Tirando a fiação, que polui a paisagem, é um belo prédio entre as esquinas da rua Manoel Urbano e Boulevard Sá Peixoto.
Depois do sucesso do artigo Casarões e Palacetes de Manaus, prometi aos leitores abordar novamente o assunto. Dessa vez vamos ao Educandos, tradicional bairro da Zona Sul de Manaus. Nesse bairro, ainda existem alguns exemplares de casarões antigos. Próximo a ponte Pe. Antônio Plácido de Souza (indo para o Centro), é possível observar, do ônibus, do carro ou até mesmo em uma caminhada, conjuntos de casas construídas entre os anos 40 e 50. O que mais impressiona é que, os moradores dessas residências, tem conservado um hábito cada vez mais difícil de se ver nas grandes cidades: No final da tarde, cadeiras na frente de casa e muitas conversas entre a família e os vizinhos.
A primeira construção, de 1956, é de autoria de Raimundo Alves de Oliveira (1906-1979), cearense que veio para Manaus em 1953 e se tornou famoso por transformar a arquitetura do Educandos entre 1955 e 1970.
Mas porquê Um Tesouro no bairro de Educandos? Um tesouro, pelo simples fato de que, a construção histórica que irei abordar, 'a Vila Cavalcante' trata-se do único exemplar de arquitetura centenária preservada que restou no bairro.
Hoje pela manhã me encontrei com Cláudio Amazonas, escritor, historiador e pesquisador sobre o bairro de Educandos. Conversamos e tirei algumas dúvidas sobre a Vila Cavalcante. Depois de algumas horas de conversa, fui tirar algumas fotos do casarão. Sobre as fotos, aconteceu um fato interessante. Enquanto eu as tirava, uma senhora que estava observando me perguntou: O que tem de tão especial nessa casa ? Eu disse que é um casarão centenário, último exemplar do bairro. Com espanto ela disse: Menino, eu não sabia, pensava que esse 1912 era o número de localização e não a data da construção.
A Antiga Vila Cavalcante
A antiga Vila Cavalcante, último exemplar conservado e um dos primeiros prédios feitos em alvenaria no bairro.
Segundo o escritor, historiador e pesquisador Cláudio Amazonas, o casarão da antiga Vila Cavalcante foi um dos primeiros prédios de alvenaria a ser construído no bairro. No início do século 20, ruas largas e arborizadas em Constantinópolis (em homenagem a Constantino Nery, governador da época), eram ocupadas por edificações parecidas umas com as outras, com uma arquitetura de origem portuguesa que lembravam chalés.
Na rua Delcídio Amaral existe a Vila Neuza, construída em 1889 (totalmente descaracterizada) e, no Boulevard Sá Peixoto a Vila Péres construída no mesmo ano (já demolida e sem registro algum). No Boulevard Rio Negro, existiram até 1988, dois lindos chalés construídos em 1906 pelo Coronel do Exército Brasileiro e diretor do Hospital Geral de Manaus, José Leandro Hermes de Araújo.
Vamos a principal edificação. No Boulevard Sá Peixoto, a Vila Cavalcante, construída em 1912, é a única dessas construções que o "tempo" não levou e mantem suas características originais.
Em cima do óculo, a data: 1912.
A antiga Vila leva o nome de uma família de seringalistas do Alto Juruá, adquirida em 1912 pelo regatão Manuel Figueiredo de Barros, que morou nela até 1935, quando a vendeu para o comerciante de estivas Joaquim Ferreira da Silva, pela importância de Rs.: 11.000$000 (onze mil contos de réis), através do recibo de 5 de maio daquele ano.
Joaquim Ferreira e a família, 1939.
Na Vila Cavalcante, sob a proteção da família Ferreira, ali residiram, entre as décadas de 40 e 50, importantes personalidades, dentre elas Siqueira Campos, primeiro governador e político de grande expressão no Estado de Tocantins, e os irmãos Denizard (advogado no Rio de Janeiro) e Deni Menezes, famoso repórter esportivo da Rede Globo de Televisão.
Na Vila funcionou, logo que foi criado, em 1924, o Grupo Escolar "Machado de Assis", e na década de 30 o escritório dos Correios, sob a chefia de dona Ivone Robert da Encarnação. Até 19 de novembro de 1990, residia ali, com os filhos, a herdeira de Joaquim Ferreira, dona Hilda, viúva de Adauto Costa, quando a propriedade passou às mãos do comerciante Américo de Souza Santos e, logo em seguida, para o comerciante Demétrio Salles.
Atualmente o prédio pertence à Fundação Santa Catarina, uma organização religiosa vinculada à Igreja Católica.
Esse casarão, assim como eu disse em Casarões e Palacetes de Manaus, é parte da história de Manaus. Graças ao bom coração de seus proprietários, a Antiga Vila Cavalcante permanece de pé. Manaus é assim, a cada caminhada uma nova descoberta a ser feita.
Cláudio Amazonas
Hoje pela manhã, eu e o escritor, historiador e pesquisador Cláudio Amazonas.
Cláudio Amazonas nasceu em 1° de maio de 1945, é jornalista, bacharel em Teologia e graduando em Docência do Ensino Superior. Trabalhou nos jornais A Crítica, Jornal do Commercio, A Notícia e Diário do Amazonas, como repórter, chargista, copy desk e editor. Foi secretário do Serviço de Loteria do Estado, chefe do setor de Comunicações, secretário geral e diretor administrativo da Centrais Elétricas do Amazonas S/A - Celetramazon; foi diretor administrativo/financeiro da Companhia de Navegação Interior do Amazonas - Conavi, diretor-administrativo/financeiro da Empresa Amazonense de Extensão Rural - Emater, pertenceu a diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas e suplente de Deputado Estadual.
Estreou na literatura com Memórias do Alto da Bela Vista - Roteiro Sentimental de Educandos, lançado na solenidade dos Cem Anos do Teatro Amazonas (1996), seguido de Gonçalo, o Rei da Noite - As peripécias de um certo marreteiro, premiado nacionalmente no I Concursos Literários Cidade de Manaus; Constantinópolis: Origens e Tradições, Prêmio Mário Ypiranga Monteiro, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura e Academia Amazonense de Letras (1997). É membro da Academia de Letras e Artes de Paranapuã - Alap (Ilha do Governador/Rio de Janeiro).
É autor, ainda, de Confidências (poesia-inédito) e Reminiscências, (crônicas-inédito) e Sem Testemunhas (romance policial inédito).
Mais fotos do casarão
Lindos esses casarões! Realmente tem algumas pessoas q nao prestam atenção nem dão valor. Eu nasci e me criei nesse bairro e tbm ja morei nessas ruas e sempre tive vontade de saber a história deles, gostaria de saber de mais detalhes! Mas, mt obrigado por essa história!
ResponderExcluirDe nada, esse assunto (o casario da Manau antiga) será abordado mais vezes.
ExcluirTenho umas pecas de cerâmica antiga da epoca da colonização alguem conhece um colecionador interessado em comprar 93173322
ResponderExcluirEssa histórias são sensacionais!!!!! Me sinto um garoto!!!! Meu singelo Parabéns aos amigos!!!
ResponderExcluirNa Rua Delcídio Amaral, na altura no número 200 (eu acho) também tem um casarão bem antigo, provavelmente centenário. Não sei se você já o conhece. Dá um pulo lá, se ele ainda estiver de pé... estava em estado bem deplorável.
ResponderExcluirAbs
Belíssima matéria Fábio Augusto. Voltei ao passado recordando à época que frequentavamos o casarão de nossos avós maternos. Obrigada por compartilhar um pouco da história da família Ferreira da Silva, da qual faço parte!
ResponderExcluirMuito obrigado, Selma Carvalho. Dia 21 de agosto eu publicarei um texto sobre o aniversário do bairro.
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