Bruno
Miranda Braga nasceu em Manaus, Amazonas. Historiador e geógrafo,
tem graduação em História pelo Centro Universitário do Norte
(Uninorte) e Geografia pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA),
com especializações em Gestão e Produção Cultural pela UEA e
Estudos Amazônicos pela Universidade de Brasília (UnB), mestrado em
História pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e doutorado em
História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP). Foi professor substituto na graduação em História da
UFAM e pesquisador no Museu de Arte de São Paulo Assis
Chateaubriand, o MASP, no Projeto MASP Pesquisa. Atualmente é membro
do Núcleo de Estudos em História Social da Cidade – NEHSC, da
PUC-SP, e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA),
ocupando a cadeira n° 38, cujo patrono é o etnólogo alemão Karl
von den Steinen.
Primeiramente,
muito obrigado por ter aceitado o convite para conceder essa
entrevista, que faz parte de um projeto de conversas com
historiadores amazonenses. Para iniciarmos, que tal você falar um
pouco sobre sua origem e família?
Eu
que agradeço o convite, Fábio. Então, eu sou manauara, filho de
uma parintinense (por isso meu amor pelo Caprichoso, risos) e um
manauara. Bem, minha mãe Sônia Miranda é professora de educação
básica, foi por anos alfabetizadora e mais tarde graduou-se em
Letras Língua e Literaturas Portuguesa e Espanhola. Hoje não exerce
mais o magistério. Já meu pai, Valmir Braga, é funcionário
público aposentado, foi industriário boa parte da vida, depois foi
funcionário público do estado até se aposentar. Eu sou o filho
caçula dos dois. Desde cedo quis ser professor, demorei a decidir as
áreas da Licenciatura que queria, mas durante meus tempos de Ensino
Médio, cursado no IEA, a opção pela História e pela Geografia se
confirmou. Sempre friso que não era História ou Geografia, porém
História e Geografia, e assim o fiz!
A
escolha das carreiras de docente e pesquisador foi uma influência
familiar, já que sua mãe foi professora?
É
inegável que a escolha pelo magistério teve sim profunda ligação
com mamãe que é professora. Reitero que desde muito cedo, ainda
criança, escolhi o magistério como mister, motivado por minha mãe.
Já a questão da pesquisa foi algo que surgiu ao longo da minha
graduação em história. Quando adentrei a universidade meu desejo
era me formar professor. Como todo calouro, não sabia o que era
“ser/ter” lato sensu, strictu sensu, menos ainda como proceder em
pesquisa. Ao final da graduação já após ter feito pesquisa para
minha monografia, a pesquisa foi paulatinamente tomando vez em minha
vida e carreira.
O
vestibular é um dos momentos mais tensos na vida dos jovens, que
enfrentam pressões da família e da sociedade. Muitos ainda não
fazem ideia de qual área escolher. Como você encarou esse processo?
Comigo
o mais difícil foi definir a aérea da Licenciatura. Já sabia que
queria ser professor só não sabia de que: pensei em Pedagogia,
Letras, Artes. Mas sempre na habilitação para o magistério. Sempre
costumo dizer para os vestibulandos que o que mais importa é a sua
realização e a sua inserção e seu gosto. Não adianta o aluno
querer cursar Direito se não gosta de História ou de Ciências
Políticas, ou querer cursar Medicina se não gosta de Biologia ou
Anatomia. Então sempre destaco que o aluno deve considerar isso, o
Ensino Médio em nosso país foi pensado para isso também, de
apresentar um leque de ciências que no universo acadêmico são
presença constante. Vale sempre a pena considerar suas vontades e
gostos, até mesmo para no futuro não se frustrar com tanta
matemática ou com tanta história na grade de seu curso. Uma dica
que vale muito é verificar as grades curriculares, eu mesmo fiz
isso, e dizia a meus colegas “meu curso não pode ter Matemática
ou Química ou Física” que eram as temidas, por mim, exatas
(risos). Então, vestibulando, veja as grades, se tem perfil para
aquele métier, e considera muito sua vontade. Pois serão 4 ou 5
anos lendo, pesquisando e estudando aquela área. E se não for algo
prazeroso acarretará sua eminente desistência.
A
graduação é outro grande impacto. Nos deparamos com novos
conhecimentos, novas abordagens, novas visões de mundo. Em outras
palavras, somos praticamente desconstruídos. Conte-nos como foi o
início de sua formação.
Interessante
abrir um parêntese: como eu fiz duas graduações, cada uma teve um
impacto diferente. Primeiramente cursei História. História de cara
é um curso que a gente entra e pensa “mas cadê o Renascimento?
Cadê a Segunda Guerra Mundial?” Aí vem Marc Bloch, Chartier,
Boris Fausto e os autores/teóricos. Ai caímos por terra e vemos que
a História por nós pensada é uma coisa, já a graduação é
outra, aí começamos a aprender. Costumo dizer que sempre gostei de
Teoria da História e Historiografia sem falar em História da
Amazônia, tiveram assim disciplinas que foram para mim amadas,
outras nem tanto (Medieval que o diga) mas de um todo a História nos
impele a ser e ler mais! Creio que a leitura no Curso de História
foi primordial para meu encantamento pela ciência. Adorava e ainda
prezo muito em ler os textos, fazer comentários, enfim, sentir o
texto. E isso fez e faz a História ser fascinante para mim. Durante
a graduação foram muitos fichamentos, uns que dava raiva sim de ter
de fazê-los, mas foram fundamentais. O exercício do historiador
começa na nossa graduação com os fichamentos.
E
por falar em textos e fichamentos, quais autores foram marcantes
nesse período?
Essa
pergunta é difícil viu… Muitos textos nos marcam seja pela
complexidade seja pela facilidade. Mas vou te citar os que ainda hoje
são referências quase em tudo que produzo: Apologia
da História ou Ofício de Historiador,
de Marc Bloch. A
nossa Bíblia. A veemência do autor nesse texto, o amor pela
História é atemporal, o capítulo da crítica histórica é para
mim uma lição eterna de como ler documentos; A
invenção do cotidiano I: artes de fazer,
de Michel de Certeau. Tive uma dificuldade enorme em entender esse
autor, mas a teoria dos “usos e práticas” me seduziu de uma
maneira única, quando o autor fala em “resistência silenciosa”
como sendo “mais perigosa que a barulhenta” me fez pensar que a
história é sempre feita de lutas, mas que nem todos veem
outros tipos de lutas e propostas de insurreições; Os
fios de Ariadne: fortunas e hierarquias na Amazônia do século XIX
– Patrícia Melo. O Capítulo intitulado “Bens e homens no mundo
das águas” é para mim um dos maiores escritos sobre a história
da Amazônia, me marcou muito, lembro que lemos na disciplina de
Amazônia II, e dali em diante sabia que queria pesquisar o século
XIX; A Ilusão do Fausto
– Edinea Mascarenhas.
Existem textos que não morrem. A Ilusão do Fausto é um deles. Obra
revolucionária, quando li também em Amazônia II me confirmou a
vontade de escrever algo sobre Manaus na Belle Époque, mas noutras
perspectivas. Edinea nos brinda nesse texto de maneira ousada e
comprometida.
Além
dos célebres autores, é impossível passar pela academia sem ser
marcado pelos professores e professoras, tanto positivamente quanto
negativamente em alguns casos. Qual foram aqueles que você viu e
pensou: quero ser assim quando crescer?
Sem
dúvidas na graduação em História me marcaram os Drs. Arcangelo
Ferreira e José Vicente Aguiar, ambos foram meus professores de
História da Amazônia em diferentes temporalidades, e me ensinaram
muito, sendo e fazendo. A Mestra Cristiane Manique foi quem me
introduziu a Ciência histórica de fato. Foi minha professora de
Introdução aos Estudos Históricos, Metodologia da História,
Teoria da História e Laboratório do Ensino e da Pesquisa em
História. Com
ela em suas diferentes aulas aprendi o “grosso” da nossa ciência,
como pesquisar e produzir a narrativa historiográfica, além do mais
foi minha orientadora de Monografia histórica, marcando-me até o
presente. Mestra Elisângela Maciel e Dra. Adriana Brito também me
marcaram bastante. Mantenho ainda hoje boas relações com ambas se
tornando amigas de profissão com muita cordialidade.
Você
tem formação em História e Geografia, duas das principais ciências
humanas, que mantém um diálogo bastante profundo. Como enxerga essa
relação?
Penso
que uma completa a outra e ambas completam a cultura e a
sociabilidade. História se dedica aos homens no tempo, Geografia, os
homens no espaço. Tempo e Espaço são indispensáveis para pensar
as diferentes formas de ser/fazer da humanidade. São duas categorias
presentes em qualquer pesquisa. Lembro que um dia num congresso sobre
a História Indígena, a conferencista falou “assim como há uma
história, há também uma geografia indígena”, parafraseando-a
penso que para tudo há uma história e uma geografia, e isso
concerne boa parte das ciências humanas e sociais que as duas
disciplinas englobam. Sou suspeito pra falar de ambas, em minha
formação as duas foram primaz para pensar e estruturar
meu pensamento e vertente
teórico-metodológico.
Até
hoje você é lembrado por sua passagem como professor substituto na
graduação em História da UFAM, tido como bastante atencioso aos
alunos e com uma didática e domínio do conteúdo de dar inveja.
Como foram as primeiras experiências como professor?
As
minhas primeiras experiências como professor de história foram
desafiantes e instigantes. Comecei ministrando aulas em um famoso
curso preparatório para vestibular da cidade e ali, o domínio do
conteúdo e da didática se tornam essenciais. Depois me tornei
professor do Plano Nacional de Formação de Professores para a
Educação Básica, o PARFOR da UEA, e
surgiram mais desafios: o
PARFOR nos ensina muito, a dinâmica, o ritmo da
viagem para o Alto Rio Negro, Alto Solimões, Calha Média do
Solimões já se torna um desafio, então saber que tinham pessoas me
esperando fazia-me querer ser mais, ensinar sendo, como eu gosto de
apontar. Na UFAM eu concretizei no meu período de substituto uma
tentativa de tornar as “disciplinas pedagógicas e didáticas”
interessante aos alunos, uma vez que o curso é uma Licenciatura e
muitos, ainda hoje pouco apreciam as disciplinas da formação
docente, mais um desafio, fazer os alunos se interessarem pelas
disciplinas didáticas. O resultado foi muito bom. Então assim, ao
longo da minha breve (até aqui) carreira eu procurei e procuro
verificar maneiras de ensinar sendo, a partir daí vem o domínio do
conteúdo, a dinâmica, mas o ponto primevo é a didática, é pensar
algo que os alunos pensem “poxa quero fazer isso quando eu
lecionar”. Meus primeiros anos foram
desafiantes, mas com o sentimento de estar feliz fazendo aquilo que
sempre quis.
Sua
dissertação de mestrado, Manáos uma Aldeia que virou
Paris: saberes e fazeres indígenas na Belle Époque Baré 1845-1910,
defendida em 2016, hoje é uma referência para os estudos sobre a
constituição do espaço urbano de Manaus e as tentativas de
apagamento e a resistência dos 'excluídos da história'. Percebo
que ela dialoga com premissas postuladas por Edinea Mascarenhas Dias
em a A Ilusão do Fausto, mas você buscou ir
além. Qual foi o caminho trilhado em sua produção?
Sem
sombras de dúvidas o proposto pelo clássico da nossa historiografia
A Ilusão do Fausto
da professora Edinea foi leitura inspiradora para tal feito. É uma
história bem peculiar: tudo iniciou antes mesmo de eu estar na
Faculdade de História. Ainda aluno no IEA, um dia olhando a Eduardo
Ribeiro, a Cúpula do Teatro Amazonas e todo seu entorno das janelas
da minha sala pensei “como seria isso aqui tudo no século de sua
criação? Como os indígenas viviam aqui?” E fiquei com aquela
questão, lembro que comentei com o professor Laerte, ícone das
humanas no IEA sobre e ele me indicou o texto da professora Edinea.
Li sem entender muito, era um garoto de 16 anos. Me fascinaram as
imagens do texto. Já na faculdade tudo foi definido. O caminho seria
o mesmo que Edinea definiu: não negar o Fausto, mas destacar que ele
não foi para todos, porém todos estavam naquele espaço/tempo:
indígenas, negros, escravizados, prostitutas, mendigos, doentes…
o foco foi destacar o elemento indígena, que era o mais visível e o
que mais tentavam esconder, porém o que mais permanecia. E na guisa
da Edinea mostrar que “pobres” na Belle Époque manauara, era um
termo genérico: era pobre o trabalhador urbano, o indígena, o
negro, a prostituta, o doente, o migrante nordestino, o seringueiro,
tudo que contrariava o belo, era pobre. E desse termo genérico,
disse “vou focar nos indígenas e nos seus saberes e fazeres”, em
diante tudo fluiu e foi acontecendo, começaram a aparecer nas minhas
fontes indígenas de diferentes grupos, realizando diferentes coisas
na cidade: sendo batizados, fugindo das obras da Igreja Matriz,
tomando banho no Igarapé de São Vicente, atirando flechas no Porto,
vendendo doces e “encantamentos” no Mercado, etc. A cidade estava
assim para o indígena como este estava para a cidade.
Anos
mais tarde você ingressou no doutorado em História na PUC-SP. Sua
tese de doutorado Chão de vidas, rios de memórias:
histórias indígenas do Amazonas Imperial 1845-1888,
defendida em 2022, é monumental. Nela você buscou compreender o
cotidiano indígena do Amazonas na época imperial, desnudando aquela
ideia tradicional do 'índio genérico', como se cada comunidade não
tivesse suas especificidades. Conte-nos como foi sua produção.
Foi
desafiadora ao
máximo. Eu sempre disse a mim mesmo que quando fosse cursar
doutoramento seria com o propósito de responder antes de tudo
inquietações minhas. Quando escrevi o projeto de tese me propus a
compor não uma história, mas diferentes histórias que se
encontravam num elemento comum: esse elemento comum eram as
populações indígenas. Era uma inquietação particular em
desvendar como eram/estavam os mundos indígenas no Amazonas
Provincial. Se até antes nos séculos XVII E XVIII grandes
historiadores
já haviam mostrados os xamanismos, as lideranças, as práticas de
cura e o cotidiano de diferentes etnias, me perguntava “cadê esse
povo no XIX? É consenso entre os historiadores do Brasil Imperial
que a questão indígena para aquele século ainda é um campo em
plena construção, é algo em andamento. Nisso me filiei
plenamente na História Indígena que usa de certa “sensibilidade
antropológica” como diz o mestre John Manuel Monteiro, e a
História Cultural, e
procurei na minha tese fazer uma História dos sentimentos e
sensibilidades indígenas, dei ao indígena além da voz
protagonista, a ação de sujeito histórico. Sempre ouvimos falar
que “os índios eram os braços do Amazonas provincial”, que
“eles dependiam da província” e inverti a lógica: era a
província que dependia dos indígenas para tudo: eles eram os
trabalhadores das obras públicas, os guias dos rios e matas seja dos
naturalistas, seja das expedições demarcatórias
do Império e da Província, eles que dominavam o conhecimento das
ervas e fármacos da floresta, dos peixes e frutos bons, do manejo do
solo e das estações sazonais dos rios do Amazonas. Nessa lógica
procurei entender como os indígenas trabalhavam, estudavam,
lideravam, dançavam e festejavam. Para o Brasil oitocentista como um
todo se criou uma coisa que chamo de “discurso da aniquilação”
que simplesmente sumiu com os povos indígenas no XIX, atrelando a
eles o estigma de “ociosos, vagabundos e preguiçosos”
simplesmente pelo fato de seus fazeres serem a outros modos. Então
busquei nas fontes dizer “quem eram eles”, dar nomes, aí me
apareceram macuxi, wapixana, baré, werekena, parintintim, sateré,
tikuna, matsé, e uma gama de povos. Procurei mostrar como cada um
agia e demonstrava suas organizações. E isso está
na fonte. E não precisamos, como muitíssimo bem disse John Manuel
Monteiro “forçar a mão” para escrever essa história. Eles, os
povos indígenas, estão nas fontes, tudo é uma questão de
perspectiva de leitura e construção da narrativa. Logo me “casei”
numa portentosa união com a antropologia e fiz História Cultural
Indígena mostrando sobretudo sua presença em todo o Amazonas do
oitocentos.
Você
se define como um Historiador Cultural. A palavra cultura tem um peso
fortíssimo, pois é polissêmica, dando margem a diversas
interpretações e gerando debates acalorados. No entanto, sabemos
que a História Cultural é um campo historiográfico que nos
apresenta inúmeras possibilidades. Foi essa variedade de temas que
lhe atraiu?
Então
o campo da cultura é polissêmico por “abraçar tudo” como dizem
alguns colegas de outras vertentes da História. As inúmeras
possibilidades da História Cultural tendem a complementar os vazios
do Político, do Econômico e do Social. O que mais me atraiu na
História Cultural foi sua amplitude teórico-metodológica.
Diferente de suas “irmãs mais velhas” como diz o historiador
inglês Peter Burke, a História Cultural parte de um exercício
semântico da sensibilidade: o exercício da narrativa
historiográfica não tende apenas a destacar nomes, valores,
monumentos e esfinges, mas verificar cheiros, sabores, rostos. Isso
me seduziu na História Cultural: a possibilidade de escrever
história pelos ritmos, pelas
danças, pelos sentidos dos rituais indígenas, pelos rostos desses…
então o que mais me atraiu e continua atraindo é essa possibilidade
quase como que uma encantriz de narrar a partir de coisas que não
estão grafadas, mas estão nas fontes, especialmente nas fontes
imagéticas, que gosto muito de utilizar.
No
início de 2022 você foi eleito membro do Instituto Geográfico e
Histórico do Amazonas (IGHA), ocupando a cadeira n° 38 cujo patrono
é o etnólogo alemão Karl von den Steinen, tomando
posse hoje. Fizeram parte dessa instituição
pesquisadores renomados como Arthur Cézar Ferreira Reis, Mário
Ypiranga Monteiro e Agnello Bittencourt. Quais são suas expectativas
ao adentrar nessa casa centenária e de que forma pretende contribuir
para sua aproximação com a comunidade?
Primeiro
quero destacar a alegria e honra que é tomar posse de uma cadeira
nesse estimado espaço da cultura e da pesquisa da nossa cidade, a
mais antiga instituição do gênero. O IGHA está presente em todos
os meus textos, trabalhos e pesquisas. Seu acervo é um dos que mais
utilizo desde a monografia da licenciatura. A cadeira que passarei a
me assentar era a que sempre quis: Karl von den Steinen, proeminente
etnógrafo alemão que em nosso país muito contribuiu para o
conhecimento dos povos indígenas. Sem dúvidas é um desafio estar
a posteriori dos nomes que você citou pela carga grandiosa que as
pesquisas destes nos legaram. Ainda hoje é quase inconcebível
findar um curso de História sem ter lido algo de Arthur Reis, de
Mário Ypiranga. É difícil estudar Amazônia e não ter lido
Agnello. Estar no local que eles estiveram um dia é se apropriar e
gerar novidades, uma vez que eles em seus tempos nos
brindaram
com essas novidades. A expectativa é grande e auspiciosa, pretendo
junto ao Instituto potencializar aquilo que temos e ser/fazer mais,
considerar a longevidade do IGHA é apontar para as vindouras
realizações do Silogeu. Espero que estando ali a comunidade
acadêmica e interessada em nossa história avance, seja e faça
mais. Temos tanto a pesquisar e apresentar ainda sobre nossa capital
e nosso estado. Então a expectativa é de cada vez sermos mais.
Quais
são seus planos futuros?
Então
a pesquisa é algo que nunca para, atualmente eu estou como
Especialista Visitante do CNPq num projeto educacional do Museu da
Amazônia MUSA, e
está sendo uma experiência muito boa. Meu plano maior é voltar ao
magistério, que é minha realização maior, voltar também a
“amores que deixei no caminho” por conta da tese, ou seja,
finalizar umas pesquisas que ainda não findei. Colaborar com o
engrandecimento do IGHA, que passará a ser minha eterna casa de
pesquisa histórica. E esperar, uma das coisas que aprendi ao longo
dessa minha breve trajetória até aqui, é saber esperar. Não somos
nós que escolhemos a ciência, é ela que nos escolhe e acolhe.
Então esperar o que a história reserva a mim (risos).
Para
finalizarmos, você é um historiador jovem, mas com uma bagagem
cultural e experiência imensos. Quais conselhos você dá para
aqueles que almejam ser historiadores?
Leia,
reserve um tempo pra você, e se atualize! Ser historiador é estar
aberto a muitas possibilidades e não fechar portas. Invista em você
e no seu crescimento, faça cursos, adquira livros, participe de
congressos, ouse. Para mim ser historiador hoje é ousar, é saber a
partir da leitura da palavra mundo, como ensinou Paulo Freire, o que
dizer, o que narrar e como narrar. Ousando construímos narrativas
novas, conhecemos problemas novos e concebemos metodologias novas,
então ouse! Vão te
criticar, vão, mas também irão te aplaudir e dizer “olha ela fez
isso, ele trouxe isso…” Sempre digo que o bom historiador
lê muito e nessa leitura ele constrói aliados. A importância da
leitura em nosso mister é conhecer, então leia, mesmo àqueles
autores/teóricos que por alguma razão tu não concordas, leia.
Logo, o conselho é leia, conheça, ouse e faça! Seja a diferença e
construa uma boa narrativa histórica. Não invente, não caia em
sensacionalismos, o bom historiador foge disso, mas, faça um texto
que ao lerem as pessoas aprendam.