sexta-feira, 22 de maio de 2020

A visita da Família Imperial Brasileira a Manaus (1927)

D. Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança e sua família. FONTE: Blog do Antonio Morais.

Em 1927, D. Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança (1875-1940), filho de Isabel Cristina Leopoldina de Bragança, a Princesa Isabel (1846-1921), e do Príncipe Imperial Consorte Gastão de Orléans, o Conde D’ Eu (1842-1922), e neto de Dom Pedro II (1825-1891), visitou a cidade de Manaus, último destino de sua excursão pelos Estados da região Norte do país.

D. Pedro, acompanhado de sua esposa Princesa Elisabeth Dobrzensky de Dobrzenicz e da filha Princesa Isabel de Orléans e Bragança, chegou a Manaus na tarde de 23 de maio de 1927 a bordo do vapor ‘Distrito Federal’, sendo anunciado com fogos de artifício, recebido por autoridades políticas, militares e por grande número de pessoas que tomaram o Porto. O Jornal do Commercio foi representado pelo jornalista Genesino Braga (1906-1988). D. Pedro lhe disse que estava maravilhado com os aspectos amazônicos que pôde observar durante a viagem. Ao desembarcar, os membros da Família Imperial foram levados pela população para a Praça Oswaldo Cruz (da Matriz), onde forem por ela aclamados. A pedido da Associação Comercial do Amazonas (ACA), o comércio em geral fechou as portas em respeito aos ilustres visitantes, bem como a Associação dos Empregados suspendeu uma das sessões que realizaria naquele dia.

A Praça Oswaldo Cruz (da Matriz) no ano da visita da Família Imperial Brasileira. Foto de 1927 de David Vladimir Gutman. FONTE: GUTMAN, D. V. - 1000 Miles Up The Amazon With the Booth Line.

Em meio à multidão, D. Pedro entrou em um carro presidencial, acompanhado do Capitão Oliveira Goes, Ajudante de Ordens do Governador do Estado, Hugo Ribeiro Carneiro, Governador do Acre, que também estava no vapor ‘Distrito Federal’, e do Major Floriano Machado, posto à sua disposição pelo Governador Ephigênio Ferreira Salles. Elisabeth e sua filha foram em outro carro, na companhia da família do Dr. Simplício Coelho de Mello Rezende (1873-1932). Outros automóveis, com pessoas da sociedade manauara, acompanharam a comitiva de Pedro, que recebeu continências de uma força policial que estava no local.

A comitiva seguiu pela Avenida Eduardo Ribeiro, dobrando a Avenida Sete de Setembro, indo em direção à Avenida Joaquim Nabuco e desta para a Praça dos Remédios, parando em frente ao Palacete da família Mello Rezende, onde ficaram hospedados os príncipes. De noite, às 21 horas, os Mello Rezende realizaram uma grande recepção, que contou com a presença de outras famílias da elite. O evento foi embalado pela orquestra do Professor Mozart Donizetti, indo até a meia-noite.

No dia seguinte, o Centro Acadêmico da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de Manaus visitou o príncipe, que afirmou aos seus representantes, Paulino Pedreira e Paes Barreto Filho, ter gostado bastante do Amazonas, região que o encantou não só pelas dimensões, mas por abrigar, entre as selvas, uma cidade como Manaus. Por todas as regiões do mundo por onde passou, esta foi a que mais lhe deixou impressionado. Impressão semelhante teve seu secretário, o Tenente Mario Baldi, oficial do Exército Austríaco, que não esperava encontrar uma cidade tão linda como Manaus. Afirmava, ainda, ser o Amazonas o dínamo do Brasil.

Registro raro da Família Imperial Brasileira em Manaus, no Palacete Mello Rezende. Foto de 1927. FONTE: Jornal do Commercio, 29/05/1927.

No dia 27, Dom Pedro, junto ao Major Floriano Machado, visitou a Fábrica de Cerveja Amazonense, de Miranda Corrêa & Cia, localizada no bairro dos Tócos (Aparecida), sendo recebido no salão de honra pelo Dr. Maximino Corrêa. O príncipe ficou bastante admirado em ver um estabelecimento industrial daquele porte. Posteriormente foi à Manáos Harbour, onde foi recebido pelo diretor, pelos gerentes e demais funcionários. Também visitou o monumental Colégio Amazonense Dom Pedro II, instituição educacional criada nos tempos do Império, deixando sua assinatura no livro de visitantes. Às 13:30 do mesmo dia, recebeu a visita de uma comissão de operários, indo depois ao Clube Inglês. Visitou o prédio dos Correios, recepcionado pelo administrador Raul de Azevedo e pelos funcionários, percorrendo todas as dependências dessa repartição. De volta ao Palacete Mello Rezende, foi visitado por uma comissão da Associação de Mestres e Práticos. À noite foi recebido no Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e, ao fim desta, compareceu a uma reunião no Clube Alemão.

Na manhã do dia 28, na companhia do Governador Ephigênio Ferreira Salles, do Prefeito Araújo Lima e de outras autoridades, a Família Imperial fez um passeio fluvial no vapor ‘Inca’. À noite a empresa Fontenelle, proprietária do Cine Polytheama, ofereceu aos príncipes uma noite de gala, exibindo o filme Uma Noite Gloriosa (1924), drama norte-americano editado pela Paramount e protagonizado pela atriz Elaine Hammerstein. Como atrações musicais figuraram a Amazônia Jazz, com vasto repertório, e a Banda da Polícia Militar do Estado do Amazonas. No dia 29, às 21:30, a Academia Amazonense de Letras realizou, no Ideal Clube, um festival artístico em homenagem aos príncipes. Dom Pedro teve uma boa impressão dessa instituição, principalmente de seus acadêmicos.

Dom Pedro de Orléans e Bragança e sua comitiva deixaram Manaus no dia 30, partindo às 17:00 horas no vapor ‘Andirá’ em direção à Belém, em de lá para o Sul. Terminava aquela que foi uma das visitas mais memoráveis que Manaus recebeu, apesar de ser pouco conhecida. Interessante notar que, décadas antes, no final do Império, em 1889, seu pai, Conde D’ Eu, em visita a cidade, fora recebido com desconfiança e manifestos dos republicanos locais. Passadas quase quatro décadas, quando a ideia de um 3° Reinado já não tinha mais tanta força quanto antes, D. Pedro pôde visitar Manaus tranquilamente, sendo bem recebido e ovacionado pelos locais em que passou.


FONTES:

Jornal do Commercio, 24/05/1927.

Jornal do Commercio, 27/05/1927.

Jornal do Commercio, 28/05/1927.

Jornal do Commercio, 29/05/1927.

O Acadêmico – Órgão dos Estudantes da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de Manaus, 19/06/1927.

2 comentários:

  1. Muito relevante esse trabalho que envolve e enriquece o conhecimento da história de nossa terra Manaus. A continuidade da matéria é necessária e muito relevante para todos nós amazonenses! Parabéns!

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  2. O Brasil em essência histórica. Um lado que precisamos valorizar a cada dia.
    Só um povo bem educado, identificado com sua memória histórica e cultural tem futuro.
    Vale a pena repetir à exaustão: povo sem memória é povo sem futuro.

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