segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

São Lázaro, o padroeiro do meu bairro

A palavra padroeiro tem origem no latim Patronus, que significa “defensor, protetor”, derivado de Pater, “pai”. O Santo Padroeiro de uma vila, povoado ou cidade, tem por objetivo a proteção do local a que foram dedicados e a intercessão entre o homem e o Criador. Na Idade Média conferiam prestígio às suas paróquias e cidades, que recebiam peregrinos de várias regiões em busca de contato com as relíquias e imagens divinas. Nas Sagradas escrituras, personagens que morreram puros no Senhor e alcançaram o Céu, continuam a interceder pelos vivos. Durante as perseguições a cristãos nos tempos do Império Romano, um grande número de pessoas que morreram em nome da fé foram aos poucos canonizadas pela Igreja Católica.

Manaus, fundada provavelmente em 1669, no entorno do Forte de São José da Barra, teve como primeira religião o Catolicismo, implantado na região através dos conquistadores portugueses. Essa religião viria a dominar por séculos a evolução da cidade. A primeira ermida construída na povoação foi consagrada à Nossa Senhora da Conceição; as primeiras ruas receberam o nome de Deus padre, Deus Filho e Deus Espírito Santo; os primeiros bairros foram São Vicente de Fora, uma homenagem ao santo padroeiro de Lisboa; e Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade. A escolha de um Santo Padroeiro é uma herança política e cultural dos tempos do Império Português, que assim dividia (a divisão ainda existe) suas freguesias em Portugal.

Lázaro era membro de uma família abastada da Palestina, e vivia com suas duas irmãs, Marta e Maria, em uma aldeia de Israel chamada Betânia (atualmente localizada na Cisjordânia), que junto da aldeia de Betfagé, era o último ponto de descanso para quem subia à cidade por Jericó. Betânia estava distante 3 km a leste de Jerusalém e do Monte das Oliveiras, um dos muitos lugares de transmissão dos ensinamentos de Jesus Cristo.

Os três irmãos tinham uma forte amizade com Jesus, tendo o hospedado muitas vezes em sua casa. Jesus ficou hospedado nos dias que antecederam a Paixão, do Domingo de Ramos até o dia de sua prisão. Além da relação que tinha com Cristo, a figura de Lázaro tornou-se importante para a História do Cristianismo pois este, após a morte, foi ressuscitado por seu amigo. Desde os primeiros séculos do mundo cristão o túmulo de Lázaro se converteu em local de devoção, tendo sido erguido, no século IV de nossa era, um santuário em seu redor.

De acordo com a Bíblia (compilação abaixo produzida pela Ordem Militar e Hospitalar de São Lázaro de Jerusalém – Grão Priorado de Portugal), no Evangelho segundo João, a história do milagre de Lázaro ocorreu da seguinte forma:

Lázaro caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e sua irmã Marta. Maria era quem ungira o Senhor com o óleo perfumado e lhe enxugara os pés com os seus cabelos. E Lázaro, que estava enfermo, era seu irmão. Suas irmãs mandaram, pois, dizer a Jesus: Senhor, aquele que tu amas está enfermo. A estas palavras, disse-lhes Jesus: Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus. (João 11, 1-4)

Ora, Jesus amava Marta, Maria, sua irmã, e Lázaro. Mas, embora tivesse ouvido que ele estava enfermo, demorou-se ainda dois dias no mesmo lugar. Depois, disse a seus discípulos: Voltemos para a Judéia. Mestre, responderam eles, há pouco os judeus queriam-te apedrejar, e voltas para lá? Jesus respondeu: Não são doze as horas do dia? Quem caminha de dia não tropeça, porque vê a luz deste mundo. Mas quem anda de noite tropeça, porque lhe falta a luz. Depois destas palavras, ele acrescentou: Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo. Disseram-lhe os seus discípulos: Senhor, se ele dorme, há-de sarar. Jesus, entretanto, falara da sua morte, mas eles pensavam que falasse do sono como tal. Então Jesus lhes declarou abertamente: Lázaro morreu. Alegro-me por vossa causa, por não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos a ele. A isso Tomé, chamado Dídimo, disse aos seus condiscípulos: Vamos também nós, para morrermos com ele. (João 11, 5-16)

À chegada de Jesus, já havia quatro dias que Lázaro estava no sepulcro. Ora, Betânia distava de Jerusalém cerca de quinze estádios. Muitos judeus tinham vindo a Marta e a Maria, para lhes apresentar condolências pela morte de seu irmão. (João 11, 17-19)

Mal soube Marta da vinda de Jesus, saiu-lhe ao encontro. Maria, porém, estava sentada em casa. Marta disse a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido! Mas sei também, agora, que tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá. Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressurgirá. Respondeu-lhe Marta: Sei que há-de ressurgir na ressurreição no último dia. Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto? Respondeu ela: Sim, Senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo. A essas palavras, ela foi chamar sua irmã Maria, dizendo-lhe baixinho: O Mestre está aí e chama-te. Apenas ela o ouviu, levantou-se imediatamente e foi ao seu encontro. (Pois Jesus não tinha chegado à aldeia, mas estava ainda naquele lugar onde Marta o tinha encontrado.) Os judeus que estavam com ela em casa, em visita de pêsames, ao verem Maria levantar-se depressa e sair, seguiram-na, crendo que ela ia ao sepulcro para ali chorar. Quando, porém, Maria chegou onde Jesus estava e o viu, lançou-se aos seus pés e disse-lhe: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido! Ao vê-la chorar assim, como também todos os judeus que a acompanhavam, Jesus ficou intensamente comovido em espírito. E, sob o impulso de profunda emoção, perguntou: Onde o pusestes? Responderam-lhe: Senhor, vinde ver. Jesus pôs-se a chorar. Observaram por isso os judeus: Vede como ele o amava! Mas alguns deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos do cego de nascença, fazer com que este não morresse? (João 11, 20-37).

Tomado, novamente, de profunda emoção, Jesus foi ao sepulcro. Era uma gruta, coberta por uma pedra. Jesus ordenou: Tirai a pedra. Disse-lhe Marta, irmã do morto: Senhor, já cheira mal, pois há quatro dias que ele está aí… Respondeu-lhe Jesus: Não te disse eu: Se creres, verás a glória de Deus? Tiraram, pois, a pedra. Levantando Jesus os olhos ao alto, disse: Pai, rendo-te graças, porque me ouviste. Eu bem sei que sempre me ouves, mas falo assim por causa do povo que está em roda, para que creiam que tu me enviaste. Depois destas palavras, exclamou em alta voz: Lázaro, vem para fora! E o morto saiu, tendo os pés e as mãos ligados com faixas, e o rosto coberto por um sudário. Ordenou então Jesus: Desligai-o e deixai-o ir. Muitos dos judeus, que tinham vindo a Marta e Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele. (João 11, 38-45).

No bairro São Lázaro, o dia do santo é comemorado com uma série de atividades que incluem missas, arraial e a procissão que percorre as principais ruas da comunidade, entre os dias 02 e 10 de fevereiro. No dia 11 do mesmo mês ocorre a benção dos animais. Durante a Idade Média, tornou-se padroeiro dos leprosos por causa de uma associação errônea feita entre sua figura e a de Lázaro da Parábola de São Lucas, o Evangelista. As imagens sacras reproduzidas mostram, em alguns casos, um Lázaro coberto por chagas, segurando muletas e acompanhado por dois cachorros; ou um Lázaro com vestes nobres segurando a Igreja de Larnaca, Chipre. São Lázaro é protetor dos enfermos, dos pobres e dos animais.

O escritor Raimundo Motta de Araújo Filho, autor do livro Nova Betânia (2008, Edições Muiraquitã, p. 20), afirma que o nome do bairro Betânia, fundado em 1964, escolhido pelo então arcebispo de Manaus Dom João de Souza Lima, foi uma alusão à cidade de onde veio o Santo São Lázaro, cujo nome batizara o bairro vizinho, fundado quase uma década antes.


CRÉDITO DA IMAGEM:

http://www.wjhirten.com/

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