Boulevard Amazonas, 1969.
Na publicação de hoje recupero um artigo originalmente publicado em 1972 no Jornal do Comércio pelo escritor, cronista e historiador Genesino Braga (1906-1988), no qual o autor discorre sobre o Boulevard Amazonas, em vias de se tornar Boulevard Álvaro Maia, um dos logradouros mais conhecidos de Manaus:
BOULEVARD ÁLVARO MAIA
O nome glorioso do maior dos amazonenses - Álvaro Maia - vai, afinal, dignificar uma rua de Manaus. Em breve, talvez a 4 de maio vindouro, quando os três anos da morte do Tuxaua se completam, as placas de mármore com o seu nome imortal estarão afixadas ao longo do até agora Boulevard Amazonas, que se rebatizará Boulevard Álvaro Maia.
Esta velha aspiração dos amazonenses, fundada em ver o nome do conterrâneo mais querido e mais admirado em rua condigna da capital do Estado, convertê-la-á em Lei um projeto do nobre Vereador Praxíteles Antony, apresentado em dias desta semana ao Conselho Municipal de Manaus. Pôs o honrado edil, na sua magnificatória proposição, todo o anseio desta população, que vimos, outrora, no decurso de cinquenta anos, unida em seus aplausos e em sua solidariedade ao mais puro de seus líderes; todo o entusiasmo daquelas gerações de moços que dele beberam as sábias aulas do idioma e as exaltadas lições do civismo; toda a alma encantada desta cidade alegre e feliz, que dele ouviu os belos cantos de louvor ao seu "charme" tropical, à feitiçaria de suas ruas vestidas de verde e de sol, à fascinação de seus crepúsculos de tons violentos e fugaces.
E felicíssimo foi o ilustre licurgo manauense na escolha da via pública a ser honrada com o nome de Álvaro Maia. Nenhuma tão à altura do excelso amazonense, como o velho Boulevard Amazonas! A linha reta de sua vastíssima extensão é a linha reta daquela longa vida do estadista caboclo. Sua ampla largura do gabarito lembra a dimensão daquele espírito lato, a largueza daquele coração generosíssimo. Pois que o Boulevard Amazonas, conforme as lições do historiador Mário Ypiranga Monteiro, nascera de uma linha reta: a que se traçara "da foz do Igarapé da Castelhana até encontrar o Igarapé de Manaus", fazendo, assim, em 1859, o limite norte da cidade, consoante a Declaração de Limites proposta por Clementino José Pereira Guimarães (o Barão de Manaus), constante da ata da sessão de 31 de janeiro de 1859, da Câmara Municipal de Manaus. Trinta e quatro anos depois, pela Lei municipal n° 135, de 4 de novembro de 1893, aquele extenso traçado retilíneo "passou a constituir limite urbano da cidade"; e, em 1894, por decreto de 20 de fevereiro, do Superintendente Engenheiro Manuel Uchoa Rodrigues, tomou a denominação de Boulevard Amazonas, como homenagem do Município de Manaus ao Estado do Amazonas. "Boulevard", diga-se de passagem, por influência do figurino urbanístico francês, em moda na época, o qual assim denominava, em Paris, as ruas largas, tendo ao centro passeios plantadas de árvores, como as que se estendem da Madalena até a Bastilha. As principais capitais brasileiras até hoje esnobam com os seus "boulevards", que mantém integrados na sua tradição urbana.
Mas, foi ao honrado patriarca amazonense, Coronel Domingos José de Andrade, que coube, em 1908, quando Superintendente Municipal, mandar pavimentar o chão, até então tosco e quase intransitável, do Boulevard Amazonas, por força da Lei n° 510, de 30 de maio daquele ano. E o próprio Álvaro Maia, cujo nome vai ser agora placa da histórica via pública, foi quem lh' a deu, quando no Governo do Estado, melhoramentos consideráveis, através da antiga CERA, então dirigida pelo saudoso Xenophonte Antony. Isto é o que nos informa textualmente o mestre das pesquisas históricas, Professor Mário Ypiranga Monteiro, tratando do nosso Boulevard: "Foi melhorado grandemente no governo do dr. Álvaro Maia, quando se estabeleceu o sistema de duas vias (mão e contra-mão), para veículos, com passeios centrais. Asfaltado quando na direção da CERA (Comissão de Estradas de Rodagem do Amazonas) o sr. Xenophonte Antony".
Recentemente, os cuidados de filho estremecido, que os tem Paulo Nery por sua querida cidade natal, aformosearam o Boulevard Amazonas com um comprido tapete de plantas ornamentais de folhas coloridas, o qual se estende por quase toda a sua extensão, - como à espera, talvez, da passagem da Rainha de Manoa, vaticinada nos versos de Raimundo Monteiro, que fora fidalgo e menestrel, sagrado Príncipe dos Poetas Amazonenses.
"Para ele (Álvaro Maia), o amor ao próximo era o fecundador excelente dos sentimentos generosos. Foi este amor que lhe encheu toda a existência terrena, lhe deu consolo quando o viu caluniado, lhe deu alento quando o encontrou no ostracismo, lhe inspirou romances e poesias, temas espiritualistas e narrativas de cenas e episódios havidos nos seringais amazônicos. E, como sua própria sombra, lhe deu brilho ao nome, o ajudou a tornar-se merecedor do manto de paladino das honrarias de seu país", - eis um trecho da comovedora beleza da Justificativa como que o Vereador Praxíteles Antony, sublimando o altruísmo e a força espiritual de Álvaro Maia, levou o Projeto ao consenso de seus pares. E ainda estoutro: "As mãos da gratidão eram suas, toda vez que a legião dos repesos da injustiça lhe batia à porta pedindo absolvição. Escrevia poemas, mas, tal qual Carlyle, preferia viver os dramas que lhe inspiravam os versos. E quando assim procedia, transformava as tormentas da vida em estranhas renúncias, que eram toleradas sem queixumes ou exprobrações".
Homenageará, assim, o maior dos amazonenses, doravante, a majestosa via pública alfombrada de trevos e folhagens variegados, que durante 78 anos homenageou o maior dos Estados do Brasil. Em breve, quando os Flamboyands, que ali ao centro se enfileiram, incederem suas copas de flores rubras, será já no Boulevard Álvaro Maia que as lindas árvores floriflamantes erguerão "ao céu, que te coroa de esplendores,/urnas de essências e pendões de flores", como poema "Árvore-bálsamo", do cantor de "Busina dos Paranás". E a Cidade de Manaus se ostentará maior, mais nobre e mais dignificada com o nome glorioso de Álvaro Maia em seu tradicional Boulevard. Não sabemos de ato que mereça mais aplausos, mais simpatia e a solidariedade unânime de um povo, que esse Projeto do vereador Praxíteles Antony.
FONTE:
Jornal do Comércio, 19/03/1972.
CRÉDITO DA IMAGEM:
Jankiel Gonczarowska/Página Manaus Sorriso
Foi bom ler esse artigo e saber não só a história do Boulevard, que, apesar das décadas transcorridos, continua sendo chamado de Amazonas, mas também que a cidade era "alegre e Feliz e tinha suas rias "vestidas de verde. Bons tempos....
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