quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Uma ida aos cinemas do passado

Da esquerda para a direita: Dona Yayá; o pesquisador Ed Lincon; e um cartaz do filme 'As Três Espadas do Zorro'.

Reproduzo, a seguir, uma entrevista do amigo e pesquisador Ed Lincon para a Revista Amazônia Cabocla, realizada em dezembro do ano passado. Ed Lincon, que se tornou o maior conhecedor da história dos cinemas da cidade, conta um pouco de sua vivência nesses espaços e de sua trajetória de pesquisas. Confiram:

De pergunta em pergunta, de curiosidade em curiosidade, Ed Lincon Barros da Silva acabou por se tornar o maior conhecedor das histórias dos cinemas de Manaus, desde a primeira exibição de filmes, ocorrida em 1897, no Teatro Amazonas.

"Comecei a me interessar pelas histórias dos cinemas locais a partir dos relatos que ouvia dos mais velhos e que falavam das salas que eu não conhecera, inclusive algumas demolidas. Era o Odeon, o Avenida, o Polytheama, o Éden, o Palace, o Vitória, o Ideal. Só conheci, e frequentei, o Guarany, o Ipiranga e o Popular, este, havia mudado de nome para cine Pop", contou.

E o primeiro cinema frequentado por Ed, o Guarany, tornou-se sua paixão. "A primeira vez que fui a uma sala de cinema, em 1976, eu tinha sete anos e nem sabia ler, mas jamais esqueci o nome do filme, 'As Três Espadas do Zorro', legendado. Me encantei de imediato por aquilo que só via na TV, em preto e branco. Foi a primeira vez que assisti a um filme colorido", disse.

A SINA DOS SETE

"O Guarany parecia um castelo, em estilo mourisco. A estrutura interna dele era algo fascinante, além do que havia sido um teatro. Fiquei muito triste quando soube que seria demolido, o que aconteceu em 1984. Sua fachada era pintada num tom verde bem claro, quase branco. Somente ao redor da bilheteria era pintado de verde escuro", recordou. "No aniversário do cinema, colocavam a tela na praça Heliodoro Balbi e viravam o projetor nessa direção, passando filmes de graça e distribuindo brindes. E tinham as portas laterais, imensas, que deslizavam sobre trilhos e em noites de muito calor, ficavam abertas", explicou. "E descobri a sina do número sete que o perseguiu até o fim. Os três nomes que o prédio teve: Julieta, Alcazar e Guarany tinham sete letras. Foi inaugurado em 1907 e fechou em 1984, 77 anos depois. Ficava na esquina com a avenida 7 de Setembro, e tinha nos muros da fachada, sete portais de cada lado. O terreno foi adquirido em 1897", listou.

"O Odeon foi o único que teve duas versões. A primeira construída exclusivamente para cinema, pois nem palco tinha, com os outros. Depois, na década de 1950, ficou luxuoso e foi o primeiro a possuir ar condicionado na cidade, enquanto os demais continuaram com ventiladores. O Avenida tinha a dona Yayá, esposa do sr. Aurélio, sócio gerente da empresa Bernardino. Ela ficava na entrada do cinema contando trechos do filme em exibição para os mais exitantes em entrar. Chamava a atenção o rosto exageradamente maquiado pelo rouge", completou.

SEM ENCANTO

Ed Lincon passou a pesquisar mais profundamente as histórias dos cinemas a partir de 1994. "Pesquisei na Biblioteca Pública, no Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, na biblioteca da Associação Comercial e na internet. Meu pai, tios, primos e vizinhos que conheceram aquelas salas, me ajudaram bastante, bem como a professora Selda Vale da Costa e Joaquim Marinho, o empresário que mais cinemas teve em Manaus. Selda e Marinho, além de informações valiosas, também me deram rico material de seu acervo pessoal", afirmou.

Já os cinemas atuais, não encantam Ed Lincon. "Os cinemas dos shoppings perderam o encanto que as antigas salas possuíam porque não tem nomes e são todos parecidos. A arquitetura das salas antigas era outra coisa que chamava a atenção. Eu não vou mais ao cinema por falta de tempo, ingressos, pipoca e refrigerantes caros e violência nas ruas. Prefiro assistir aos filmes em casa, em DVD. É mais cômodo. Mas assistir na tela grande ainda me encanta", finalizou.


Uma ida aos cinemas do passado. Revista Amazônia Cabocla, dezembro de 2017, p. 20-21.

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