Vista parcial do bairro. FOTO: Daniel Landazuri (Em Tempo, 2017).
Localizado na zona Sul de Manaus,
o bairro Praça 14 de Janeiro é um dos mais antigos da cidade, tendo
sido fundado em 1892.
Ao longo de 128 anos de História
o bairro teve diferentes nomes. Nos primórdios era conhecido como
Praça da Conciliação. Em 1892, por proposta do Intendente Sérgio
Pessoa, passou a se chamar Praça Fernandes Pimenta. Nesse mesmo ano,
através de nova proposta, dessa vez do Intendente Antônio Dias dos
Passos, recebeu o nome de Praça 14 de Janeiro.
Esses três nomes, Conciliação,
Fernandes Pimenta e 14 de Janeiro, fazem alusão à Revolta de 14 de
Janeiro de 1892, que teve como causa as disputas políticas entre os
partidos Democrático e Nacional. O conflito, armado, culminou na
deposição do Governador Gregório Thaumaturgo de Azevedo e na
ascensão de Eduardo Gonçalves Ribeiro ao poder. Houve uma única
baixa, a do soldado do Batalhão Militar de Polícia João Fernandes
Pimenta, cujo nome brevemente homenageou o bairro. Conciliação
lembrava o fim do conflito e 14 de Janeiro o dia em que ele ocorreu.
Em 1917, o Intendente Sérgio
Pessoa, novamente, propõe um novo nome para o lugar, dessa vez Praça
Portugal, uma homenagem à colônia portuguesa residente em Manaus.
Sérgio Pessoa não considerava digna a lembrança de uma revolta
armada, conforme deixou registrado no decreto:
“Considerando
que, em todos os paizes, especialmente nos mais adeantados, existem
logares, ruas, praças com denominações próprias, de outros que
lhes são considerados amigos, como um preito de real e sincera
homenagem e confiança reciproca;
Considerando
que, uma denominação feita nestas condições não constitue
exagero de sympathia por um povo ou paiz, por quanto em quasi todos
os Estados do Brasil ha um exemplo, um precedente;
Considerando
que, mesmo nesta capital foram dados as diversas ruas da Villa
Municipal os nomes das capitaes dos nossos Estados;
Considerando
que, sem ferir as susceptibilidades de outrem, é o povo portuguez
que mais serviços ha prestado relativamente ao desenvolvimento
material e economico do Brasil, especialmente ao Amazonas;
Considerando
que, a Praça 14 de Janeiro não tem uma significação digna de ser
perpetuada.
A
Intendencia Municipal de Manáos, resolve apresentar o seguinte
decreto:
Art.
1° - A Praça que se denomina 14 de Janeiro passa a ter a
denominação de Praça de Portugal.
Art.
2° - Fica aberto no orçamento vigente o credito para a collocação
das placas respectivas, etc.
Art.
3° - Revogam-se as disposições em contrario.
S.
S. do Conselho Municipal de Manáos, 24 de Outubro de 1917.
(a)
Sergio R. Pessoa”. (A Capital, 25/10/1917).
Essa nomenclatura, apesar de ter
passado a ser utilizada, não caiu no gosto dos moradores do bairro,
que continuaram a chamá-lo de Praça 14 de Janeiro.
A presença portuguesa se faz
presente no bairro pela forte devoção a Nossa Senhora de Fátima,
cujos registros mais antigos datam da década de 1930. Como ainda não
existia uma paróquia própria, as atividades religiosas da Praça 14
eram realizadas pela Paróquia de São Sebastião, no Centro. Em 1942
começou a ser erguido o templo dedicado à Nossa Senhora de Fátima,
sendo concluído em 1975.
No período em que o bairro
surgiu, final do século XIX, Manaus começou a receber um
contingente de trabalhadores oriundos do Maranhão – terra natal do
Governador Eduardo Ribeiro – em sua maioria ex-escravos, para atuar
nas grandes obras de melhoramento urbano que estavam sendo
executadas. Esses operários passaram a residir na região da Praça
14 de Janeiro, imprimindo, até hoje, sua identidade através de
manifestações artísticas e religiosas afro-brasileiras. Foi nele
que surgiu a primeira escola de samba de Manaus, a Escola Mixta de
Samba da Praça 14 de Janeiro (1946-1962).
As primeiras melhorias na
paisagem urbana da Praça 14, o asfaltamento de ruas, a luz elétrica,
postos médicos, uma maternidade, postos policiais, escolas, feiras, linhas de ônibus, surgiram na década de 1950, nos Governos de Plínio Ramos Coelho e
Gilberto Mestrinho. As fontes jornalísticas nos revelam que o bairro
era habitado, em sua maioria, por trabalhadores urbanos, como fica
indicado em matéria de 1946 do Jornal do Commercio:
“[…]
O populoso bairro da Praça 14 de Janeiro, onde mora grande parte de
proletariados e trabalhadores, dentre estes estivadores, os quais
empregam suas atividades no serviço noturno de estivas, como tambem
moças e senhoras pobres na Uzina de Castanhas” (Jornal do
Commercio, 14/05/1946).
O bairro possui construções e
lugares marcantes como o Santuário de Nossa Senhora de Fátima,
construído entre 1942 e 1975; o Santuário Paróquia de São José
Operário, construído entre 1949 e 1967; a Escola Estadual Plácido
Serrano, a Comunidade do Quilombo do Barranco de São Benedito, o
Grêmio Recreativo Escola de Samba Vitória Régia, fundado em 1975.
FONTES:
Jornal A Capital, 25/10/1917.
Jornal do Commercio, 14/05/1946.
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