Ontem, 07/06, na Sessão 04: Literatura, Arte e História, da XII Semana de História da Universidade Federal do Amazonas, um trabalho chamou bastante a atenção dos ouvintes: Uma Reforma Espiritual no Egito Faraônico: Akhenaton na sua Consagração Divina e Humanizada, da graduanda Inara Kezia Gama Araújo, do 5° período.
Sou amigo de Inara desde quando ela entrou na graduação, em 2016. Acompanhei de perto toda sua evolução, seu entusiasmo pela História Antiga, com ênfase no Antigo Egito, seus primeiros escritos e, agora, a participação em uma sessão coordenada. A apresentação de seu trabalho, fruto de pesquisas para o PIBIC, deu novo fôlego às pesquisas em História Antiga do Departamento de História da UFAM, tão acostumado a outras áreas. O Departamento, aliás, teve 3 projetos aprovados nessa área, todos orientados pela Prof. Dra. Joana Campos Clímaco: As cartas de Arísteas e seu impacto no Judaísmo Helenístico; Uma reforma espiritual no Egito Faraônico: Akhenaton na sua consagração divina e humanizada; e A Antiguidade, o cinema e suas representações nos livros didáticos de História do 6° ano.
Confiram, abaixo, um resumo e a introdução do trabalho apresentado por Inara. Que ele sirva de inspiração para os outros graduandos, para que surjam novas pesquisas em História Antiga, sejam elas sobre o Oriente, Grécia, Roma e o Egito, bem como em outras áreas.
UMA REFORMA ESPIRITUAL NO EGITO FARAÔNICO: AKHENATON NA SUA CONSAGRAÇÃO DIVINA E HUMANIZADA
RESUMO
O período Amarniano - conhecido também como reforma espiritual - ocorreu em torno de 1352-1336 a. C. na 18° dinastia, contexto do novo império, reforma fundada pelo faraó Amen-hotep IV, posteriormente chamado Akhenaton. Em seu reinado, o faraó estabeleceu uma revolução espiritual e modificou o panteão egípcio, nomeando o deus Aton - o disco solar - como o único deus. Com o seu decreto, ocorreu uma revolta entre nobres e sacerdotes.
As características do período Amarniano é algo que chama atenção na descrição da realeza, pois além de Akhenaton consagrar-se como um ser divino em torno do deus Aton, o papel de um faraó humanizado é detectado na sua teologia solar. Akhenaton efetivou um repertório novo na prática religiosa, por meio da sua imagem, arte e religião, onde o marco dessa nova religião é regido pelo mais belo poema: O Grande Hino a Aton.
INTRODUÇÃO
Amen-hotep
IV (Akh-em-Aton), foi o faraó da 18º dinastia no período entre
1352 e 1336. Causou uma profunda reforma religiosa no Egito,
atribuindo culto somente a um deus, elegendo o disco solar (Aton)
como único deus, o criador do mundo. Sua inovação desestrutura e
reconstrói a religião egípcia, renovando o panteão e atribuindo
um novo olhar para o Egito faraônico. O novo cenário foi motivo de
revolta entre nobres e sacerdotes. A implantação de uma espécie de
monoteísmo em uma civilização politeísta é um assunto de enorme
controvérsia na egiptologia. Jan Assmann um dos mais conceituados
egiptólogos que aborda a religião egípcia na contemporaneidade,
salienta de forma evidente o prestígio da reforma de amarna
(conhecido também como reforma espiritual): “a redescoberta do rei
herético, Akhenaton, que após sua morte foi submetido a uma
completa damnatio
memorie
no Egito, é a mais significativa descoberta da egiptologia”¹. É
comum dizer que os egípcios eram politeísta e o próprio faraó era
tradicionalmente relacionado e poderes divinos e Amen-hotep IV
edifica isso perfeitamente, fazendo-se único e exclusivamente rei,
homem, deus e sacerdote. O grande hino a Aton é um dos poemas que
exprime a nova doutrina no novo império e o mais belo já registrado
nesse período. A ênfase do projeto é apresentar uma nova ótica
faraônica, descortinar a face do faraó detectando principalmente se
lado humano, além de sua posição política-religiosa. Dessa forma
pretendemos contemplar e apreciar as riquezas que o antigo Egito nos
proporciona, na arte, cultura, linguagem, literatura e religião. O
objetivo é justificar a importância que a história antiga em suas
diversas construções sociais, assim buscando meios de despertar o
interesse na área da Antiguidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ASSMANN, Jan. Of god and gods. Egypt, Israel and the rise of monotheism. Madison, EUA: The University of Wisconsin press, 2008.
_____________. The prince of monotheism. California: Stanford University Press, 2010.
ARAÚJO, Emanuel. Pobres faraós divinos. Textos de História, v. 4, n° 2, p. 5-29, 1996.
________________. Escritos para a eternidade. A literatura no Egito faraônico. Brasília: Editora Universidade de Brasília/São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000.
CARDOSO, Ciro Flamarion. O Egito Antigo. São Paulo: Brasiliense, 2004.
CHAPOT, Gisela. A família real amarniana e a construção de uma nova visão de mundo durante o reinado de Akhenaton (1353-1335 a.C.). Niterói, 2015.
HORNUNG, E. O Rei. In: DONADONI, S. (org). O homem egípcio. Lisboa (PT): Presença, p. 239-262, 1994.
NOTAS:
¹ ASSMANN,
Jan. “ A new State theology- the religion of light”. In:
SEYFRIEND, Friderike. In the light of Amarna: 100 years of the
Nefertiti discovery. Berlin: Imhof Verlag, 2013 p.79.
Inara Kezia Gama Araújo, 18, é acadêmica do 5° período do curso de História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Sua área de pesquisa é a História Antiga, com destaque para o Egito Antigo, com ênfase no resgate da importância da imagem do faraó em torno do sistema político-religioso. Trabalha a identidade cultural, crendo na importância de se esclarecer como o contexto multicultural faz parte da nossa identidade, abrangendo aspectos sociais, políticos, econômicos, linguísticos e religiosos.
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