FOTO: Fábio Augusto, 2019.
Pouco se sabe sobre o Rabi Shalom Emanuel Muyal. Ele teria vindo de Salé, no Marrocos, para Manaus em 1908. Naquele período a comunidade judaica no Amazonas já possuía um número considerável de membros. Dois anos depois, em 12 de março de 1910, morreu vítima de uma doença tropical.
Quem nos informa sobre os milagres de Shalom Emanuel Muyal é a antropóloga Fabiane Vinente dos Santos, no artigo 'Hagiografia de Cemitério: História Social e imaginário religioso nas canonizações populares em Manaus', de 2008:
"O primeiro “milagre” do Rabino teria acontecido pouco depois de sua morte, por intermédio de uma senhora da comunidade judaica de Manaus que havia cuidado dele durante a doença que o levou à morte. Ela teria conseguido curar apenas usando as mãos uma terceira pessoa de um grave problema ósseo e atribuiu o fato à influencia do rabino, de quem havia tratado antes.
Um segundo milagre foi descrito num relato publicado na revista Morashá, por David Salgado (2006):
[...] Outra situação muito conhecida na comunidade manauara é a de um senhor - ainda me lembro bem dele naquele estado - com um problema sério no pescoço que o impedia de andar com a cabeça na posição vertical; esta sempre pendia para o lado. Depois de ter consultado médicos em busca de uma solução para o problema, sem nenhum resultado satisfatório, a mãe do rapaz tomou importante decisão. Abraçada em sua fé no Eterno, D'us de Israel, dirigiu-se certa manhã à tumba de Ribi Muyal, onde fez um pedido especial para que seu filho tivesse pleno restabelecimento". (1)
O túmulo de Shalom Emanuel Muyal recebe, de seus devotos católicos, placas em agradecimento às graças alcançadas, fixadas dentro ou fora da grade que o circunda. As inúmeras pedras vistas sobre seu túmulo são deixadas por judeus. Elas, diferente das flores e velas, que tem uma curta duração, são duradouras, simbolizando a memória que as gerações conservarão do ente falecido.
Reproduzo abaixo algumas das inúmeras placas de agradecimento:
"Agradeço graça alcançada em 02-02-78".
"1989 uma graça alcansada (sic) de Rabi Shalon (sic) agradeço muito, muito".
"1996 recebi as graças que pedi Rabi Shalon (sic)".
"1999 outra graça alcansei (sic) de Rabi Salon (sic) agradeço muito".
"Graça alcançada. 25.02.02. Eva".
Shalom Emanuel Muyal está enterrado em solo cristão do Cemitério São João Batista. O Cemitério Judeu de Manaus, que compreende as quadras 03, 04 e 05 do Cemitério São João Batista, só foi inaugurado em 1928, após cessão daquela área do cemitério pelo município. Em 1980 houve a tentativa, por parte do sobrinho de Shalom Emanuel Muyal, Eliahu Muyal, membro do parlamento de Israel e Vice Ministro dos Transportes entre 1980 e 1982 (2), de transferir seus restos mortais para Israel. No entanto, essa ação gerou manifestações da comunidade católica local, devota de Shalom. No final das contas, seus restos mortais ficaram em Manaus.
FOTO: Fábio Augusto, 2019.
NOTAS:
(1) SANTOS, Fabiane Vinente dos; MAIA, Jean Ricardo Ramos. Hagiografia de cemitério: História Social e Imaginário religioso nas canonizações populares em Manaus. Revista Eletrônica os Urbanitas, São Paulo, v. 5, 2008, p. 13-14.
(2) SALGADO, David. A verdadeira história de Ribi Muyal, em Manaus. Portal Amazônia Judaica. Disponível em: http://www.amazoniajudaica.org/167563/A-Verdadeira-Hist%C3%B3ria-de-Ribi-Muyal-em-Manaus. Acesso em 25/07/19.
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