quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Inscrições e tradição da América Pré-Histórica, especialmente do Brasil: O Champollion amazonense


Reproduzo, a seguir, um texto publicado em 1927 na revista 'O Acadêmico', da antiga Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de Manaus, que aborda o trabalho de tradução de epígrafes antigas no Brasil e em outros países pelo arqueólogo, linguista e numismata amazonense Bernardo de Azevedo da Silva Ramos (1858-1931), referido 'Champollion amazonense', lembrando assim o trabalho de Jean-François Champollion (1790-1832), o famoso linguista e egiptólogo francês.


O CHAMPOLLION AMAZONENSE

O Amazonas, grande em tudo, possui em seu seio uma alta individualidade que uma vez conhecida nos grandes centros científicos, tornar-se-a uma celebridade mundial.

Queremos nos referir ao sábio amazonense coronel Bernardo Ramos, tradutor das inscrições lapidares, não só do Brasil, como de diversas partes do mundo. 

E como o grande cientista chegou a desvendar tão precioso mistério?

O coronel Bernardo Ramos, dando-se ao fatigante trabalho de colecionar moedas, organizou a terceira coleção numismática do mundo, hoje de propriedade do Estado, e, findo esse trabalho, verificou que entre as diversas moedas, anteriores à nossa era cristã, muitas de suas inscrições eram semelhantes às que se encontravam em rochedos e pedras do nosso país.

Há mais de vinte anos que o coronel Bernardo Ramos vem empreendendo novas investigações, chegando afinal, depois de muito estudo e paciência, a decifrar as inscrições lapidares existentes no território nacional, passando as suas indagações a outros países da América do Sul, da América do Norte, da América Central, como da Europa, da Ásia e da África.

Assim como Champollion, célebre orientalista francês, que em 1821 após várias tentativas de sábios em pesquisas para traduzir os hieróglifos, escrita pela qual "os egípcios exprimiam tudo que respeitava às ciências e às artes, ou para representar ideias misteriosas de sua religião", conseguiu desvendar o segredo daquele povo, Bernardo Ramos, o notável cientista amazonense, decifrou as inscrições lapidares do Brasil.

Descoberta a chave da escrita de nossas pedras, o coronel Bernardo Ramos lançou as suas vistas para outros países, encontrando sempre semelhança, nas nossas inscrições, com as de outras nações.

Pelos estudos do paleógrafo amazonense, ficamos sabendo que muito anterior à Cristo passou pelo nosso Continente uma grande civilização.

Entre as decifrações do Brasil, figuram como muito importantes as da Gávea, no Rio de Janeiro, dando notícia da passagem por ali de navegantes fenícios, (887-856 antes da nossa era) e da Pedra Lavrada, na Paraíba do Norte, cuja inscrição em grego antigo datando cerca de mil anos a.C., representa 708 signos, emblemas, astros, constelações, etc.

Além disso, o reputado sábio amazonense tem traduzido outras inscrições que se encontram em pedras do Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Destaca-se ainda a decifração de algumas inscrições lapidares existentes na Colômbia, Guiana Inglesa, Venezuela, Guatemala, México, Argentina e Chile, como uma infinidade em várias regiões dos Estados Unidos da América do Norte.

Computando as inscrições lapidares do Continente americano com as conhecidas na Escócia, em Leon, da Espanha, na França, em Creta, na Índia e na África Austral, o coronel Bernardo Ramos encontrou absoluta identidade de caracteres alfabéticos, como de conceitos, tudo provando afinidade existente para o entendimento entre povos antiquíssimos, por meio de uma escrita seguida nos diversos continentes.

A esse tempo, o nosso continente era conhecido pelo nome Croniano, segundo as descobertas do coronel Bernardo Ramos.

Em 1922, o nosso ilustre coestaduano transportando-se ao Rio de Janeiro, fez ali diversas conferências sobre este importante assunto, conferências essas que foram presididas pelo preclaro senador Epitácio Pessoa, então Presidente da República.

Já anteriormente, o coronel Bernardo Ramos, no Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, numa sessão presidida pelo então Bispo da Diocese, D. João Irineu Joffely, apresentara a sua tese sobre as inscrições lapidares existentes em diversos pontos do país.

Diante do sucesso alcançado na Capital da República, o deputado Daniel Carneiro, então representante cearense, apresentou, juntamente com a bancada paraibana, um projeto autorizando o governo a mandar imprimir a valiosa obra do coronel Bernardo Ramos.

Recebendo o respectivo projeto algumas emendas no Senado, voltou à Câmara, onde ainda se acha, a fim de que esta tomasse conhecimento das alterações daquela casa do Congresso.

A obra aludida compõe-se de quatro volumes com mais de duas mil inscrições lapidares, devidamente traduzidas, sem falar num grande número de cerâmicas, em que o cientista coestaduano prova que a escrita usada pelos assírios e babilônios, etc, era da mesma forma seguida pelos gregos.

A publicação dessa obra virá a ser o maior acontecimento do século, porque, desvendando um segredo sepultado em milênios, nos colocará em contato com uma remota civilização, cuja notícia se perde na noite dos tempos.

Devido a esses estudos em escavações de um passado longínquo, nós amazonenses, ficamos sabendo que, muito anteriormente à era cristã, existiu no Uatumã, do Estado, uma Assembleia ilíada, encontrando o erudito conterrâneo vestígios de leis de Sólon.

O professor Ludovico Schewennehagen, um estudioso também do assunto, publicou na 'A União', do Estado da Paraíba, de 15 de março último, um magistral artigo, em que analisando o trabalho do nosso ilustre coestaduano, o considerou como digno de ser "colocado na primeira linha das coleções epigráficas".


FONTE:

O Acadêmico: Órgão do Centro Acadêmico da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de Manaus. 31/10/1927


Um comentário:

  1. Certamente o amazonense Bernardo Azevedo da Silva Ramos em sua obra assinala com propriedades, relevantes evidências de que a Amazônia Brasileira e o Brasil, guardam os sinais de remota civilização que aqui existiu em tempos imemoriais. De nossa parte, passado todos esses anos desde a publicação da obra de Bernardo Ramos, temos a confirmar o achado de novas evidências que só ratificam a consagrada abordagem desse grande amazonense. Um tema importante que em nossa publicação propomos o desenvolvimento de um estudo apropriado.

    https://www.livrariacultura.com.br/p/ebooks/historia/amazonia-meridiano-60-2011504883
    https://www.kobo.com/br/pt/ebook/amazonia-meridiano-60

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