segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Bairro Praça 14 de Janeiro, em Manaus


Vista parcial do bairro. FOTO: Daniel Landazuri (Em Tempo, 2017).

Localizado na zona Sul de Manaus, o bairro Praça 14 de Janeiro é um dos mais antigos da cidade, tendo sido fundado em 1892.

Ao longo de 128 anos de História o bairro teve diferentes nomes. Nos primórdios era conhecido como Praça da Conciliação. Em 1892, por proposta do Intendente Sérgio Pessoa, passou a se chamar Praça Fernandes Pimenta. Nesse mesmo ano, através de nova proposta, dessa vez do Intendente Antônio Dias dos Passos, recebeu o nome de Praça 14 de Janeiro.

Esses três nomes, Conciliação, Fernandes Pimenta e 14 de Janeiro, fazem alusão à Revolta de 14 de Janeiro de 1892, que teve como causa as disputas políticas entre os partidos Democrático e Nacional. O conflito, armado, culminou na deposição do Governador Gregório Thaumaturgo de Azevedo e na ascensão de Eduardo Gonçalves Ribeiro ao poder. Houve uma única baixa, a do soldado do Batalhão Militar de Polícia João Fernandes Pimenta, cujo nome brevemente homenageou o bairro. Conciliação lembrava o fim do conflito e 14 de Janeiro o dia em que ele ocorreu.

Em 1917, o Intendente Sérgio Pessoa, novamente, propõe um novo nome para o lugar, dessa vez Praça Portugal, uma homenagem à colônia portuguesa residente em Manaus. Sérgio Pessoa não considerava digna a lembrança de uma revolta armada, conforme deixou registrado no decreto:

“Considerando que, em todos os paizes, especialmente nos mais adeantados, existem logares, ruas, praças com denominações próprias, de outros que lhes são considerados amigos, como um preito de real e sincera homenagem e confiança reciproca;

Considerando que, uma denominação feita nestas condições não constitue exagero de sympathia por um povo ou paiz, por quanto em quasi todos os Estados do Brasil ha um exemplo, um precedente;

Considerando que, mesmo nesta capital foram dados as diversas ruas da Villa Municipal os nomes das capitaes dos nossos Estados;

Considerando que, sem ferir as susceptibilidades de outrem, é o povo portuguez que mais serviços ha prestado relativamente ao desenvolvimento material e economico do Brasil, especialmente ao Amazonas;

Considerando que, a Praça 14 de Janeiro não tem uma significação digna de ser perpetuada.

A Intendencia Municipal de Manáos, resolve apresentar o seguinte decreto:

Art. 1° - A Praça que se denomina 14 de Janeiro passa a ter a denominação de Praça de Portugal.

Art. 2° - Fica aberto no orçamento vigente o credito para a collocação das placas respectivas, etc.

Art. 3° - Revogam-se as disposições em contrario.

S. S. do Conselho Municipal de Manáos, 24 de Outubro de 1917.

(a) Sergio R. Pessoa”. (A Capital, 25/10/1917).

Essa nomenclatura, apesar de ter passado a ser utilizada, não caiu no gosto dos moradores do bairro, que continuaram a chamá-lo de Praça 14 de Janeiro.

A presença portuguesa se faz presente no bairro pela forte devoção a Nossa Senhora de Fátima, cujos registros mais antigos datam da década de 1930. Como ainda não existia uma paróquia própria, as atividades religiosas da Praça 14 eram realizadas pela Paróquia de São Sebastião, no Centro. Em 1942 começou a ser erguido o templo dedicado à Nossa Senhora de Fátima, sendo concluído em 1975.

No período em que o bairro surgiu, final do século XIX, Manaus começou a receber um contingente de trabalhadores oriundos do Maranhão – terra natal do Governador Eduardo Ribeiro – em sua maioria ex-escravos, para atuar nas grandes obras de melhoramento urbano que estavam sendo executadas. Esses operários passaram a residir na região da Praça 14 de Janeiro, imprimindo, até hoje, sua identidade através de manifestações artísticas e religiosas afro-brasileiras. Foi nele que surgiu a primeira escola de samba de Manaus, a Escola Mixta de Samba da Praça 14 de Janeiro (1946-1962).

As primeiras melhorias na paisagem urbana da Praça 14, o asfaltamento de ruas, a luz elétrica, postos médicos, uma maternidade, postos policiais, escolas, feiras, linhas de ônibus, surgiram na década de 1950, nos Governos de Plínio Ramos Coelho e Gilberto Mestrinho. As fontes jornalísticas nos revelam que o bairro era habitado, em sua maioria, por trabalhadores urbanos, como fica indicado em matéria de 1946 do Jornal do Commercio:

“[…] O populoso bairro da Praça 14 de Janeiro, onde mora grande parte de proletariados e trabalhadores, dentre estes estivadores, os quais empregam suas atividades no serviço noturno de estivas, como tambem moças e senhoras pobres na Uzina de Castanhas” (Jornal do Commercio, 14/05/1946).

O bairro possui construções e lugares marcantes como o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, construído entre 1942 e 1975; o Santuário Paróquia de São José Operário, construído entre 1949 e 1967; a Escola Estadual Plácido Serrano, a Comunidade do Quilombo do Barranco de São Benedito, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Vitória Régia, fundado em 1975.



FONTES:


Jornal A Capital, 25/10/1917.

Jornal do Commercio, 14/05/1946.


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