domingo, 9 de fevereiro de 2025

Pedra Jacaré

Ela é inconfundível. Sua rusticidade e cor avermelhada evocam a Manaus de outrora. Tem vários nomes: arenito Manaus, pedra grês, grês do Pará, piçarra e pedra jacaré, este último o mais conhecido (Costa, 1991, p. 154).

A encontramos principalmente no Centro Histórico, utilizada na base, na escadaria e na fachada de prédios públicos como o Teatro Amazonas, o Palácio da Justiça, a Catedral de Nossa Senhora da Conceição, o Relógio Municipal, a antiga Câmara Municipal (Centro de Arqueologia) e a antiga Fábrica Brasil Hévea (Atacadão); em locais mais distantes, como no Reservatório do Mocó e nas pontes dos Bilhares e Benjamin Constant; no calçamento da rua Bernardo Ramos; e em algumas residências como a Casa Bolo Confeitado, na avenida Joaquim Nabuco, e o casarão da família Afonso, antigo Museu do Homem do Norte, na rua Quintino Bocaiuva.

No Catálogo dos produtos naturais e industriais que figuram na exposição da província do Amazonas de 1866, a pedra jacaré, ofertada por Luiz Martins da Silva Coutinho, é descrita como uma pedra do tipo argílica encontrada em grandes quantidades nas imediações de Manaus. Sua qualidade é descrita como excepcional, pois “o seu emprego é bastante commum por ser leve e fazer grande adherencia com a argamassa” (A Voz do Amazonas, 17/10/1866, p. 03).

O uso da pedra jacaré se intensificou a partir das últimas décadas do século XIX, período em que a cidade começava a se tornar um grande canteiro de obras. Para termos uma dimensão dessa demanda, em 1869, para as obras da Catedral de Nossa Senhora da Conceição, a Tesouraria da Fazenda Provincial abriu concorrência para o fornecimento de materiais, dentre eles “mil carradas de pedra jacaré, de tres palmos de comprimento cada uma, um de altura, e da largura que der a pedra” (Amazonas, 10/02/1869, p. 03).

É de 1901 um dos mais interessantes registros das pedreiras de Manaus, localizadas na gleba Itapuranga, atual Ponta Negra (Álbum do Amazonas, 1901-1902). De lá foram retiradas toneladas de pedras jacaré empregadas em obras públicas e particulares.

Sobre sua composição, o geólogo Marcondes Costa registra que “As rochas ferruginosas não-lateríticas, tipo Grés do Pará, são normalmente compostas de grânulos de quartzo na faixa de silte a seixos, em cimento marrom epigenético e goethita e hematita. Essa rocha é, consequentemente, densa e escura, representando siltitos, arenitos, conglomerados, brechas, brechas de falhas, vênulas etc, ferruginizados” (Costa, 1991, p. 154).

Os geólogos Márcia Carvalho de Oliveira e Roberto Cesar Barbosa, em estudo sobre a Catedral de Nossa Senhora da Conceição, destacam a composição e seus usos: "O arenito Manaus comum em paleossolos da Formação Alter do Chão da Bacia do Amazonas, apresenta uma coloração avermelhada facilmente reconhecida na cidade. Sua disponibilidade em pedreiras locais e resistência conferida pela silicificação, ganhou atenção pelos ladrilhos externos na praça e caminhos de acesso à CMM" (Roteiro Virtual da CMM, s. d.).

Fontes

A Voz do Amazonas, 17/10/1866.

Amazonas, 10/02/1869.

Álbum do Amazonas, 1901-1902.

Referências bibliográficas

BARBOSA, Roberto Cesar; OLIVEIRA, Márcia Carvalho de. Roteiro Virtual da CMM. Disponível em: https://georroteirovirtualcmm.icomp.ufam.edu.br.

COSTA, Marcondes L. Aspectos geológicos dos lateritos da Amazônia. Revista Brasileira de Geociências, 21 (2): 146-160, junho de 1991.