Quem passa pela rua 24 de Maio, no Centro, pode nunca ter notado que nela, em um prédio de dois andares erguido no início do século passado, está localizada a livraria mais antiga de Manaus em funcionamento. Trata-se da Livraria Nacional, inaugurada em 1975, propriedade dos irmãos José Maria Monteiro Mendes, João Batista e Paulo Roberto.
Os negócios tiveram início com José Maria, natural de Manaus, pedagogo, que começou cedo no ramo dos livros, mas em Belém, no Pará, para onde a família mudou-se entre novembro e dezembro de 1951, quando ele tinha apenas 9 meses. Bastante estudioso, foi encaminhado, após gabaritar um teste de recursos humanos, para uma livraria, a Livro Lar, que funcionava na Galeria do Palácio do Rádio, em frente a livraria Dom Quixote. Começou limpando as dependências da livraria e espanando os livros, fazendo o mesmo na Dom Quixote, onde começou a trabalhar logo depois. Em dois meses passou a pegar livros para o gerente, já que memorizava como ninguém a localização dos títulos solicitados pelos clientes. Ao ler um livro - como costumava fazer - o qual não recorda o nome, leu uma frase que seria determinante para o seu futuro: "O livreiro é o líder de uma sociedade pensante". Ali nascia um sonho, o de ser dono de uma livraria.
Após nove meses, sai da Dom Quixote e começa a trabalhar em um escritório de decoração e arquitetura, nele ficando por três meses. Nesse mesmo tempo um antigo sócio da Dom Quixote abre uma livraria, a Universitas Livros Técnicos, representante da editora Gustavo Gili, especializada em livros de arquitetura. José Maria passa a trabalhar na Universitas, vendendo livros nas faculdades de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia da UFPA.
Veio pela primeira vez a Manaus em 1968, vender livros de engenharia na recém-criada Faculdade de Engenharia da Universidade do Amazonas. Vem novamente em 1969, pois a demanda era crescente, e em 1970 se estabelece definitivamente na cidade. A Gustavo Gili abriu uma filial em Manaus, admitindo José Maria como gerente.
Em setembro/outubro de 1972 pede dispensa temporária da editora para iniciar sua própria livraria, que começou com o nome Metro Cúbico, em referência aos três m de seu nome (Maria, Monteiro e Mendes). Posteriormente surge o nome fantasia Livraria Nacional, quando começou a representar a Companhia Editora Nacional. Pede nova dispensa em 1973, e em dezembro de 1974 pede demissão. No dia 01 de janeiro de 1975 inicia suas atividades como Metro Cúbico Livros e Revistas Técnicas, oficialmente inaugurada em 17 de março daquele ano.
Da época em que a Metro Cúbico (Livraria Nacional) começou a funcionar, José Maria se lembra de algumas livrarias, como a Livraria Acadêmica (1912-2009) e a Livraria Brito, na rua Henrique Martins, a Livraria Maíra, na rua 24 de Maio, a Livraria Sete, na Avenida Sete de Setembro, e a Livraria Universitária, no Edifício Cidade de Manaus.
José Maria nos conta que a livraria esteve instalada, em seu primeiro ano de funcionamento, em um prédio alugado na rua Alexandre Amorim, n° 177, bairro de Aparecida, nas proximidades da Usina Termelétrica da Amazonas Energia. Posteriormente mudou-se para a rua 10 de Julho, no Centro, onde funcionou entre 1976 e julho de 1988. Em agosto de 1988 a livraria é instalada em sua sede atual, na rua 24 de Maio, n° 415. Em 1978, 1980 e 1982 a Nacional realizou exposições de livros sobre Amazônia na Bienal Internacional do Livro no Pavilhão de Exposições do Ibirapuera, em São Paulo.
No dia 01 de junho de 1995 ocorre um incêndio no segundo andar do prédio. Em agosto daquele ano José Maria viaja a São Paulo para negociar as dívidas com os editores dos livros em estoque que foram destruídos. Como o seguro estava vencido, José e seus irmãos tiveram que assumir os prejuízos totalmente. Mesmo assim conseguiram a reabertura de crédito com essas editoras, comprando livros para o ano de 1996 e se recuperando.
Ao longo de sua História a Livraria Nacional já recebeu vários prêmios, sendo o mais recente o Prêmio Globo de Marketing (2009).
O trabalho não fica restrito à sede física da livraria. Com seus irmãos José Maria monta estandes de vendas nas universidades, sobretudo na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). José fica bastante orgulhoso ao ver que antigos clientes seus, graduandos, tornaram-se mestres, doutores e professores da universidade, utilizando seus livros em suas pesquisas. Quando o livro é raro, difícil de ser encontrado na cidade, José Maria faz questão de procurá-lo para seus clientes. Para se ter um exemplo, em 2019 esteve oito vezes em sebos e bazares de São Paulo em busca de títulos já esgotados.
Atualmente a Livraria Nacional conta com um acervo de 60 mil livros, sendo a maior parte deles de Ciências Humanas e Sociais. Os mais procurados são os de Amazônia, meio ambiente, arquitetura e engenharia. Todos os sábados é realizada uma feira de livros de sobreloja, seguindo todas as medidas de segurança: É oferecido álcool em gel aos clientes, sendo mantido certo distanciamento entre os mesmos, seja entre as estantes ou nas cadeiras e sofás do recinto.
FOTOS:
Antigo endereço da rua 10 de Julho. FONTE: Acervo de José Maria Monteiro Mendes.
José Maria Monteiro Mendes, à direita, na VI Bienal Internacional do Livro, em São Paulo. Foto de 1980. FONTE: Jornal do Commercio, 10/08/1980.
O prédio da rua 24 de Maio antes do incêndio de 01 de junho de 1995. FONTE: Acervo de José Maria Monteiro Mendes.
Certificado do Prêmio Globo de Marketing (2009). FOTO: José Maria Monteiro Mendes, 2020.
O prédio da rua 24 de Maio em foto recente. FOTO: José Maria Monteiro Mendes, 2020.
Uma parte do acervo. FOTO: Fábio Augusto, 2019.
Uma parte do acervo. FOTO: Fábio Augusto, 2019.
Parte da área de livros de Amazônia. FOTO: Fábio Augusto, 2019.
Anúncio da feira de livros. FOTO: José Maria Monteiro Mendes, 2020.
Sobreloja, onde todos os sábados é realizada a Feira de Livros. FOTO: José Maria Monteiro Mendes, 2020.
O autor do blog com o livreiro e pedagogo José Maria Monteiro Mendes. FOTO: Fábio Augusto, 2019.
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