No presente texto, escrito pelo pesquisador e jornalista Adriel França, conheceremos como se deu a participação do contingente militar do Amazonas na Guerra do Paraguai (1864-1870), o maior conflito armado da História da América do Sul
OS BRAVOS DO PARAGUAI
Por Adriel França*
No dia 27 de fevereiro de 1865 às 9:30 da manhã, entraram em forma no Largo do Quartel (atual praça D. Pedro II), 339 soldados amazonenses que ali embarcaram rumo à Guerra do Paraguai1. Com o início do conflito, ficou acertado que todas as províncias do então Império do Brasil, iriam contribuir com tropas que deveriam ser remetidas para a Corte, no Rio de Janeiro.
O Império era um Estado unitário, no qual o poder central mandava nas outras esferas menores sem grandes autonomias, ou seja, o que fosse decidido no centro político da nação, valeria para todas as demais partes do território, sendo assim, por decreto imperial de 7 de janeiro de 1865 criou-se o corpo de “Voluntários da Pátria", onde todas as províncias ficavam obrigadas a organizar e enviar os voluntários para a campanha no Paraguai2.
Governava a Província do Amazonas o pernambucano Adolfo de Barros Cavalcanti de Albuquerque Lacerda (1834-1905)3 que em 3 de fevereiro de 1865, recebia no Palácio do Governo uma carta do Ministro da Guerra, solicitando o envio de tropas para combaterem no sul do Império, prontamente em 7 de fevereiro o presidente publicou o ato n° 9, onde revogou todas as dispensas concedidas às patentes menores concedidas no seu governo e, apelando para o patriotismo dos oficiais para renunciar as suas licenças.
No dia 23 de fevereiro Adolfo de Barros Lacerda dirigiu uma proclamação ao povo amazonense convidando-os para que pudessem auxiliar na defesa da honra e na integridade do Império. Assim disse o presidente: “A vindicta da honra nacional já começou esplêndida e grandiosa, como o reclamam a brutal ofensa que recebemos dos nossos vizinhos do sul [...] todas as províncias do Império acodem ao brado da pátria. Cada brasileiro é um soldado e heróis bravos se reúnem, formando os corpos de voluntários. A centelha que inflama os corações dos nossos irmãos do sul, não está amortecida no Amazonas [...] eia amazonenses, sede fiéis ao nosso augusto soberano.”
No dia seguinte a publicação da proclamação feita pelo presidente, o comandante de armas da província Innocêncio Eustáquio Ferreira d’Araújo baixou a ordem dia n°181 onde dizia: “O coronel comandante de armas da província, em cumprimento às ordens da presidência exaradas no ofício n°57, datado de ontem, determina que os corpos de “Guarnição” e o contingente do 5° batalhão de infantaria em serviço nesta província estejam prontos a seguirem no vapor Tapajós, que no dia 27 do corrente, deve seguir deste porto para a capital do Pará.”
A força militar de 1° linha que aqui se encontrava e que seguirá para Belém do Pará no dia 27 de fevereiro era os seguintes corpos: Corpo de Guarnição; Corpo de Artilharia; contingente do 5° Batalhão de Infantaria e Corpo de Saúde. Com essa força seguiram ainda 4 Voluntários da Pátria e ainda 8 recrutas para a marinha imperial.
No contingente do 5° Batalhão de infantaria continha 101 homens, no Corpo de Guarnição 157, no Corpo de Artilharia 80, e apenas um homem no Corpo de Saúde, totalizando 339 homens que ao raiar do dia 27 entraram em forma no Largo do Quartel, como dito no início. Desde muito cedo a população da pequena cidade de Manaus, já se aglomerava aos arredores do largo, após lidos alguns discursos iniciou-se a marcha heroica dos soldados amazonenses dirigindo-se ao vapor Tapajós ao som da melodia do hino imperial, até então sem letra. O navio levantou suas âncoras e partiu rumo ao conflito.
Muitos amazonenses se destacaram na campanha do Paraguai, e como exemplo temos o italiano naturalizado brasileiro Henrique Antony e por seus atos de bravura em Itapiru foi promovido ao posto de tenente. Seu filho Luiz Antony, também fora promovido por atos de bravura em Itapiru, e por seu destaque sua patente foi a de capitão, foi agraciado com a “Ordem da Rosa” após participar da Batalha de Tuiuti em 24 de maio de 1866, mas morreu devido a complicações acometidas por ferimentos na perna após a tomada de Humaitá ambos sendo homenageados emprestando seus nomes às ruas do centro da cidade de Manaus.
Outro amazonense que tombou em combate foi o jovem parintinense Alferes Joaquim Benjamin da Silva. Foi promovido a tenente após a Batalha de Itapiru. Morreu na Batalha do Sauce em 18 de julho de 1866 vitimado por estilhaços de granada. Foi agraciado com a Ordem de Cristo, mas não recebeu a comenda devido a seu falecimento.
O jovem que perdeu sua vida nesta batalha, chegou em Manaus no dia 22 de abril de 1865, mas não sabia que seu fim estava próximo. E assim foi com mais outros amazonenses que jamais retornaram do campo de batalha. Muitos destes homens também morreram atacados por cólera na triste “Retirada de Laguna” onde 89 homens que formavam uma bateria de artilharia foram vitimados pela doença. Entre 1865 e 1868 foram remetidos entre 1.300 e 1.400 soldados amazonenses para a Guerra do Paraguai.
Quando do fim da guerra em 1° de março de 1870 os amazonenses retornaram para a capital, mas com o número assombroso de apenas 55 soldados, comandados pelo capitão honorário Silvério José Nery. Chegaram em Belém no dia 15 de julho de 1870 onde foram homenageados e desfilaram na Rua do Imperador, saíram em 20 de julho, chegando a Manaus em 25 de julho. O presidente da província achou por bem desfazer o contingente no dia seguinte de sua chegada à capital, acabando assim a saga da contribuição amazonense para aquele que foi o maior conflito armado que já ocorreu na América do Sul.
NOTAS:
1 SOUZA, João Batista de Faria e. O contingente do Amazonas à guerra do Paraguai. Homenagem de J. B. De Faria e Souza ao jubileu do término da guerra com o Paraguai. Manáos: Imprensa Pública, 1920.
2 Jornal do Commercio, 26/02/2021.
3 SOUZA, João Batista de Faria e. Op Cit.
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