País:
Antiga Alemanha Ocidental
Direção:
Werner Herzog
Roteiro: Werner Herzog
Elenco: Klaus Kinski, Helena Rojo, Ruy Guerra e Del Negro
Ano:
1972
Duração:
90 minutos
Aguirre,
a Cólera
dos Deuses
(Aguirre,
der Zorn Gottes),
é uma das melhores produções do diretor alemão Werner Herzog,
contando com a magistral atuação do
também alemão
Klaus Kinski no papel de Don
Lope
de Aguirre (1510-1561), el
tirano,
el
loco,
conquistador
espanhol do século XVI.
O
filme, um
drama histórico, retrata,
com
algumas alterações significativas, os
desdobramentos da Expedição
de Pedro de Ursúa e Lope de Aguirre (1560-1561),
dois conquistadores que, após notícias dos sobreviventes da
expedição de Orellana, reavivaram a crença da existência das
ricas províncias de Omágua e El
Dorado.
Os
cenários, entre o Peru e o Rio Amazonas, dão o tom de naturalidade
ao filme, com vários enquadramentos que captam o enfrentamento entre
homens europeus
de
valores cristãos medievais e a natureza selvagem, desconhecida e
indomável,
habitada
por povos igualmente desconhecidos.
Klaus
Kinski conseguiu transpor nessa obra a personalidade de Lope de
Aguirre, marcante na historiografia da conquista da
América:
louco, sádico, disposto a tudo para liderar a expedição e
alcançar os mais altos postos na Coroa Espanhola. Na América, além
da busca por ouro e outras pedras preciosas, buscou-se o que
dificilmente esses homens encontrariam na metrópole: a ascensão
social. Uma pequena ou inexistente nobreza, às vezes imaginária,
buscava por suas ações na conquista o reconhecimento, um alicerce e
inserção no mundo das cortes.
Acreditando
que organizaria uma rica colônia, Aguirre ordena aos soldados que o
sigam numa rebelião contra a Coroa Espanhola, assassinando quem não
concordasse.
Auxiliomar
Silva Ugarte afirma que, na segunda etapa da expedição, ela [...]
"mergulharia em sangue, pois Lope de Aguirre, utilizando-se de
todos os meios de que dispunha, eliminando opositores reais ou
imaginários, pôs fim às buscas a Omágua e Dorado e deu início a
uma das mais sangrentas rebeliões do período" (UGARTE, 2003,
p. 26). Aguirre (Klaus Kinski) usa uma das melhores armas no processo de conquista após os instrumentos bélicos: a imposição psicológica, que vai criando temores tanto entre os tripulantes de sua expedição quanto entre os nativos que vão sendo encontrados ao longo dos rios.
Apesar
de a expedição retratada
incluir
personagens históricos que não faziam parte dela, e de apresentar
um desfecho idealizado por Aguirre, o filme consegue
exemplificar as relações
de poder e os
modos
de agir característicos do
processo de Conquista
da América Espanhola, lembrando
la
espada, la cruz e
la
hambre
que iam dizimando a família selvagem, como bem escreveu Pablo
Neruda. Devidamente
contextualizado, partindo de um elemento micro (a expedição) para
um elemento macro (o processo de conquista entre os séculos XVI e
XVII), é um filme vale a pena ser assistido e analisado, do ponto de
vista dos mecanismos e mentalidades da Conquista Colonial.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
UGARTE, Auxiliomar Silva. Margens Míticas: a Amazônia no Imaginário Europeu do século XVI. In: DEL PRIORI, Mary; GOMES, Flávio dos Santos (org). In: Os Senhores dos Rios: Amazônia, Margens e Histórias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
CRÉDITO DA IMAGEM:
maumiranda.wixsite.com
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