domingo, 29 de setembro de 2019

Atividade sobre a Mineração na América Portuguesa (8° ano do Ensino Fundamental)

Processo de extração e lavagem de ouro no Rio das Velhas. Gravura do século XVIII, de autor desconhecido. In: MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de. A Travessia da Calunga Grande - Três Séculos de Imagens sobre o Negro no Brasil (1637-1899). São Paulo: Edusp, 2000.

Essa atividade foi desenvolvida na disciplina Prática Integrada VII, do curso de História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), ministrada pelo Professor Me. Felipe Cabral Cavalcante. Sob sua orientação ficamos encarregados de produzir uma atividade de Ensino Fundamental sobre a mineração na América Portuguesa tendo como limitador o livro Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Júnior, de forma a realizar a transposição didática de uma obra acadêmica para o ensino básico. A minha, abaixo reproduzida, versa sobre a Intendência de Minas, órgão administrativo que geria todos os assuntos referentes à mineração. Seu público alvo é o do 8° ano do Ensino Fundamental:


LEITURA COMPLEMENTAR

Leia o texto abaixo e, em seguida, responda as questões:


A Intendência de Minas

“Para executar o Regimento, cobrar o quinto, superintender1 todo o serviço da mineração e resolver os pleitos2 entre os mineradores, bem como destes com terceiros, em questões atinentes à mineração, criou-se um organismo administrativo especial: a Intendência de Minas. Em cada capitania em que houve extração de ouro, organizou-se uma Intendência que nas suas atribuições independia completamente das demais autoridades coloniais: só prestava contas e obediência ao governo da metrópole. Compunha-se a Intendência de um superintendente3, conhecido vulgarmente como intendente, a quem cabia a direção geral do serviço, e de um guarda-mor4, que é quem fazia a repartição das datas5 e fiscalizava, nas minas, a observância do regimento. O guarda-mor podia-se fazer substituir em lugares “afastados” […] por guarda-menores que ele próprio nomeava. Seguiam-se naturalmente escrivão e outros oficiais auxiliares.

Subordinava-se à Intendência a Casa de Fundição, onde se recolhia obrigatoriamente todo ouro extraído, e onde, depois de fundido, ensaiado, quintado (isto é, deduzido do quinto da coroa), e reduzido a barras cunhadas, era devolvido ao portador acompanhado de um certificado de origem que provava o cumprimento das formalidades legais e com que deviam circular as barras. Só então podia o ouro correr livremente e ser expedido para fora da capitania”.

PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: colônia. 23° Ed. São Paulo: Brasiliense, 1997, p. 175-176.



QUESTÕES

1. Liste os funcionários que formavam a Intendência de Minas e descreva suas funções.

2. Qual a relação entre a Intendência de Minas e a Casa de Fundição?


GLOSSÁRIO DE APOIO:

1 SUPERINTENDER: O mesmo que dirigir.
2 PLEITO: O mesmo que discussão.
3 SUPERINTENDENTE: O mesmo que chefe, supervisor.
4 GUARDA-MOR: Oficial que atuava como “policial”.
5 DATAS: Terrenos para mineração divididos em lotes.


A atividade consiste em duas questões dissertativas sobre um trecho da obra de Caio Prado Júnior. Para auxiliar os discentes, produziu-se um pequeno glossário de termos (destacados em negrito) que possam oferecer alguma dificuldade em sua realização. Sugere-se que seja realizada após, no mínimo, duas aulas sobre a mineração no período colonial, para que os alunos tenham algumas noções sobre o tema a que se refere o trabalho. Dessa forma, utilizando o trecho de uma obra acadêmica, transformada em uma atividade simples, com apoio do professor, os alunos do Ensino Fundamental já podem ir familiarizando-se com leituras mais complexas.



CRÉDITO DA IMAGEM:

http://multirio.rio.rj.gov.br

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Nos tempos da Rua do Imperador

Rua Marechal Deodoro, antiga Rua do Imperador. Cartão postal de 1918. FONTE: Manaus Sorriso.

A rua Marechal Deodoro, no Centro de Manaus, é famosa pelo movimentado comércio, sendo popularmente conhecida como rua do Bate Palma, em referência à forma como os vendedores divulgam seus produtos. Há mais de 150 anos, quando Manaus era capital da Província do Amazonas, seu nome era outro: Rua do Imperador, em homenagem ao Imperador Dom Pedro II (1825-1891). No presente texto, por ocasião da comemoração da Elevação do Amazonas à categoria de Província (a instalação ocorreu apenas em 01/01/1852), recupero a história dessa que foi uma das principais ruas da cidade naquele período.

A então rua do Imperador tinha início na Rua da Boa Vista (Marquês de Santa Cruz), estendendo-se até a Rua Brasileira (Avenida Sete de Setembro). Até 1870 ela tinha um aspecto acanhado, principalmente pela ausência de calçamento. Em 1868 a Câmara Municipal abriu a concorrência para o serviço de calçamento da Rua do Imperador, do canto da Praça Riachuelo até a Rua da Boa Vista:

"A camara municipal desta cidade, faz publico que tem de mandar calçar a rua do Imperador a começar do canto da praça de Riachuelo até encontrar a rua da Boa-Vista, pelo mesmo systema empregado no calçamento da rua Brasileira [...]

As pessoas que se quezerem propor a taes obras, deverão remetter suas propostas em carta feixada á secretaria da camara até o dia 16 de setembro, quanto ao calçamento da rua do Imperador". (AMAZONAS, 06/09/1868).

Concorreu, inicialmente, a firma Mesquita & Irmãos. Em 1869, em 08 de março, foi aberta uma nova concorrência, saindo vencedora a proposta de José Pereira de Sousa & Cia. O calçamento, com pedras botija, foi concluído apenas em 1870. 

Na Rua do Imperador ficavam os principais estabelecimentos comerciais da cidade, as grandes oficinas tipográficas e as repartições públicas. Os anúncios comerciais publicados em jornais entre as décadas de 1860 e 1880 são bastante reveladores da importância dessa via pública. Pode-se dizer, sem exageros, que a rua do Imperador foi uma congênere regional da Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, centro da agitada Corte Imperial.

Os principais estabelecimentos comerciais dessa rua na época (1860-1889) eram os de Mesquita & Irmãos, de produtos variados (tecidos, ferragens, chapéus, aluguel de escravos etc); o Centro Comercial Amazonense, de José Teixeira de Souza Cia, de produtos variados (tecidos, ferragens, armas etc); a loja de fazendas e miudezas de Salomão Brun & Cia; o Bazar de Paris; o Empório Europeu; a loja de Moura Ferro & Cia; a Loja Esperança, de Bernardo Truão; o armazém de Leão Israel & Irmão; a oficina de alfaiate Tesoura Fluminense, de Antonio Cantizano; a oficina de barbeiro de Severo Caracciolo; a Tabacaria Amazonense, de Luitgard & Cia; o Café Chic, de Isidoro José da Silva; a botica de J. B. Rodrigues; a Farmácia e Drogaria Central, de J. F. Pedrosa; a Olaria Nazareth das Lages, de Machado e Silva & Cia; o Hotel Amazonas, de Demetrio Antonio Peixoto; o Hotel das Nações, de Oliveira & Mattos; o Hotel do Comércio; a tipografia do Jornal do Amazonas; do jornal A Voz do Amazonas; de Antônio Fernandes Bugalho; a oficina de sapateiro e posteriormente loja de calçados nacionais e estrangeiros de Francisco Euzebio de Souza; de repartições públicas, o Correio Geral; o Palácio do Governo (depois Tesouraria e Alfândega); a Chefatura de Polícia; e o Vice-Consulado Português; e educacionais, o Colégio Santa Rita.

A Rua do Imperador era bastante valorizada, sendo encontrados diversos anúncios de vendas de casas e terrenos para abrigar famílias ou receber empreendimentos. A Rua do Imperador reunia em sua extensão o melhor que podia ser encontrado na Província do Amazonas em comércio e serviços, de brasileiros e estrangeiros.

Com o golpe militar que proclamou a República em 15 de novembro de 1889, a mudança de nome era mais do que certa. Entre 1890, conforme pesquisa do historiador Mário Ypiranga Monteiro, uma nova nomenclatura foi proposta pelo intendente Pedro Guilherme Alves da Silva em 11 de novembro, referendada pelo superintendente José Carlos da Silva Teles na mesma data (MONTEIRO, 1998, p. 204). Ela foi renomeada como Rua Marechal Deodoro, em homenagem ao Marechal Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892), figura central dos movimentos republicanos e primeiro Presidente da República. No entanto, o nome Rua do Imperador, pelo menos em alguns periódicos, perdurou até 1894, o mesmo podendo ter ocorrido com a população, a ela referindo-se por um bom tempo com o antigo nome.

Seguem abaixo alguns anúncios comerciais de estabelecimentos que ficavam na antiga Rua do Imperador:


Para curar as sezões, febres intermitentes ou periódicas, as pessoas poderiam encontrar as pílulas ante-periódicas do Dr. Lemos na botica de J. B. Rodrigues, na Rua do Imperador. FONTE: O Catequista, 1869.

Julio Antonio Pereira dos Santos & Irmão anunciavam no jornal Amazonas ter para vender um terreno na Rua do Imperador, com fundos para o igarapé. FONTE: Amazonas, 1872.

Em 1875 o dentista norte-americano João Dix Weatherly veio do Pará oferecer seus serviços em Manaus, estabelecendo-se na Rua do Imperador por um mês. FONTE: Jornal do Amazonas, 1875.

O Bazar de Paris, loja de roupas e tecidos estabelecida na Rua do Imperador, frequentemente realizava liquidações a preços módicos. FONTE: Jornal do Amazonas, 1877.

Uma das grandes novidades do período provincial, em Manaus, foi a inauguração, em 16 de dezembro, do Restaurante Dois Amigos, de Ferreira & Guimarães, na Rua do Imperador. Além de servir o que havia de melhor na culinária, fazia entregas a domicílio. FONTE: Jornal do Amazonas, 1882.


FONTES:

Amazonas, 06/09/1868.
O Catequista, 1869.
Amazonas, 1872.
Jornal do Amazonas, 1875.
Jornal do Amazonas, 1877.
Jornal do Amazonas, 1882.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

MONTEIRO, Mário Ypiranga. Roteiro Histórico de Manaus. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1998. (Acervo de Eros Augusto Pereira da Silva).

domingo, 1 de setembro de 2019

Cemitério São João Batista: Túmulo de Lourença do Rego Barros

FOTO: Fábio Augusto, 2019.

O túmulo de Lourença do Rego Barros está localizado na quadra 04 do Cemitério São João Batista, fazendo parte do conjunto de monumentos funerários que pertenciam ao antigo Cemitério de São José, desativado em 1891.

Não se tem muitas informações sobre Lourença do Rego Barros e sua família. Seu túmulo é uma obra clássica, tendo apenas o epitáfio e data de falecimento da homenageada:

"Aqui jazem os restos mortaes de Lourença do Rego Barros fallecida a 8 de maio de 1887. Recordação saudosa de seus filhos nettos".

Seu túmulo tem dimensões monumentais, sendo construído inteiramente com mármore de Lioz. De estilo Neoclássico, ele consiste em um conjunto de figuras: uma pranteadora sobre uma urna coberta com um manto e encimada por uma coruja. Esse conjunto está ladeado por duas colunas dóricas que sustentam o frontão triangular com a imagem de um medalhão com uma cruz envolto por galhos com folhas. No acrotério central possivelmente existia uma cruz.

FOTO: Fábio Augusto, 2019.

Sobre as pranteadoras, diz a historiadora Luiza Fabiana Neitzke de Carvalho, em estudo sobre suas representações no Cemitério Evangélico de Porto Alegre entre 1890 e 1930, que elas são:

"[...] figuras femininas, representadas segundo as diretrizes formais clássicas. Aparecem com ou sem signos cristãos, portanto podem se encaixar como signo proveniente da antiguidade clássica ou ainda amalgamado, quando são representadas com cruzes ou flores do repertório cristão. As pranteadoras algumas vezes são caracterizadas remetendo a figura da Virgem Maria ou seguindo o padrão do anjo cristão, de túnica longa e de expressão pouco sentimental". (CARVALHO, 2009, p. 103).

A urna sobre a qual está chorando e refletindo simboliza o fim daquela vida. A coruja, ave noturna, é desde a Antiguidade, no contexto mortuário, associada à solidão e a tristeza. No entanto, dependendo do homenageado, de sua ocupação em vida, a coruja também significa inteligência e sabedoria.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CARVALHO, Luiza Fabiana Neitzke. A Antiguidade Clássica na Representação do Feminino: Pranteadoras do Cemitério Evangélico de Porto Alegre (1890-1930). Dissertação (Mestrado em História, Teoria e Crítica da Arte). Instituto de Artes - Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2009.