Toda cidade possui suas particularidades e lugares curiosos. Em Manaus, algumas pessoas diriam que é a alta temperatura, ou o "aroma" dos nossos igarapés; outras, mais "maldosas", diriam que é a "preguiça" do povo (algo que não passa de lenda, pois o manauara é muito criativo). Com uma carga histórica de 347 anos, a cidade guarda lugares de nomes curiosos, de origem popular, e paisagens bucólicas cheias de História. Alguns lugares já desapareceram, outros tiveram o nome alterado.
Bairro de São Vicente (Centro Antigo): Localizado no Centro antigo da cidade, essa região, compreendida entre as ruas 5 de Setembro, Bernardo Ramos, Frei José dos Inocentes, Visconde de Mauá, Monteiro de Souza, Tamandaré e Itamaracá, é o início da expansão e urbanização de Manaus. Em São Vicente estão muitas das edificações mais marcantes da cidade, como o Paço Municipal, o Palácio Rio Branco, o antigo Hotel Cassina, o antigo Hospital Militar, a Praça D. Pedro II e a casa considerada a mais antiga da cidade (1819) e muitas outras edificações da segunda metade do século 19 e do início do século 20. Na atual rua Visconde de Mauá, ficava a capela de N. S. da Conceição, erguida em 1695. O primeiro teatro da cidade, o Éden Teatro, inaugurado em 1869, ficava na esquina da rua Bernardo Ramos com a Frei José dos Inocentes; e o primeiro arranha-céu da cidade, o prédio do IAPETEC, inaugurado em 1954, na Av. Sete de Setembro. O nome São Vicente é uma homenagem ao santo padroeiro de Lisboa, Portugal.
Rua Bernardo Ramos, no bairro de São Vicente. Acervo Jornal A Crítica.
Rua da Bosta (atual Rua São Francisco, bairro de São Raimundo): O nome, um tanto engraçado, é de origem popular. Segundo a pesquisadora e antiga moradora do bairro de São Raimundo, Elza Souza, alguns moradores das redondezas criavam porcos e cabritos aos ar livre. Esses animais, que pastavam pela rua, acabavam por fazer suas necessidades ali mesmo. Em pouco tempo "Rua da Bosta" se tornou referência para localizar a via.
Boca do Emboca (atual bairro Santa Luzia): O bairro de Santa Luzia, criado oficialmente em 1951, já vinha sendo ocupado desde 1920. De acordo com o historiador Mário Ypiranga Monteiro, o nome Emboca foi dado pelo guarda de 1° Classe do Corpo de Segurança Pública do Amazonas, Sebastião Feliciano de Oliveira, morador do local. Este é uma alusão à embocadura (foz de rios) dos igarapés do Mestre Chico e o da Pancada, que formavam um maior, o Igarapé de Educandos. A referência são os fundos da Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa.
Planeta dos Macacos (Atual bairro da Redenção): Surgido de uma invasão de operários em 1974, o bairro da Redenção, na Zona Centro-Oeste, quando ainda era uma simples comunidade, era conhecido como Planeta dos Macacos. Existem duas versões para a origem desse nome. Para alguns, o nome é uma referência à presença de diferentes espécies de macacos na região, que tinha bastante área verde quando foi criada. Outra, talvez mais coerente, diz que o nome foi uma homenagem ao universo da franquia de filmes "Planeta dos Macacos", criada no final dos anos 60 e que passou a fazer enorme sucesso nos anos 70.
Vista aérea do bairro de Santo Antônio. Acervo Skycrapercity.
Morro do Bode (atual bairro de Santo Antônio): Localizado na Zona Oeste da cidade, o bairro de Santo Antônio foi, durante os anos 50, conhecido como Morro do Bode. O nome é de origem popular. Um morador de nome Sabino criava bodes e cabras em um morro perto da atual Rua Presidente Dutra, que liga o bairro de Santo Antônio ao bairro da Glória. O nome não agradou nem um pouco os moradores do bairro nascente que, em reunião com o padre da região, decidiram mudar o nome do local para Santo Antônio, exatamente no dia do santo em que a reunião foi realizada.
Ladeira do Quebra C* (parte da rua Saldanha Marinho, que desemboca na rua da Instalação, Centro): O nome, engraçado, é de origem popular. No final dos anos 1930, segundo Mário Ypiranga Monteiro, esse nome se tornou referência para aquela parte da rua Saldanha Marinho. Mário afirma ainda que esse nome se dava pelo fato de que, na época das chuvas, as pessoas escorregavam nos paralelepípedos que calçavam a ladeira, e acabavam caindo sentadas. Tombos e mais tombos no final dos anos 1930 popularizaram o nome.
Rua Saldanha Marinho, no Centro, em 1890. Registro do alemão George Huebner. Acervo Brasiliana Fotográfica.
Travessa dos Inocentes (rua Visconde de Mauá): Na época colonial, essa rua ficava na parte de trás da Matriz velha, destruída em um incêndio. Nesse local eram enterradas as crianças que morreram de forma prematura, sem a oportunidade de serem batizadas e por isso consideradas pagãs. O historiador Antônio Loureiro afirma que, na tradição popular, é possível ouvir, de noite, o pedido de ajuda delas ou o choro de suas mães.
Rua Visconde de Mauá, no Centro antigo da cidade.
Vila Mamão (entre os bairros da Cachoeirinha, em frente ao antigo Cine Ipiranga, até a beira do Igarapé, e São Francisco): A Vila já existia nos anos 1940, ocupada por nordestinos que vieram para cá durante a Segunda Guerra. A fama desse lugar surge no início da década 1950, quando passou a receber parte das meretrizes do Cabaré Chinelo, expulsas por ordem do interventor Álvaro Maia, em 1951. Segundo o pesquisador Marçal, as meretrizes ficaram na Vila Até 1970, quando esta desaparece com a construção do Hospital Adriano Jorge.
Muitos desses lugares já desapareceram ou mudaram de nome. Nesses 346 anos, Manaus é uma cidade que ainda guarda muitas surpresas, que estão esperando para serem encontradas. Existem muitos outros (Buraco do Pinto, Beco da Marreca, Vila Mamão... vai ficar para o ano que vem). Nesses 5 anos em que me interesso por História, Manaus faz eu me sentir vivo, quando escrevo ou quando a cito. Não me imagino vivendo em outra cidade ou em outro bairro. Me imagino findando meus dias em Manaus, essa cidade de desigualdades gritantes, de sol escaldante, de problemas seculares, onde o homem, com toda a sua genialidade moldada em milênios, soube estabelecer a civilização que deu origem à essa metrópole, que me abriga e que me conforta. Parabéns Manaus, 347 anos.
Este texto foi produzido com informações dos historiadores Roberto Mendonça, Aguinaldo Nascimento Figueiredo, Marçal, Antônio Loureiro, Elza Souza e Ed Lincon.
Que artigo maravilhoso!
ResponderExcluirMuito obrigado, Fabiane.
ExcluirMuito legal!
ResponderExcluirParabéns...
Nossa história é realmente interessante. Meus avós falavam sobre um aglomerado de flutuantes que havia em frente à cidade de Manaus e que eram tantos que era chamada de "Cidade Flutuante"... quase não vejo comentários sobre o assunto.
ResponderExcluirBoa tarde, Izel. Sim, era a Cidade Flutuante. Aqui no blog postei um relato da época sobre ela:
Excluirhttp://historiainte.blogspot.com.br/2014/10/manaus-sua-origem-tristeza-e-lagrimas.html
Sou morador antigo do bairro de Santo Antonio, não identifico este estádio da colina e nem o bairro de Santo Antônio na Zona Oeste de Manaus.
ResponderExcluirO Estádio da Colina é mais conhecido por ser do São Raimundo, mas o curioso é que ele é o Estádio da Colina por estar situado em uma colina que divide os bairros de Santo Antônio, Glória e São Raimundo, tornando-se referência para o do Santo português. Se você notar no mapa, a divisão administrativa obedeceu à posição geográfica, pois o bairro está situado à oeste da cidade, assim como a Compensa, o São Raimundo, Glória etc.
ExcluirViajo nessas histórias... Manaus minha cidade querida❤
ResponderExcluirMaravilhoso artigo, parabéns!
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