domingo, 31 de maio de 2020

Entrevista: Prof. Me. Marcos Paulo Mendes Araújo

Prof. Me. Marcos Paulo Mendes Araújo.

Marcos Paulo Mendes Araújo nasceu na cidade de Nova Iguaçu, no Estado do Rio de Janeiro, em 1972. Tem Graduação em História pela Faculdade de Filosofia de Campo Grande (RJ), Graduação em Direito pela UNIG - Universidade Iguaçu (RJ), Especialização em Docência de Ensino Superior pela UFRJ -  Universidade Federal do Rio de Janeiro, Especialização em História e Cultura Antiga pela UFF - Universidade Federal Fluminense e Mestrado em História Social pela UFAM - Universidade Federal do Amazonas. É professor da Seduc, Semed, do curso de História da Universidade Nilton Lins e do curso de Administração da Faculdade Fucapi. É autor dos livros 'Francisco de Paula Castro e Karl von den Stein no Xingu em 1884' (2018) e 'A epopeia do Xingu' (2020), além de ter publicado capítulos de livros em outros 9 trabalhos.

'A epopeia do Xingu', último trabalho do professor Marcos Paulo Mendes Araújo. Disponível em: https://www.editoradialetica.com/product-page/a-epop%C3%A9ia-do-xingu.

– Primeiramente, muito obrigado por conceder a entrevista. Para iniciarmos, como se deu sua mudança do Rio de Janeiro para Manaus? Quais os impactos que ela teve em sua vida?

- Cheguei em Manaus em janeiro de 2012. Minha esposa, que é militar da Força Aérea Brasileira (FAB), foi transferida para cá. No início eram muitas novidades, mas aos poucos toda família foi se adaptando. Profissionalmente foi muito interessante, pois a mudança possibilitou conhecer um outro Brasil com traços culturais bem diferentes daqueles que estava habituado.

– Quando o senhor decidiu se dedicar à História? Era um interesse antigo, dos tempos de infância e adolescência, ou surgiu apenas na reta final do Ensino Médio?

- Desde muito novo possuía interesse em estudar História. Fui criado em uma casa e em uma família de professores. Acho que isso acabou influenciando bastante. Um dos primeiros livros que ganhei de minha mãe foi uma coleção de História e Arqueologia.

– Além da História, o senhor também tem Graduação em Direito. Como vê a relação entre essas duas áreas, suas semelhanças e diferenças?

- Quando fui cursar o Direito em 1996 já era formado em História há 3 anos. Isso me favoreceu muito de várias formas. Conhecer aspectos da infraestrutura social ajudam a entender certas dinâmicas da justiça. A formulação das leis deve obedecer certos aspectos que estão intimamente ligados à teia social onde o homem está inserido. Conhecer a História da humanidade ajuda muito a entender essas dinâmicas que mencionei.

– Creio que essa relação tenha influenciado na escolha pela Especialização em História e Cultura Antiga, dada a influência das antigas civilizações nas noções de História e Direito, correto?

- Sim! A História Antiga entrou na minha vida muito cedo. Desde pequeno ficava muito intrigado com as grandes construções antigas. Isso me conduziu ao curso de pós-graduação nessa área na UFF. O Direito acabou gerando ainda mais interesse pela Antiguidade, principalmente no mundo Clássico. Nesse curso pude dialogar com muita coisa interessante e cruzei com pessoas que me ajudaram a amadurecer como historiador, como por exemplo meu Professor Ciro Flamarion Santana Cardoso.

– Já que o senhor citou o saudoso Professor Ciro Flamarion Cardoso, durante sua passagem pelas graduações e pós-graduações, quais outros docentes marcaram sua vida acadêmica?

- Muitos docentes foram importantes na minha trajetória. Corro o risco de esquecer alguns, mas poderia mencionar Francisco Carlos Palomares Martinho, Simplício Rosa, Edgar Leite, Vera Vergara Esteves, José d' Assunção Barros, Patrícia Maria Melo Sampaio, Márcia Mello, Waldemar Pedro Antônio e tantos outros que passaram pela minha vida.

– Além dos mestres, quais autores lhe influenciaram nesse período?

- Creio que alguns autores foram essenciais para mim. São tantos... Platão, Fustel de Coulanges, Tzvetan Todorov, Ciro Flamarion, Betty Meggers, Perry Anderson, Duby, Delumeau, José Honório Rodrigues, Bakhtin, Peter Burke, Jacques Le Goff, Ronaldo Vainfas, são muitos. Impossível listar todos de cabeça (risos). Por aí vai.

– Dentre esses que foram citados, quais são os que fariam parte dos livros de cabeceira, sem os quais não poderia ficar?

- Acho que o Georges Duby e seu livro Ano 1000, ano 2000. É um livro muito bom para ter na cabeceira da cama. Essa pergunta não é fácil de responder, pois acredito que nós historiadores vivemos em um presente contínuo. Nossos interesses mudam. O bom é ter uma boa biblioteca básica para colocar na cabeceira os bons livros que nos cercam. Façamos cabeceiras grandes.

– Desde quando atua como professor da rede pública de ensino?

- Como professor venho atuando desde 1991, ou seja, antes mesmo de me formar já lecionava. Minha atuação na rede pública teve início neste mencionado ano, quando fui lecionar na Escola Estadual Francisco Caldeira de Alvarenga, na comunidade do Urucânia, em Paciência (RJ). Nesses quase 30 anos lecionei em diferentes redes de ensino, públicas e privadas. No Amazonas, atuo na Seduc desde 2012, inicialmente como PSS e depois como concursado. Na Semed estou desde 2017.

– Como professor de História na Universidade Nilton Lins, percebe diferenças entre a História que é ensinada na rede privada e a que é ensinada na rede pública?

- Não. Nenhuma diferença. Os alunos são muito parecidos e os conteúdos iguais. Algumas diferenças residem nas formas como a pesquisa é tratada.

– Quais seriam essas formas?

- É um curso noturno voltado à formação de docentes. As disciplinas são pensadas no exercício do magistério. As práticas de pesquisa infelizmente ficam adormecidas e deixadas apenas para o final do curso e a escrituração do TCC. Penso que a pesquisa deveria caminhar junto. Os alunos devem ser estimulados a escrever e dialogar com fontes primárias desde o início do curso. Geralmente nas universidades públicas isso ocorre com mais frequência.

Ao longo de quase 30 anos de ensino na rede pública, o que pode dizer sobre as transformações de como a História é ensinada dos primeiros anos ao Ensino Médio?

- Dos anos 90 para cá muitas mudanças ocorreram. Algumas delas para melhor. Poderia destacar a nova LDB de 1996 que ajudou a mudar o perfil dos egressos que gostaríamos e necessitávamos no Brasil. Também é importante mencionar os novos parâmetros curriculares brasileiros que possibilitaram ampliar os objetivos do ensino de História. Ao longo desses anos, pude participar dessas mudanças no chão da escola, ou seja, trabalhando efetivamente nas mudanças. Agora vêm a nova BNCC. Ainda é cedo, mas acredito que poderá trazer alguns novos benefícios, apesar das críticas à forma como nasceu. Temos que fazer na linha de frente os ajustes necessários. Acho que hoje o historiador pode, nas salas de aula, sobretudo no Ensino Médio, propor aos alunos o estabelecimento de problemáticas que servem para nortear os diálogos.

– Ainda sobre a docência, como enxerga os livros didáticos de História, suas possibilidades e limites em sala de aula?

- Sou um defensor da ideia de que os livros didáticos deveriam ser pensados de outra forma. Apesar de alguns apresentarem boas propostas, não é fácil encontrar ainda o livro didático ideal. É fato que melhoraram significativamente, mas ainda necessitamos avançar mais. Nos anos 90 tive o prazer de conhecer uma coleção de livros de História da Professora Circe Bittencourt, da Unicamp. Uma História temática. Passei a ser um admirador dessa proposta, pois daria a nós professores mais liberdade para aprofundar estudos em temas mais significativos para a vida.

– Seu Mestrado em História Social foi realizado entre 2013 e 2015, e versou sobre dois expedicionários do século XIX: Francisco de Paula Castro e Karl von den Stein. O que poderia dizer ao público sobre os dois? O que o levou a estudá-los?

- A pesquisa do Mestrado começou muito tempo antes. Entre 1995 e 2002 estive no serviço ativo do Exército. Trabalhei como historiador no Arquivo Histórico do Exército. Foi lá que conheci o relatório de observação científica do capitão Francisco de Paula Castro escriturado após ele ter acompanhado o médico e antropólogo alemão Karl von den Stein em 1884 em sua viagem pelo rio Xingu. Lendo o relatório do militar e o livro do alemão, encontrei muitos pontos carregados de controvérsias. Foi justamente isso que chamou minha atenção. Era necessário conhecer o cenário político da época, coisas como o papel do Positivismo na formação da jovem oficialidade. A crise que se abateu sobre a Monarquia, o cenário da ciência no país, ou seja, foram muitas coisas interessantes envolvidas na pesquisa.

– Pensa em fazer um Doutorado ou está com algum em andamento? Se sim, em qual área e qual o tema da pesquisa?

- Comecei a fazer o Doutorado em uma universidade pública na Argentina, mas infelizmente não conclui. No momento venho trabalhando em um projeto de pesquisa para desenvolver em algum programa de Doutorado no Brasil. Venho encaminhando isso.

– O foco ainda será a viagem dos expedicionários Francisco de Paula Castro e Karl von den Stein ou será outro?

- A temática será outra. Já venho trabalhando em um novo tema. Mas não irei fugir da minha área de interesse, que é a História Militar. O trabalho terá um recorte entre 1920 e 1940, e está relacionado à aviação.

– Como professor e historiador, de que forma enxerga os atuais cenários políticos brasileiro e mundial?

- Vejo que vivemos dias muito conturbados. Já estávamos vivendo dias sombrios, mas com a pandemia as coisas parecem ter potencializado para o pior lado. Vejo que os radicalismos estão aflorados e a História nos mostrou em outras ocasiões que quando isso ocorreu o resultado foi péssimo para a humanidade.

– Por último, e aproveitando para agradecer sua participação, qual mensagem deixa para os futuros acadêmicos de História?

- Minha mensagem é de esperança por dias melhores. É necessário acreditar nas pessoas sem prejulgar ninguém e nem tecer juízos de valores antes de estabelecer o diálogo. O mais importante é a manutenção do diálogo. Nosso país é fantástico e necessita de novos e bons historiadores. Que todos possam ser felizes na carreira que é uma das mais importantes no estabelecimento de nossa identidade.


9 comentários:

  1. Meu Professor e um ser humano que eu tenho total deferência! Mega abraço, Mestre Marcos!

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  2. PARABÉNS mestre por suas conquistas! Fui sua aluna em História na Unig.

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  3. Parabéns Mestre!
    Muito me alegro em ser sua aluna. Tenho o senhor como uma referência na docência, e tamanha admiração pela sua dedicação e por seu grande coração de professor.

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  4. Fabiana 31 de Maio de2020 18:00.
    Parabéns professor o senhor é o tal.

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  5. Parabéns Marcão.É um privilégio trabalhar com vc e compartilhar experiências. Parabéns.

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  6. Parabéns professor. Exemplo de ser humano, e de profissional. Lhe admiro muito. Sucesso,sempre!

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  7. Obrigado a todos pelos comentários. Um grande abraço em todos vocês.

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  8. Parabéns professor! O senhor nos ensina muito como professor e como ser humano. Tens minha admiração! 👏👏👏👏👏

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