Continuando o texto sobre os anúncios do Amazonas, dessa vez trago recortes de periódicos, álbuns e revistas locais publicados entre 1890 e 1925, período em que verificam-se mudanças profundas nos hábitos e costumes da sociedade manauara, a abertura de novos estabelecimentos comerciais, o oferecimento de novos serviços e a evolução das técnicas de propaganda (produção e circulação), todos influenciados pela entrada de capitais estrangeiros na região.
Entre os anos finais do Império e os primeiros anos da República, com o aumento da demanda internacional pela goma elástica, Manaus, em processo de estruturação para se tornar uma capital comercial, se tornou um polo atrativo para diferentes profissionais, nacionais e estrangeiros. Nesse anúncio, o artista italiano Artur Luciani, formado pela Real Academia de Siena, na Itália, oferece serviços como pintura de quadros, de letreiros, trabalhos cenográficos e limpeza de quadros velhos e molduras. Atendia em três diferentes lugares da cidade: na casa do armador J. Carvalho & Cia, no ateliê de Francisco Candido Lyra, na rua Marcílio Dias, e no seu próprio ateliê, na antiga rua Conde d' Eu (rua Monsenhor Coutinho). Manaus, 1890.
Prezava-se cada vez mais pela qualidade e pela procedência dos produtos, fazendo-se questão de estampá-los com os mínimos detalhes nos informes. As farinhas de trigo das marcas Romeu e Julieta eram produzidas com trigo do Estado de Maryland, nos Estados Unidos. Acrescenta-se que eram produzidas dias antes do embarque, o que conservava suas propriedades, além de não receberem qualquer aditivo em suas fabricações. Manaus, 1893.
Os anúncios tornaram-se mais atrativos, com alta qualidade gráfica, textos bastante detalhados e, em alguns casos, com fotos do estabelecimento. A Livraria Palays Royal, de Lino de Aguiar & Cia, localizada na rua Municipal (rua Fileto Pires, Avenida Sete de Setembro) foi por décadas a mais importante da capital, abastecendo órgãos públicos e estabelecimentos de ensino, e editando livros didáticos e paradidáticos de autores como Agnello Bittencourt, Bertino Miranda e Djalma Batista. Recebia os principais lançamentos diretamente do Rio de Janeiro, além de encomendar obras e assinar jornais e revistas estrangeiras e nacionais. Além da livraria, também funcionava como papelaria e tipografia. Manaus, 1896.
Os hotéis, hospedarias e pensões se proliferaram na capital no contexto de seu crescimento e modificação do espaço urbano para atender as demandas impostas pelo capital internacional. Esses estabelecimentos atendiam viajantes e pessoas em vias de se estabelecer na cidade como operários, profissionais liberais e funcionários públicos. O Grand Hotel, instalado em um palacete na rua Municipal (Avenida Sete de Setembro), possuía jardim, terraço para recreação, cozinha dirigida por um chefe, aposentados mobiliados e oferecia banhos frios e quentes, cervejas e outras bebidas geladas. Também recebia encomendas de jantares, banquetes e ceias. Notem que, por duas vezes, destacam-se as palavras higiene e ordem. Esses estabelecimentos recebiam diariamente a visita de fiscais da intendência, que avaliavam seus pormenores. Se irregularidades fossem encontradas, era dado um prazo para resolvê-las e, caso não fossem sanadas, o estabelecimento era interditado. Manaus, 1900.
Os bares e botequins, assim como os hotéis, também surgiram em grande número, indo da zona portuária às vias mais afastadas da região central. Notem a qualidade da divulgação do High Life Bar, de Bento & Cia, localizado em dois endereços, nas ruas Marquês de Santa Cruz (cujo prédio ainda existe) e Marechal Deodoro. Essa fotografia do interior do estabelecimento, além de nos apresentar um ambiente puramente masculino, nos permite ver o que era comercializado: bebidas de diferentes tipos (café, leite gelado, chocolate, chopes), farinhas, fiambres, queijos, peixes, frutas, conservas finas, charutos e cigarros. Manaus, 1910.
Novos estabelecimentos também eram abertos em cidades do interior do Amazonas. Não existia um único lugar em que as mudanças econômicas não chegassem, fossem elas positivas ou em sua maioria negativas. Como na capital, uma pequena elite prezava pelo mínimo de serviços mais sofisticados. Em Itacoatiara, o Café Internacional, propriedade de Ferreira & Martins, localizado em frente à Praça 13 de Maio, era uma pequena réplica dos grandes cafés instados em Manaus. Itacoatiara, 1910.
Além de fotos do estabelecimento, os anúncios também passaram a estampar fotos dos proprietários e do corpo de funcionários, trabalhos esses realizados por fotógrafos profissionais. Notem o interessante jogo de palavras que os Grandes Magazins de Modas e Confecções Au Bon Marché (o prédio ainda existe, funcionando como estabelecimento comercial), fazem para apresentar o restante das informações: o nome dos donos, Lifsitch & Russo, e a localização, na rua Municipal (Avenida Sete de Setembro). Manaus, 1914.
Quando os anúncios não vinham acompanhados de fotografias, os desenhos também mostravam-se bastante ricos, como esse, uma personagem feminina mascarada, que estampa o informe da chegada de novos artigos para Carnaval, sempre bastante concorrido na cidade, na Perfumaria Universal, na rua Henrique Martins. Manaus, 1920.
A Fábrica 'Mimi', montada na rua 24 de Maio e movida à eletricidade, foi um grande empreendimento de época, propriedade de R. Costa & Cia, estando dividida em cinco sessões: panificação, bolacharia e biscoitaria, torrefação, trituração e moagem e artigos finos. O anúncio vem acompanhado das fotos de José Nunes de Lima, Chefe da empresa e diretor do estabelecimento e Antonio Romualdo Costa, sócio da empresa e Diretor-Técnico das seções fabris. Manaus, 1925.
FONTES (PERIÓDICOS E REVISTAS):
Jornal Amazonas
Diário de Manáos
Álbum Comercial de Manáos (1896)
Comércio do Amazonas
Indicador Illustrado do Amazonas (1910)
Revista Cá & Lá (1914)
Revista Redempção (1925)
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