quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Manaus, sua origem: As impressões de Alfred Russel Wallace sobre a Vila da Barra do Rio Negro

Vila da Barra do Rio Negro em 1848.

Alfred Russel Wallace foi um dos mais importantes naturalistas do século 19. Após conhecer o entomologista Henry Walter Bates, decidiu empreender uma série de viagens por regiões tropicais, para estudar sua fauna e a flora, além de lançar os fundamentos da Teoria da Evolução das Espécies. Os dois amigos partiram de Liverpool, em 27 de abril de 1848, em um pequeno navio, rumo à foz do rio Amazonas, nela chegando em 26 de maio do mesmo ano. Sobre a vila da Barra do Rio Negro (atual Manaus), Russel deixou preciosas anotações sobre a localização, atividades econômicas e costumes dos habitantes.

Sobre a localização da vila, ele nos informa que ela "está situada na margem leste daquele rio (Negro), cerca de doze milhas acima de sua junção com o Amazonas. E está localizada em um terreno desigual repleto de ondulações, cerca de trinta pés acima do nível das mais altas cheias, e é cortada por dois córregos, cujas águas, na estação chuvosa, atingem a considerável altura, havendo, porém, sobre eles duas pontes de madeira"

As ruas vão ser motivo de reclamação para os futuros viajantes. Para Wallace, "elas são regularmente traçadas; não têm, no entanto, nenhum calçamento, sendo muito onduladas e cheias de buracos, o que torna a caminhada sobre os seus leitos muito desagradável, principalmente à noite".

As casas são simples "geralmente só tem um pavimento; são cobertas de telha vermelha e assoalhadas com tijolos, têm as paredes pintadas de branco ou de amarelo; e as portas e janelas pintadas de verde. Quando o sol bate sobre elas, o efeito é muito bonito."

Do Forte de São José da Barra, núcleo de origem da cidade, erguido em 1669, "só há, presentemente, uns restos de muralhas e um monte de terra".

Existiam duas igrejas católicas na localidade, a dos Remédios e a de Nossa Senhora das Graças. "Muito pobres e bastante inferiores à de Santarém". Manaus não possuía construções imponentes, situação que só iria mudar mais de 30 anos depois, graças a economia da borracha.

Existiam entre 5.000 e 6.000 habitantes, dos quais "a maior parte é constituída de índios e mestiços. Na verdade, não há ali uma única pessoa, nascida no lugar, da qual se diga que seja de puro sangue europeu, tanto e tão completamente se teêm os portugueses amalgamado (mesclado, misturado) com os índios".

Os comércio era baseado na exportação de castanhas, peixes e drogas do sertão, e as importações "são tecidos europeus, de inferior qualidade, cutilaria ordinária, colares, espelhos e outras bugigangas mais". Esses objetos de menor valor eram utilizados no comércio com os indígenas.

gêneros de primeira necessidade, ou produtos mais sofisticados como queijos, vinhos e trigo, "são sempre muito caros e, por vezes, não se pode obtê-los, quando chegam a faltar". 

"Os habitantes mais civilizados da Barra dedicam-se todos ao comércio, não havendo ali qualquer outra diversão, se assim podemos considerar, que não seja a de beber e jogar em pequena escala".

Além disso, hábitos cosmopolitas faziam parte dos costumes locais. "Aos domingos, principalmente, todos trajam as suas melhores roupas. As mulheres vestem-se elegantemente, exibindo lindos vestidos, confeccionados com gazes e musselinas francesas". Os homens deixam os afazeres nos armazéns e "trajam nesse dia bonitos ternos escuros, chapéu de castor, gravata de cetim e finíssimos sapatos de pelica".

O principal passatempo do dia era fazer visitar uns às casas dos outros , "para palestrar, tendo como assunto principal da conversação os escândalos, que se acumularam durante a semana".

Wallace fez uma conclusão que ficou famosa que passou a ser reproduzida em vários livros de História do Amazonas: "os sentimentos morais em Barra estão reduzidos ao mais baixo grau de decadência possível, mais do que qualquer outra comunidade civilizada". Apesar de ser um exímio naturalista, Russel tinha uma visão Eurocêntrica de mundo.



FONTE: WALLACE, Alfred Russel. Viagem pelo Amazonas e Rio Negro. Edição Brasilianas. Série 2°, vol. 158. 1939.


CRÉDITO DA IMAGEM: catadordepapeis.

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