quinta-feira, 18 de julho de 2019

Cemitério São João Batista: Jazigo da família Carneiro dos Santos

Com o presente texto pretende-se dar início a uma série de postagens sobre os monumentos funerários mais significativos do Cemitério São João Batista, em Manaus. São artefatos que se destacam tanto pela arquitetura quanto pela história de seus proprietários. O primeiro é o Jazigo da família Carneiro dos Santos.

FOTO: Fábio Augusto, 2019.

O Jazigo da família Carneiro dos Santos está localizado na quadra 07 do Cemitério São João Batista, em Manaus. A escultura que o encima o torna um dos maiores monumentos funerários dessa necrópole.

FOTO: Fábio Augusto, 2019.

Esse monumento, construído em mármore de Carrara, é de autoria do escultor genovês Pietro Bacigalupo (1875-1924), conforme assinatura localizada na base da escultura. Nele estão sepultados Adelaide Maquiné dos Santos (12/05/1858 - 10/08/1909), José Carneiro dos Santos (15/02/1852 - 25/02/1928) e Claudio Carneiro dos Santos (21/07/1894 - 11/10/1939). 

FOTO: Fábio Augusto, 2019.

José Carneiro dos Santos era esposo de Adelaide Maquiné dos Santos. Claudio Carneiro dos Santos, filho do casal. Quando Adelaide Maquiné dos Santos faleceu, em 1909, o Coronel José Carneiro dos Santos tratou de encomendar um monumento em sua homenagem.

Convite para a Missa de 7° Dia de Adelaide Maquiné dos Santos. FONTE: Jornal do Comércio, 14/08/1909.

O monumento em homenagem a Adelaide Maquiné dos Santos foi concluído em 1912. De acordo com publicações da época, ele representa a Fé. Assim o descreve o Jornal do Comércio em nota de 25 de maio de 1913:

"O bello monumento, representando a estátua da Fé, trabalhado em mármore pelo escultor genovez Pietro Bacigalupo, presentemente nesta cidade, aonde veio afim de collocar a sua obra de arte sobre o tumulo da inditosa senhora D. Adelaide Maquiné dos Santos, esposa do coronel José Carneiro dos Santos" (Jornal do Comércio, 25/05/1913).

Ela aparece, ainda em Gênova, ao lado de outra escultura, em uma fotografia reproduzida na revista Ilustração Brazileira, do Rio de Janeiro, em 16 de dezembro de 1914, com a seguinte descrição:

"Monumento representando a Fé, que se acha no cemiterio de Manaus, no tumulo de D. Adelaide M. dos Santos, esposa do coronel José Carneiro dos Santos" (Revista Ilustração Brazileira, 16/12/1914).


Monumento representando a Fé. FONTE: Revista Ilustração Brazileira (RJ), 16/12/1914.

Esse monumento consiste em uma figura feminina, semelhante a uma Madona, vestida com um manto e apoiada sobre uma rocha. A figura feminina segura uma grande cruz fincada nessa rocha, possivelmente uma alegoria à solidez da crença e da fé da família Carneiro dos Santos. Sobre a identificação do nome da família está fixado um cristograma clássico, o XP, que são as iniciais de Cristo em grego (XPΙΣΤΟΣ).

A obra de Bacigalupo gerou algumas controvérsias na cidade. No artigo O esculptor Bacigalupo, de Cesare Veronesi, proprietário da principal marmoraria de Manaus, a Ítalo-Amazonense, insinuou-se que o escultor genovês não dominava essa arte, pois era "[...] um dos taes artistas que, tendo uma encommenda, fazem-na de outrem ou compram-na já feita, e se lhes pedirem esboçar um simples retrato em barro... dão parte de doente".

Esse texto tinha um tom de enfrentamento pela concorrência no serviço de produção de mausoléus e monumentos funerários, pois Cesare Veronesi o finaliza afirmando que resolveu fazer tal publicação no jornal A Capital "[...] tão somente para dar uma satisfação áquelles que nos honraram com suas valiosas encommendas, declarando-lhes que os mausoleus cuja execução nos foi confiada, têm sido esculpidos por artistas de renome, como o professor Franzoni de Carrara e que nunca serão reproduzidos para outros tumulos, ficando assim obras de verdadeiro valor" (A Capital, 07/08/1917).

FOTO: Fábio Augusto, 2019.



FONTES:

Jornal do Comércio, 14/08/1909.
Jornal do Comércio, 25/05/1913.
Revista Ilustração Brazileira (RJ), 16/12/1914.
A Capital, 07/08/1917.

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