Antônio José Souto Loureiro e alguns de seus trabalhos.
Hoje, dia 06 de junho, o médico e historiador Antônio José Souto Loureiro comemora 80 anos. É um amigo muito estimado, sendo sete de anos de uma boa amizade, que teve início quando nos conhecemos nos sebos da Feira da Avenida Eduardo Ribeiro e nos eventos do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), do qual é membro.
Para quem não o conhece, Antônio José Souto Loureiro nasceu em Manaus no dia 06 de junho de 1940, realizando seus estudos no Rio de Janeiro, onde graduou-se em Medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, especializando-se em Reumatologia. É membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), da Maçonaria do Amazonas, da Academia Amazonense de Letras (AAL) e da Academia Amazonense de Medicina.
Antônio Loureiro é dos intelectuais mais humildes que já conheci, sempre aberto a boas conversas. Certa vez, durante o lançamento de um livro no IGHA, nos encontramos e começamos a conversar. Me perguntou se concordava com a perspectiva histórica da autora do trabalho, de base marxista, da tão citada e já esgotada luta de classes. Disse que sim, em partes, e rebati a pergunta, recebendo a seguinte resposta: - Não concordo!. Vejo a História como uma eterna luta entre o bem e o mal!. Continuando, perguntei: Como anda a sua relação com a academia (universidade)? Me disse: - Ninguém me lê, nem me convida para palestrar!. Lhe informei que sim, o liam e citavam em trabalhos, e que quase fiquei sem um livro seu quando o emprestei para um acadêmico finalizar o TCC. Rimos bastante e concordamos que, apesar das críticas de ambos os lados, não se faz História sem o mínimo de diálogo entre as correntes, das mais conservadoras às mais inovadoras.
Desses 80 anos bem vividos, já são quase 50 dedicados à pesquisa histórica, da qual surgiram trabalhos hoje considerados clássicos de nossa historiografia, essenciais aos historiadores e entusiastas que pretendem conhecer a constituição de nosso Estado e também expandir suas possibilidades de pesquisa.
São de sua autoria cerca de 16 obras, às quais poderia dedicar inúmeros artigos fazendo análises minuciosas. No entanto, destaco três que considero essenciais, devendo ser lidas, relidas, resenhadas e apreciadas: A Grande Crise (1907-1916) (1986), O Amazonas na Época Imperial (1989) e Tempos de Esperança - Amazonas (1917-1945) (1994).
Com um grande arsenal de dados estatísticos, oriundos principalmente do arquivo da Associação Comercial do Amazonas (ACA), e bibliográficos, analisa da derrocada da economia gomífera em A Grande Crise (1907-1916) (1986). O Brasil, para o autor, sentiu os efeitos da crise, pois dependia da Amazônia para a obtenção das libras esterlinas, necessárias para o pagamento da dívida externa, para equilibrar o preço do café e urbanizar a capital federal; mas continuou alheio à região quando ela mais precisou. A União tardiamente tomou medidas para sanar a crise, medidas essas que se mostraram ineficazes, bem como os empresários e outras camadas da sociedade extrativista, que no frenesi da Belle Époque descapitalizaram a região e não fizeram planos a longo prazo, com algumas raras exceções.
Em O Amazonas na Época Imperial (1989), Loureiro analisa o período que vai de 1852 até o advento da República. A obra foi escrita quando o autor se deu conta da exiguidade de trabalhos mais detalhados e abrangentes sobre o Amazonas nessa época. Como fontes, utilizou relatórios, falas e exposições dos Presidentes e Vice-Presidentes desse período, de forma que a narrativa é constituída da visão desses homens que serviram ao Império no Amazonas. O conteúdo, denso, de mais de 300 páginas, é rico em dados estatísticos das atividades comerciais e administrativas do Amazonas (instrução pública, obras públicas, missões religiosas, aldeamentos indígenas etc), o que torna a obra de fundamental importância para os estudos sobre o Segundo Reinado na região Norte que lhe sucederam.
Tempos de Esperança - Amazonas (1917-1945) foi um trabalho pioneiro em sua época, pois surgiu para preencher a lacuna historiográfica existente sobre o período posterior ao boom da economia gomífera e sua crise. No período analisado por Loureiro, o Estado do Amazonas, combalido economicamente, teve breves surtos de reavivamento econômico motivados por fatores externos como a Segunda Guerra Mundial. Foram tempos difíceis, sem dúvidas. Gripe Espanhola em 1918, Revolução Tenentista em 1924, embates entre as oligarquias tradicionais, uma dívida crescente e uma população ainda mais empobrecida. Apesar dos pesares, o Estado continuou produzindo, como nos mostra Loureiro, e não apenas borracha: castanha, couros e peles, pau rosa, madeiras, pirarucu, fibras vegetais, guaraná e outras matérias primas. O ápice da esperança se deu com os Acordos de Washington durante a Segunda Guerra, entre 1942 e 1945.
Parabéns e vida longa a Antônio José Souto Loureiro. Que continue na sua eterna luta histórica entre o bem e o mal, sendo ele fiel defensor do primeiro.
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