Mais
uma vez, em uma série de postagens sobre a História de Manaus, que
comemora neste 24 de outubro 346 anos, o professor e historiador
Aguinaldo Nascimento Figueiredo, “prata da casa”, nos brinda com
mais um de seus artigos. Dessa vez, voltaremos aos anos 1940, quando
Manaus, outra vez, sentiu o ânimo de um rápido crescimento
econômico, entre 1942 e 1945, quando fez acordos com os Aliados
durante a Segunda Grande Guerra. Este texto faz parte da obra inédita
Manaus: História e Memória,
que está com lançamento previsto para o final desse ano.
Por Aguinaldo Nascimento Figueiredo*
Ao
iniciar os anos 40, Manaus era um aglomerado urbano com uma população
em torno de 100 mil habitantes, vivendo dias de desolado “Porto de
Lenha”, segundo expressão popular da época, para se referir ao
retrocesso que a cidade sofreu. A vida fluía sem muita pressa, num
ritmo ditado pelas condições espaciais, econômicas e culturais de
uma cidade do interior do Norte do país, com duas décadas de atraso
e fortemente marcada por valores morais tradicionais
católico-cristãos, forjados ao longo de sua mutante história.
Os
limites territoriais da cidade alcançavam a Leste, os bairros de
Educandos e Cachoeirinha, ao Norte a Vila Municipal (hoje
Adrianópolis) e a Oeste o bairro de São Raimundo e Glória,
considerados os subúrbios mais afastados. A rigor, a fronteira
urbana compreendia o espaço delimitado entre esses bairros e o
Centro histórico da cidade.
De
acordo com dados colhidos no livro -“Evocação de Manaus: como
eu a vi ou sonhei, do senador Jefferson Péres, publicado pela
Editora Valer em 2002, o que era considerado Centro de Manaus se
constituía pelo entorno compreendido entre a orla fluvial, a Rua
Joaquim Nabuco, os igarapés da Cachoeirinha, do São Raimundo e o de
Manaus, indo, no máximo, ao Boulevard Amazonas, onde se concentrava
o coração e vida nervosa da cidade. Eram nesses espaços que
funcionavam o comércio, as repartições públicas, os centros
culturais, as diversões profanas, bem como era local de residência
da maior parte da classe média, ocupando seus bangalôs, sobrados,
alguns palacetes remanescentes da era da borracha e poucos prédios
de apartamentos construídos no final dos anos 40.
O tradicional Colégio Santa Dorotéia, na Av. Joaquim Nabuco, em 1940. Acervo Manaus Sorriso.
Manaus
era dividida em duas classes sociais bem distintas em relações aos
seus interesses e propósitos - a classe dos pequeno-burgueses e a
dos trabalhadores. O que poderia se chamar de burguesia em Manaus era
um seleto grupo de comerciantes, geralmente lojistas, de origem
árabe, judia, síria, libanesa e portuguesa, bem como dos herdeiros
da “era do fausto”, a maioria dedicados ao comércio de
armarinhos, tecidos importados, material de construções, móveis e
secos e molhados, agrupados em torno da Associação Comercial do
Amazonas, longe de se constituírem como uma classe social abastada,
cuja convivência existencial e moral se confundiam com a própria
classe média, por adotarem estilo de vida e valores semelhantes.
Com
a decadência do látex, os grandes proprietários rurais não tinham
maior expressão social, somente exercendo alguma influência na
política local, graças à herança do mandonismo dos tempos áureos
da borracha e pelo controle de uns poucos currais eleitorais no
interior, poder esse, exercido em razão do peso do chicote dos seus
obedientes capatazes administradores dos seringais sobreviventes e
das fazendas extrativistas.
Quanto
ao proletariado, este era um conjunto disperso de trabalhadores
formais e informais labutando em fábricas e oficinas ou vivendo do
subemprego nas mais diversas atividades fabris e de prestação de
serviços. Longe de qualquer possibilidade de “consciência de
classe”, esse proletariado não passava de uma massa amorfa, sem
organização sindical.
A
vida política, administrativa e cultural da cidade era comandada por
indivíduos oriundos da classe média, constituída, essencialmente,
por profissionais liberais, funcionários públicos, políticos e
comerciantes que acabavam por se tornarem governadores, prefeitos,
secretários de Estado, senadores, deputados, vereadores, dirigentes
de órgãos de imprensa, de entidades literárias e de clubes
importantes, por representarem a sociedade civil organizada e pelo
papel que exerciam nela, carreando alguma influência pessoal ou
ocupando postos de expressão na comunidade.
Parque Dez de Novembro, 1950. Bazarfoto.
Governava
Manaus nesse momento o superintendente Antônio Maia, irmão do
governador Álvaro Maia que se desdobrou no cargo para poder honrar
os compromissos oficiais da pasta, tendo mérito de ter brindado a
cidade com o complexo esportivo do Parque Dez de Novembro, uma
belíssima paisagem recreativa e bucólica da cidade, que serviu de
espaço de distração por décadas a população manauara e que foi
destruída pelo desleixo e incompetência da ação pública e
privada.
*Aguinaldo Nascimento Figueiredo é professor, escritor e historiador, autor dos livros História Geral do Amazonas (7 edições), Santa Luzia - História e Memória do povo do Emboca (2008) e Os Samurais das Selvas - A presença japonesa no Amazonas (2012).
*Aguinaldo Nascimento Figueiredo é professor, escritor e historiador, autor dos livros História Geral do Amazonas (7 edições), Santa Luzia - História e Memória do povo do Emboca (2008) e Os Samurais das Selvas - A presença japonesa no Amazonas (2012).
Parabéns pelo trabalho! Amo conhecer minha história ❤
ResponderExcluirGostei muito da historia de Manaus estou a procura dos familiares do meu sogro que saiu de Jaguaruana no ano de 1940 destino amazonas levando 2 filhas o nome do pai de meu sogro e Antônio minguel de oliveira e de sua mãe e Rosa Maria de lima, quem pode mim ajuda agradeço
ResponderExcluirMaria, muito obrigado. Olha, recomendo uma passagem pelo Cartório Rabelo, de Manaus. É o mais antigo da cidade. Talvez você encontre informações nele. Se não me engano eles cobram de 70 a 100 reais por pesquisa.
ExcluirA cinquenta anos quando aqui cheguei, ainda encontrei muitas lembranças da Manaus antiga, mas com o passar dos anos os governos que se sucederam foram destruindo tudo. o que resta esta sendo destruído pelo tempo porque os prefeitos não gostam muito das nossas origens preferem ver a cidade nas torres de concreto armado. Isso da dinheiro e é mais fácil de construir do que preservar. Infelizmente..........
ResponderExcluirOnde encontramos esse livro "Manaus: História e Memória" para vender?
ResponderExcluirO livro do professor ainda não foi lançado. Assim que for, publicarei o endereço ou local para aquisição.
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