Rua Rui Barbosa. Foto de 1973. FONTE: Instituto Durango Duarte.
A
rua Rui Barbosa, de apenas 2 quarteirões e uma das mais antigas de
Manaus, tem início na Avenida Sete de Setembro, do lado do Colégio
Amazonense Dom Pedro II, atravessando a rua Henrique Martins e
terminando na rua Saldanha Marinho. Até ser conhecida pelo nome atual, teve outros cinco.
Seu
primeiro nome foi rua do Curral ou
do Curral das Éguas, nomenclatura de origem popular que “lhe
adveio da concentração de mulheres erradas (atividade
prostitucional)” (JORNAL DO COMÉRCIO, 17/06/1976)
naquela parte da cidade conhecida como bairro da República,
fronteiro ao bairro do Espírito Santo, desde os primeiros tempos da
Província. Nela ficava, na esquina com a rua da Palma (Saldanha
Marinho), a tipografia do jornal Amazonas; o já desaparecido casarão
de Pedro Henriques Cordeiro; as tabernas de Joaquim das Neves Garcia,
Sergio Rodrigues Pessoa e Antônio Sarmento Pereira (AMAZONAS,
27/07/1881); os alugadores de carroça José Castor Juanati e Manuel
Gonçalves da Costa; e a Torrefação de Café de José Ferreira da
Silva (ALMANACH, 1884). Por proposta do vereador Antônio Davi de
Vasconcelos Canavarro, a Câmara Municipal, em 31 de julho de 1867,
mudou seu nome para Rua da União.
Ela
conservou esse nome até 1890. Em 11 de novembro daquele ano, o
Superintendente Municipal Silva Teles oficializou o projeto que a
batizava com o nome de rua Campos Sales. Tratava-se de uma homenagem
ao político paulista Manuel Ferraz de Campos Sales (1841-1913),
futuro Presidente da República (1898-1902) e, na época, Ministro da
Justiça. Seis anos depois, em 1896, nova nomenclatura lhe é dada. A
via passa a se chamar rua Afonso de Carvalho, em referência ao
Coronel da Guarda Nacional e político Raimundo Afonso de Carvalho
(1860-?), que em 1907, após a renúncia de Constantino Nery, assumiu
o Governo do Estado. Sua antiga residência, construída entre 1907 e
1908, entre as ruas Ramos Ferreira e Ferreira Pena, existe até os
dias de hoje. Já nesse período, seus principais estabelecimentos
eram o Colégio Santa Rita, os hotéis Faneca e dos Artistas e a
Mercearia Vinagre.
Por
volta de 1910, nova denominação, dessa vez lembrando um amazonense.
Jorge de Moraes (1878-1947) nasceu em Manaus, indo jovem para a
Bahia, onde cursou Medicina. Posteriormente, na França, aprofundou
seus estudos, especializando-se como clínico geral e médico
cirurgião. De volta a Manaus, atuou como cirurgião da Santa Casa de
Misericórdia e da Beneficente Portuguesa, médico do Instituto
Benjamin Constant, membro da Comissão de Saneamento e médico
legista. Oferecia em jornais os serviços de “curativos para
moléstias do útero, operações, partos e syphilis” (JORNAL
DO COMÉRCIO, 19/01/1910). Entra na política em 1905, sendo eleito
Deputado Federal. Em 1909 é eleito Senador pelo Amazonas,
renunciando em 1911 para assumir a Prefeitura de Manaus, posto em que
ficou até 1913, sendo o primeiro Prefeito eleito da capital.
Anteriormente, em 1910, foi o responsável por fazer os
agradecimentos ao Presidente do Conselho de Ministros da França
George Clemenceau, em visita a capital federal. Em 1927 é mais uma
vez eleito Deputado Federal, ficando no cargo até 1930, quando teve
o mandato interrompido pela Revolução de 1930. Jorge de Moraes
assumiu a Prefeitura em um período marcado pela crise econômica. O
historiador Agnello Bittencourt assim descreve sua administração:
“O
ex-senador apenas pode realizar pequenos empreendimentos, arrancados
ao magro orçamento do município. Terminada sua gestão, o prefeito
estava cansado e irritado, coisa costumeira na sua psicologia. […]
Quem quiser melhor conhecer as realizações municipais do triênio
administrativo do Dr. Jorge de Moraes, procure o excelente “Anuário
de Manaus para 1913-1914”, organizado por Heitor de Figueiredo –
1913 – Lisboa” (BITTENCOURT, 1973, p. 293).
Jorge
de Moraes morava nessa rua, ao que se sabe, desde os tempos em que
era chamada Afonso de Carvalho. Seu palacete, com um belo monograma,
localizado no n° 177, quase no fim da rua, resiste às mudanças do
entorno, puramente comercial e quase destituído de seu patrimônio
histórico edificado, cujos últimos exemplares, em sua maioria,
foram transformados em óticas, algumas com várias décadas de
atividades naquela artéria.
Antigo palacete do Dr. Jorge de Moraes. FOTO: Ed Lincon, 2018.
Em
1930, essa rua deixava de se chamar Jorge de Moraes para, até os
dias de hoje, ser conhecida como Rui Barbosa (1849-1923), uma
homenagem ao famoso jurista, escritor e político soteropolitano da
República. Tal mudança não foi aceita de imediato, ecoando
insatisfações décadas mais tarde. O escritor João Chrysostomo de
Oliveira, em artigo publicado no Jornal do Comércio, escreveu que “a
homenagem ao ilustre estadista baiano é muito justa mas injustíssima
a substituição do nome de Jorge de Moraes pelo da “Águia de
Aya”. Ele chegou a pedir que a Câmara Municipal de Manaus
restaurasse “[…] o nome de Jorge de Moraes para a rua da sua
antiga residência”, batizando com o nome Rui Barbosa a Avenida
Tarumã ou “[…] outra via mais conveniente” (JORNAL DO
COMÉRCIO, 08/08/1993). De acordo com o historiador Mário Ypiranga
Monteiro, em seu Roteiro Histórico de Manaus, a rua Rui Barbosa “foi
das poucas ruas que findaram em ser beneficiadas com asfalto, ainda
podendo ver-se as paralelas de aço dos trilhos de bondes”
(MONTEIRO, 1998, p. 615).
FONTES:
Amazonas,
27/07/1881.
Almanach
Administrativo, Historico, Estatistico e Mercantil da Provincia do
Amazonas, 1884.
Jornal
do Comércio, 19/01/1910.
Jornal
do Comércio, 17/06/1976.
Jornal
do Comércio, 08/08/1993.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
BITTENCOURT,
Agnello. Dicionário Amazonense de Biografias: Vultos do Passado. Rio
de Janeiro, Conquista, 1973.
MONTEIRO,
Mário Ypiranga. Roteiro Histórico de Manaus. Manaus, Editora da
Universidade do Amazonas, 1998.
CRÉDITO DAS IMAGENS:
Instituto Durango Duarte.
Ed Lincon.
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Meus
agradecimentos aos amigos Eros Augusto Pereira da Silva, pela cessão
do livro do historiador Mário Ypiranga Monteiro, e Ed Lincon Barros
da Silva, pela foto do palacete do Dr. Jorge de Moraes.
Bela aula sobre uma das antigas ruas do centro. Espero que não mude mais de nome... ó mania que temos...
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