sexta-feira, 1 de junho de 2018

As Grandes Províncias Indígenas da Amazônia entre os séculos XVI e XVII


Índio Cambeba com suas armas. Alexandre Rodrigues Ferreira, século XVIII.

São dos cronistas os primeiros registros escritos sobre a organização dos povos indígenas da Amazônia entre os século XVI e XVII. Nomes como os de frei Gaspar de Carvajal, Maurício de Heriarte, Cristóbal de Acuña e padre Samuel Fritz nos legaram informações valiosas sobre o estado dos indígenas da região antes do estabelecimento dos conquistadores europeus, isto é, antes de terem seu estilo de vida e organização alterados.


PROVÍNCIA DE APARIA

A Província de Aparia, também conhecida como Carari, estava localizada entre o baixo Rio Napo, afluente do rio Amazonas no território peruano, e os rios Javari e Iça, afluentes do rio Solimões, compreendendo uma extensão territorial de 600 quilômetros. A província era formada por 20 povoados, cada um dividido por grandes plantações de milho e mandioca, tendo como capital o povoado de Aparia Grande ou Aparia o Grande, na boca do rio Javari. O poder político estava nas mãos do chefe de Aparia Grande, que dominava desde a foz do rio Jandiatuba até a aldeia de Aparia Menor ou Aparia o Menor, no baixo Napo. Aparia era habitada por índios Aricanas, Arimocoas e, a partir do século XVII, Omáguas. Os habitantes de Apararia vestiam-se com tecidos de algodão pintados, as mulheres utilizando botas e roupas de meias mangas feitas com algodão e cobertas com piche negro. Os Arimocoas, no entanto, andavam nus.

PROVÍNCIA DOS OMÁGUAS

A Província dos Omáguas é a transformação da Província de Aparia, ocupada pelos Omáguas desde o século XVII. Ela se estendia desde a parte baixa da boca do rio Napo, mais de 100 quilômetros acima da foz do rio Javari, até a boca do rio Mamoriá, entre os rios Jutai e Juruá, compreendendo 700 quilômetros. Pedro Teixeira, em 1639, contabilizou 400 aldeias, cujas casas eram protegidas com estacas de madeira. No entanto, no final do século XVII, padre Samuel Fritz contabilizou 38 aldeias, possivelmente uma consequência das epidemias que passaram a dizimar os Omáguas. Essas aldeias possuíam chefes locais, tendo a Província um chefe supremo, o Tururucari (Deus), que representava o poder central. Além de chamarem a atenção por possuírem a cabeça achatada, os Omáguas também se destacavam pela inclinação à guerra, conquistando outras províncias e possuindo vários escravos, frutos das conquistas.

PROVÍNCIA DE MACHIFARO

A Província de Machifaro, no século XVI, estava localizada na margem direita do rio Solimões, em um território que tinha início acima da boca do rio Tefé e se estendia até o rio Coari, totalizando 200 quilômetros. Era uma Província bastante povoada, com aldeias próximas umas das outras. No século XVII também ficou conhecida como Província de Curuzirari, Província de Carapuna e Província de Aisuari.


PROVÍNCIA DE AISUARI

A Província de Aisuari tinha a mesma localização da Província de Machifaro, com o adicional de ter se estendido 120 quilômetros a Oeste, ultrapassando a foz do rio Juruá; além de ser populosa da mesma forma. Os Curuzaris, habitantes dessa Província, mantinham relações comerciais com os índios Manaus. Os Manaus comercializavam ouro, urucum, raladores de mandioca, redes de miriti, cestarias e tacapes, enquanto os Curuzuraris comercializavam cerâmicas de alta qualidade.

PROVÍNCIA DE ONÍGUAYAL OU OMÁGUA

A Província de Oníguayal estava localizada abaixo da de Machifaro, que se estendia acima da barra do rio Coari até as proximidades da foz do rio Purus, com cerca de 250 quilômetros. Ocupavam também a margem esquerda da região de Codajás. A maior aldeia de Oníguyal estava localizada na ilha de Codajás, e era conhecida como Aldeia da Louça, por nela serem fabricadas cerâmicas policrômicas de grande qualidade. Para rituais e festividades, seus habitantes construíam grandes ídolos de fibras vegetais trançadas. Também eram bons navegantes, comercializando com outras tribos. No século XVII seria conhecida como Província de Yoriman, Solimões ou Yurimágua.

PROVÍNCIA DE YORIMAN, SOLIMÕES OU YURIMÁGUA

Com extensão semelhante à Província de Oníguayal, a Província de Yoriman estava localizada na margem direita do rio Amazonas (rio Solimões), com uma extensão territorial de 250 quilômetros. As comunidades eram bastante povoadas, com seus habitantes, os Solimões, vivendo em casas comunais, que abrigavam quatro ou cinco famílias. Seus habitantes comercializavam intertribalmente e com outros povos, negociando manufaturas e escravos. De acordo com o padre Cristóbal de Acuña, os Solimões eram bastante belicosos, fazendo frente às esquadras portuguesas que tentavam penetrar na região.


PROVÍNCIA DE PAGUANA

O território da Província de Paguana estava localizado acima da boca do rio Purus e se estendia 100 quilômetros acima do encontro das águas do rio Negro e do rio Solimões. Essa Província era dividida em dois grandes e populosos povoados: A Aldeia dos Bobos, com duas léguas de extensão e vários caminhos para o interior; e a Aldeia dos Viciosos.  No século XVII, a região de Paguana era habitada por diferentes tribos, das quais destacam-se os Caripunas e Zurinas, na margem direita do Encontro das Águas; e os Carabuyunas, na margem esquerda, estendendo-se pelos lagos de Manacapuru e pelo baixo Rio Negro. Com exceção dessas referências, as informações sobre Paguana são escassas.


PROVÍNCIA DO ENCONTRO DAS ÁGUAS E ILHA DE TUPINAMBARANA

Entre os rios Negro e Urubu, existiu um grande número de aldeias fortificadas com paliçadas de toras grossas e, em um povoado na margem esquerda entre esses dois rios, existia um altar para celebrações religiosa, onde eram ofertadas bebidas fermentadas para uma divindade solar. Passando a boca do rio Madeira, existiu a Província de Picotas, onde seus habitantes fincavam estacas com as cabeças dos que matavam nas guerras. No século XVII, da barra do Rio Negro até o rio Urubu, viviam os Tarumãs. A Ilha de Tupinambarana era habitada pelos Tupinambás que vieram da costa leste do Brasil.

PROVÍNCIA DOS TAPAJÓS

A Província dos Tapajós compreendia o trecho do rio Amazonas que vai da boca do rio Nhamundá até o baixo curso do rio Tapajós. De acordo com frei Gaspar de Carvajal, na região no século XVI, as duas margens do rio Amazonas eram ocupadas por aldeias, estando as maiores na margem direita. O padre Cristóbal de Acuña, no século XVII, constatou a existência de 2500 pessoas em apenas uma aldeia, o que nos permite ter uma noção da grandiosidade da Província como um todo. Os Tapajós eram bastante conhecidos e temidos pelas tribos vizinhas, pois utilizavam flechas envenenadas nas guerras. De acordo com Maurício de Heriarte, na região em 1662, os Tapajós estavam organizados em povoados que possuíam entre 20 e 30 casas. Cada povoado era governado por um 'principal', e a Província como um todo pelo 'Principal grande'. Foi nessa Província que aconteceu o combate entre os soldados Francisco de Orellana e as Amazonas, registrado por Gaspar de Carvajal.

PROVÍNCIA DOS NEGROS

A Província dos Negros se estendia da região de Monte Alegre até o rio Xingu. Os homens dessa região, de acordo com Carvajal, eram altos, tosquiados e tinha a pele pintada de negro. O chefe dessas terras se chamava Arripuna. Até os limites na foz do Amazonas, foram registradas várias povoações indígenas.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SANTOS, Francisco Jorge dos. História do Amazonas. 1° Ed. Rio de Janeiro: MEMVAVMEM, 2010.

FIGUEIREDO, Aguinaldo Nascimento. História do Amazonas. Manaus: Editora Valer, 2011.



CRÉDITO DA IMAGEM:

Alexandre Rodrigues Ferreira. Viagem Filosófica. In: SANTOS, Francisco Jorge dos. História do Amazonas. 1° Ed. Rio de Janeiro: MEMVAVMEM, 2010.

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