Impérios, reinos, guerras, monumentos, heróis, reis. Trabalhadores (as), operários, camponeses, ribeirinhos, quilombolas, homens, mulheres, crianças, cotidiano. Tudo faz parte da História, definida pelo historiador Marc Bloch como “a ciência dos homens no tempo”.
Por muito tempo História foi sinônimo de matéria decorativa, aquela em que basta se lembrar de nomes de personagens e datas de acontecimentos. No entanto, a História é uma das ciências mais importantes para a compreensão do mundo que nos cerca.
A História, assim como outras Ciências Humanas, tem como objeto de estudo o homem. A História estuda as ações do homem no tempo, utilizando como fontes os vestígios por ele deixados. E por que estudar o passado? Conhecer as ações humanas de outros tempos possibilita a compreensão do presente, pois ele é diretamente influenciado pelo passado.
Estudando as ações do homem no tempo podemos compreender as origens dos conflitos no Oriente Médio, das lutas seculares dos povos indígenas e quilombolas e das desigualdades que marcam nossa sociedade, buscando as melhores formas para superá-las.
E a História de um Estado? Escrever a História de um não é fácil. E se tratando do Amazonas, que possui dimensões continentais, o desafio se torna ainda maior. Como dar o passo inicial? Quais os marcos fundadores da História do Amazonas?
Arthur Cézar Ferreira Reis (1906-1993), ex-governador e possivelmente o historiador mais famoso do Amazonas, publicou em 1931 o livro História do Amazonas, fruto de densa pesquisa em arquivos locais, nacionais e internacionais. Seu trabalho tem como ponto de partida a chegada dos europeus à Amazônia no século 16, sendo permeado pela defesa e exaltação da ação dos portugueses em “civilizar” a Amazônia.
Em 1965 a professora Rosa do Espírito Santo Costa (1941-2020), do Departamento de Administração e Planejamento da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), publica o livro História do Amazonas, que, assim como o de Reis, parte da visão do colonizador e seus atos de heroísmo para dominar o meio e seus habitantes primitivos.
A perspectiva sobre a História do Amazonas, e do Brasil no geral, começa a mudar na década de 1980. O país passa por um processo de redemocratização e são criados novos cursos de graduação e pós-graduação onde as Ciências Humanas, em especial a História, passam por renovações teóricas e metodológicas.
Em 1987 os professores José Ribamar Bessa Freire, Geraldo Pantaleão Sá Peixoto Pinheiro, Vânia Maria Tereza Novoa Tadros, Francisco Jorge dos Santos, Patrícia Maria Alves Melo e Hideraldo Lima da Costa, do Departamento de História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), publicam o livro A Amazônia Colonial (1616-1798), obra didática, acessível ao público e com uma visão crítica sobre a História do Amazonas, considerando as vivências, tradições e resistências dos povos indígenas no processo formativo da região.
A década de 2000 foi rica em trabalhos didáticos de História do Amazonas, destacando-se os de Francisco Jorge dos Santos, Dorinethe dos Santos Bentes e Aguinaldo Nascimento Figueiredo.
Francisco Jorge dos Santos, professor do Departamento de História da UFAM, lança em 2002 o livro História e Geografia do Amazonas, posteriormente reeditado com o título História Geral do Amazonas. Assentado em farta bibliografia, com indicações de leitura e textos complementares, foi produzido para suprir a carência por materiais didáticos sobre a História do Amazonas, sobretudo para o Ensino Médio.
Também é de 2002 o livro Estado do Amazonas em Verbetes, organizado por Francisco Jorge dos Santos e Patrícia Maria Alves Melo. Voltado para o Ensino Fundamental, é composto por verbetes de História, Geografia, Sociologia e Política escritos por especialistas.
A historiadora Dorinethe dos Santos Bentes publicou em 2000 o livro História do Amazonas – Construindo Identidades, voltado a alunos da 5° série do Ensino Fundamental e tendo como principal objetivo a valorização de nossas raízes amazônicas através do conhecimento histórico. A obra possui rica iconografia, com imagens de povos tradicionais, mapas e paisagens, a tornando atrativa aos discentes.
O professor Aguinaldo Nascimento Figueiredo, egresso do curso de História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), publica em 2000 o livro História do Amazonas, trabalho engajado, didático e acessível a todos os públicos. A História do Amazonas é apresentada para além da visão do colonizador, abarcando as perspectivas dos indígenas, quilombolas, imigrantes, operários, homens e mulheres do dia a dia, de forma a fazer os leitores refletirem sobre a teia de relações, interesses e disputas que permeiam nossa trajetória.
Assim escrevemos, atualmente, a História do Amazonas, tendo como base os trabalhos pioneiros, enxergando suas possibilidades e limites, bem como os mais recentes, inauguradores de uma visão crítica e engajada de nossa História, em que, além dos dirigentes, indígenas, negros, seringueiros, operários, homens e mulheres comuns, são protagonistas da História.
Nenhum comentário:
Postar um comentário