Edifício Benchimol & Irmão. À esquerda, em 1969; à direita, em 2014.
Diariamente
passamos por construções que possuem suas origens desconhecidas.
São edifícios, casarões e palacetes em sua maioria abandonados,
administrados de longe, com alguns raros exemplares preservados. O
tempo é corrido e, dadas as circunstâncias, ficar parado observando
esses locais em vias públicas tornou-se algo bastante arriscado,
dado o aumento considerável da criminalidade. Após fazer a pesquisa
sobre o casarão abandonado da família Grosso, na Av. Joaquim
Nabuco, decidi que iria a campo para esmiuçar as origens (ou parte
delas) de algumas dessas construções do Centro e de outras partes
da cidade. O prédio do texto de hoje é o antigo Edifício Benchimol
& Irmão.
Localizado
entre as ruas Marcílio Dias e José Paranaguá, em frente a Praça
da Polícia (Heliodoro Balbi), o Edifício Benchimol & Irmão foi
uma das várias construções erguidas na cidade com uma arquitetura
modernista, em consonância com as transformações econômicas
surgidas com a instalação da Zona Franca. Era o momento de
recuperação da cidade e de integração do estado ao Brasil como
área de pleno desenvolvimento.
Sobre
sua inauguração, em 23 de outubro de 1969, lê-se o seguinte em uma
nota do Jornal A Crítica:
“Foi
inaugurado ontem o moderno edifício da firma Benchimol & Irmão,
localizado na esquina da rua Marcílio Dias com a Praça Roosewelt,
sendo as suas linhas modernas todas revestidas de pastilhas. Na parte
térrea funcionará mais uma loja Bemol para a venda de
eletrodomésticos, e nos seus 5 andares confortáveis apartamentos e
salas para escritório. É mais uma contribuição do grupo comercial
comandado pelos irmãos Samuel e Saul Benchimol, para o embelezamento
de nossa cidade”¹.
No
lugar onde foi construído esse edifício existiu uma construção
com várias portas que serviu de Biblioteca Pública. Em 1895 o então
governador Eduardo Gonçalves Ribeiro reorganizou a Biblioteca
Pública do Estado², transferindo seu material do Gymnásio
Amazonense para esse prédio, onde a instituição passou a
funcionar:
“Não
possuindo o Estado um edifício apropriado para o serviço da
Bibliotheca e não havendo mesmo nesta capital um próprio em
condições de servir, lancei mão dos acanhados comodos de um
armazem situado à Praça da Constituição e para elle mandei
transportar os restos da antiga Bibliotheca Publica que se achavam em
uma sala do Gymnazio Amazonense”³.
Esse
antigo armazém, transformado entre 1895-96 em Biblioteca Pública,
aparece em uma fotografia de 1902 da praça, naquela época
denominada da Constituição, de autoria de Felipe Fidanza e
publicada no Álbum do Amazonas.
Atrás do Batalhão da Polícia Militar do Amazonas, o antigo armazém onde décadas mais tarde foi construído o edifício. Foto de 1902.
O
Edifício Benchimol & Irmão abrigou uma filial das lojas Bemol
até a década de 2000. Mais tarde passou a funcionar no térreo a
Celina Decoração.
NOTAS:
¹
Jornal A Crítica, 24/10/1969.
²
Governo do Estado. Decreto N° 86 de 17 de outubro de 1895.
³
Mensagem lida perante o Congresso dos Srs. Representantes em 1° de
março de 1896 pelo Exm. Sr. Dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro,
Governador do Estado.
AGRADECIMENTOS:
Ao
pesquisador Ed Lincon, por ter cedido o recorte do jornal A Crítica.
CRÉDITO DAS IMAGENS:
Jornal A Crítica, 23/10/1969
Google Maps, 2014
Álbum do Amazonas - 1902
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