ad sanctos apud ecclesiam": dentro da igreja e perto dos santos e mártires. Acreditava-se que a proximidade com as relíquias sagradas garantia a salvação da alma, sendo também uma questão de status, pois apenas os mais ricos podiam pagar por uma sepultura próxima do altar.

No Lugar da Barra (Manaus), essa prática era corrente desde o final do século XVII, quando foi construída pelos carmelitas a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. No século XIX, verifica-se a construção de um novo templo, a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, que também passou a receber os sepultamentos do povoado. Os conquistadores, em uma clara demonstração de poder e domínio simbólico, construíram seus templos e campos santos sobre antigos cemitérios indígenas.

As novas sensibilidades visuais e olfativas da segunda metade do século XIX descreveram os enterros nesses locais como espetáculos aterradores, onde misturavam-se lama, carne e ossos. Nos largos da Matriz e dos Remédios os cadáveres eram enterrados em covas rasas, com braços e pernas muitas vezes ficando expostos, sendo profanados por cães, porcos e onças.

Os enterros nas igrejas e em seus largos foram proibidos pelo governo da província em 1854, ano em que foi aberto, em caráter provisório, o primeiro cemitério público de Manaus, conhecido como Cemitério dos Remédios ou Cemitério da Cruz. Nada restou dos cemitérios do Lugar da Barra. O do Largo da Matriz foi transformado na Praça IX de Novembro, atualmente convertida em estacionamento. O dos Remédios corresponde atualmente às ruas dos Andradas e Leovigildo Coelho, onde ficava seu cruzeiro.

Bibliografia consultada:

PEDROSA, Fábio Augusto de Carvalho. Laborum Meta: Sociedade e Arte nos Cemitérios de Manaus (1860-1930). Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2024.

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