No dia 06 de dezembro de 1906 nasceu em Santarém, no Pará, o acadêmico, cronista, jornalista e professor Genesino Braga (1906-1988), filho de Genésio dos Santos Braga e Silvina Pedroso Braga. Realizou seus primeiros estudos na cidade natal, concluindo-os em Belém. Aos 21 anos, em 1927, mudou-se para Manaus, conseguindo nesse ano seu primeiro emprego, o de repórter do Jornal do Commercio (MENDONÇA, 2020, p. 16-20). Uma de suas primeiras grandes reportagens foi a entrevista realizada com D. Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança (1875-1940) durante sua chegada à cidade, em 23 de maio daquele ano. O ilustre visitante disse estar maravilhado com os aspectos amazônicos que pôde observar durante a viagem.
Em 1930 passou a trabalhar como auxiliar de Gabinete no Palácio Negro. Nesse mesmo ano, em maio, foi nomeado pelo Interventor Federal Álvaro Botelho Maia (1893-1969) para o cargo de Praticante Interino do Arquivo, Biblioteca e Imprensa Pública. Assumiu a direção da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas em 1931, ficando à sua frente até 1965 (MENDONÇA, 2020, p. 25). Na madrugada do dia 22 de agosto de 1945 um incêndio de grandes proporções destruiu por completo o acervo da biblioteca. Coube a Genesino recuperá-la, reunindo livros de outros acervos da cidade e recebendo doações de várias partes do mundo, o que possibilitou que ela voltasse a funcionar pouco tempo depois, em 1947.
As décadas de trabalho nessa instituição ficaram refletidas em suas crônicas, livros e conferências, evidenciando o pesquisador metódico que foi, que dominava como poucos a historiografia regional, nacional e internacional, além das fontes, como os relatórios dos Presidentes da Província, os jornais do século XIX e também as memórias, as suas e as das pessoas que entrevistava. À pesquisa minuciosa unia a escrita leve, agradável. Seus textos eram sobre diversos assuntos relacionados, em sua maioria, à Amazônia, sobretudo sua História: costumes, reflexões, resenhas, biografias, datas comemorativas, construções, instituições, política e economia. Ao explicar o título de seu terceiro livro, Chão e Graça de Manaus, afirmou que o chão se referia à cidade, e a graça
"[...] provém do quanto de fascinante, de poético, de sentimento e de beleza envolve aqueles episódios; e, ainda, nos modos de fraternizar, no encanto da hospitalidade, na sensibilidade artística e no requinte de civilização da nossa gente do passado, - em tudo o hálito de um clima espiritual que nunca envelheceu e não mudou, uma espécie de primavera cuja seiva o tempo não conseguiu estancar" (BRAGA, 1987, p. 14).
De acordo com Moacir Andrade, Genesino foi repórter do Jornal do Commercio de 1927 a 1930; Redator do mesmo jornal de 1931 a 1932; Diretor da Revista Mensal Cabocla de 1935 a 1950; e Redator Secretário do jornal A Tarde de 1937 a 1943 (ANDRADE, 1995, p. 75). Teve uma breve passagem pela política como Deputado Estadual, eleito para o quatriênio de 1935 a 1939, interrompido em 1937 pela instalação do Estado Novo. Foi membro fundador, em 1937, da Associação Amazonense de Imprensa (SOUZA, 1987, s. p.) e Presidente da Associação dos Funcionários Públicos.
Em fins da década de 1930 Genesino Braga já era considerado um dos intelectuais mais expressivos do Estado do Amazonas. O escritor espanhol Álvaro de Las Casas Blanco (1901-1950), de passagem por Manaus em 1938 para a realização de uma conferência, assim descreveu o panorama intelectual da época:
"Da Manáos que eu vi e vivi, devo confessar que em poucas cidades de quantas percorri na minha vida, encontrei um grupo de intellectuaes de tanta valia. Juristas como Sá Peixoto e Waldemar Pedrosa, poetas como Violeta Branca e Antony, oradores como Leopoldo Péres e Huascar de Figueiredo, chronistas como Aristophano Antony, Genesino Braga e Caio Góes, ensaistas como Clovis Barbosa e Ramayana de Chevalier, eruditos como Vivaldo Lima, historiadores como Arthur Reis e geographos como A. Bittencourt, ahi engrandecem a literatura brasileira com livros que não devem nem podem ser ignorados" (CASAS BLANCO, 1938, p. 111).
Genesino sempre procurou se especializar e se atualizar em sua área. Realizou em 1941 o curso de Biblioteconomia do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), no Rio de Janeiro. Em 1949 realiza novo curso de Biblioteconomia, dessa vez ofertado pela Biblioteca Nacional. Entre 1950 e 1951 faz uma especialização. O diploma de graduado em Ciências Biblioteconômicas conferido pela Biblioteca Nacional foi registrado no MEC em 1962.
Em 1951 fez parte da Delegação do Brasil à Conferência Regional dos Bibliotecários Profissionais da América Latina, promovida pela UNESCO e pela OEA e em 1954 integrou a Comissão Nacional de Bibliografia, formada pelo Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (SOUZA, 1987, s. p.).
Sua consagração intelectual se dá em 1951, quando foi eleito membro da Academia Amazonense de Letras. Na Casa de Adriano Jorge atuou como Secretário e Presidente, além de contribuir com sua revista em diferentes números, de 1955 a 1985.
Como professor, ministrou o curso de Biblioteconomia no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Na então Universidade do Amazonas, atual Universidade Federal do Amazonas (UFAM), foi docente do curso de Biblioteconomia, ministrando as disciplinas História do Livro e das Bibliotecas I e II e Paleografia e Arquivística (MENDONÇA, 2020, p. 70).
Publicou quatro livros: Nascença e Vivência da Biblioteca do Amazonas; Fastígio e Sensibilidade do Amazonas de Ontem; Chão e Graça de Manaus; e Assim Nasceu o Ideal. No primeiro, publicado em 1957, discorreu sobre as origens da Biblioteca Pública, desde seus primórdios enquanto uma simples sala de leitura criada em 1871. O trabalho seguinte, de 1960, é de caráter saudosista, relembrando o autor dos tempos de fausto e luxo proporcionados pela economia gomífera. No terceiro, publicado em 1975, reuniu as melhores crônicas que publicou no Jornal do Commercio sobre diferentes episódios da História da cidade. Em seu último livro, de 1980, narrou a história de um dos mais tradicionais e aristocráticos clubes de Manaus, o Ideal.
Entre 1958 e 1979 recebeu 17 condecorações. A primeira, de Sócio Benemérito do Atlético Rio Negro Clube, foi recebida em 8 de maio de 1958. Em fins de 1965 foi escolhido o Jornalista do Ano pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas, o sendo novamente em 1973. Antes, em 1970, recebeu do Governo do Pará a Medalha Cultural Paulino de Brito, do Conselho Estadual de Cultura. Em 25 de março de 1971 lhe foi concedida a Medalha do Mérito Jornalístico. No ano do sesquicentenário da Independência do Brasil, em 07 de setembro de 1972, recebeu do Governo Federal o diploma do Sesquicentenário. Nesse mesmo ano, através de portaria do dia 13 de outubro, o Ministério do Exército lhe conferiu a Medalha do Pacificador (MENDONÇA, 2020, p. 31-32).
A Associação Amazonense de Bibliotecários, em 19 de março de 1973, lhe outorgou o título de Sócio Benemérito. No ano seguinte, em 23 de abril, foi titulado Sócio Honorário da Associação dos Servidores Públicos do Amazonas (ASPA). Em 1975 aufere três medalhas: a da Ordem do Mérito Militar, em 06 de agosto; a Medalha de Honra Dom Pedro II, pelo Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), em 02 de dezembro; e a Medalha Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. Em 01 de maio de 1977 o Luso Sporting Club conferiu-lhe o título de Sócio Honorário. O Comando Militar da Amazônia, em 06 de janeiro de 1978, entregou o Diploma Concurso do Serviço Militar. Da Polícia Militar do Amazonas recebeu no mesmo ano a Medalha Tiradentes, por ocasião da homenagem ao líder da Inconfidência Mineira. As últimas medalhas foram recebidas em 1979, em Belém: a Ordem do Mérito do Grão-Pará, através de decreto de 14 de março, e a Medalha do Centenário 'A Província do Pará', conferida pelo periódico homônimo na mesma data (MENDONÇA, 2020, p. 32-36).
Genesino Braga faz parte do hall de paraenses ilustres que entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX escolheram Manaus como local de moradia e trabalho, contribuindo para o engrandecimento da capital amazonense. O afamado intelectual partiu na manhã de 19 de junho de 1988, aos 81 anos, dos quais mais de 50 foram dedicados à pesquisa e à escrita. Foi um grande homem de letras, bibliófilo e cronista incansável, apaixonado que foi pelo chão e graça de Manaus.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ANDRADE, Moacir. Antologia Biográfica de Personalidades Ilustres do Amazonas. Manaus: Imprensa Oficial do Estado, 1995.
CASAS BLANCO, Álvaro de las. Visão Intelectual de Manáos. Aspectos: Mensário de ciências, letras e artes. Rio de Janeiro, nov. - dez, n° 15, 1938, p. 109-112.
MENDONÇA, Manoel Roberto de Lima. As Artes de Genesino Braga. Manaus: s. n. 2020.
SOUZA, João Mendonça de. [orelha do livro]. In: BRAGA, Genesino. Chão e Graça de Manaus. 2° ed. Manaus: Imprensa Oficial do Estado, 1987.
Nenhum comentário:
Postar um comentário