A
palavra padroeiro tem origem no latim Patronus, que significa
“defensor, protetor”, derivado de Pater, “pai”. O
Santo Padroeiro de uma vila, povoado ou cidade, tem por objetivo a
proteção do local a que foram dedicados e a intercessão entre o
homem e o Criador. Na Idade Média conferiam prestígio às suas
paróquias e cidades, que recebiam peregrinos de várias regiões em
busca de contato com as relíquias e imagens divinas. Nas Sagradas
escrituras, personagens que morreram puros no Senhor e alcançaram o
Céu, continuam a interceder pelos vivos. Durante as perseguições a
cristãos nos tempos do Império Romano, um grande número de pessoas
que morreram em nome da fé foram aos poucos canonizadas pela Igreja
Católica.
Manaus,
fundada provavelmente em 1669, no entorno do Forte de São José da
Barra, teve
como primeira religião o Catolicismo, implantado
na
região através dos conquistadores portugueses. Essa religião viria
a dominar por séculos a evolução da cidade. A primeira ermida
construída na povoação foi consagrada à Nossa Senhora da
Conceição; as
primeiras ruas receberam o nome de Deus padre, Deus Filho e Deus
Espírito Santo; os primeiros bairros foram São Vicente de Fora, uma
homenagem ao santo padroeiro de Lisboa; e Espírito Santo, terceira
pessoa da Santíssima Trindade. A
escolha de um Santo Padroeiro é uma herança política e cultural
dos tempos do Império Português, que assim dividia (a divisão
ainda existe) suas freguesias em Portugal.
Lázaro
era membro de uma família abastada da Palestina, e vivia com suas
duas irmãs, Marta e Maria, em uma aldeia de Israel chamada Betânia
(atualmente localizada na Cisjordânia), que junto da aldeia de
Betfagé, era o último ponto de descanso para quem subia à cidade
por Jericó. Betânia estava distante 3 km a leste de Jerusalém e do
Monte das Oliveiras, um dos muitos lugares de transmissão dos
ensinamentos de Jesus Cristo.
Os
três irmãos tinham uma forte amizade com Jesus, tendo o hospedado
muitas vezes em sua casa. Jesus ficou hospedado nos dias que
antecederam a Paixão, do Domingo de Ramos até o dia de sua prisão.
Além da relação que tinha com Cristo, a figura de Lázaro
tornou-se importante para a História do Cristianismo pois este, após
a morte, foi ressuscitado por seu amigo. Desde os primeiros séculos
do mundo cristão o túmulo de Lázaro se converteu em local de
devoção, tendo sido erguido, no século IV de nossa era, um
santuário em seu redor.
De
acordo com a Bíblia (compilação abaixo produzida pela Ordem
Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém – Grão Priorado
de Portugal), no Evangelho segundo João, a história do
milagre de Lázaro ocorreu da seguinte forma:
Lázaro
caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e sua irmã Marta. Maria
era quem ungira o Senhor com o óleo perfumado e lhe enxugara os pés
com os seus cabelos. E Lázaro, que estava enfermo, era seu irmão.
Suas irmãs mandaram, pois, dizer a Jesus: Senhor, aquele que tu amas
está enfermo. A estas palavras, disse-lhes Jesus: Esta enfermidade
não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por
ela será glorificado o Filho de Deus. (João 11, 1-4)
Ora,
Jesus amava Marta, Maria, sua irmã, e Lázaro. Mas, embora tivesse
ouvido que ele estava enfermo, demorou-se ainda dois dias no mesmo
lugar. Depois, disse a seus discípulos: Voltemos para a Judéia.
Mestre, responderam eles, há pouco os judeus queriam-te apedrejar, e
voltas para lá? Jesus respondeu: Não são doze as horas do dia?
Quem caminha de dia não tropeça, porque vê a luz deste mundo. Mas
quem anda de noite tropeça, porque lhe falta a luz. Depois destas
palavras, ele acrescentou: Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou
despertá-lo. Disseram-lhe os seus discípulos: Senhor, se ele dorme,
há-de sarar. Jesus, entretanto, falara da sua morte, mas eles
pensavam que falasse do sono como tal. Então Jesus lhes declarou
abertamente: Lázaro morreu. Alegro-me por vossa causa, por não ter
estado lá, para que creiais. Mas vamos a ele. A isso Tomé, chamado
Dídimo, disse aos seus condiscípulos: Vamos também nós, para
morrermos com ele. (João 11, 5-16)
À
chegada de Jesus, já havia quatro dias que Lázaro estava no
sepulcro. Ora, Betânia distava de Jerusalém cerca de quinze
estádios. Muitos judeus tinham vindo a Marta e a Maria, para lhes
apresentar condolências pela morte de seu irmão. (João 11, 17-19)
Mal soube Marta da vinda de Jesus, saiu-lhe ao encontro. Maria, porém, estava sentada em casa. Marta disse a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido! Mas sei também, agora, que tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá. Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressurgirá. Respondeu-lhe Marta: Sei que há-de ressurgir na ressurreição no último dia. Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto? Respondeu ela: Sim, Senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo. A essas palavras, ela foi chamar sua irmã Maria, dizendo-lhe baixinho: O Mestre está aí e chama-te. Apenas ela o ouviu, levantou-se imediatamente e foi ao seu encontro. (Pois Jesus não tinha chegado à aldeia, mas estava ainda naquele lugar onde Marta o tinha encontrado.) Os judeus que estavam com ela em casa, em visita de pêsames, ao verem Maria levantar-se depressa e sair, seguiram-na, crendo que ela ia ao sepulcro para ali chorar. Quando, porém, Maria chegou onde Jesus estava e o viu, lançou-se aos seus pés e disse-lhe: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido! Ao vê-la chorar assim, como também todos os judeus que a acompanhavam, Jesus ficou intensamente comovido em espírito. E, sob o impulso de profunda emoção, perguntou: Onde o pusestes? Responderam-lhe: Senhor, vinde ver. Jesus pôs-se a chorar. Observaram por isso os judeus: Vede como ele o amava! Mas alguns deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos do cego de nascença, fazer com que este não morresse? (João 11, 20-37).
Tomado,
novamente, de profunda emoção, Jesus foi ao sepulcro. Era uma
gruta, coberta por uma pedra. Jesus ordenou: Tirai a pedra. Disse-lhe
Marta, irmã do morto: Senhor, já cheira mal, pois há quatro dias
que ele está aí… Respondeu-lhe Jesus: Não te disse eu: Se
creres, verás a glória de Deus? Tiraram, pois, a pedra. Levantando
Jesus os olhos ao alto, disse: Pai, rendo-te graças, porque me
ouviste. Eu bem sei que sempre me ouves, mas falo assim por causa do
povo que está em roda, para que creiam que tu me enviaste. Depois
destas palavras, exclamou em alta voz: Lázaro, vem para fora! E o
morto saiu, tendo os pés e as mãos ligados com faixas, e o rosto
coberto por um sudário. Ordenou então Jesus: Desligai-o e deixai-o
ir. Muitos dos judeus, que tinham vindo a Marta e Maria e viram o que
Jesus fizera, creram nele. (João 11, 38-45).
No
bairro São Lázaro, o dia do santo é comemorado com uma série de
atividades que incluem missas, arraial e a procissão que percorre as
principais ruas da comunidade, entre os dias 02 e 10 de fevereiro. No
dia 11 do mesmo mês ocorre a benção dos animais. Durante a Idade
Média, tornou-se padroeiro dos leprosos por causa de uma associação
errônea feita entre sua figura e a de Lázaro da Parábola de São
Lucas, o Evangelista. As imagens sacras reproduzidas mostram, em alguns casos, um Lázaro coberto por chagas, segurando muletas e acompanhado por dois cachorros; ou um Lázaro com vestes nobres segurando a Igreja de Larnaca, Chipre. São Lázaro é protetor dos enfermos, dos
pobres e dos animais.
O
escritor Raimundo Motta de Araújo Filho, autor do livro Nova
Betânia (2008, Edições Muiraquitã, p. 20), afirma que o nome
do bairro Betânia, fundado em 1964, escolhido pelo então arcebispo
de Manaus Dom João de Souza Lima, foi uma alusão à cidade de onde
veio o Santo São Lázaro, cujo nome batizara o bairro vizinho,
fundado quase uma década antes.
CRÉDITO DA IMAGEM:
http://www.wjhirten.com/
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