Conforme pesquisas dos historiadores Ygor Olinto Rocha Cavalcante e Rafael Chambouleyron, o negro escravizado foi introduzido na Amazônia entre o final do século 17 e a segunda metade do século 18.
Naquele período, começava-se a
sentir os efeitos do extermínio de milhares de indígenas, por força da
escravidão e das epidemias, o que fez diminuir a mão de obra disponível.
Some-se a isso a resistência oferecida pelos nativos, os conflitos entre
colonos e missionários jesuítas contrários à escravidão indígena, e os lucros
que a Coroa Portuguesa obtinha com a venda de escravizados, investindo o
capital no aparelhamento militar da região. A Lei de 1° de abril de 1680
proibiu a escravização de indígenas, fosse através de resgate ou de guerra
justa. Todos esses fatores deram origem à demanda por escravizados africanos.
O fornecimento ficou a cargo das
companhias de comércio. A Companhia Geral do Comércio do Maranhão, criada em
1682, ficou responsável por fornecer 500 escravizados por ano, durante 20 anos,
aos colonos do Maranhão e Grão-Pará, não conseguindo cumprir o acordo e sendo
extinta em 1685. Em 1692 são introduzidos na Amazônia, através da Companhia de
Cabo Verde e Cacheu, 145 escravizados africanos da Guiné.
A Lei de 1680 foi revogada em 1688.
Em 1755 a escravidão indígena é novamente proibida. O Marquês de Pombal cria
naquele ano a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, que seria responsável,
de acordo com Francisco Jorge dos Santos e Patrícia Alves Melo, por fomentar a
agricultura, o comércio, a imigração, a extração das Drogas do Sertão e
fornecer escravizados africanos. Os historiadores registram que ela introduziu
no Grão-Pará, em pouco mais de duas décadas, 14.749 escravizados.
A Companhia foi extinta em 1778, e a partir daí o fornecimento de escravizados foi realizado por particulares, totalizando, segundo Ygor Olinto, cerca de 53 mil indivíduos introduzidos no Grão-Pará no período colonial. O transporte era realizado através dos navios tumbeiros, assim descritos pelo antropólogo Manuel Nunes Pereira (1893-1985):
“As condições sanitárias dos tumbeiros eram indescritíveis; o regime alimentar, o mais precário possível. Assim, não raro as epidemias irrompiam na travessia da África para Belém, pondo em perigo a própria tripulação de bordo e alastrando-se pelos portos de escala […] Sabe-se, através de um códice de 1759, por exemplo, que do navio N. S. da Conceição, chegado a Belém a 8 de julho daquele ano, desembarcaram 368 de 500 que trazia, morrendo 132 portanto”.
Os escravizados foram
introduzidos na Capitania de São José do Rio Negro por volta de 1770. Em 1775 o
ouvidor Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio os estimou em 193 em todo o
território. Alguns anos mais tarde, Alexandre Rodrigues Ferreira contabilizou
247. O número reduzido se explica, principalmente, por dois fatores: a
população do Rio Negro era bastante pobre e não existia uma grande lavoura, mas
um intenso extrativismo praticado pelos indígenas.
No entanto, isso não
significa que não tiveram importância na economia local. A historiadora
Patrícia Melo demonstrou, através da análise de inventários pós-morte e
escrituras públicas, que a mão de obra escrava foi fundamental na formação de fortunas
em Manaus no século XIX, compondo o patrimônio de um grupo privilegiado de
comerciantes, militares, funcionários públicos e proprietários de terras.
Referências bibliográficas
CHAMBOULEYRON, Rafael. Escravos do Atlântico equatorial: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e Pará (século XVII e início do século XVIII). Revista Brasileira de História, vol. 26, n° 52, 2006.
CAVALCANTE, Ygor Olinto Rocha. “Uma viva e permanente ameaça”: resistência, rebeldia e fugas de escravos no Amazonas Provincial (c. 1850 – c. 1882). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2013.
SANTOS, Francisco Jorge dos; SAMPAIO, Patrícia Maria Melo. 1755, o ano da virada na Amazônia portuguesa. Somanlu, ano 8, n. 2, jul./dez. 2008.
SAMPAIO, Patrícia Maria Melo. Os fios de Ariadne: fortunas e hierarquias sociais na Amazônia, século XIX. São Paulo: LF Editorial, 2015.
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