sábado, 20 de junho de 2015

Algumas impressões sobre o bairro de Aparecida (Manaus)

Beco Carolina das Neves

A sensação de “voltar” no tempo é uma das melhores que se pode ter. Já a tive várias vezes ao visitar locais históricos da cidade. Em passeio no bairro Nossa Senhora de Aparecida, zona Sul de Manaus, presenciei a continuação de antigos costumes e tradições e também tomei nota sobre as características de algumas ruas e construções. A seguir, minhas impressões sobre os lugares visitados.

Beco Carolina das Neves: Esse é um dos vários becos existentes no bairro e também o mais famoso. As casas são simples, construídas em alvenaria e madeira, a maioria de apenas um andar e algumas aparentando possuir mais de 50 anos. A proximidade das casas é tanta que permite que os vizinhos conversem sem precisar ir para a rua. Nela fica o “Boteko da Fundação”, que recebe este nome por ter sido, em 15 de março de 1980, o local de fundação do Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de Aparecida, é um típico comércio das antigas, onde é possível encontrar desde a manteiga salgada, “sebo de holanda” e as quase extintas bolinhas de gude.

A "Casa dos Leões". Infelizmente, por ser um péssimo fotógrafo, não consegui enquadrar o terceiro leão.

Beco da Indústria: O que mais me chamou atenção no Beco da Indústria (antigo Chora-Vintém) foi uma residência, que parece ser do início do século passado. Janelas, gradis Art-Nouveau e, em destaque, no muro, as esculturas de três leões. Essa é uma simbologia nobre, que representa as feras em posição de guarda, como se estivessem protegendo a casa. Outras casas antigas podem ser vistas no beco, com um autêntico sobrado português próximo à “casa dos leões”.

Beco Vera Cruz: Sem placa de identificação ou alguma residência suntuosa, o ponto de destaque do Vera Cruz é a proximidade que este tem com o Igarapé de São Raimundo. As poucas casas do local, a maioria delas construída em madeira, ficam, na época da cheia, com a água batendo na porta. Galinhas são criadas livremente no lugar, alimentando-se de capim e dos detritos presentes na água.

Uma parte do Beco Vera Cruz.

Rua Dr. Aprígio: A rua do castelo da Cervejaria Miranda Corrêa, prédio de destaque na paisagem e na História do bairro. No seu início, do lado esquerdo, existe uma fonte de água potável, na qual o líquido sai da boca de uma figura grotesca, semelhante às fontes coloniais existentes nas cidades históricas de Minas Gerais. Do lado direito, um conjunto de 7 residências construídas na década de 1930 para abrigar os altos funcionários da Cervejaria. A última residência, a maior, no sentido de quem vem do Igarapé de São Raimundo, é curiosa. Com decoração mais rebuscada, frontão trabalhado no estilo Art-Nouveau, semelhante às residências históricas do Centro, ostenta a data de 1958, bem posterior à construção das outras casas. As águas do Igarapé de São Raimundo estão desgastando o terreno em que as casas foram erguidas, comprometendo suas estruturas, que correm o risco de desabar. Com a cheia do Rio Negro, uma parte da rua invadida pela água serve para o atraque de canoas e barcos de médio porte.


Rua Dr. Aprígio de Menezes.

Essas foram minhas impressões sobre quatro dos vários lugares pitorescos do bairro. Não foram profundas análises do passado histórico (com algumas exceções necessárias), mas sim a construção de relatos do tempo presente. Recomendo aos que ainda não conhecem visitar o bairro de Aparecida, onde os mais antigos se conhecem e guardam recordações do passado, e a vida ainda parece ser regida pelas cornetas do já inexistente Batalhão do bairro de São Vicente, de forma bem provinciana.

2 comentários:

  1. Fábio, voce ganhou minha admiração ao descrever o passeio que fizemos no antigo bairro dos Tócos. Descreveu do seu jeito e portanto ficou mais verdadeiro. Não sou da bajulação mas fique certo que gostei demais tanto do texto quanto das fotos. Valeu parceiro...Que mais jovens se aliem à causa do interesse da história amazonense, oral ou não. Precisamos preservar isso. Ellza Souza

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  2. Muito obrigado, amiga. É isso aí, vamos à luta pela preservação da nossa História.

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