Um dos vários registros do Carnaval manauara de 1905. FONTE: Acervo do pesquisador Ed Lincon.
O
Carnaval manauara de 1905 foi um dos mais famosos da História da
cidade, sendo amplamente divulgado e elogiado em jornais locais e
também de outros Estados. O Jornal do Commercio, a par dos
preparativos, afirmou que “[…] não houve até hoje carnaval
assim em Manáos, nem tão rico, nem tão espirituoso, nem tão
artístico” (Jornal do Commercio, 08/02/1905).
Os
carros alegóricos encomendados de Paris foram a grande novidade.
Eles eram montados em charretes, tendo diferentes formatos, indo de
pássaros à dirigíveis (zeppelins). O ‘Club dos Terríveis’,
sob a Presidência do Superintendente Adolpho Guilherme de Miranda
Lisboa, contratou para a montagem de seus carros os artistas Dionísio
e Centofanti, famosos pelo trabalho que faziam no Carnaval do Rio de
Janeiro.
As
festividades ocorriam na Avenida Eduardo Ribeiro, a principal artéria
da cidade naquele período e onde por muitas décadas seria realizado
o Carnaval de Manaus. O Club dos Terríveis se organizava na Avenida
de forma que um grupo de foliões fosse acompanhado por um carro
alegórico de forma sucessiva: “1° grupo: Banda de clarins. 1°
carro: Euterpe. 2° grupo: Guarda de Couraceiros Nubios. 2° carro:
Mephistopheles” (Jornal do Commercio, 25/02/1905). O ponto alto era
a Batalha de Flores, ao estilo francês e austríaco, em que uma
comissão de jurados julgava os melhores e mais floridos carros
alegóricos. Na avenida obedecia-se uma rigorosa organização para o trânsito de carros alegóricos e foliões:
"De ordem do exm. sr. coronel superintendente municipal da capital, faço publico para conhecimento dos interessados, que toda a especie de vehiculos durante as horas de movimentos carnavalescos na avenida Eduardo Ribeiro, nos 2 domingos proximos, segunda e terça-feira de carnaval, só poderão sahir pelo lado occidental, lado esquerdo, e descer pelo lado opposto, sendo linha divisoria a que é formada pelos postes de illuminação do centro da mesma avenida.
Outrosim não será permettido o transito e ajuntamento de pessoas no local do movimento dos carros e sobretudo nos cantos da avenida com a rua municipal.
Manáos, 20 de fevereiro de 1905. O Fiscal geral. Joaquim Antunes da Silva" (Jornal do Commercio, 25/02/1905).
Carro alegórico do Sr. Dr. Arthur Araújo. Lembrança do Carnaval de 1905 em Manáos. FONTE: Cartão postal.
Na
rua o Carnaval era aberto à população, participando ricos e
pobres. Os bailes à fantasia tinham caráter mais elitista, sendo
realizados no Ideal Club, no Club dos Terríveis, no Club
Internacional, no Philoscenica Amazonense e no Triumvirato Club,
ambos organizados por membros da alta sociedade local. Além dos clubes, também eram realizados bailes em casas particulares.
Além
da diversão, a economia também era movimentada. Os estabelecimentos
comerciais especializados em roupas importavam máscaras, fantasias,
lança-perfumes e confetes da França, Alemanha, Londres e Rio de
Janeiro. Madame Schianetti, modista estabelecida na rua Joaquim
Sarmento, informava ter recebido “[…] um grande sortimento de
pellucia de todas as cores, próprio para o Carnaval. Vende-se a
preços baratissimos” (Jornal do Commercio, 28/02/1905).
Anúncio de roupas para Carnaval. FONTE: Jornal do Commercio, 28/02/1905.
Como
já vinha ocorrendo desde o século XIX, o Carnaval era fiscalizado
através dos Códigos de Posturas Municipais. Brincadeiras como o
entrudo eram proibidas, sob pena de prisão ou multa. No Carnaval de
1905 algumas pessoas foram multadas por estarem reaproveitando
confetes usados, pegando-os do chão, embalando novamente e vendendo
como se fossem novos (Jornal do Commercio, 28/02/1905).
Com exceção de algumas ocorrências, o Carnaval de 1905 foi, nas palavras de um articulista do Jornal do Commercio, "animadissimo e civilisado" (Jornal do Commercio, 08/03/1905). O entrudo dos tempos da Província só aparecia esporadicamente, não oferecendo mais tantos riscos quanto em outros tempos. A civilização, aparentemente, vencera o que era considerado a "barbárie".
O
Carnaval de 1905 deixou fortes lembranças em seus foliões. O
empresário português Francisco Vieira da Rocha (1887-1966), em
entrevista concedida ao Jornal do Commercio em 1948, lembra dele da
seguinte forma: “[…] até as roupas das moças vieram de Paris.
Foi uma coisa nunca vista. Verdadeiro sonho ou conto de fadas. O
dinheiro rolava como rolam […] as águas eternas do rio Amazonas”
(Jornal do Commercio, 18/07/1948).
FONTES:
Jornal do Commercio, 08/02/1905.
Jornal do Commercio, 25/02/1905.
Jornal do Commercio, 28/02/1905.
Jornal do Commercio, 08/03/1905.
Jornal do Commercio, 18/07/1948.
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