Monumento dedicado a Tenreiro Aranha, na Praça da Saudade. 2013, acervo da ManausCult.
Versão resumida do texto 5 de Setembro: Elevação do Amazonas à categoria de Província, publicado em 2013.
A
Elevação do Amazonas à categoria de Província é o resultado de
um processo que começou quase três décadas antes do acontecido. O
Amazonas tinha o anseio, desde os tempos coloniais, quando era a
Capitania de São José do Rio Negro, de uma posição de maior
destaque no cenário nacional, desejo esse que sempre encontrava
barreiras na administração do Grão-Pará. O Pará aderiu à
Independência do Brasil em 15 de agosto de 1823. A notícia chegou à
Capitania do Rio Negro três meses depois, em 9 de novembro, sendo
jurada fidelidade a D. Pedro I no dia 22. Uma junta governativa
administraria o Rio Negro até 1825, quando este foi incorporado ao
Grão-Pará na condição de Comarca.
A
lealdade ao Império não mudou a condição do Amazonas, agora na
condição de Comarca de segunda categoria e ainda sufocado pela
subordinação à província vizinha. Descontentes, diferentes
camadas sociais da Comarca mostraram resistência à situação
política, se rebelando e criando, em 1832, a Província do Rio
Negro. Forças militares vindas de Belém deram um fim a essa
iniciativa, que teve pouco mais de quatro meses de existência.
Voltando
ao Pará, emergia o revolucionário Movimento Cabano, encabeçado por
camadas populares da sociedade paraense, formada por mestiços,
negros e índios, que viviam de forma marginalizada e, agora, pegavam
em armas por melhores condições de vida, melhores governos locais e
maior visibilidade nacional. De 1835 à 1840, os cabanos conseguiram
depor governadores e instalar governos revolucionários no Pará,
expandindo o movimento por toda a Amazônia, chegando à Manaus,
Maués, Autazes, Barcelos, Moura, Serpa e outras localidades nos rios
Madeira e Tapajós. O movimento resistiu até 1840, quando começou a
se enfraquecer, seja pela traição de alguns membros, seja pela
força esmagadora da Regência. Como saldo, os combates causaram a
morte de 30.000 à 40.000 mil pessoas, cabanos e militares do
Império; deixaram a produção econômica arruinada e, praticamente,
não trouxe mudanças significativas contra a marginalização das
camadas que se revoltaram.
Desde
a década de 20 do século XIX que autoridades políticas faziam
pedidos ao Império para o Amazonas se emancipar do controle paraense. Em 1826,
D. Romualdo Antônio Seixas, deputado no Pará, argumentou na
Assembleia Nacional que a Província do Pará, dada sua grandiosa
extensão, não conseguiria dar atenção a essa Comarca,
necessitando, assim, a sua transformação em unidade política
independente. Rebatendo os argumentos de Romualdo, políticos
favoráveis ao Pará diziam que a Comarca tinha uma população
diminuta, mão de obra desqualificada, capital e produção
insuficientes. Foram necessários fatores externos para que a criação
de uma nova unidade política no Império do Brasil se concretizasse.
Estados
Unidos e Inglaterra, as duas principais potências industriais do
século XIX, passaram a pressionar o Brasil em relação à soberania
e liberdade de atuação na região amazônica, rica em seringueiras,
de onde vinha o látex para a fabricação da borracha, agora tão
necessária à produção industrial estrangeira. Para evitar
qualquer ameaça estrangeira e confirmar a soberania sob uma região
distante e tão vasta, mas que, futuramente, seria o centro de um dos
mais importantes ciclos econômicos do país, o da borracha, o
Império acelerou o processo de criação da tão esperada Província
do Amazonas.
Pela
Lei N° 582, de 5 de setembro de 1850, criada pelo deputado João
Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, paraense já conhecido por
pedidos anteriores de emancipação, levada ao Imperador D. Pedro II
para aprovação, pelo primeiro ministro José da Costa Carvalho,
Marquês de Monte Alegre, a Comarca do Alto Amazonas é elevada à
categoria de Província, conseguindo se emancipar do Pará depois de
quase um século. Sua capital seria Nossa Senhora da Conceição da
Barra do Rio Negro, a cidade de Manaus. Seus limites e extensão
seriam os mesmos da antiga Capitania, “com
a Capitania de Mato Grosso, ao sul, através da Cachoeira de Nhamundá
até sua foz no Amazonas e deste pelo outeiro do Maracá-Açu,
ficando para o Rio Negro a margem ocidental do Nhamundá e do
outeiro” (REIS, 1989). A província
daria um senador e um deputado à Assembleia Geral, e a sua
Assembleia Legislativa teria 20 membros. Seu primeiro presidente foi
João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, nomeado em 7 de junho de
1851. A província foi instalada de fato em 1° de janeiro de 1852,
após a posse do presidente, dos cinco vice-presidentes e dos novos
funcionários.
A
criação da Província do Amazonas, um sonho antigo dos tempos da
Capitania, representou a autonomia dos amazonenses, que agora
poderiam crescer sem depender do controle autoritário do governo
paraense e suas elites; e a
garantia da soberania do Império Brasileiro em terras distantes e
quase esquecidas, mas tão cobiçadas por outras nações.
NOTA:
(1)
REIS, Arthur Cézar Ferreira. História do Amazonas. 2°
ed. Belo Horizonte: Itatiaia; Manaus, Superintendência Cultural do
Amazonas, 1989. - (Coleção reconquista do Brasil. 2° série; v.
45). p. 121.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
SOUZA,
Márcio. História da Amazônia. Manaus,
Editora Valer, 2009.
LOUREIRO,
Antônio José Souto. O Amazonas na Época Imperial.
Manaus: T. Loureiro & Cia,
1989.
FIGUEIREDO,
Aguinaldo Nascimento. História do Amazonas. Manaus:
Editora Valer, 2011.
CRÉDITO DA IMAGEM:
ManausCult
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