Prédio do Arquivo Público do Estado do Amazonas, na rua Bernardo Ramos, Praça Dom Pedro II, Centro.
O
Arquivo Público do Estado do Amazonas, localizado na rua Bernardo
Ramos, na Praça Dom Pedro II, bairro Centro, foi fundado em 19 de
agosto de 1897 através de um decreto do então governador Fileto
Pires Ferreira (1896-1898), tendo como objetivo guardar e conservar
os documentos oficiais emitidos pelo governo. Antes, quando da
instalação da Província do Amazonas em 1852, já é citada a
organização do Arquivo Provincial1.
A
estrutura atual do arquivo foi definida pelo Decreto n° 19.670, de
23 de fevereiro de 1999, tornando-o uma Coordenadoria subordinada à
Secretaria de Estado da Administração, Coordenação e Planejamento
(SEAD), que recolhe, organiza e divulga os documentos de valor
histórico oriundos de diferentes esferas do poder público do
Amazonas. Entre 2015 e 2017 essa instituição passou por reformas em
sua estrutura física e administrativa, com recuperação da fachada,
organização e catalogação dos documentos feita por historiadores
e arquivistas Em 23 de maio de 2017 foram aprovados o Plano de
Classificação e a Tabela de Temporalidade de Documentos das
Atividades-Meio produzidos pela Administração Pública do Estado do
Amazonas; e o Sistema de Arquivos e Gestão de Documentos do Estado
do Amazonas (SAGED-AM). Em junho do mesmo ano foram instituídas
a Comissão
Central de Avaliação de Documentos e as Comissões Setoriais de
Avaliação de Documentos.
A
Tabela de Temporalidade de Documentos das Atividades-Meio é o
instrumento que passa
a determinar
os prazos de permanência de cada documento em sua fase de vida2
e o tipo de arquivo ao qual será destinado, podendo ser arquivo
corrente, arquivo intermediário ou arquivo permanente. O Sistema de
Arquivos e Gestão de Documentos do Estado do Amazonas (SAGED-AM)
dinamizou
o trabalho sobre os arquivos, pois antes tratava-se apenas do destino
dos documentos que já existiam. Agora o documento recebe tratamento
desde sua criação, passando pelo uso, avaliação e arquivamento.
Os
documentos do Arquivo Público do
Estado do Amazonas
são de natureza político-administrativa: Edições da Imprensa
Oficial, edições
do Diário da União, edições
do Jornal do Comércio,
Leis,
Decretos, Constituições do Estado, Atas da Assembleia Legislativa,
Falas
e Exposições dos Presidentes da Província, documentos
variados da Casa Civil e Atas da Polícia Militar do Amazonas. Os
documentos originais mais antigos são datados de 1848, dos
tempos da Comarca do Alto Amazonas,
enquanto que em formato digital, através de cópias adquiridas em
arquivos de Lisboa (Portugal) e
Belém (PA),
existem mapas, cartas e gravuras da Capitania de São José do Rio
Negro. Além
dessas fontes primárias, existe uma biblioteca de obras locais,
nacionais e
estrangeiras,
com exemplares raros e há muito tempo esgotados, que
está sendo organizada aos poucos, necessitando de um bibliotecário.
Ainda
em fase de reorganização e
de melhor catalogação,
é difícil precisar a quantidade dos
documentos em
geral.
Das
informações obtidas na sondagem, sabe-se o seguinte: Do
Diário Oficial do Estado já são mais 35. 532 exemplares (em
circulação de 1893 aos dias de hoje),
e de dossiês administrativos 21 mil.
O
corpo de funcionários do Arquivo é formado por 11 pessoas, com
formações variadas (Direito, Administração, Gestão
Pública, Tecnologia
da Informação, Serviço
Social etc), efetivas ou que circulam por diferentes órgãos como a
Secretaria de Estado de
Cultura
do
Amazonas (SEC-AM),
que cuidam da catalogação e
preservação dos documentos,
da recepção aos visitantes e da conservação do espaço.
Salienta-se
que nenhum deles possui formação em História ou Arquivologia.
O
Arquivo Público do Estado do
Amazonas,
assim como outras instituições que guardam documentos históricos,
têm uma
trajetória
marcada
mais por “baixos” do que por “altos”. O antropólogo
Geraldo Pinheiro, em texto de 1949 publicado no Jornal do Comércio,
afirma que naquela época os documentos apodreciam “nos velhos e
desaparelhados arquivos da cidade”3,
o
que nos revela um histórico de descaso com esses lugares. Até
2014, a situação do Arquivo Público era de se lamentar:
Infiltrações e rachaduras no prédio, documentos amontoados em
péssimas condições em depósitos, em avançando estado de
deterioração e
ausência de lugares apropriados para o trabalho dos pesquisadores.
No
entanto, o
processo de recuperação entre 2015 e 2017 abriu
novos horizontes para o trabalho do historiador na região, assim
como permitiu o delineamento de projetos promissores.
A Secretaria de Estado da Administração, Coordenação e
Planejamento (SEAD) está pondo em prática projetos para dinamizar o
Arquivo Público. O
Arquivo da rua Bernardo Ramos não recebe mais os documentos das
várias secretarias do Estado, de forma a não sobrecarregar o local.
Cada uma das instâncias do Estado, agora, fica responsabilizada pela
preservação de seus documentos. Aos poucos os documentos do Arquivo
estão recebendo tratamento e sendo digitalizados (estima-se que
desde a reforma 30% dos documentos já receberam algum tipo de
tratamento). A
eliminação dos documentos, até o momento, é feita a partir de
trocas e doações à outras instituições ou particulares.
Com as amigas Luana, Evellyn e Larissa, do curso de História, no final da visita. À esquerda, a gerente Thâmara Pereira, que aos poucos vai implementando mudanças significativas na instituição.
É
de suma importância destacar o papel de Thâmara Pereira, servidora
pública e atual gerente desse arquivo. Formada
em Direito, Administração, Serviço Social e Gestão Pública, e
enfrentando
a resistência e o
descaso
de uma antiga administração de quase 30 anos, que
acumulava péssimos resultados, conseguiu
empreender reformas e projetos jamais antes vistos na instituição.
Seu
principal objetivo é abrir o Arquivo Público não somente aos
pesquisadores, mas à comunidade como um todo, pois as pessoas, em
suas palavras
“devem ocupar esse espaço e vê-lo
como parte de um rico patrimônio histórico”.
Visitar
o Arquivo Público do Estado do Amazonas, conhecer sua estrutura,
documentação
e funcionários, além
de seu caráter metodológico, nos
faz refletir sobre o processo e as condições de trabalho dos
historiadores, sobre
os
caminhos, nem
sempre planos mas por vezes tortuosos,
por nós percorridos.
Só podemos fazer as fontes falar, dar vida aos documentos, construir
narrativas, se espaços como os arquivos públicos estiverem em
perfeitas condições de uso.
NOTAS:
1 ANJOS,
José Geraldo Xavier dos. Cronologia do Arquivo Público. Disponível
em:
servicos.sead.am.gov.br/arquivopublico/institucional/cronologia-do-arquivo-publico.
Acesso em 02/05/2018.
2 “O
ciclo de vida dos documentos está dividido em três arquivos ou
idades: 1° - arquivo corrente ou de 1° idade, formado por
documentos de uso exclusivo das instâncias que os geram e somente
por elas consultados. 2° - arquivo intermediário ou de 2° idade,
formado por documentos que deixaram de ser consultados, mas que
podem ser solicitados caso surja alguma necessidade pelas unidades
geradoras. A permanência destes em arquivos é temporária. 3° -
arquivo permanente ou de 3° idade, formado por documentos que já
cumpriram suas funções originais, e que agora são preservados em
relação ao valor histórico-cultural que possuem, podendo ser
consultados por instituições ou terceiros”. AMAZONAS (ESTADO).
SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO. Manual Técnico do Sistema
de Arquivos e Gestão de Documentos do Estado do Amazonas. Manaus:
ed, 2017, p. 11.
3 Manaus
e seus historiadores. Jornal do Comércio, 26/02/1949.
CRÉDITO DAS IMAGENS:
Larissa Leite, 2018.
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