domingo, 9 de novembro de 2014

O ônibus do barão: O Zepelin de Manaus

Ônibus Zepelin passando em frente ao Atlético Rio Negro Clube.

O ônibus Zepelin, semelhante ao balão dirigível inventado (ou patenteado) pelo barão Ferdinand von Zeppelin, que levava o mesmo nome, fez sucesso em Manaus nos anos 1940 e 1950. Existem controvérsias quanto a sua origem. Algumas fontes citam São Luís, outras Belém do Pará. O certo é que, realizando pesquisas, percebi que cada cidade tinha um diferencial em seus ônibus. Esse veículo foi inaugurado em Manaus em 1948, conforme consta em matéria do Jornal do Comércio do mesmo ano, cedida pelo pesquisador Ed Lincon. Os Zepelins pararam de circular pelas ruas de Manaus em 1957. Foram feitas na reprodução do texto apenas algumas modificações na grafia.

Surgirá nas ruas o ônibus "Zepelim"

Em construção, pelo sr. Joaquim Barata Júnior, o original veículo, que poderá transportar 64 passageiros sentados, estando seu custo em 200 mil cruzeiros


Vai Manaus contar, a partir de domingo vindouro, quando será inaugurado, de mais um confortável ônibus. 

O "Zepelin", como será chamado esse transporte de passageiros, não tem o que tirar, quanto à sua feição, do aparelho que lhe deu o nome.

A nossa reportagem, informada da existência desse ônibus, de forma sui-generis, aqui para nós, do Amazonas, esteve, ontem, nas oficinas do sr. Joaquim Barata Júnior, à avenida Sete de Setembro, o qual é seu proprietário, e ali pode constatar, realmente, que se está construindo um ônibus como nos haviam informado. Aliás, é de ressaltar que àquele local tem comparecido grande número de curiosos, que procuram se informar do bojudo "Zepelin", que dentro de poucos dias estará voando por toda Manaus.

Chegados ao local da construção, fomos recebidos pelo sr. Joaquim Júnior, que se colocou à nossa inteira disposição, tendo nos contado que se baseou na construção, em um ônibus com aquela forma, existente no vizinho Estado do Pará. Contou-nos aquele senhor ter sabido, de fonte não muito certa, que o proprietário do transporte "Zepelin", de Belém, havia feito o registro de patente, no Rio de Janeiro, o que não permite seja feito outro. Isto é, por outra pessoa, mesmo dentro daquele Estado, senão pelo dono do registro.

Agora mesmo, ao que consta, o proprietário dessa invenção receberá uma proposta de um industrial de São Paulo, para compra daquela patente, pela soma de Cr$ 300.000,000, no que não foi atendido.

E como foi que conseguiu permissão para aqui fazer a construção? Indagamos.

Ora, sr. Repórter, é muito simples. Eu também desejo ver o Amazonas orgulhoso, por este bonito feitoEntretanto, o meu “Zepelin” não está parecido, nem pouco, com o de Belém. Andei, para tanto, dando uns "driblings”, a fim de que, no caso de ser verdadeira essa versão do registro de patente, pelo comerciante paraense, eu poder provar que o "Zepelin” amazonense não é igual ao paraense. 

A construção do "Zepelin" dManaus já está por... Cr$ 200.000,00, podendo conduzir 64 passageiros' sentados. Possui chassis próprio para ônibus, com teto interno forrado a couro e poltronas estofadas, com molas no assento e no encosto. seu comprimento é de 12 metros, medindo 2 metros 80 centímetros de diâmetro circunferencial, na sua parte mais bojuda.

O "Zepelin" amazonense será inaugurado no próximo domingo, quando fará várias voltas pela cidade com as autoridades e imprensa, que serão convidadas para esse fim, pelo sr. Joaquim Barata Júnior. 

Surgirá nas ruas o ônibus "Zepelim". Jornal do Comércio, 29 de junho de 1948, p. 3 e 4.


Esta postagem não teria sido realizada se não fosse a cortesia do amigo e pesquisador Ed Lincon, que cedeu a matéria de jornal aqui reproduzida.

Ed Lincon, pesquisador sobre a Manaus antiga, com destaque para os cinemas.



CRÉDITO DA IMAGEM: IBGE

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O que significa a terminação 'istão' de países como Afeganistão e Cazaquistão?



Na região desses países onde se fala hindi, persa e quirgiz, 'istão' significa 'lugar de morada' de um determinado povo ou etnia. Afeganistão, por exemplo, significa 'território dos afegãos'; e Cazaquistão, 'território dos cazaques'. Istão deriva de uma antiga raiz linguística indo-europeia, provavelmente sthã. Veja abaixo a origem de alguns dos principais prefixos:

1 - CAZAQUISTÃO
'Alguém independente e livre', usado também pelos russos (cossacos)

2 - UZBEQUISTÃO 
'Homens genuínos', do turco. Nome dado a tribos persas nômades

3 - TURCOMENISTÃO
Como o antigo povo da Ásia chamava a si mesmo

4 - QUIRGUISTÃO
Do turco antigo, significa '40 tribos'

5 - TADJIQUISTÃO
'Cabeça coroada', do persa

6 - AFEGANISTÃO
Referente ao nome de um imperador iraniano, Apakan

7 - PAQUISTÃO
Exceção à regra, 'pak' reúne as iniciais de Punjab, Afeganistão e Cachemira (Kashmir)

ARTONI, Camila. Por que o nome de certos países da Ásia terminam em 'istão'? Revista Galileu. s.d.


FONTES: MOTOMURA, Marina. Por que na Ásia o nome de vários países termina em ''istão''?. Revista Mundo Estranho, edição 16.

ARTONI, Camila. Por que o nome de certos países da Ásia terminam em 'istão'? Revista Galileu. s.d.

domingo, 2 de novembro de 2014

Pelourinho: a origem da palavra

Vista do Rossio, atual Praça Tiradentes no Rio de Janeiro, com o pelourinho. Pintura de Jean-Baptiste Debret, 1834.

Um leitor me perguntou qual a origem da palavra Pelourinho. Para responder essa pergunta, reproduzo aqui um pequeno texto de Sérgio Rodrigues, da coluna Sobre Palavras, da Revista Veja.

Antes de ser nome próprio, pelourinho era um substantivo comum com o sentido de “coluna de pedra ou de madeira, colocada em praça ou lugar central e público, onde eram exibidos e castigados os criminosos” (Houaiss). A palavra – assim como a coisa que designa – existe em português desde 1550, vinda provavelmente do francês pilori, um vocábulo do século 12 oriundo do latim.

Criminosos? Mas não era no pelourinho que se castigavam os escravos, como se vê na famosa ilustração do francês Jean-Baptiste Debret aí em cima? Bem, o pelourinho foi usado por séculos para humilhar e castigar condenados em geral, mas na história do Brasil acabou ligado de forma indissolúvel ao castigo de escravos.
A etimologia da palavra [...] tem alguns aspectos nebulosos: nem todos os estudiosos estão de acordo sobre os passos – e sua cronologia – da transição que levou do latim ao francês pilori, matriz de nosso pelourinho, inicialmente grafado pelovrinho.
No entanto, parece razoavelmente seguro afirmar, concordando com a maioria dos filólogos, quepilori – de sentido idêntico ao que geraria em português – derivou do latim medieval pillorium, ligado por sua vez ao substantivo pila, termo do latim clássico que veio a dar em nosso pilar, “coluna”.

Sérgio Rodrigues. Do pilar ao pelourinho. Coluna Sobre Palavras. Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/consultorio/do-pilar-ao-pelourinho/ acesso em outubro de 2014.


CRÉDITO DA IMAGEM: wikimedia.commons.com

A Santa Casa Pede Misericórdia: III passeando pela História de Manaus



Hoje pela manhã, a administradora da página Manaus de Antigamente, Gisela Vieira Braga, em parceria com os historiadores e pesquisadores Otoni Moreira de Mesquita, Ed Lincon, Eylan Lins e eu, que tive o prazer de ser convidado, realizou a III edição do Passeando pela História de Manaus, uma caminhada pelas áreas históricas da cidade. O evento cultural, sem fins lucrativos,  que contou com a participação de várias pessoas, é uma aula prática pública sobre a História do patrimônio da cidade, que infelizmente está bastante deteriorado.



O passeio começou pela Santa Casa de Misericórdia, uma instituição filantrópica de mais de 130 anos, afundada em dívidas e em completo abandono. Um governador, no final dos anos 90, prometeu reformar o prédio. Não deu em nada. Outro, reeleito esse ano, também prometeu reformar o prédio. Vamos fiscalizar e aguardar. Fui convidado para falar da história da instituição e do prédio. Uma epidemia de febre amarela no Amazonas, em 1872, fez surgir a necessidade de se construir um segundo hospital na cidade, já que o único existente na época, o Hospital Militar de São Vicente, não conseguia atender a demanda de pacientes. As obras da Santa Casa tiveram início em 1873 e foram concluídas em 1880. Os paredões do prédio, semelhantes aos do Teatro Amazonas, Palácio da Justiça e Reservatório do Mocó, foram construído nas administração de Eduardo Gonçalves Ribeiro, Fileto Pires e Ramalho Júnior.

Em 14 de janeiro de 1970, a caldeira da lavanderia da Santa Casa explodiu. O impacto foi sentido nas adjacências, e os destroços atingiram locais como o Colégio Militar. 3 pessoas morreram, 15 ficaram feridas. O bar Nossa Senhora dos Milagres, na esquina das ruas José Clemente e Lobo D´Almada, não sofreu nenhum dano. A partir dessa data, ele passou a se chamar bar Caldeira, em referência ao incidente.

Depois da Santa Casa, o grupo partiu para a Praça Dom Pedro II, a área mais antiga da cidade, localizada no antigo bairro de São Vicente. Lá, o historiador e artista plástico Otoni Moreira Mesquita explanou, com grande maestria, sobre a origem da cidade, na segunda metade do século 17, e sua evolução urbanística durante o período provincial e republicano. Ao longo de todo o percurso, Otoni explanou sobre a arquitetura e a História dos prédios da região.



Ed Lincon, pesquisador sobre a cidade, com destaque para os cinemas, e colecionador de imagens antigas, nos apresentou fotos da casa mais antiga de Manaus, da praça e arredores no final do século 19 e início do 20. Seguimos para a rua Bernardo Ramos, a mais antiga da cidade, e depois para o ''litoral'', onde se iniciam os 345 anos da eterna Manáos. Ali, a paisagem dos 3 bairros mais antigos, Centro, São Raimundo e Aparecida, deu uma sensação de viagem no tempo, quando Manaus foi fundada no remoto ano de 1669.

No final três livros foram sorteados, entre eles La Belle Vitrine: Manaus entre dois tempos 1890/1900, de Otoni Mesquita, que faz uma análise profunda e críticas à urbanização da cidade.

Qual a importância de eventos como esse?

''As relações entre passado e presente e as mudanças ocorridas em uma cidade ao longo do tempo, por exemplo, são representadas no centro histórico. Infelizmente o centro histórico de Manaus sofre com o abandono e por essa razão esses movimentos que atuam principalmente na Internet, realizam esses encontros. É uma maneira de sair do virtual e interagir com a realidade, despertando mais interesse, curiosidade e conscientização popular.'' - Gisela Vieira Braga