segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

A invasão de gafanhotos em Manaus (1917)

"Guerra aos gafanhotos". Fonte: Jornal do Commercio, maio de 1917.

Entre maio e novembro de 1917 Manaus foi invadida por gafanhotos, que deixaram um rastro de destruição por onde passaram. Tudo começou quando nuvens do inseto foram identificadas nas colônias agrícolas Campos Salles, João Alfredo e Oliveira Machado, localizadas nos arredores da cidade. Em pouco tempo, eles chegaram à área urbana. De início, não provocaram maiores transtornos, servindo de alimento para as criações de galinhas. No entanto, rapidamente começaram a destruir plantações, pomares, hortas, jardins e prejudicar a circulação dos bondes elétricos, sendo registrados, por conta do esmagamento dos insetos nos trilhos, descarrilhamentos e acidentes.

O governador da época, Pedro de Alcântara Bacellar, determinou que fossem pagos 5000 réis por quilo de gafanhotos capturados, com o Tesouro do Amazonas sendo autorizado a liberar 100 contos de réis para custear os pagamentos. Em uma época de acentuada crise econômica, a captura do animal tornou-se uma lucrativa fonte de renda. Em um único dia, de acordo com o Jornal do Commercio, foram incineradas quase 3 mil toneladas do inseto. Todos os dias, centenas de pessoas iam à Secretaria do Estado com sacos e mais sacos contendo milhares de gafanhotos.

O memorialista Mavignier de Castro relata que algumas famílias chegaram a ganhar 300 mil réis por dia. Para não onerar ainda mais o tesouro, o valor por quilo foi reduzido a 3000 réis. Apesar dos esforços, os ovos postos em junho começaram a eclodir no início de julho, elevando o número de insetos. Novenas foram organizadas pelo fim da praga, digna do Egito Antigo. A invasão foi tão marcante que chegou a inspirar a realização de espetáculos, como a aclamada peça cômica A Praga dos Gafanhotos, encenada por Grijalva Antony, Gaspar Coelho e Américo Antony no Cine Polytheama. A invasão teve fim com as chuvas de novembro, que impediram a eclosão de novos ovos.

Fontes:

Jornal do Commercio, maio-novembro de 1917.

Bibliografia consultada:

CASTRO, Mavignier de. Gafanhotos e “Lacerdinhas”. Jornal do Commercio, 23/04/1963.