segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Os nomes de Manaus

Manaus em 1865. Aquarela de Jacques Burkhardt. FONTE: Harvard Library.

Manaus surge ao redor da Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro, construída na segunda metade do século XVII, como um modesto povoado formado pelas tribos indígenas dos barés, aruaquis, manaus, tacu, passé, baníua, tarumã, muras, merequenas, juris e alguns soldados portugueses. O local foi denominado Lugar da Barra. Permaneceu em relativo abandono por mais de um século, com uma população rarefeita e sem infraestrutura. A fortaleza desempenhava suas funções defensivas contra espanhóis, ingleses, franceses e holandeses, que, assim como os portugueses, tinham grande interesse no comércio das drogas do sertão.

Em 1755 é criada a Capitania de São José do Rio Negro – embrião político geográfico do atual Estado do Amazonas – subordinada à do Grão-Pará. Instalada em 1758, teve como primeira capital a antiga Aldeia de Mariuá, transformada em Vila de Barcelos. No final do século XVIII, Manuel da Gama Lobo d’Almada, Governador da Capitania de São José do Rio Negro, considerou a posição geográfica do Lugar da Barra, entre os rios Negro e Solimões, como bastante favorável à defesa contra invasões estrangeiras e às rotas de comércio naquela região. Decide, então, transformá-lo em capital, transferindo-a de Barcelos em 1791. A Barra, agora capital, recebeu uma série de melhorias, como a construção de fábricas, engenhos, cordoarias, padaria, olarias, poço e outros estabelecimentos.

O lugar desfrutou de certo prestígio até 1799, quando, por ordem do Governador do Grão-Pará, a capital retornou para Barcelos. Em 1804 o novo Governador do Grão-Pará, D. Marcos de Noronha e Brito, Conde dos Arcos, reavaliou a administração de Lobo d’Almada e sugeriu ao Governador da Capitania de São José do Rio Negro, José Simões de Carvalho, a mudar novamente a capital para o Lugar da Barra. A transferência, porém, explica o historiador Arthur Cézar Ferreira Reis, só se concretizou quatro anos mais tarde: “Só, porem, em 1808, já sob o governador capitão de mar e guerra José Joaquim Victorio da Costa, a suggestão era acceita, deixando-se em definitivo Barcellos e reinstalando-se a capital na Barra, aos 29 de março” (REIS, 1934, p. 56).

Mais de vinte anos depois, em 1833, o Lugar da Barra foi elevado à categoria de Vila com o nome de Manáos (Manaus). Isso só foi possível graças ao Código do Processo Criminal, promulgado pela Regência em 1832, que reorganizou os termos e comarcas das Províncias. A Província do Grão-Pará o executou em 25 de junho de 1833, ocasião em que a Província foi dividida nas comarcas do Grão-Pará, Baixo Amazonas e Alto Amazonas: “O Logar da Barra do Rio Negro fica erecto em villa com a denominação de Manáos, servindo de cabeça de termo, em o qual se comprehende a mesma villa e a de Silves, que perde o predicamento de villa e a denominação de Silves, sendo substituída pela de Saracá; e bem assim as Freguezias de Aturiá e Amatary (supprimindo o título que cada uma tinha de Missão) e de Jaú, que era denominada Ayrão, com os seus limites actuaes” (REIS, 1934, p. 69-70).

A cidade de Manaus conservaria esse nome por 15 anos. A Assembleia Provincial do Grão-Pará, após estudos, decidiu que a então Vila de Manaus, capital da Comarca do Alto Amazonas, já possuía as devidas condições de ser elevada à categoria de cidade. A população era estimada entre 3000 e 6000 habitantes, existia uma pequena lavoura, comércio de matérias-primas e manufatura de produtos como a tartaruga, o pirarucu e a mandioca. A elevação foi levada a efeito através da Lei N° 145 de 24 de outubro de 1848. A Vila de Manaus passou a se chamar Cidade de Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro, homenageando a geografia da região e a padroeira do Amazonas.

Assim se chamou a cidade até 1856. O historiador Robério dos Santos Pereira Braga registra que em 21 de agosto de 1856 o Deputado Provincial João Inácio Rodrigues do Carmo apresentou à Assembleia um projeto mudando o nome da Cidade de Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro para Manáos (Manaus). Após longos debates e sendo aprovado, o projeto deu origem à Lei N° 68 de 04 de setembro de 1856, oficializando a mudança do nome (BRAGA, 1993, p. 40). Uma publicação de 06 de setembro de 1856 do jornal Estrella do Amazonas informa que “Manáos foi o nome de uma antiga e poderosa tribu, que habitava o lugar onde está hoje assentada a cidade. Manáos é também o nome do igarapé que a embelleza pelo lado oriental, e o de um regato que abastece de água potavel”. A lei, conforme esse periódico, foi instituída no dia 05 de Setembro, data em que foi criada a Província do Amazonas em 1850. A população comemorou com júbilo o novo nome, soltando nas ruas e praças, durante o dia e a noite, fogos de artifício. Ao fim da matéria, o autor informa que “A mudança do nome da capital foi geralmente applaudida. Todos achão o nome de Manáos mais nosso e mais significativo” (ESTRELLA DO AMAZONAS, 06/09/1856).

Como se escreveu o nome da cidade? Em documentos, jornais, livros, revistas, placas, cartas e cartões-postais de 1856 a 1940 encontramos o nome sendo escrito como Manáos, Manáus e Manaus. A grafia Manáos, com acentuação tônica no ‘a’, foi a forma mais difundida. Pelo Decreto N° 117, publicado no Diário Oficial do Estado do Amazonas, de 17 de março de 1937, a grafia Manaus foi oficialmente estabelecida. O Diário Oficial do Estado corrigiu seu cabeçalho em 1939 (BRAGA, 2007). A Reforma Ortográfica de 1943, que excluiu os étimos latinos e gregos ch, th, ph, xh, mm, nn e os por us, a grafia Manaus se consolidou (PEDROSA, 2018).


FONTES:

Estrella do Amazonas, 06/09/1856.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRAGA, Robério dos Santos Pereira. Da cidade da Barra do Rio Negro e de Manaus. Jornal do Commercio, 24/10/1993, p. 40-40.

BRAGA, Robério dos Santos Pereira. O nome "Manaus". Blog do Rocha, 21/02/2007.

PEDROSA, Fábio Augusto de Carvalho. Manaós, Manáos e Manaus: Como se escreveu o nome da cidade ao longo do tempo. Blog História Inteligente, 19/10/2018. Disponível em: https://historiainte.blogspot.com/2018/10/manaos-manaos-e-manaus-como-se-escreveu.html.Acesso em 24/10/2022.

REIS, Arthur Cézar Ferreira. Manáos e outras Villas. Manáos: Typografia Phênix, 1934. Biblioteca Arthur Reis – CCPA.

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