quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Salve São Cosme e São Damião

Ícone Ortodoxo de São Cosme e São Damião.

26 de setembro, mais uma data tradicional do calendário católico. Nesse dia são celebrados os santos São Cosme e São Damião, irmãos gêmeos nascidos em Egeia, na Ásia Menor, martirizados no início do século IV d.C. Os irmãos santos, padroeiros dos médicos, farmacêuticos e crianças, também são celebrados, no dia 27 de setembro, pelo Candomblé e pela Umbanda, religiões de matriz africana nas quais são os orixás Ibejis, protetores das crianças e dos gêmeos. 

É por essa característica que o dia 27 é mais aguardado que o dia 26. Devotos dos santos, católicos, candomblecistas e umbandistas, distribuem doces às crianças da comunidade, pois no sincretismo religioso, marca indissociável de nossa cultura, os Ibejis agradam as crianças com guloseimas e, em alguns casos, brinquedos. Nos terreiros, que fervilham com seus batuques, também são preparados pratos como caruru, vatapá e xinxim de galinha.

Apesar da distinção entre as datas, 26 para as celebrações Católicas e 27 para as celebrações das religiões de matriz africana, a relação com as crianças, relação de proteção, une esses dois mundos religiosos.

Dificilmente se vê nos dias de hoje, em Manaus, aglomerações de crianças e jovens na espera dos distribuidores de doces, como se via nos tempos de nossos pais e avós. Ainda cheguei, por volta de 2007, a receber um saquinho de doces com o desenho dos dois santos. São poucos os lugares onde a prática é mantida, geralmente nos subúrbios. Isso é o reflexo de um puritanismo religioso que atribui problemas de ordem espiritual ao consumo de bombons, pirulitos e chicletes, e que tenta apagar a influência africana presente na religiosidade brasileira. Certa vez, em uma entrevista concedida a um jornal no final da década de 1980, o pároco de uma tradicional Igreja de Manaus afirmou que os doces eram distribuídos e consumidos por "pura ignorância".

São tempos em que monumentos de nossa tradição são destruídos, sem terem substitutos, deixando um vácuo cultural. Ficam os resquícios, os fragmentos. Lembranças de outras épocas. Salve São Cosme e São Damião.

CRÉDITO DA IMAGEM:

commons.wikimedia.org

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Charges publicadas no Jornal do Commercio entre 1911 e 1912

As charges, desenhos humorísticos publicados em jornais e revistas, foram criadas no século XIX, período marcado por profundas transformações políticas e culturais. Nesse contexto, surgiram como poderosos mecanismos de crítica político-social, que através de traços caricatos, exprimiam tanto elogios quanto descontentamentos, ambos com irreverência e acidez. Recolhi algumas charges publicadas no Jornal do Commercio (Manaus) entre 1911 e 1912. Elas são críticas à situações do cotidiano, à empresas e questões políticas.



- Ah! seu doutor, estou emmagrecendo de dia para dia e sinto-me cada vez mais fraco.
- Não se assuste. Isso tudo desapparece em poucos dias...
- Como, seu doutor?
- Não bebendo mais a agua da Manáos Improvements.

(JORNAL DO COMMERCIO, 28/09/1911)

Trata-se de uma crítica à concessionária inglesa Manáos Improvements, que explorava os serviços de abastecimento de água e esgotos da cidade (na verdade, de apenas algumas vias públicas privilegiadas). 


- Antigamente a agua não fazia mal. Veio a Improvements, esburacou as ruas, fez depressões no calçamento e... toda a gente anda com colicas... por causa da agua... filtrada...

(JORNAL DO COMMERCIO, 27/10/1911)

Assim como o primeiro desenho, essa charge também é direcionada à empresa de abastecimento de água. Vários foram os casos de doenças relacionadas ao consumo da água distribuída pela Manáos Improvements


Onde vae com esse material todo?
- Eu lhe digo: vou ao reservatorio da Improvements. Levo um espanador para correr com os carapanans, uma vassoura para affastar o lixo e um balde para apanhar uma amostra de agua suja e hydrometrica...

(JORNAL DO COMMERCIO, 06/01/1912)

Um ano depois, em 1913, a população, revoltada, invadiu os escritórios da Manáos Improvements, em um levante que fez jornais, repartições públicas e empresas fecharem suas portas.



Effeito da agua pôdre que a Improvements está mettendo no bucho do povo.

(JORNAL DO COMMERCIO, 17/11/1911)

- Apesar de todos os problemas, a precariedade do abastecimento e a qualidade da água, a concessionária inglesa ainda exploraria esse serviço na capital por mais de 3 décadas.


- Ahi está uma combinação que não será má: - um bond sujo da Light transformado em wagon de lama da Improvements!

(JORNAL DO COMMERCIO, 07/01/1912)

Além da Manáos Improvements, a charge critica a Manaos Tramways and Light Company, concessionária dos serviços de iluminação e transporte público (bondes elétricos). Em diferentes periódicos que circularam na cidade é possível encontrar inúmeras reclamações sobre a qualidade dos bondes, principalmente a velocidade com que seus condutores os dirigiam, muitas das vezes causando acidentes.


Inaugurou-se hontem a luz electrica na Villa Municipal. 
(coisa sabida).

- Chi! Que sujeito atrazado! Ainda usa lampeão de kerosene!...
- Pudera! Eu moro no bairro de Flores e você reside na flôr dos bairros...

(JORNAL DO COMMERCIO, 14/10/1911)

Aqui fica evidente o tratamento dispensado a um bairro de elite (Vila Municipal, depois Adrianópolis) e a um arrabalde distante (bairro de Flores), tendo o primeiro recebido a iluminação elétrica, enquanto que, para uma boa parte da população, restava o uso dos lampeões a querosene.


- Em consequencia de estarem entupidos os boeiros, a cidade parecia um mar, hontem, por occasião do temporal.

(JORNAL DO COMMERCIO, 16/09/1912)

Cenas de um cotidiano passado que se confunde com o atual. 


- Quando me lembro que hoje é o dia sete de outubro, tenho arrepios...
- E eu... tenho vergonha de ser brasileira...

(JORNAL DO COMMERCIO, 07/10/1911)

As duas senhoras, na charge, lembram-se do dia 7 de outubro de 1911 de diferentes formas (uma com medo e outra com vergonha), pois ele antecedia o dia 8 de outubro, quando o Bombardeio de Manaus completaria um ano.


- Que Deus te não desempare, cynico dos cynicos!

(JORNAL DO COMMERCIO, 17/01/1912)

Essa charge está relacionada à chegada, em Manaus, de Antônio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto (1869-1948), vice-governador do Estado do Amazonas e um dos idealizadores (ao lado do Senador Pinheiro Machado, opositor do governador) do famoso Bombardeio de Manaus, ocorrido em 08/10/1910, que teve como objetivo a derrubada do governador Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt (1853-1926).


- Aqui está um quadro de hontem...

(JORNAL DO COMMERCIO, 18/01/1912)

Charge publicada um dia depois da visita de Antônio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto.


A cidade, ainda hontem, esteve ás escuras.
(queixas do povo)

- Procure você por lá o fiscal da Light, que eu vou por cá procurando a luz...

(JORNAL DO COMMERCIO, 17/04/1912)

Apesar de ter sido uma das primeiras cidades a contar com um moderno sistema de luz elétrica, o serviço era precário. Frequentes eram as queixas sobre postes apagados, quebrados, solicitações do serviço esquecidas e, como na charge acima, de dias em que a cidade ficava em completa escuridão.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Prédios históricos de Manaus que já foram demolidos

Cine Guarany, 1971.

Esse é mais um levantamento produzido em parceria com o amigo e pesquisador Ed Lincon. Dessa vez, listamos os prédios históricos de Manaus que já foram demolidos. São construções (101, entre casas, estabelecimentos comerciais e monumentos) que desapareceram em períodos distintos de nossa história, entre os séculos XIX e XXI. Vale lembrar que esse é um levantamento parcial, pois inúmeras outras construções foram demolidas durante a expansão das atividades comerciais no Centro e em bairros como Educandos, Aparecida, Praça 14 de Janeiro e São Raimundo; demolições essas que ganharam mais força quando da instalação da Zona Franca e o crescimento desordenado da cidade.

Fortaleza de São José do Rio Negro – Rua Monteiro de Souza, Centro (atual Edifício do Tesouro);

Banco de Manáos – Rua Miranda Leão, Centro (atual Edifício Tartaruga);

Edifício do Jornal do Comércio/Rádio Baré – Avenida Eduardo Ribeiro, Centro;

Edifício de O Jornal/Diário da Tarde – Avenida Eduardo Ribeiro, Centro (atual Banco Santander);

Edifício da Foto Alemã e Jornal A Crítica – Avenida Eduardo Ribeiro, Centro (Atual Banco Itaú);

Residência de Ramalho Júnior/Igreja de Santa Rita – Rua 24 de Maio com Av. Eduardo Ribeiro, 6 – 

Centro (atual Edifício Cidade de Manaus);

Palácio do Governo – Rua Ramos Ferreira, Centro (atual Instituto de Educação);

Palácio da Instalação da Província – Rua da Instalação, Centro;

Palácio da Presidência da Província – Avenida Eduardo Ribeiro, Centro (atual prédio da Receita Federal);

Cine Avenida – Av. Eduardo Ribeiro, Centro (atual loja Bemol);

Cinema Odeon – Avenida Eduardo Ribeiro, Centro (atual Edifício Manaus Shopping Center);

Cine Teatro Guarany – Avenida Floriano Peixoto (atual Banco Itaú);

Cine Teatro Manaus – Avenida Epaminondas, ao lado do Colégio Dom Bosco, Centro;

Casas ao lado do Edifício do Tesouro Público – Rua Monteiro de Souza, Centro;

Eletroferro – Rua Theodoreto Souto com Av. Eduardo Ribeiro, Centro (atual Edifício Socilar);

Chapéu de Palha Restaurante – Rua Fortaleza canto com a rua Paraíba, Adrianópolis (atual Posto de Gasolina);

Chácara São Saturnino – Rua Paraíba, Adrianópolis;

Correios – Rua Barroso, Centro (atual Casa do Estudante);

Panificadora e Confeitaria Americana – Rua Henrique Antony, Centro;

Casa da família Taveira Pau Brasil – Rua Governador Vitório canto com a rua Henrique Antony, Centro;

Armazéns Rosas de J.G. Araújo – Avenida Eduardo Ribeiro em frente ao Relógio Municipal, Centro;

Armazéns Máximo, O Malho – Rua Marcílio Dias com Av. Floriano Peixoto (atual Edifício Ajuricaba, ex-Hotel Amazonas);

Imprensa Oficial – Avenida Sete de Setembro, Centro (atual Bradesco);

Palacete Miranda Corrêa – Rua Monsenhor Coutinho canto com Avenida Eduardo Ribeiro, Centro (atual Edifício Maximino Corrêa);

Café Real Colón – Avenida Getúlio Vargas canto com Av. Sete de Setembro, Centro (atual Americanas);

Panificadora Roquefort – Avenida Joaquim Nabuco, Centro (no local fica um estacionamento);

Banco do Brasil – Praça 15 de Novembro, Centro;

Mercearia Castelo de Ouro – Rua Lauro Cavalcante com Av. Getúlio Vargas, Centro;

Mercearia A Cosmopolita – Avenida Eduardo Ribeiro com rua Marquês de Santa Cruz, Centro;

Edifício Panhola/BASA – Avenida Sete de Setembro, Centro (atual C&A);

Matadouro Municipal (Curro) – Bairro da Glória (atual sede da FUNASA);

Aux 100.000 Paletós – Rua Lobo D’ Almada com Av. Sete de Setembro, Centro;

Armazéns de J. Soares & Cia – Rua dos Barés em frente ao Mercado Municipal, Centro;

Trapiche Teixeira – Ao lado da Alfândega, Centro (atual pátio de containers);

Maloca dos Barés – Rua Marquês de Santa Cruz, Centro (atual pátio de containers do Porto);

Prédio Adrião Barroco – Avenida Eduardo Ribeiro com Av. Sete de Setembro (atual Sapataria Shopping do Pé);

Residência da família I. Sabbá – Rua Monsenhor Coutinho, ao lado do Ideal Clube, Centro;

Secretaria de Saúde Pública – Praça Antônio Bittencourt (Congresso), Centro (atual Correios);

Palacete Studart – Rua 24 de Maio com Av. Eduardo Ribeiro (atual Edifício Palácio do Comércio);

Farmácia Studart – Avenida Eduardo Ribeiro com Av. Sete de Setembro, Centro;

Antiga sede do Olímpico – Rua Leonardo Malcher com Av. Constantino Nery, Centro (atual Panificadora Santa Rita);

Bar do Quintino – Rua Governador Vitório em frente a Praça D. Pedro II, Centro;

Chefatura de Polícia – Rua Marechal Deodoro, Centro (atual Edifício do Banco do Brasil);

Movelaria Teixeira – Rua Lauro Cavalcante com Av. Joaquim Nabuco, Centro (atual Edifício Nóvoa);

Botequim A Reforma – Rua Barroso com rua Henrique Martins, Centro (atual Caixa Econômica);

Igreja de D. Bosco – Avenida Epaminondas, Centro;

Bar Avenida – Av. Eduardo Ribeiro esquina com rua Saldanha Marinho, Centro (atual Bradesco);

Palacete Siseno Sarmento – Rua Joaquim Sarmento, Centro;

Mercado da Cachoeirinha (estrutura de madeira);

Café Ponto Chic – Avenida Eduardo Ribeiro com rua Henrique Martins, Centro (atual Riachuelo);

Café da Paz – Av. Eduardo Ribeiro, Centro (atual Loja C&A);

Casa Colombo – Rua Marechal Deodoro esquina com Av. Sete de Setembro, Centro;

Delegacia Fiscal – Rua da Instalação e Praça D. Bosco, Centro (atual INSS);

Grupo Escolar Marechal Hermes – Rua José Clemente, Centro (atual prédio da Rádio Rio Mar);

Bazar O Novo Mundo – Rua Joaquim Sarmento com Av. Sete de Setembro, Centro;

Hospital de São Sebastião – Bairro de Aparecida;

Livraria Velho Lino – Rua Barroso com Av. Sete de Setembro, Centro (atual Bradesco);

Livraria Palais Royal – Avenida Sete de Setembro, Centro (lojas diversas);

Depósito Municipal – Rua Lobo D’ Almada, Centro (atual sede de A Crítica);

Fundição Progresso – Rua 10 de Julho com Av. Eduardo Ribeiro, Centro (atual Salão de Cabeleireiros);

Teatro Providência – Rua Tapajós esquina com rua Ramos Ferreira, Centro;

Edifício do IAPI – Rua 24 de Maio, Centro (atual Edifício Rio Negro Center);

Edifício Hermenegildo de Barros (TRE) – Rua José Clemente esquina com Av. Eduardo Ribeiro, Centro;

Velódromo Amazonense – Cachoeirinha (atual Habib’s);

Grande Café Central – Rua José Paranaguá com rua Marcílio Dias, Centro (várias lojas);

Residência da rua Japurá com Av. Joaquim Nabuco;

Edifício da Casa das Camas – Rua dos Andradas com rua Rocha dos Santos, Centro (estacionamento);

Pavilhão São Jorge (Café do Pina) – Avenida Floriano Peixoto em frente ao Cine Guarany, Centro;

Pavilhão Ajuricaba – Praça 15 de Novembro, Centro (atual Terminal de ônibus);

Tabuleiro da Baiana/Abrigo Pensador – Avenida Eduardo Ribeiro e Praça Oswaldo Cruz, Centro;

Antiga sede do Atlético Rio Negro Clube – Rua Barroso, Centro (atualmente funciona um estacionamento);

Edifício da rua Quintino Bocaiuva com rua Guilherme Moreira – Depois INSS;

Parque Amazonense – Beco do Macedo, Nossa Senhora das Graças (hoje no local só resta a fachada);

Palacete Jonathas Pedrosa – Avenida Sete de Setembro, Centro (atual Shopping Solimões);

Casa Quintas, de Percy Vaughan – Avenida Eduardo Ribeiro com rua Henrique Martins, Centro (atual Lojas Capri);

London Bank – Rua Guilherme Moreira, Centro (atual Top Internacional);

Instituto Montessoriano Álvaro Maia – Rua Paraíba, Adrianópolis (atual Condomínio Central Park);

Antiga sede do Nacional Futebol Clube – Rua Saldanha Marinho, Centro (atual depósito do Carrefour);

Palácio das Lágrimas – Rua Quintino Bocaiuva com Av. Joaquim Nabuco, Centro (atual Shopping Éden);

Sociedade Espanhola – Rua Luiz Antony, Centro (atualmente funciona um mini shopping);

Cemitério de São José – Av. Epaminondas, Centro (atualmente sede do Atlético Rio Negro Clube);

Cemitério de São Raimundo – Bairro de São Raimundo (atual Escola Estadual Marquês de Santa Cruz);

Hotel Restaurante Francês – Avenida Eduardo Ribeiro, Centro (atual Bradesco);

Casa Genaro – Avenida Sete de Setembro, Centro;

Casa do ETIAM – Avenida Sete de Setembro, Centro;

Bar Bolsa Universal – Esquina da antiga Praça do Comércio com a rua Tamandaré, ao lado do Complexo Booth Line (demolido para dar lugar a um estacionamento);

Colégio Santa Cruz de Manaus – Rua Major Gabriel com rua Ramos Ferreira, Praça 14 de Janeiro;

Boate Go Go – Avenida Eduardo Ribeiro, Centro (atual Edifício Manaus Shopping Center);

Edifício da Previdência Social – Esquina da Av. Sete de Setembro com a Av. Joaquim Nabuco, Centro (atual Edifício Sombra Palace Hotel);

Casa da família Lindoso – Rua Recife, Adrianópolis (Edifícios Alfa e Beta);

Colégio Gonçalves Dias – Av. Duque de Caxias, Centro (atual Museu do Índio);

Vila Glicínia – Rua Maceió, Adrianópolis;

Monumento a Sant’ Anna Nery – Antiga Praça Santos Dumont, Centro;

Monumento a Ribeiro Júnior – Av. Floriano Peixoto, atrás do Quartel da Polícia Militar, Centro;

Jardim de Infância Visconde de Mauá – Pátio do Colégio Estadual, Av. Sete de Setembro, Centro;

Casa de Antônio Barroso – Rua Barroso, Centro;

Palacete de Alfredo Augusto da Matta – Praça 14 de Janeiro;

Teatro de Bolso – Rua Codajás, Cachoeirinha;

Depósito de Borracha dos Aliados – Ilha de Monte Cristo, Igarapé de Educandos;

Café dos Terríveis – Rua 15 de Novembro com rua Visconde de Mauá, antiga Praça XV de Novembro, Centro (atualmente funciona um hotel);


* Levantamento feito pelos pesquisadores Ed Lincon Barros da Silva e Fábio Augusto de Carvalho Pedrosa

CRÉDITO DA IMAGEM:

Blog do Coronel Roberto


domingo, 9 de setembro de 2018

Prédios históricos de Manaus em situação de risco (públicos e particulares)


Santa Casa de Misericórdia, na rua 10 de Julho, Centro.

A destruição do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, serve de alerta para a péssima situação em que se encontram boa parte do patrimônio histórico das cidades brasileiras e suas instituições de pesquisa. Eu e o pesquisador Ed Lincon fizemos um levantamento dos prédios históricos, públicos e particulares, em situação de risco na cidade de Manaus:

- Santa Casa de Misericórdia, rua 10 de Julho, Centro;

- Alfândega e Guardamoria, rua Marquês de Santa Cruz, Centro;

- Prédio dos Correios e Telégrafos, entre a Av. Eduardo Ribeiro e a rua Theodoreto Souto, Centro;

- Edifício Tartaruga, entre a Av. Floriano Peixoto e a rua Marquês de Santa Cruz, Centro;

- Complexo Booth Line (4 prédios), antiga Praça do Comércio, Centro;

- Hotel Cassina, entre as ruas Governador Vitório e Frei José dos Inocentes, Centro;

- Antiga Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, na Av. Sete de Setembro, Centro;

- Casarão de dois andares entre a rua Leonardo Malcher e a Avenida Getúlio Vargas;

- 2 casarões na Av. Leonardo Malcher, Centro;

- Antigo casarão da família Grosso, na Av. Joaquim Nabuco;

- Prédio da antiga Imprensa Oficial, na Av. Leonardo Malcher, Centro;

- Antiga sede do Corpo de Bombeiros e do Museu do Homem do Norte, na Av. Sete de Setembro;

- Castelo da Cervejaria Miranda Corrêa, no bairro de Aparecida;

- 9 casas da Antiga vila da Cervejaria Miranda Corrêa, na rua Dr. Aprígio, bairro de Aparecida;

- Casarão de 1908 na rua Adriano Jorge, bairro de São Raimundo;

- Antigo casarão da família Souza Arnaud, na rua Delcídio Amaral, bairro de Educandos;

- Antigo Museu do Porto, na Travessa Vivaldo Lima, Centro;

- Antigo Laboratório de Medicina Tropical e Biblioteca João Bosco Pantoja Evangelista, na Praça do Congresso, Centro;

- Prédio da antiga Escola Universitária Livre de Manáos e Escola Estadual Saldanha Marinho, na rua Saldanha Marinho, Centro;

- Casarão do Museu Amazônico, na rua Ramos Ferreira, no Centro;

- Antigo Casarão do Major Gabriel Antônio Ribeiro Guimarães, na Av. Major Gabriel, Centro;

- 9 Casas da rua Visconde de Mauá, Centro;

- Prédio da Fundição e Estaleiro São Ramiro, na rua Frei José dos Inocentes, Centro;

- 2 casarões geminados na rua Quintino Bocaiúva, Centro;

- Pavilhão Universal, Praça Tenreiro Aranha, Centro;

- 5 casas da Avenida Epaminondas, Centro;

- 7 casas na rua Luiz Antony, Centro/Aparecida;

- 1 casarão na rua Monsenhor Coutinho, Centro;

- 3 casas na rua Tapajós, Centro;

- 5 casarões na rua Ferreira Pena, Centro;

- 20 casas e casarões na Av. Joaquim Nabuco, Centro;

- 3 casas na rua Silva Ramos, Centro;

- 3 casas na rua dos Andradas;

94 prédios históricos, públicos e particulares, em situação de risco no Centro Histórico, adjacências e outros bairros. Esse não é o mais completo dos levantamentos, pois existem mais construções que necessitam de uma análise técnica mais criteriosa, mas a quantidade de prédios por nós arrolados dá uma dimensão da precariedade em que se encontra o patrimônio histórico de Manaus.


* Levantamento feito pelos pesquisadores Fábio Augusto de Carvalho Pedrosa e Ed Lincon Barros da Silva.



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Amazonas Atual

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Os primeiros passos da Província do Amazonas


Monumento em homenagem a João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, primeiro Presidente da Província do Amazonas.

Naquele 5 de Setembro de 1850 encerrava-se, pela força da lei, uma luta. Uma luta por emancipação política que teve início algumas décadas antes. A antiga Comarca do Alto Amazonas, subordinada à Província do Grão-Pará, era elevada à categoria de Província do Amazonas. Emancipada essa porção territorial, criada uma nova unidade política, era preciso organizar a administração, ver o que existia, o que faltava, cuidar da arrecadação. Enfim, planejar o futuro da nova província.

Seus limites seriam os mesmos da antiga Capitania de São José do Rio Negro: "com a Capitania de Mato Grosso, ao sul, através da Cachoeira de Nhamundá até sua foz no Amazonas e deste pelo outeiro de Maracá-Açu, ficando para o Rio Negro a margem ocidental do Nhamundá e do outeiro" (REIS, 1989, p. 121).

Quando a província foi entregue a seu primeiro Presidente, João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha (1798-1861), esta contava com a Guarda Policial, criada em 04 de abril de 1837, formada por dois Batalhões com uma força de 1339 praças. Contava, ainda, com as Companhias de Trabalhadores, instituídas pela Lei 25 de Abril de 1838. Essas companhias eram instituições que recrutavam trabalhadores, índios e mestiços, para a prestação de serviços compulsórios para o Estado e para particulares. Com 2 Termos com foro independente, a Província tinha 4 Municípios, 20 Freguesias, 18 Distritos de Paz, 2 Delegacias e 11 Subdelegacias.

O estado da segurança pública, em síntese, era considerado lisonjeiro, ainda que as maiores ameaças consideradas pelos administradores locais fossem os ataques de indígenas das tribos arara e karipuna, que vez ou outra assaltavam embarcações e matavam seus passageiros.

No que tange o culto público, a religião Católica, existiam 3 Missões na região para a catequese dos indígenas: a de Porto Alegre, em São Joaquim do Rio Branco, no Alto Rio Branco, onde eram catequizados uapixanas, macuxis, jaricunas, anhuaques, arutanis, procutus e saparás; a de Japurá, Içá e Tonantins, na margem esquerda do Solimões, cujos trabalhos eram feitos com ticunas, mariatés, xomanas, juris e passés; e a do Andirá, em Vila Nova da Rainha (Parintins), voltada para a catequese de maués e muras. As missões não estavam dando os resultados esperados, o que era atribuído “a carencia de Missionarios esclarecidos, e animados de fervor religioso, e de patriotismo; a insufficiencia dos meios pecuniarios, de que se tem disposto; e a falta de um systema de educação mais apropriada”.

Em aspectos educacionais, em seus anos iniciais a província possuía 8 escolas de ensino primário, das quais 7 estavam plenamente providas de todos os materiais necessários para o funcionamento. A única instituição de ensino secundário, o Seminário São José, criado em 1848, ficava na capital. Nele era ensinada Gramática Latina, Língua Francesa, Música e Canto. À época era frequentado por 17 alunos, sendo 13 internos. Em trabalho de recenseamento realizado em 1851, a população da nova província foi estimada em 29.798 habitantes, sendo 7.815 homens livres e 225 escravos; 8.772 mulheres livres e 272 escravas; 6.776 menores do sexo masculino livres e 117 escravos; e 5.685 menores do sexo feminino livres e 136 escravas.

Assim se encontrava a província do Amazonas, de acordo com a Exposição apresentada em 9 de dezembro de 1851 por Fausto Augusto de Aguiar, Presidente da Província do Pará, a João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha. A par dessas informações, do lugar que primeiro administraria, Tenreiro Aranha pôde enfim instalá-la, em 01 de Janeiro de 1852. Reproduzo a seguir o Auto de Instalação da Província do Amazonas:

Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e cincoenta e dous, trigesimo primeiro da Independencia e do Imperio, ao primeiro dia do mez de Janeiro do dito anno nesta Cidade de Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro, e Paço da Camara Municipal respectiva, pelas dez e meia horas da manhã, onde se achava reunida a mesma Camara, e sendo ahi presente o Excellentissimo Snr. João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha, que acabava de prestar juramento e tomar posse do Cargo de Presidente desta Provincia por ter sido nomeado por Carta Imperial de 7 de Junho ultimo, nos termos da Lei; e depois de tomar o juramento e dar posse aos demais Empregados nomeados pelo Governo de SUA MAGESTADE O IMPERADOR para Chefes de diversas Repartições; e em presença da mesma Camara, de todas as Authoridades Civis, Militares, e Ecclesiasticas, e de grande concurso de Cidadãos, que se achavão reunidos no dito Paço, declarou o mesmo Excellentissimo Senhor: que em virtude da dita Carta Imperial, e das Instrucções do Governo de SUA MAGESTADE O IMPERADOR installava a Provincia do Amazonas creada pela Lei geral numero quinhentos e oitenta e dous de cinco de Setembro de mil oitocentos e cincoenta, para que nessa Cathegoria entre em suas regalias. E, para constar, mandou lavrar este Auto que assignou o mesmo Excellentissimo Senhor, e ápoz delle todas as demais authoridades, tanto desta Capital, como das Villas e Freguezias da Província, que se acharão presentes. E eu João Wilkens de Mattos, Secretario do Governo por SUA MAGESTADE O IMPERADOR o escrevy. - João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha – Manoel Gomes Corrêa de Miranda, Vice-Presidente da Provincia, e Juiz de Direito e Chefe de Policia – Joaquim Gonçalves de Azevedo, Vigario Geral e Vice-Presidente da Provincia – João Henrique de Mattos, Vice-Presidente e Commandante Superior da Guarda Nacional – João Ignacio Rodrigues do Carmo, Vice-Presidente, e Presidente da Camara Municipal – Manoel Thomaz Pinto, Vice-Presidente e Promotor Publico da Comarca – Alexandrino Magno Taveira Pau Brazil, Vereador da Camara e 3°. Supplente do Delegado – Francisco Antônio Roberto – Antonio José Brandão – Manoel José de Macedo – Pedro Mendes Gonçalves Pinheiro – Bernardo Francisco de Paula e Azevedo – João Fleury da Silva, Vereador e Alferes da Guarda Policial – Albino dos Santos Pereira – José Manoel Rangel de Carvalho, Inspector interino – O Padre Romualdo Gonçalves d’ Azevedo – Gabriel Antonio Ribeiro Guimarães, Administrador da Recebedoria – José Cazemiro Ferreira do Prado, Delegado de Policia – Clementino José Pereira Guimarães, Secretario da Camara Municipal – Maximiano de Paula Ribeiro, Juiz Municipal e Orffãos – Aureliano da Silva – O Capitão Manoel da Cotta Falcão e Brito – Fr. Gregorio José Maria de Bem, Missionario apostolico – Manoel Joaquim de Castro e Costa, 2° Tenente d’ Armada, Immediato do Vapor de Guerra Guapiassú – Francisco Xavier de Moraes Pereira, 2° Cirurgiãode N° - D. Bento de Tavora Noronha Saldanha Freire d’ Andrade, Escrivão – Tenente, João Marcelino Taveira Pau Brazil – Sabino Antonio Brandão – José Bento da Silva – Antonio Pereira Lima – José Coelho de Miranda Leão Junior, Escrivão Contador – Fernando Felix Gomes Junior – Bernardino de Oliveira Horta – Antonio Manoel Sanches Fialho – Antonio Dias Guerreiro de Oliveira – João Manoel de Souza Coelho – Joaquim Manoel Palheta – Silvestre Tenreiro Aranha – Venancio Antonio de Castro – Guilherme Antonio de Sá – Viriato Severiano Ribeiro – José Arthur Pinto Ribeiro – Francisco Joaquim Batalha – João de Oliveira Seixas – Henrique Antony – Alexandre Paulo de Brito Amorim – Marck William – Marçal Gonçalves Ferreira – Marcello Candido Pinto Amazonio – João Hauxwell – Antonio Lopes Braga – Thomaz José Pereira Guimarães – Manoel Rodrigues Cheeks Nina – Antonio José Ribeiro de Lucena Cascáes – Raymundo José Ferreira d’ Alcantara – Ricardo José Corrêa de Miranda – Manoel Francisco Fernandes – Joaquim d’ Oliveira Horta – João Fleury da Silva Brabo – Jeronimo Rodrigues do Carmo – Arystides Justo Mavignier – Severino Eusebio Cordeiro, Tenente Ajudante d’ Ordens – Alexandre Ramos da Silva – Balbino José Pereira Guimarães – Pedro Luiz Simpson – Agostinho Hermes Pereira, Professor de 1°as Letras – O Alferes José Ferreira Ribeiro Bitancourt – O Capitão reformado Joaquim Isidoro d’ Oliveira – Ajudante Contador do Correio do Pará em Commissão nesta Provincia, Lourenço Justiniano da Gama – Manoel da Silva Ramos.

Também é de 1852 a conhecida planta da cidade de Manaus, capital da província. Nessa planta, feita pelo presidente João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, além dos limites urbanos, pode-se observar que a pequena cidade era dominada pelos igarapés de São Vicente, da Ribeira, do Espírito Santo e do Aterro, que cortavam seus poucos bairros (Remédios, República, Espírito Santo, Campina e São Vicente). As ruas continuavam estreitas e curtas, sendo definidas de forma natural pelo terreno. Registra-se, ainda, como acontecimento marcante para a região, a introdução da navegação a vapor, mediante a Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, dirigida por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.

Instalada a província em 1 de Janeiro de 1852, nomeados seus vice-presidentes e demais funcionários, seguiram-se festejos e dois tradicionais atos religiosos: o de Ação de Graças, na capela do Seminário São José, e o Te Deum Laudamus (A Ti Louvamos, Deus), na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, à época servindo de Igreja Matriz.


FONTES:


Exposição apresentada ao Exmo. Presidente da Província do Amazonas, João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, por occasião de seguir para a mesma Provincia, pelo Exmo. Presidente da do Grão Pará, Dr. Fausto Augusto de Aguiar, em 09 de dezembro de 1851.

Auto da Installação da Provincia do Amazonas pelo Exmo. Snr. João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha Seu 1° Presidente, no Dia 1° de Janeiro de 1852.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

REIS, Arthur Cézar Ferreira. História do Amazonas2° ed. Belo Horizonte: Itatiaia; Manaus, Superintendência Cultural do Amazonas, 1989.


CRÉDITO DA IMAGEM:

nvconstrututora.com.br