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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Uma Avenida chamada Sete de Setembro

Rua Municipal (Av. Sete de Setembro), 1917.

A Avenida Sete de Setembro, uma importante via do Centro Histórico de Manaus, começa no antigo bairro de São Vicente, centro antigo, nos arredores do Paço Municipal, antiga prefeitura, e termina na ponte de ferro Benjamim Constant, limite com o bairro Cachoeirinha.

De acordo com Mário Ypiranga Monteiro, em seu Roteiro Histórico de Manaus, a Avenida recebeu, através dos séculos, as seguintes denominações:

''Rua Direita (1787); Rua Liberal (Entre 1831 a 1832); Rua Brasileira (1841); Rua do Sol (1844); Rua de Manaus (1866); Rua Brasileira (1879); Rua Municipal (1894 e 1895); Rua Fileto Pires (1897); Rua Municipal (1898; 1899; 1906; 1913 e 1915); Avenida Sete de Setembro (1922 e 1924); Avenida Efigênio Sales (Entre 1925 e 1929) e Avenida Sete de Setembro (193- até hoje)''. (Avenida Sete de Setembro: o retrato de um passado presente e o seu legado para o turismo em Manaus-Amazonas).

Em seus mais de 2.400 metros de extensão, estão alguns dos marcos históricos e arquitetônicos mais importantes da cidade:

Em seu início, no antigo bairro São Vicente, fica a Praça Dom Pedro II, um dos logradouros mais antigos da cidade, assentado sob um cemitério indígena.

Em frente a Praça Heliodoro Balbi (da Polícia), está o imponente prédio do Gymnasio Amazonense Dom Pedro II, popularmente conhecido como colégio Estadual, a escola mais tradicional de Manaus, fundada em 1886 e responsável por formar vários intelectuais de expressão dentro e fora do Amazonas.

Na Esquina da Avenida Sete de Setembro com a rua Marechal Deodoro, está o prédio do antigo Grande Hotel que, no início do século passado, tinha cem quartos e oferecia serviços de primeira ordem para seus hóspedes. Foi um dos principais hotéis da cidade até 1951, quando foi inaugurado o moderníssimo Hotel Amazonas. Atualmente, funciona em suas dependências uma loja de departamentos.


Avenida Sete de Setembro, com destaque para os prédios da Casa 22 Paulista e o Palace Hotel.

Na parte de trás da Catedral Metropolitana, alguns postes estilo ''cajado de São José'' resistem ao tempo, dando um charme especial àquela parte da avenida. Nessa mesma parte ficam os prédios da Casa 22 Paulista, um tradicional comércio de tecidos construído no final do século 19 que, segundo contam, abrigou 22 paulistas; e o Palace Hotel, inaugurado em 1953, nas dependências do prédio da extinta firma Kahn Polack.

Na esquina da Avenida Getúlio Vargas com a Sete de Setembro, sobram apenas memórias das sessões do Cine Polytheama, fundado em 1916 e tendo encerradas suas atividades em 1973. Para a lembrança dos mais velhos e o conhecimento dos mais novos, parte da fachada com o nome do cinema e duas sereias segurando uma harpa, como símbolos, estão de pé. Atualmente o local funciona como uma das filiais das lojas Americanas.

Passando o Cine Polytheama, mais acima da avenida, quase próximo ao Palácio Rio Negro, fica um conjunto de prédios históricos descaracterizados e poluídos visualmente. Próximo a esse conjunto, um belo prédio cor de rosa, onde funcionou o Quartel do Corpo de Bombeiros e o Museu do Homem do Norte, está abandonado a quase uma década, esperando restauro.


Palácio Rio Negro, 1917.

Construído em estilo eclético, no início do século 20, para ser residência do rico comerciante alemão Kark Waldemar Scholz, o Palácio Rio Negro é talvez a construção mais suntuosa da Avenida Sete de Setembro e uma das que melhor representa o auge do ciclo da borracha. 

Seus jardins, ornamentados com estatuetas de ferro, algumas assinadas por famosos escultores, o piso e as escadarias construídas com madeiras nobres e os imensos salões e móveis importados, revelam o que de melhor o dinheiro da borracha podia comprar. A partir de 1912, a crise da borracha abala o comércio de Scholz. A Primeira Grande Guerra e estagnação da linha comercial Manaus-Hamburgo (Alemanha), pioram a situação do comerciante. 

Para sanar suas dívidas, Scholz hipotecou sua residência para outro seringalista que, mais tarde, em 1917, o vendeu para o governo. O Palácio serviu de sede do Governo do Estado do Amazonas de 1917 até 1995. No local, desde 1997, funciona o Centro Cultural Palácio Rio Negro, aberto a exposições, recitais, lançamentos e eventos.

Com o objetivo de  recuperar a área dos igarapés, que até então era um grande aglomerado de palafitas; e de tornar o local mais prazeroso para os transeuntes, o PROSAMIM, em 2009, presentou a cidade com o Parque Senador Jefferson Péres, uma grande área arborizada, com passeios e atrações como o Chafariz das Quimeras.


Primeira Ponte Romana, 2010.

Ainda na Avenida Sete de Setembro estão três das principais pontes da cidade. Até o final do século 19, essa parte da cidade, assim como outras, era cortada por vários igarapés. Na avenida Sete de Setembro são três: Igarapé de Manaus, Bittencourt e da Cachoeirinha. O governador Eduardo Ribeiro, em ato louvável de expandir os limites da cidade e ligar suas respectivas regiões, manda construir três pontes.


Segunda Ponte Romana.

As duas primeiras, popularmente conhecidas como pontes romanas, por seus estilos pesados e robustos, ou Primeira e Segunda pontes, foram inauguradas no final do mandato de Eduardo Ribeiro, em 1896. A primeira, cujo nome oficial é Floriano Peixoto, foi construída sobre o Igarapé de Manaus. A segunda, conhecida como Marechal Deodoro ou Segunda Ponte, foi construída sobre o Igarapé do Bittencourt. A terceira ponte, construída entre 1890 e 1895, com material importado da Inglaterra, é conhecida como ponte Benjamim Constant. Ela liga o Centro ao bairro Cachoeirinha.


Ponte de Ferro Benjamim Constant, 2009.

A Casa de Detenção de Manaus, oficialmente conhecida como Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, foi concluída em 1906, no governo de Antônio Constantino Nery. O prédio se assemelha a uma fortaleza medieval. Com mais de 100 anos de funcionamento, a cadeia já não consegue atender a demanda. Fugas se tornaram frequentes.

Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa.

Na Avenida Sete de Setembro podem ser encontradas outras construções históricas, muitas delas precisando de restauro e pesquisas mais apuradas sobre suas origens, como, por exemplo, o curioso conjunto de três casas em estilo holandês, na esquina com a rua Visconde de Porto Alegre. É necessária a maior conscientização da população e das autoridades competentes para melhorar a preservação dessa via, importante para a integração entre bairros e rica em História.



CRÉDITO DAS IMAGENS: Manaus Sorriso
                                      ClickAmazônia
                                      http://georgelins.com/


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Manaus, sua origem: Tristeza e lágrimas na Cidade Flutuante

Postal "Rua da Cidade Flutuante", 1960.

Terminado o ciclo da borracha, um grande contingente de trabalhadores ficou abandonado nos seringais e nas cidades do interior. Buscando oportunidades e melhores condições de vida, essas pessoas migraram para a capital. A partir de 1920, começou a se formar na orla do rio Negro, mais exatamente no porto de Manaus, um enorme aglomerado de casas de madeira e palha, que ficou conhecido como Cidade Flutuante, uma grande favela fluvial que chegou a ter cerca de 12.000 habitantes. A "cidade dentro da cidade" teve seu fim durante o governo de Arthur Cézar Ferreira Reis (1964 - 1967).

Ninguém, absolutamente ninguém, pode discordar de que as autoridades estão mesmo dispostas a terminar de uma vez por todas com a famosíssima Cidade Flutuante. Diariamente, a reportagem vem assistindo o drama triste e um tanto doloroso das famílias que são obrigadas a abandonar seus lares de longos e longos tempos, para em seguida virem seus flutuantes serem destruídos. A quebra quebra de flutuantes todos os dias é o que há de mais triste que se pode imaginar. Temos visto por exemplo, as lágrimas que correm pelas faces [...] das mulheres e crianças que ficam sem teto.

A Capitania dos Portos do nosso Estado, enquanto isso, vem agindo severamente no processo de liquidação dos flutuantes [...]. A população desse submundo encontra-se aterrorizada em face da maneira violenta com que estão destruindo as casas. Por outro lado, quase todos os proprietários de estabelecimentos comerciais [...] estão com prazo marcado para abandonarem ou retirarem seus flutuantes daquele local.

[...] Não estamos contra as medidas adotadas pelas autoridades competentes, o que não concordamos é com a violência pela qual estão quebrando os flutuantes. Acreditamos que as autoridades sabem o que fazem ou do contrário as consequências para as pessoas desabrigadas serão terríveis.

Assim pois, apelamos as autoridades responsáveis para que continuem no processo de extermínio da Cidade Flutuante, mas que esse processo não venha a prejudicar de maneira fatal as humildes famílias ali residentes. É preciso muita calma, muita calma mesmo.

Tristeza e lágrimas na Cidade Flutuante. Jornal O Grito. Manaus, quarta-feira, 31 de março de 1965. Acervo pessoal.


Com o fim da Cidade Flutuante, em 1967, seus antigos moradores foram residir em outras áreas de Manaus, principalmente em bairros em processo de formação, como a Raiz, na zona Sul, e a Compensa, na zona Oeste.

Postal da Cidade Flutuante, 1960.


CRÉDITO DAS IMAGENS: http://catadordepapeis.blogspot.com.br/