Monumento em homenagem a João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, primeiro Presidente da Província do Amazonas.
Naquele
5 de Setembro de 1850 encerrava-se, pela força da lei, uma luta. Uma
luta por emancipação política que teve início algumas décadas
antes. A antiga Comarca do Alto Amazonas, subordinada à Província
do Grão-Pará, era elevada à categoria de Província do Amazonas.
Emancipada
essa porção territorial, criada uma nova unidade política, era
preciso organizar a administração, ver o que existia, o que
faltava, cuidar da arrecadação. Enfim, planejar o futuro da nova
província.
Seus limites seriam os mesmos da antiga Capitania de São José do Rio Negro: "com a Capitania de Mato Grosso, ao sul, através da Cachoeira de Nhamundá até sua foz no Amazonas e deste pelo outeiro de Maracá-Açu, ficando para o Rio Negro a margem ocidental do Nhamundá e do outeiro" (REIS, 1989, p. 121).
Quando
a província foi entregue a seu primeiro Presidente, João Batista de
Figueiredo Tenreiro Aranha (1798-1861), esta contava com a Guarda
Policial, criada em 04 de abril de 1837, formada por dois Batalhões
com uma força de 1339 praças. Contava, ainda, com as Companhias de
Trabalhadores, instituídas pela Lei 25 de Abril de 1838. Essas
companhias eram instituições que recrutavam trabalhadores, índios
e mestiços, para a prestação de serviços compulsórios para o
Estado e para particulares. Com 2 Termos com foro independente, a
Província tinha 4 Municípios, 20 Freguesias, 18 Distritos de Paz, 2
Delegacias e 11 Subdelegacias.
O estado da segurança pública, em síntese, era considerado lisonjeiro, ainda que as maiores ameaças consideradas pelos administradores locais fossem os ataques de indígenas das tribos arara e karipuna, que vez ou outra assaltavam embarcações e matavam seus passageiros.
No
que tange o culto público, a religião Católica, existiam 3 Missões
na região para a catequese dos indígenas: a de Porto Alegre, em São
Joaquim do Rio Branco, no Alto Rio Branco, onde eram catequizados
uapixanas, macuxis, jaricunas, anhuaques, arutanis, procutus e
saparás; a de Japurá, Içá e Tonantins, na margem esquerda do
Solimões, cujos trabalhos eram feitos com ticunas, mariatés,
xomanas, juris e passés; e a do Andirá, em Vila Nova da Rainha
(Parintins), voltada para a catequese de maués e muras. As missões
não estavam dando os resultados esperados, o que era atribuído “a
carencia de Missionarios esclarecidos, e animados de fervor
religioso, e de patriotismo; a insufficiencia dos meios pecuniarios,
de que se tem disposto; e a falta de um systema de educação mais
apropriada”.
Em
aspectos educacionais, em seus anos iniciais a província possuía 8
escolas de ensino primário, das quais 7 estavam plenamente providas
de todos os materiais necessários para o funcionamento. A única
instituição de ensino secundário, o Seminário São José, criado
em 1848, ficava na capital. Nele era ensinada Gramática Latina,
Língua Francesa, Música e Canto. À época era frequentado por 17
alunos, sendo 13 internos. Em trabalho de recenseamento realizado em
1851, a população da nova província foi estimada em 29.798
habitantes, sendo 7.815 homens livres e 225 escravos; 8.772 mulheres
livres e 272 escravas; 6.776 menores do sexo masculino livres e 117
escravos; e 5.685 menores do sexo feminino livres e 136 escravas.
Assim
se encontrava a província do Amazonas, de acordo com a Exposição
apresentada em 9 de dezembro de 1851 por Fausto Augusto de Aguiar,
Presidente da Província do Pará, a João Batista de Figueiredo
Tenreiro Aranha. A par dessas informações, do lugar que primeiro
administraria, Tenreiro Aranha pôde enfim instalá-la, em 01 de
Janeiro de 1852. Reproduzo a seguir o Auto de Instalação da
Província do Amazonas:
“Anno
do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e
cincoenta e dous, trigesimo primeiro da Independencia e do Imperio,
ao primeiro dia do mez de Janeiro do dito anno nesta Cidade de Nossa
Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro, e Paço da Camara
Municipal respectiva, pelas dez e meia horas da manhã, onde se
achava reunida a mesma Camara, e sendo ahi presente o Excellentissimo
Snr. João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha, que acabava de
prestar juramento e tomar posse do Cargo de Presidente desta
Provincia por ter sido nomeado por Carta Imperial de 7 de Junho
ultimo, nos termos da Lei; e depois de tomar o juramento e dar posse
aos demais Empregados nomeados pelo Governo de SUA MAGESTADE O
IMPERADOR para Chefes de diversas Repartições; e em presença da
mesma Camara, de todas as Authoridades Civis, Militares, e
Ecclesiasticas, e de grande concurso de Cidadãos, que se achavão
reunidos no dito Paço, declarou o mesmo Excellentissimo Senhor: que
em virtude da dita Carta Imperial, e das Instrucções do Governo de
SUA MAGESTADE O IMPERADOR installava a Provincia do Amazonas creada
pela Lei geral numero quinhentos e oitenta e dous de cinco de
Setembro de mil oitocentos e cincoenta, para que nessa Cathegoria
entre em suas regalias. E, para constar, mandou lavrar este Auto que
assignou o mesmo Excellentissimo Senhor, e ápoz delle todas as
demais authoridades, tanto desta Capital, como das Villas e
Freguezias da Província, que se acharão presentes. E eu João
Wilkens de Mattos, Secretario do Governo por SUA MAGESTADE O
IMPERADOR o escrevy. - João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha –
Manoel Gomes Corrêa de Miranda, Vice-Presidente da Provincia, e Juiz
de Direito e Chefe de Policia – Joaquim Gonçalves de Azevedo,
Vigario Geral e Vice-Presidente da Provincia – João Henrique de
Mattos, Vice-Presidente e Commandante Superior da Guarda Nacional –
João Ignacio Rodrigues do Carmo, Vice-Presidente, e Presidente da
Camara Municipal – Manoel Thomaz Pinto, Vice-Presidente e Promotor
Publico da Comarca – Alexandrino Magno Taveira Pau Brazil, Vereador
da Camara e 3°. Supplente do Delegado – Francisco Antônio Roberto
– Antonio José Brandão – Manoel José de Macedo – Pedro
Mendes Gonçalves Pinheiro – Bernardo Francisco de Paula e Azevedo
– João Fleury da Silva, Vereador e Alferes da Guarda Policial –
Albino dos Santos Pereira – José Manoel Rangel de Carvalho,
Inspector interino – O Padre Romualdo Gonçalves d’ Azevedo –
Gabriel Antonio Ribeiro Guimarães, Administrador da Recebedoria –
José Cazemiro Ferreira do Prado, Delegado de Policia – Clementino
José Pereira Guimarães, Secretario da Camara Municipal –
Maximiano de Paula Ribeiro, Juiz Municipal e Orffãos – Aureliano
da Silva – O Capitão Manoel da Cotta Falcão e Brito – Fr.
Gregorio José Maria de Bem, Missionario apostolico – Manoel
Joaquim de Castro e Costa, 2° Tenente d’ Armada, Immediato do
Vapor de Guerra Guapiassú – Francisco Xavier de Moraes Pereira, 2°
Cirurgiãode N° - D. Bento de Tavora Noronha Saldanha Freire d’
Andrade, Escrivão – Tenente, João Marcelino Taveira Pau Brazil –
Sabino Antonio Brandão – José Bento da Silva – Antonio Pereira
Lima – José Coelho de Miranda Leão Junior, Escrivão Contador –
Fernando Felix Gomes Junior – Bernardino de Oliveira Horta –
Antonio Manoel Sanches Fialho – Antonio Dias Guerreiro de Oliveira
– João Manoel de Souza Coelho – Joaquim Manoel Palheta –
Silvestre Tenreiro Aranha – Venancio Antonio de Castro –
Guilherme Antonio de Sá – Viriato Severiano Ribeiro – José
Arthur Pinto Ribeiro – Francisco Joaquim Batalha – João de
Oliveira Seixas – Henrique Antony – Alexandre Paulo de Brito
Amorim – Marck William – Marçal Gonçalves Ferreira – Marcello
Candido Pinto Amazonio – João Hauxwell – Antonio Lopes Braga –
Thomaz José Pereira Guimarães – Manoel Rodrigues Cheeks Nina –
Antonio José Ribeiro de Lucena Cascáes – Raymundo José Ferreira
d’ Alcantara – Ricardo José Corrêa de Miranda – Manoel
Francisco Fernandes – Joaquim d’ Oliveira Horta – João Fleury
da Silva Brabo – Jeronimo Rodrigues do Carmo – Arystides Justo
Mavignier – Severino Eusebio Cordeiro, Tenente Ajudante d’ Ordens
– Alexandre Ramos da Silva – Balbino José Pereira Guimarães –
Pedro Luiz Simpson – Agostinho Hermes Pereira, Professor de 1°as
Letras – O Alferes José Ferreira Ribeiro Bitancourt – O Capitão
reformado Joaquim Isidoro d’ Oliveira – Ajudante Contador do
Correio do Pará em Commissão nesta Provincia, Lourenço Justiniano
da Gama – Manoel da Silva Ramos”.
Também
é de 1852 a conhecida planta da cidade de Manaus, capital da
província. Nessa planta, feita pelo presidente João Batista de
Figueiredo Tenreiro Aranha, além dos limites urbanos, pode-se
observar que a pequena cidade era dominada pelos igarapés de São
Vicente, da Ribeira, do Espírito Santo e do Aterro, que cortavam
seus poucos bairros (Remédios, República, Espírito Santo, Campina
e São Vicente). As ruas continuavam estreitas e curtas, sendo
definidas de forma natural pelo terreno. Registra-se, ainda, como acontecimento marcante para a região, a introdução da navegação a vapor, mediante a Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, dirigida por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.
Instalada
a província em 1 de Janeiro de 1852, nomeados seus vice-presidentes
e demais funcionários, seguiram-se festejos e dois tradicionais atos
religiosos: o de Ação de Graças, na capela do Seminário São
José, e o Te Deum Laudamus (A Ti Louvamos, Deus), na Igreja de Nossa
Senhora dos Remédios, à época servindo de Igreja Matriz.
FONTES:
Exposição
apresentada ao Exmo. Presidente da Província do Amazonas, João
Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, por occasião de seguir para a
mesma Provincia, pelo Exmo. Presidente da do Grão Pará, Dr. Fausto
Augusto de Aguiar, em 09 de dezembro de 1851.
Auto
da Installação da Provincia do Amazonas pelo Exmo. Snr. João
Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha Seu 1° Presidente, no Dia 1°
de Janeiro de 1852.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
REIS, Arthur Cézar Ferreira. História do Amazonas. 2° ed. Belo Horizonte: Itatiaia; Manaus, Superintendência Cultural do Amazonas, 1989.
CRÉDITO DA IMAGEM:
nvconstrututora.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário