Bartyra Pucú Aguiar, 2° lugar no Concurso de Datilografia da Escola Remington, em Manaus. FONTE: A Capital, 27/07/1917.
Apesar da máquina de escrever
ter sido inventada no século XVIII e aperfeiçoada no XIX, a datilografia se popularizou
apenas no início do século XX. As empresas e repartições públicas
daquele período procuravam cada vez mais a rapidez e a eficiência.
Gastava-se um tempo precioso no preenchimento de notas e emissão de
documentos escritos a mão. A datilografia possibilitou a produção
de documentos através da digitação, uma forma bem mais rápida que
a tradicional.
As máquinas de escrever
começaram a ser comercializadas em Manaus no início do século XX.
As máquinas das marcas Royal, Underwood e Remington eram anunciadas,
nos periódicos, como as mais elegantes e modernas do gênero.
Anúncio da máquina de escrever 'Underwood'. FONTE: Jornal do Comércio, 21/08/1909.
Percebida a importância dessa
técnica, logo ela foi incorporada ao currículo escolar. Em 1914 a
Datilografia tornou-se uma disciplina do Instituto Benjamin Constant,
na rua Ramos Ferreira (MENSAGEM, 10/07/1914, p. 32). Em 1918 é
criada oficialmente a Cadeira de Datilografia na Escola Normal
(MENSAGEM, 10/07/1918, p. 140). O público-alvo dessa disciplina
seria o feminino. Desde o início essa técnica ficou associada às
mulheres. Sobre a importância do ensino de datilografia às órfãs
do Instituto Benjamin Constant, o Diretor Desembargador Gaspar Vieira
Guimarães afirmou que era seu propósito:
“[…]
desenvolver efficazmente o ensino da dactylographia ás educandas que
terminem o Curso Medio Complementar, habilitando-as a ganhar a vida
no commercio, como auxiliares de escripta, emprego bastante
remunerado na actualidade, precisando esta Directoria, para o alcance
desse objectivo, apenas do credito indispensavel para a aquisição
de seis machinas de escrever de typos diversos”. (MENSAGEM,
14/07/1923, p. 140).
Como
escreveu o Diretor do Instituto Benjamin Constant, o curso de
datilografia poderia garantir uma vaga no comércio. Ter um
certificado nessa área era um requisito para assumir algum cargo nas
instituições e repartições que iam sendo criadas na cidade. Em
1916, quando foi aberta uma agência do Banco do Brasil em Manaus,
uma de suas exigências era que os candidatos interessados em uma
vaga de emprego deveriam
“Sujeitar-se
a exame, perante uma commissão nomeada pelo Banco, de portuguez,
francez, inglez, geographia commercial, arithmetica, escripturação
mercantil e dactylographia” (JORNAL DO COMÉRCIO,
29/07/1916).
A escola de datilografia mais
famosa de Manaus no início do século passado foi a Escola
Remington, criada em 1916 pelos proprietários da Livraria Palais
Royal, localizada na rua Municipal (Avenida Sete de Setembro).
Posteriormente foram criadas as escolas Royal e Underwood, ambas na
Avenida Sete de Setembro. Não devem ser esquecidos os cursos de Datilografia da Santo Antônio Commercial School, na Avenida Sete de Setembro, e da Escola de Comércio Solón de Lucena. Dois interessantes registros fotográficos
sobre alunas de datilografia foram publicados no jornal A Capital em
1917. Neles temos as jovens Bartyra Pucú Aguiar e Aracy Ferreira de
Souza, alunas da Escola Remington, durante concurso realizado na
mesma em 26 de julho daquele ano. O 1° lugar ficou com Amenaid Durand, enquanto Bartyra foi classificada em 2°
lugar e Aracy em 3°, ambas recebendo os diplomas de competência
profissional.
Aracy Ferreira de Souza, 3° lugar no Concurso de Datilografia da Escola Remington, em Manaus. FONTE: A Capital, 27/07/1917.
Como eram realizadas as provas
de datilografia? A esse respeito é bastante elucidativo um informe
de 1947 do concurso da Caixa Econômica Federal do Amazonas:
“DATILOGRAFIA
– A prova de datilografia na qual serão exibidas condições de
velocidade e correção, constará de cópia, durante 15 minutos, de
trecho impresso, contendo mil e duzentos toques, nestas computados –
letras, acentos, números e pontuação, e, também, os espaços
entre as palavras e os paragrafos.
Sera
atribuida a nota CEM, ao candidato que fizer cópia sem erro, dentro
dos 15 minutos estabelecidos.
Os
candidatos que não puderem executar a cópia dentro desse prazo,
poderão prosseguir na prova, durante mais dez minutos, caso em que a
graduação da nota de velocidade decrescerá até ZERO, na razão
inversa do tempo utilisado.
A
nota final sera dada deduzindo-se dos pontos referentes à
velocidade, o total dos pontos negativos, correspondentes aos erros
cometidos.
Será
considerado habilitado nesta prova o candidato que obtiver nota igual
ou superior a CINQUENTA pontos (50)”. (JORNAL DO COMÉRCIO,
20/11/1947).
Anúncio de 1938 da máquina de escrever 'Royal'. FONTE: Jornal do Comércio, 30/01/1938.
Diploma de Datilografia de 1942 do Advogado Dr. Eros Pereira da Silva (1923-2008), aluno da Escola Royal de Manaus. FONTE: Cedido gentilmente por Eros Augusto Pereira da Silva, seu filho.
Além
dos cursos particulares, geralmente voltados para pessoas com maior
poder aquisitivo, podia-se aprender datilografia em escolas públicas (eram poucas),
igrejas e centros comunitários. A datilografia atinge o seu auge nos
anos 1970. Entre as décadas de 1980 e 1990, com o surgimento e
difusão dos computadores, essa técnica foi desaparecendo. Chegou um
momento em que os cursos pararam de ser ofertados, restando apenas
lembranças impressas em forma de diplomas ou fotografias.
FONTES:
Mensagem do Governo do Estado do Amazonas, 10/07/1914.
Mensagem do Governo do Estado do Amazonas, 10/07/1918.
Mensagem do Governo do Estado do Amazonas, 14/07/1923.
Jornal do Comércio, 29/07/1916.
Jornal do Comércio, 20/11/1947.
Nenhum comentário:
Postar um comentário