Residência do Presidente da Província.
Na passagem pelo Amazonas, o casal Agassiz descreveu um grandioso baile ocorrido na cidade de Manaus, entre 1865 e 1866. Tratava-se de uma homenagem ao Sr. Tavares Bastos, político que foi presidente das províncias de Alagoas, de 29 de outubro a 30 de outubro de 1838, e de São Paulo, de 8 de novembro de 1866 a 12 de outubro de 1867.
8 de novembro - Desacostumada
animação reina desde alguns dias em Manaus. Trata-se de organizar um grande
baile em homenagem ao Sr. Tavares Bastos. Onde se realizará? Em que dia? A que
hora? E, quanto às senhoras, que vestido havemos de botar, qual será a toalete
da Sra...? Tais os motivos da animação. Essas delicadas questões foram enfim
resolvidas e ficou aprovado que a "função" teria lugar no dia cinco
deste mês, no "Palácio". Este é o nome invariavelmente dado à
residência do Presidente, mesmo quando ela consiste numa pequena casa, modesta
demais para carregar o pomposo título. A noite do dia marcado não foi tão
favorável como se desejava; esteve muito escura, e, como o luxo de carruagens é
totalmente desconhecido, os grupos atravessam às carreiras as ruas iluminadas
por lanternas de mão. Aqui e ali, pelo caminho, via-se, num trecho de rua,
surgir do escuro uma toalete de baile saltando por cima duma poça de lama.
Entretanto, quando todos já haviam chegado, observei que nenhum dos vestidos
sofrera muito com a caminhada pelas ruas. Era grande a variedade das toaletes;
a seda e o cetim misturavam-se à lã e às gazes, e os rostos mostravam todas as
tonalidades do negro ao branco, sem esquecer as cores acobreadas dos índios e
dos mestiços. Não há aqui, com efeito, o menor preconceito de raça. Uma mulher
preta — admitindo-se, já se vê, que seja livre — é tratada com a mesma
consideração e obtém a mesma atenção que teria se fosse branca. Todavia, é raro
encontrar-se na sociedade uma pessoa que seja absolutamente de pura raça negra,
mas vêm-se numerosos mulatos e mamelucos, como chamam aos mestiços de índio e
negro. Reina geralmente um certo constrangimento na sociedade brasileira, mesmo
nas grandes cidades; com mais forte razão nas pequenas, onde, para evitar
qualquer omissão, se exagera ainda mais o rigorismo das convenções sociais. Os
brasileiros, com efeito, tão hospitaleiros e bons, são muito formalistas e
enfatuados em matéria de etiqueta e cerimônias. As damas, ao chegarem, vão sentar-se
em banquetas estofadas que estão colocadas ao longo das paredes do salão de
danças; de tempos em tempos, um cavalheiro avança corajosamente até essa
formidável linha de encantos femininos e diz algumas palavras; mas só mais
tarde, depois que as danças dividem os convidados por grupos que se misturam é
que a festa se torna realmente alegre.
Nos intervalos, as bandejas circulam, carregadas de doces e xícaras de chá e por volta de meia-noite a ceia é servida; as damas tomam lugar à mesa, tendo, de pé, por trás de cada uma, os seus cavalheiros. Principiam logo os brindes e as saúdes, feitos e recebidos com entusiasmo. E o baile recomeça. Estavam as danças muito animadas quando, entrando no porto, o paquete vindo de Pará ficou todo iluminado e soltou girândolas e foguetes em sinal de regozijo pelas boas notícias da guerra. A alegria chegou ao auge; as quadrilhas, interrompidas, sucederam-se ruidosas manifestações de júbilo. A maioria dos assistentes passou a noite em claro e dirigiu-se para bordo do navio para receber os jornais; não tardamos em saber que uma vitória decisiva fora ganha sobre os paraguaios em Uruguaiana, onde o Imperador comandava em pessoa. Dizem que foram feitos aí sete mil prisioneiros. No dia seguinte, foi dado um novo baile para comemorar a vitória, de modo que em Manaus, cujos habitantes se queixam de levar uma vida triste, houve esta semana um turbilhão de alegria absolutamente excepcional.
Viagem ao Brasil, 1865-1866. Louis Agassiz e Elisabeth Cary Agassiz.
Nos intervalos, as bandejas circulam, carregadas de doces e xícaras de chá e por volta de meia-noite a ceia é servida; as damas tomam lugar à mesa, tendo, de pé, por trás de cada uma, os seus cavalheiros. Principiam logo os brindes e as saúdes, feitos e recebidos com entusiasmo. E o baile recomeça. Estavam as danças muito animadas quando, entrando no porto, o paquete vindo de Pará ficou todo iluminado e soltou girândolas e foguetes em sinal de regozijo pelas boas notícias da guerra. A alegria chegou ao auge; as quadrilhas, interrompidas, sucederam-se ruidosas manifestações de júbilo. A maioria dos assistentes passou a noite em claro e dirigiu-se para bordo do navio para receber os jornais; não tardamos em saber que uma vitória decisiva fora ganha sobre os paraguaios em Uruguaiana, onde o Imperador comandava em pessoa. Dizem que foram feitos aí sete mil prisioneiros. No dia seguinte, foi dado um novo baile para comemorar a vitória, de modo que em Manaus, cujos habitantes se queixam de levar uma vida triste, houve esta semana um turbilhão de alegria absolutamente excepcional.
Viagem ao Brasil, 1865-1866. Louis Agassiz e Elisabeth Cary Agassiz.
CRÉDITO DA IMAGEM: manausdeantigamente.blogspot.com
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