quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Ruas de Manaus: Lima Bacury

Rua Lima Bacury. FOTO: Fábio Augusto, 2019.

A rua Lima Bacury começa no antigo Igarapé dos Remédios, posteriormente do Aterro e atual Avenida Floriano Peixoto, em frente a Praça Heliodoro Balbi (antiga Praça 28 de Setembro, Praça da Constituição), atravessa as ruas Izabel, Dr. Almínio e Avenida Joaquim Nabuco e termina no Igarapé de Educandos, trecho aterrado e transformado em Avenida Lourenço da Silva Braga. Ela fazia parte do antigo bairro dos Remédios.

Sua abertura possivelmente seu deu antes de 1870. Em 1875 a Câmara Municipal de Manaus lhe outorgou o nome de rua da Concórdia, em homenagem, de acordo com o historiador e folclorista Mário Ypiranga Monteiro “a ascensão do ministério de 25 de maio de 1875” (MONTEIRO, 1998, p. 169). Não foi possível identificar que ascensão de ministério foi essa que o autor cita, mas a palavra concórdia tem relação com paz, harmonia, podendo ser este nome uma alusão ao fim de alguma disputa política ou militar.

Coronel Francisco Ferreira de Lima Bacury (1848-1917). FONTE: Jornal A Capital, 27/10/1917.

Tal nomenclatura desaparece em 9 de março de 1892, quando a rua, por proposta do Intendente Antônio Dias dos Passos, passou a homenagear o jornalista, político e militar Coronel Francisco Ferreira de Lima Bacury (1848-1917). Lima Bacury nasceu em Manaus em 04 de outubro de 1848, falecendo na mesma cidade em 26 de outubro de 1917 aos 69 anos. Residia na rua Igarapé de Manaus. Foi amanuense da Secretaria da Província, Deputado Estadual, Federal e Inspetor do Tesouro do Estado. Foi homenageado com o nome de uma rua por sua participação nos movimentos políticos de 1891-1892 que culminaram na deposição do Governador Gregório Thaumaturgo de Azevedo e na restituição e ascensão de Eduardo Gonçalves Ribeiro ao Governo do Estado do Amazonas. Sobre o assunto, ver o texto A Revolta de 14 de Janeiro de 1892. Os anúncios dos estabelecimentos comerciais antigamente estabelecidos na rua da Concórdia, bem como os de compra e venda, passaram a indicar a mudança do nome da rua:

"Casas à venda
Vendem-se duas casas à rua da Concordia, hoje Lima Bacury.
Quem pretender dirija-se á Ismael Victorio Gomes (AMAZONAS, 14/02/1893).

Dois registros produzidos pelo fotógrafo alemão George Huebner em 1890, quando a nomenclatura ainda era Concórdia, nos permitem ter uma noção de como era essa rua desde sua abertura até os anos finais do século XIX. No primeiro temos a via no sentido de quem vai para o Igarapé dos Remédios (Avenida Floriano Peixoto); no outro, em sua parte final, à margem do Igarapé de Educandos. O terreno, por ser margeado por dois igarapés, era bastante alagadiço, além de ser irregular. A iluminação era feita por postes rústicos possivelmente no período provincial. As casas, em sua maioria, eram simples, mas algumas já apresentavam algum refinamento arquitetônico, sendo, no entanto, divididas por cercas de madeira.

Rua da Concórdia (Lima Bacury), sentido Igarapé dos Remédios, 1890. FOTO: George Huebner. FONTE: Instituto Moreira Salles.

Rua da Concórdia (Lima Bacury), sentido Igarapé de Educandos, 1890. FOTO: George Huebner. FONTE: Instituto Moreira Salles.

Por volta de 1895 funcionou nessa rua uma escola noturna cujo professor responsável era Cyrilo Leopoldo da Silva Neves (DIÁRIO OFICIAL, 17/01/1895). Em 1897, conforme a relação de obras e pagamentos efetuados entre 23 de julho de 1896 e 31 de dezembro de 1897, ela foi desaterrada ao custo de 4:375$000 réis (DIÁRIO OFICIAL, 01/03/1898). Quando do aterro daquela parte do Igarapé dos Remédios, posteriormente transformada em Avenida Floriano Peixoto, a rua Lima Bacury “[…] ficou por esse modo ligada á Praça da Constituição (Praça Heliodoro Balbi, da Polícia)” (MENSAGEM, 15/01/1901).

Se tem notícia, entre 1914 e 1915, do funcionamento da sede da Sociedade União dos Alfaiates de Manáos nessa rua e, na década de 1920, da existência de uma vila chamada Costa. Em 1956 ela teve o calçamento consertado, bem como recebeu a “[…] mudança da tubulação de esgôtos do trecho entre Dr. Almínio e Izabel” (MENSAGEM, 1956, p. 120). Em 1958 o trecho entre a Avenida Joaquim Nabuco e rua Dr. Almínio foi recalçado. Foi da rua Lima Bacuri que se idealizou, em 1972, a ponte que ligaria o Centro ao bairro de Educandos. Os primeiros pilares foram construídos, mas o projeto foi modificado e escolhida a ligação pela rua Quintino Bocaiuva que resultou na Ponte Pe. Antônio Plácido de Souza, concluída em 1975. Até a demolição do Cine Guarany em 1984, a Lima Bacury era uma rua de trânsito livre. Quando o cinema veio abaixo, poucos anos depois foi erguido um ponto de ônibus que fechou o trânsito de carros para a Avenida Floriano Peixoto.

Ao longo da via podem ser vistas construções de estilos e épocas variadas, como os belos casarões da família Péres. Boa parte, no entanto, já foi demolida ou encontra-se grosseiramente modificada. Dois partidos políticos foram sediados nessa rua, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Movimentam a tradicional Lima Bacuri alguns estabelecimentos, podendo ser destacados a Livraria Sebo Alienígena, referência em vinis, livros e revistas, o Bar do Metal, o Bar da Claudinha e, desde fins da década de 1970, a Escola de Samba Balaku Blaku.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

MONTEIRO, Mário Ypiranga. Roteiro Histórico de Manaus. Manaus, Editora da Universidade do Amazonas, 1998.


FONTES:

Amazonas, 14/02/1893.

Diário Oficial, 17/01/1895.

Diário Oficial, 01/03/1898.

Mensagem lida perante o Congresso dos Snrs. Representantes em sessão extraordinaria de 15 de Janeiro de 1901 pelo Dr. Silverio José Nery, Governador do Estado.

Mensagem à Assembleia Legislativa apresentada pelo Governador do Estado do Amazonas Plínio Ramos Coelho por ocasião da abertura da sessão Legislativa de 1957.


CRÉDITO DAS IMAGENS:

Jornal A Capital, 27/10/1917.

Instituto Moreira Salles.

Jornal A Capital, 27/10/1917.



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Meus agradecimentos ao amigo Eros Augusto Pereira da Silva pela cessão do livro do historiador Mário Ypiranga Monteiro. Infelizmente o primeiro dos dois volumes da obra foi furtado da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas, na rua Barroso, impossibilitando a pesquisa no local.


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