Movimentação em frente ao Café da Paz, na Avenida Eduardo Ribeiro. Foto de 1933.
Os
cafés estão na moda. Cafés simples, gourmetizados, estão
presentes nos quatro cantos da cidade, em shoppings, livrarias e em
feiras, disponíveis para todos os gostos e bolsos. Esses
estabelecimentos, de pequeno, médio ou grande porte, são locais de
socialização, descontração e descanso, atendendo as mesmas
funções que possuíam no início do século passado. Nos idos de
1900, as grandes capitais europeias e as demais cidades enriquecidas
pela corrida industrial capitalista tornaram-se pequenos centros de
diversão para a classe média e a burguesia, com os cafés figurando
em destaque. Em Manaus, cidade enriquecida pelas atividades ligadas à
extração do látex, não foi diferente.
Café dos Terríveis. 'Indicador Illustrado do Estado do Amazonas', 1910.
Na
Praça 15 de Novembro, na zona portuária, destacava-se o botequim
Café dos Terríveis, entre as ruas 15 de Novembro e Visconde
de Mauá (antiga Demétrio Ribeiro). Sua inauguração, em 16 de
outubro de 1904, foi bastante concorrida, com grande número de
pessoas tomando a praça e suas imediações. Foram servidas bebidas
finas e manjares frios. Na porta do café, uma banda regimental
embalava o momento com peças variadas1.
Seu cardápio era variado, como foi possível constatar em anúncios
publicados em jornais. No dia 18 de outubro de 1904, por exemplo, foi
servido “sorvete de morango, coalhada, leite puro, refrescos de
diversos sabores, chocolate, comidas frias e café moka especial”2.
No dia 19 de outubro do mesmo ano foram servidos “sorvetes de
leite, de creme e de baunilha, coalhada, leite puro, refrescos
variados, comidas frias e café moka especial”3.
Além do ‘café moka’ especial, a principal bebida da casa era o
chopp alemão da marca Pschorr. Um cardápio mais completo surge a
partir de 1908, com “sanduíches, fiambres, salames alemães e
de Lyon, conservas, frutas em caldas, doces, biscoitos, charutos e
cigarros”4.Os
clientes do Café dos Terríveis também poderiam ouvir músicas no
recinto, geralmente cantadas por quartetos e quintetos, nos quais
figuravam nomes como o de Arão Benjamin, pianista português formado
pelo Conservatório Real de Lisboa. Com organização do ‘Club dos
Terríveis’, o local era um dos pontos de concentração dos
festejos carnavalescos, como os famosos carnavais de 1905 e 1915.
Grande Café Central. 'Indicador Illustrado do Estado do Amazonas', 1910.
Entre
as ruas José Paranaguá e Guilherme Moreira, na então Praça da
Constituição, atualmente da Polícia, erguia-se o Grande Café
Central. O Café Central era um estabelecimento completo, tendo
12 bilhares e diferentes tipos de jogos. Sua clientela poderia
refrescar-se com cervejas, chopps, águas minerais, leite gelado e
refrescos. A cada 1000 réis gastos, o cliente ganhava um cupom para
concorrer a um prêmio de 300 mil réis5.
O café fazia questão, em seus anúncios, de dar ênfase a
arquitetura do prédio em que estava instalado, com 16 portas em arco
perfeito6.
Na
Avenida Eduardo Ribeiro, principal artéria de Manaus naquele
período, existiu o Café da Paz, um dos mais longevos,
encerrando suas atividades no início da década de 1960. Assim como
o Café Central, possuía em suas dependências alguns bilhares
‘snooker’. Das bebidas que mais faziam sucesso, o caldo de cana
era a principal pedida de estudantes, professores, advogados e
intelectuais que se reuniam após o expediente.
Saindo
do Café da Paz, os que quisessem continuar a diversão poderiam se
dirigir ao Café Suisso, na Rua da Instalação. Talvez o Café
Suisso tenha sido o estabelecimento com a maior variedade de bebidas:
cervejas geladas, leite fresco, café, chocolate, refrescos, aluá,
ginger-ale, uísque, vermute, cidra, vinho do Porto, conhaque,
licores, vinho de Colares (freguesia portuguesa) e vinho verde.
Castanhas, nozes, amêndoas, figos, passas, queijos, fiambres e
salames eram os petiscos. Entre os pratos mais completos, pudins,
pastéis, sanduíches, escabeche de peixe e peixe assado. Também
eram vendidos charutos e cigarros de marcas variadas e azeite fino de
Alcanhões (vila portuguesa do Distrito de Santarém). Funcionava até
meia-noite7.
Interior do Café dos Terríveis. 'Indicador Illustrado do Estado do Amazonas', 1910.
Mais
tardiamente, por volta de 1925, surge o Ponto Chic,
café, bar e leitaria, na Avenida Eduardo Ribeiro, esquina com a Rua
Henrique Martins. As bebidas
servidas eram chocolate quente, café, chá e leite, enquanto que os
alimentos de destaque eram os doces finos, as canjas, as papas, os
queijos, presuntos e pratos completos. O leite servido era da Agência
Lacta e o café do Moinho de Ouro. O Ponto Chic iniciava suas
atividades às 6 horas e fechava 1 hora da madrugada8.
Seus proprietários tinham
uma interessante promoção: Na compra de um maço de cigarros das
marcas Clarita (fortes)
e Sportman (leves),
ganhava-se uma xícara de café. Também
na Eduardo Ribeiro, canto da rua Saldanha Marinho, ficava o Café
Avenida, famoso
pelos bilhares (também vendia artigos para bilhares) e outros tipos
de jogos. Comercializava, assim como os demais, “café,
leite, chocolate, fiambres, salames, mortadelas, vinhos, cervejas,
águas minerais e gelo”9.
Existiram outros estabelecimentos do gênero na cidade, como o Café Polo Norte (fechado em 1912), entre as ruas Saldanha Marinho e Lobo D' Almada, o Leão de Ouro, na Avenida Eduardo Ribeiro, esquina com a rua Henrique Martins, e o Café Real Colon (posteriormente Bar Normal), entre as avenidas 13 de Maio (atual Getúlio Vargas) e Sete de Setembro, ao lado do Cine Polytheama e em frente ao Cine Guarany, todos, em conjunto, dando um tom único de divertimento e desenvolvimento material à capital amazonense.
Existiram outros estabelecimentos do gênero na cidade, como o Café Polo Norte (fechado em 1912), entre as ruas Saldanha Marinho e Lobo D' Almada, o Leão de Ouro, na Avenida Eduardo Ribeiro, esquina com a rua Henrique Martins, e o Café Real Colon (posteriormente Bar Normal), entre as avenidas 13 de Maio (atual Getúlio Vargas) e Sete de Setembro, ao lado do Cine Polytheama e em frente ao Cine Guarany, todos, em conjunto, dando um tom único de divertimento e desenvolvimento material à capital amazonense.
2 Jornal
do Comércio, 18/10/1904.
3 Jornal
do Comércio, 19/10/1904.
4 Jornal
do Comércio, 20/08/1908.
5 Correio
do Norte, 06/06/1909.
6 Jornal
do Comércio, 17/06/1908.
7 Quo
Vadis? 24/12/1902.
8 Jornal
do Comércio, 19/08/1925.
9 Correio
do Norte, 31/03/1911.
CRÉDITO DAS IMAGENS:
Página Manaus Sorriso/Colorização digital de Paulo Menezes.
'Indicador Illustrado do Estado do Amazonas (1910)'/Instituto Durango Duarte.
CRÉDITO DAS IMAGENS:
Página Manaus Sorriso/Colorização digital de Paulo Menezes.
'Indicador Illustrado do Estado do Amazonas (1910)'/Instituto Durango Duarte.
Material ótimo para remontar a história desta nossa cidade!
ResponderExcluirMuito obrigado Raffa. Estou dando ênfase a logradouros e cotidiano da cidade no século passado.
ResponderExcluirMeu avô fez parte dos “Terríveis”, Guilherme da Cunha Porto
ResponderExcluirInteressante. Imagino quantos relatos seu avô deve ter lhe transmitido sobre aqueles tempos.
ExcluirMatéria muito boa de se ler, chega a dar saudades de um tempo em que não vivi
ResponderExcluirHá muita poesia humana derramada pelas ruas de Manaus... De repente, situei-me no tempo, e pude sentir tudo aquilo... Com esse tipo de trabalho, não há somente os relatos, mas o modo de vida, os costumes de épocas de ouro, de um tempo que não volta mais!Parabéns pelo belo trabalho de regaste à nossa historiografia!Sucesso!
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