Manaus, fevereiro de 1968. Nova ordem política, novos horizontes. Fazia quase um ano que a Zona Franca havia sido instalada, trazendo novo vigor econômico a capital. Os agentes financeiros novamente voltaram seus olhos para a região. O dinheiro voltou a correr pela cidade. Mas nem tudo ocorreu como as classes dirigentes esperavam. Com o crescimento vieram os problemas sociais, a falta de habitação, a criminalidade. Naquele ano, um jovem engraxate era assassinado de forma brutal. Quem escreve as linhas a seguir é o professor e historiador Aguinaldo Nascimento Figueiredo. O Caso Waldeglace, sobre o qual discorre, em texto a ser publicado em livro inédito, abalou aquele início de 1968, seja pela gravidade, seja pelo desfecho, um tradicional embate entre os que detêm influência político-econômica e aqueles que vivem à margem da sociedade, sendo o confronto desfavorável a estes últimos.
OS MAIORES CRIMES DE MANAUS: O CASO WALDEGLACE GRANJEIRO
Por Aguinaldo Nascimento Figueiredo
Este
texto faz parte do livro – Os Dez Maiores Crimes de Manaus – a
ser publicado quando dispuser de condições financeiras para tal.
Espero que seja breve. Esse foi um dos mais estarrecedores crimes
cometidos na Manaus dos anos de 1960, por ter tido como vítima um
adolescente de família humilde que ganhava a vida no ofício
de engraxar sapatos e, do mesmo modo, envolver figuras notórias da
sociedade manauara, bem como a forma brutal que foi materializado.
Com características de sadismo (naquela época não existiam
crimes
de pedofilia), seguido de homicídio doloso, o crime foi largamente
explorado pelas mídias locais, acabando por se tornar num acalorado
debate acadêmico jurídico e assunto em todos os lugares da cidade,
em razão dos contornos que tomou. Cotejando as informações
divulgadas na época, produzimos aqui uma síntese dos
acontecimentos. Boa leitura a todos.
UM
CORPO APARECE
O corpo de Waldeglace Granjeiro. FONTE: Jornal do Comércio, 16.02.1968.
Na
passagem do dia 14 para 15 de fevereiro de 1968, o corpo do engraxate
Waldeglace Fernandes Granjeiro foi encontrado sem vida na Estrada do
Parque 10 de Novembro (atual Humberto Calderaro Filho) por um grupo
de moradores da região, que era considerada, até então, área
inóspita e utilizada pela população para acessar os balneários da
cidade, principalmente o Parque 10 de Novembro, o mais famoso.
Estirado à beira da estrada, 200 metros do Fazendário Clube, o
corpo estava nu da cintura para baixo, com a calça envolta em seu
pescoço, aparentando ter sido estrangulado, bem como com duas
perfurações de armas de fogo, provavelmente um revólver calibre
22, segundo apurou, posteriormente, a autoridade responsável pelo
inquérito policial. O cadáver do jovem, de apenas 14 anos
apresentava, do mesmo modo, indícios de sevícias e abuso sexual. O
crime comoveu a cidade, mobilizando a imprensa, os segmentos
policiais e jurídicos, pois, a época, Manaus possuía pouco mais de
200 mil habitantes e tudo que acontecia de extravagante logo chegava
ao conhecimento público. Embora a cidade já convivesse com os
primeiros momentos do projeto Zona Franca trazendo promessas de
prosperidade econômica, os comportamentos ainda são de uma cidade
provinciana, marcada fortemente por traços moralistas tradicionais,
por isso mesmo, acontecimentos como esses chocavam a sociedade, em
razão de serem raros, ainda mais quando cometidos com requintes de
perversidade a exemplo do que foi submetido o adolescente. Dias
depois de aberto o inquérito para apurar o caso, a cargo do Chefe de
Polícia, Bacharel João Valente, a autoria do crime se desviava para
um caso de “curra” ou “geral”, que era uma repugnante prática
criminosa em que, grupos de rapazes estupravam e seviciavam pessoas
indefesas, geralmente mulheres e crianças, abandonando-as à própria
sorte em lugares ermos como forma de punição ou por pura sandice.
Infelizmente essa era uma ação doentia tolerada pela sociedade
manauara, porque, na maioria dos casos, envolviam “filhinhos de
papai” do jet set baré. Do mesmo modo, na ótica caricata da moral
elástica local, as vitimas eram pessoas de baixo estrato social,
“facilitadores dessa permissividade” e “sem vergonha” que
andavam a procura dessas aventuras e que mereciam esses “castigos”.
ENCONTRA-SE
UM SUSPEITO
José Osterne de Figueiredo. FONTE: Instituto Durango Duarte.
Com
os avanços das investigações policiais, muito material probatório
foi recolhido, muitas testemunhas foram ouvidas e os primeiros
resultados apontaram na direção do comerciante José Osterne de
Figueiredo, proprietário da “’’Pensão Maranhense”,
localizada na Avenida Eduardo Ribeiro, no centro de Manaus, como o
provável autor do delito. Após quase um mês de esperas, os laudos
periciais foram entregues ao doutor João Valente pela equipe de
investigações composta pelo delegado Ribamar Afonso, comissários
Geraldo Dias, Omar Salum, Dinancy Barroso, Mariolino Pinheiro e os
peritos Cláudio Reis, Hudson Cordeiro e Antônio Frota, que adiantou
então as primeiras intimações sobre o processo. Segundo João
Valente, os exames periciais realizados por técnicos do INPA e da
DESP no carro do senhor José Osterne de Figueiredo, atestaram que o
sangue nele encontrado, tratava-se mesmo de sangue humano,
provavelmente de Waldeglace Grangeiro. Outras provas foram
apresentadas pelo delegado para consolidar as acusações contra o
comerciante e, assim, pedir sua prisão preventiva. Além do sangue
do jovem e da constatação da presença do automóvel do suspeito na
área do delito, havia uma camisa com as iniciais JOF (José Osterne
de Figueiredo) nela inscrita, vestindo o menino quando do óbito,
além dos exames de corpo delito, a necropsia e os relatos de
testemunhas e de vítimas de aliciamento, sequestro e intimidação
do suposto assassino. Pesavam ainda contra José Figueiredo ou
Figueiredo as condenações a que foi submetido por ter assassinado,
em setembro de 1954, o comerciante português Antônio Dias, morador
da Rua Taqueirinha e o alfaiate Anacleto Gama, seu empregado, morador
da Rua Joaquim Sarmento e, portanto, já ser reincidente em prática
de homicídios.
ANTECEDENTES
DO CRIME
A
“Pensão Maranhense” era point gastronômico muito frequentado
por figurões da elite local, que iam até lá fazer suas refeições,
bebericar ou para outras finalidades, algumas suspeitas mesmo. De
acordo com versões colhidas pela imprensa a época, a tal “pensão”
era ponto de encontro de pedófilos e outros tipos de aliciadores de
menores, que ali assediavam suas vitimas ou marcavam encontros para
esses fins. Aliás, Figueiredo e sua esposa eram donos de casas de
prostituição em Manaus, sendo uma delas conhecida como “Verônica”,
localizado nas cercanias da cidade, mais precisamente na Estrada dos
Bilhares, bairro de Flores. A “pensão”’ estava sempre repleta
de gente abonada e, em função dessa frequência e do poder
aquisitivo dos habitues, ela era ponto de trabalho para menores
carentes que lá exerciam seus ofícios para ganhar algum dinheiro
para ajudar no sustento da família, a exemplo de jornaleiros,
vendedores ambulantes e engraxates. Waldeglace morava na Rua São
Domingos, próximo à antiga estrada do Aleixo, numa casa humilde com
seu pai Walter Granjeiro,
de 57 anos, a mãe Zilma e mais sete irmãos. A casa de chão batido,
com as paredes feitas de restos de tambores de piche asfáltico e
madeiras toscas, tinha três cômodos e apenas um velho guarda
roupa
como móvel na pequena saleta. A água vinha de um igarapé próximo
e a iluminação era de lamparinas. Mesmo assim era um lugar
tranquilo e tinha bons espaços para brincadeiras e muita diversões
infantis. Walter era pedreiro e fazia serviços inopinados, pois nem
sempre estava formalmente empregado, e a esposa, dona Zilma, era
lavadeira. Por certo é que a vida dessa família era muito sofrida e
carente materialmente, mas nem por isso menos abastada em afeto e
solidariedade entre seus membros.
Waldeglace,
vendo a situação difícil da família, pois a mãe acabara ter o
último filho, resolve ajudar no sustento da casa trabalhando de
engraxate nas ruas mais movimentadas da cidade. A princípio, seu
primeiro ponto de trabalho foi a Praça da Saudade, onde já havia se
familiarizado com outros colegas fazendo sua própria “turma”.
Tempos depois, relatam as pessoas que o conheciam mais próximo,
Waldeglace passou a faturar mais que os outros colegas e levar para
casa sanduiches, roupas e sapatos novos e não mais queria usar as
roupas velhas, segundo a mãe, e dizia para ela que era um “homem
lá da Eduardo Ribeiro que está me ajudando”. Certa ocasião,
passando com a mãe pela frente da “Pensão”, disse-lhe: “É
aqui mamãe que mora o homem que me ajuda, não vamos entrar porque
tem muita gente”. Até então dona Zilma não tinha nenhuma ideia
do que poderia acontecer com seu filho. Ele também disse à mãe,
que o homem havia proibido os outros engraxates entrarem na pensão e
que ele parasse de falar com os mesmos, a quem os chamava de “sujos
e mal educados”. Waldeglace era um menino sadio, cheio de desejos e
muito alegre, segundo narrativa dos pais e de vizinhos que o
conheciam. Estudava e tinha sonhos de ajudar os pais e irmãos com
quem tinha grande afeto e senso de solidariedade, a terem uma vida
melhor, pois, quando chegava com algum trocado, comprava bombons para
os irmãos mais novos, como forma de agradá-los.
Naquele
fatídico dia 14 de fevereiro de 1968, Waldeglace desce do ônibus
“Aleixo via sete de Setembro”, na parada próxima à grande
avenida e caminha rumo a “pensão” para iniciar seu trabalho às
18:00h. Estava acompanhado do companheiro Mário Jorge de Magalhães
Oliveira, de quem se separa em frente à Lobrás. Foi à última vez
que o amigo ou outras pessoas o viram com vida. Naquela noite, o
vigia do Fazendário Clube, por várias vezes impede que um veículo
de luxo adentre os limites da agremiação já que, apesar de não
ter cercas, o local era propriedade privada e tinha a entrada
proibida a estranhos. Ainda, de acordo com o relato desse vigilante,
era comum automóveis se dirigirem àquelas paragens a noite,
principalmente com casais fugindo de olhares indiscretos para namorar
com tranquilidade e sempre ele os afugentava, mas sem muito alvoroço.
Entretanto, nessa noite o que chamou sua atenção foi que este
veículo, por três vezes, tentou entrar nas dependências do clube
e, por três vezes, ele o repeliu para que se afastasse dali. Segundo
ele, já passava da meia-noite
quando o mesmo veículo tenta invadir novamente o espaço do clube e
é novamente rechaçado por ele. Depois disso, ele ser recolhe para
dormir e não mais percebe nenhum movimento rumo ao portão. No dia
seguinte, um grupo de guardas noturnos que voltava do trabalho,
avistou o corpo do engraxate à beira da estrada, embaixo de um
buritizeiro, junto a folhas espinhosas e muito mato seco, a uns 20
passos da entrada do balneário do doutor Moura Tapajós, próximo ao
lugar relatado pelo vigilante sobre a presença do automóvel
suspeito. O que se seguiu foi um burburinho enorme de policiais,
profissionais da imprensa e curiosos se aglomerando no local,
querendo saber o que havia acontecido. Horas depois, o Instituto
Médico Legal remove o corpo para realizar exame cadavérico e outras
providências técnicas e periciais. Com a liberação oficial, o
cadáver do jovem é levado à residência da família para o velório
e sepultamento. Foram momentos de muita angústia e dor para os
parentes e amigos da pequena comunidade da estrada do Aleixo, todos
revoltados com o insólito ocorrido e questionando quem teria coragem
de cometer tão bárbaro crime contra uma criança ainda?
Sobre
José Osterne de Figueiredo, sabe-se que não era amazonense e
tinha
mais de 50 anos. Era dono de comércios no centro da cidade e
administrava também casas de lenocínio. Era muito discreto e
trajava-se elegantemente, sempre vestido com roupas e sapatos
brancos, ostentando uma acentuada calvície e fumava muito. Por fim,
depois de feita a reconstituição do crime, o Chefe de Polícia
João Valente solicitou ao Juiz de Direito, doutor Luiz Furtado de
Oliveira Cabral, o pedido de prisão preventiva do acusado, alegando
ter todos os elementos plausíveis para indiciar e processar o
nacional José Osterne de Figueiredo como responsável pelo
assassinato do menor. Tão logo Figueiredo soube das acusações que
estava sendo imputado, contratou um time de advogados de peso para
promover sua defesa. Faziam parte desse escrete os doutores Gebes de
Medeiros, Jurandir Toledo e Hachimo Munneyme, todos causídicos de
renome na cidade. Em nome da família Grangeiro, ofereceram-se para
auxiliar na promotoria os doutores Vicente Mendonça, Milton Assensi
e Nilton Figueiredo. No dia 24 de fevereiro, o juiz Luiz Cabral
aceitou os argumentos da Polícia
Civil e expediu o mandado de prisão contra José Osterne de
Figueiredo, fundamentado nos artigos 121 e 312 do Código Penal
Brasileiro. As 09:30h desse mesmo dia, quando o documento oficial da
prisão de Figueiredo chegou à Chefatura de Polícia, levado pelo
oficial de justiça João Ferreira de Castro, o doutor João Valente
solicitou ao comandante da Polícia
Militar, coronel Omar Gomes, uma escolta policial reforçada e uma
viatura tipo pick-up para levar o preso de sua residência a
Penitenciária Central do Estado na Avenida Sete de Setembro, tendo
em vista temer pela segurança do mesmo, já que uma multidão o
aguardava na frente de sua casa, bem como outras turbas se
concentravam nas imediações da chefatura na Rua Marechal Deodoro e
cercanias da penitenciária.
Disponibilizados
os recursos, a comitiva destinada a cumprir o mandado de prisão
chegou à residência do acusado por volta das 09:50h e logo se
deparou com a patuleia enfurecida em frente à casa de Figueiredo,
gritando palavras de ordem como “cadê o monstro”, “tarado” e
“assassino, assassino”. Em alguns momentos, a tensão e o alarido
protagonizados pela choldra, obrigou a polícia agir com energia e
dispersar os mais exaltados ante a quebra da ordem e das garantias
pessoais do implicado, chegando, inclusive, a “jogar” o jipe
contra a multidão inflamada, segundo palavras do Chefe de Polícia.
Preso em sua residência, situada a Rua Saldanha Marinho 617, no
centro da cidade, onde se encontrava recluso desde o dia 15,
Figueiredo saiu acompanhando do delegado José Ribamar Afonso, do
comissário Salum Omar e do promotor de justiça Altair Thury,
designado para acompanhar o caso. Para garantir sua integridade, a
viatura foi praticamente “colada” rente à porta e ele entrou na
mesma chorando copiosamente e se dizendo, insistentemente, que era
inocente do crime lhe atribuído e pedindo para que não tirassem
fotos. Antes, no interior da residência, ouviam-se gritos de membros
de sua família dizendo que o mesmo era inocente das acusações e
aquilo era uma injustiça. Também chorando muito, eles se despediam
com tristeza do pai que se encaminhava para o calabouço da
penitenciária estadual para aguardar o andamento de mais um processo
por atentado contra a vida dos outros. Durante o trajeto até a casa
de detenção, Figueiredo ameaçou, por diversas vezes, o delegado
Ribamar Afonso com a frase: “Delegado, vou matá-lo quando sair da
prisão. O senhor arruinou minha vida”. Minutos depois declara a
essa autoridade que desde o dia 24 de agosto do ano passado não
colocava “uma gota” de bebida alcoólica na boca e que estava
vivendo normalmente com sua família. Ao chegar a PCE o comboio
sofreu as mesmas represálias por parte do povo aglomerado a entrada
da cadeia, querendo ver o rosto do “Monstro do Parque 10”. Alguns
mais irritados proclamavam fazer “justiça com as próprias mãos”
ali mesmo e, assim, acabar com impunidade que marcou a vida do
arrogado comerciante. Novamente a tensão obriga a polícia a agir
com medidas repressoras, com o carro em quem ia o prisioneiro sendo
obrigado a dar marcha ré e entrar sozinho no interior do complexo.
Dentro do prédio somente alguns repórteres e autoridades
presenciaram a saída do detido do veículo
oficial rumo à carceragem, onde foi confinado e isolado dos demais
presos por medida de segurança. Ainda chorando muito, caminhando no
longo corredor que leva ao “’raio 6”, ele continuou a alegar
inocência, tendo uma crise nervosa ao assinar a ficha de entrada do
presídio na presença do diretor doutor João Bosco Araújo. De
acordo com informações da direção do presídio, a única
companhia de Figueiredo naquele momento era uma fotografia do jogador
de futebol Garrincha, deixada por outro preso que era torcedor do
Botafogo. Mas, a tal angústia do detento Figueiredo foi por pouco
tempo. Alegando ser um comerciante importante da cidade, membro da
Junta Comercial do Amazonas e ter residência fixa, seus advogados
conseguiram sua transferência para o quartel da Polícia
Militar do Amazonas na Praça da Polícia no dia seguinte, sendo
colocado junto a outros presos detentores de regalias. Meses depois
do “Crime do Engraxate”, como ficou conhecido o triste episódio
na cidade, o juiz Luís Cabral não acata as denúncias e impronuncia
o acusado José Osterne de Figueiredo por falta de provas
consistentes, alegando apenas circunstancialidades no processo.
Figueiredo é posto em liberdade para aguardar a anulação do
processo, para a desgraça da família do menor assassinado.
Walter Granjeiro, o pai de Waldeglace, sendo recebido pelos presos na Penitenciária Central do Estado do Amazonas. FONTE: Jornal do Comércio, 26.01.1969.
Essa
decisão monocrática do juiz foi questionada pela autoridade
policial, que prometeu, se necessário, ir até as instâncias do
Supremo Tribunal Federal em Brasília, para levar o acusado as barras
da Justiça. Três meses se passaram sem que a autoridade judicial se
pronunciasse sobre a decisão de levar Figueiredo a júri popular e
decidir sobre sua inocência ou culpabilidade e assim a justiça se
faça, para por fim a angústia de todos os envolvidos. Desesperado e
incrédulo em relação à punição de fato e de direito do acusado
de ter assassinado brutalmente seu filho, o biscateiro Walter
Granjeiro,
há tempos planeja fazer justiça ele mesmo e reparar sua perda
inestimável, já que nunca acreditou na justiça dos homens. Durante
meses Walter estudou a rotina do acusado, observando meticulosamente
seus passos e hábitos para arquitetar sua tão almejada vingança,
sempre repetindo - “Se eu não morrer matarei o assassino do meu
filho”. Depois de espreitar por dias e meses, inclusive disfarçado
de mendigo, chegando a montar campana a frente da residência do
suposto assassino de seu menino, mas não conseguia realizar seu
desejo e isso o exasperava ainda mais. Walter teve o tão esperado
momento para concretizar suas promessas de reparação. Em 24 de
janeiro de 1969, por volta de 19:30h, ele encontrou Figueiredo em
frente ao seu estabelecimento na Avenida Eduardo Ribeiro que, no
momento, estava lotado de turistas fazendo suas refeições. Ao ver o
algoz de seu filho tranquilo, fumando um cigarro, Walter se encaminha
até ele com a arma engatilhada, toca-lhe o ombro que e ao se virar,
encarando-o, dispara contra Figueiredo, com o primeiro tiro atingindo
seu ouvido. Em seguida descarrega as cinco outras balas, acertando
outras partes do corpo do inimigo, deixando-o agonizante ao chão,
até ser levado ao pronto socorro da Santa Casa de Misericórdia,
próximo ao local do crime. Submetido a intervenções cirúrgicas
Figueiredo sobrevive ao atentando, inclusive viajando dias depois
para outro estado para se restabelecer melhor. Walter é preso logo
em seguida, sendo encaminhado para o presídio estadual como
criminoso que agora se tornara. Desde a morte do filho, o pedreiro
jamais se conformou com a situação de impunidade de Figueiredo, o
qual achava sempre estar protegido pelas leis ambíguas do país e
acobertado por amigos influentes, já que tinha dinheiro e poder. A
prova disso foram as duas mortes anteriores que cometeu e quase nada
foi feito para puni-lo. Mesmo depois de encarcerado Waldeglace não
demostrou nenhum arrependimento quanto ao crime cometido contra o
verdugo de seu filho, pelo contrário, seu único arrependimento era
tê-lo deixado escapar, pois queria que o assassino de seu menino
sofresse o máximo possível de dor e lamentou: - eu queria era
cortá-lo em pedaços. No presídio Walter foi recebido com efusão
pelos outros detentos que o saudaram com um - “sarava irmão” e
“você é cabra macho”. Submetido a júri popular o pedreiro foi
condenado a 29 anos de prisão, cumprindo um terço da pena sendo
liberto por bom comportamento. Figueiredo, depois de perder quase
todos os seus bens, faleceu pobre no decorrer dos anos de 1980 de
morte por complicações de doenças adquiridas ao longo da vida.
PESQUISA DAS IMAGENS:
Fábio Augusto de C. Pedrosa
Marcante inserida na memória de uma criança aos dez anos. O Mario Jorge mencionado ainda hoje é vivo, filho de Jacira Magalhães e irmão de João Casemiro magalhaes ambos eram engraçadas nessa época e lembram perfeitamente e relatam os dados ocorridos.
ResponderExcluirNossa, que história! Parabéns pelo blog, muito bom mesmo.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho! excelente texto sobre um terrível crime!
ResponderExcluirJá quero o livro. Muito bom! Parabéns!
ResponderExcluirExiste um zum zum de bastidores,que realmente o Figueiredo era inocente nessa história.Os verdadeiros envolvidos eram filhos de ricos empresários locais.
ResponderExcluirEssa serie: História da criminalidade em Manaus, terá continuação?
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