segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Bar Avenida, em Manaus

Bar Avenida, 1938. FONTE: Revista Rionegrino, nov. 1938, p. 05.

O Bar Avenida estava localizado na Avenida Eduardo Ribeiro, esquina com a rua Saldanha Marinho, no Centro de Manaus. Foi um dos principais points da boemia manauara do século XX. Nele se reuniam estudantes, intelectuais, jornalistas e políticos em busca de bebidas, refeições e diversão. Sua inauguração ocorreu em 01 de outubro de 1938, sendo seus proprietários Fonseca & Cia e o gerente Waldemiro Lustosa. Ele foi instalado no prédio em que funcionou, no início do século XX, o Hotel Restaurant Français. A Revista Rionegrino, por ocasião de sua inauguração, o descreveu como um "estabelecimento de primeira ordem, obedecendo os requisitos de hygiene e conforto, num local bem situado, o novo Bar está apto a satisfazer as exigências do publico manauense, com os seus serviços os mais aperfeiçoados no genero" (REVISTA RIONEGRINO, NOV., 1938, p. 05). No dia 04 de fevereiro de 1939 foi colocado no salão principal um quadro de Getúlio Vargas. Na ocasião discursaram autoridades civis e militares. Em 08 de abril de 1939 foi inaugurado um moderno refrigerador elétrico automático da marca Norge. 

Os anúncios da década de 1940 o descreviam como um estabelecimento especialista em leite, sorvete, chocolate, nescau, doces finos, sanduíches, canjas, frangos assados, frios, bebidas finas, artigos de mercearia e confeitaria. Possuía, ainda, uma cozinha americana à minuta (JORNAL DO COMMERCIO, 14/12/1944, p. 03). Nele eram realizados grandiosos almoços e jantares de aniversário, recepções de visitantes ilustres e políticos. Assim como outros bares da cidade, era palco de brigas com direito a "cadeiradas e garrafadas no ar" (JORNAL DO COMMERCIO, 31/10/1947, p. 04). O historiador Aguinaldo Nascimento Figueiredo descreve o funcionamento do Bar Avenida da seguinte forma: 

"A rotina do Avenida se iniciava no final da tarde, quando grupos de políticos, de intelectuais e de gente importante da cidade se reunia nas mesinhas de tampo de mármore e cadeiras de madeira para bater papo e degustar seus quitutes como a isca do legítimo "queijo bola" português, bolinhos de bacalhau, cerveja "casco escuro" e um tira gosto muito especial feito de chouriço que era esquentado numa pequena trempe com álcool no balcão mesmo, na frente do freguês" (FIGUEIREDO, 2021, p. 44).

Fonseca & Cia foram seus proprietários até 1944, quando ele foi adquirido por Júlio Rodrigues Fernandes. De acordo com o historiador Aguinaldo Nascimento Figueiredo, Júlio Rodrigues dividiu o espaço do bar em duas partes, instalando em uma delas a Confeitaria Avenida, "especialista em doces finos e os deliciosos bolos, se destacando entre eles o Inglês, o Mármore e o Amanteigado, mas o carro chefe da casa era o não menos famoso Bolo Rei" (FIGUEIREDO, 2021, p. 48).

Júlio Rodrigues esteve à frente do negócio até 1952, ano em que vendeu o bar para Giovanni Meneghini, seu último proprietário. Além de bar, também funcionava como hotel. Em 1955 passou por reformas internas para melhor acomodar seus hóspedes. O político e escritor Jefferson Péres recuperou uma interessante história ocorrida no bar na administração desse proprietário. Ele não gostava da presença de engraxates em seu estabelecimento, os expulsando com violência e humilhação verbal. Um dos frequentadores, Alfredo Aguiar, Inspetor da Alfândega e "valentão" conhecido na cidade, não gostando do tratamento dado a esses trabalhadores, em sua maioria menores de idade, vingou-se encomendado um grande jantar para 30 ou 40 pessoas. Meneghini, acreditando tratar-se de um evento para pessoas ilustres, organizou o bar e preparou um enorme banquete. No dia do jantar, para a sua surpresa, os convidados de Alfredo Aguiar eram os engraxates, que logo tomaram seus lugares à mesa, deliciando-se com a refeição. O dono cobrou o dobro do valor, pago com satisfação por Alfredo (PÉRES, 2002, p. 131). Em matéria de 1957 o articulista do Jornal do Commercio registrou que existia na entrada do bar um aviso proibindo a entrada dos engraxates (JORNAL DO COMMERCIO, 30/10/1957, p. 10). A partir da década de 1960 o bar passou a trabalhar não só com a cozinha americana, mas também com a italiana e a regional.

O Bar Avenida fechou suas portas em 10 de novembro de 1968, após 30 anos de funcionamento, dando lugar a uma agência do Banco Mineiro do Oeste, posteriormente banco Bradesco (O JORNAL, 12/11/1968).

Salão principal do Bar Avenida, 1938. FONTE: Revista Rionegrino, nov. 1938, p. 05.

FONTES:

Revista Rionegrino, nov. 1938.

Jornal do Commercio, 05/02/1939.

Jornal do Commercio, 14/12/1944.

Jornal do Commercio, 31/10/1947.

Jornal do Commercio, 30/10/1957.

O Jornal, 12/11/1968. (Instituto Durango Duarte).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


FIGUEIREDO, Aguinaldo Nascimento. Nos caminhos da alegria: roteiro histórico e sentimental da boemia de Manaus. Manaus: edição do autor, 2021.

PÉRES, Jefferson. Evocação de Manaus: como eu a vi ou sonhei. 2° ed. revista e ampliada. Manaus: Editora Valer, 2002.



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