Vamos aprender a raciocinar historicamente, visitem o História Inteligente. Pretende-se incentivar as pessoas à leitura, à escrita e aos estudos das Humanidades, destacando aqui a importância da História, que não é simples “memorização” ou conjunto de datas e fatos, mas antes uma ciência na qual se busca compreender os processos humanos, processos esses que por serem humanos são desiguais, no tempo, repercutindo em mudanças na estrutura de nossa sociedade.
sábado, 25 de setembro de 2021
Cemitério de São João Batista: Jazigo da Família Salem José
sexta-feira, 17 de setembro de 2021
Projeto ACA
Os membros do LABUHTA (Laboratório de Estudos sobre História Política e do Trabalho), laboratório do curso de História da Universidade Federal do Amazonas, estão desenvolvendo um importante projeto de digitalização dos documentos da ACA (Associação Comercial do Amazonas), uma das mais antigas instituições do Amazonas, criada em 1871. Essa iniciativa é digna de todo reconhecimento da sociedade, pois visa a preservação de um valioso acervo para a reconstituição da História do nosso Estado. Os pesquisadores, para angariar fundos para a compra de equipamentos, estão realizando uma rifa que tem como prêmio 12 livros de História. Ela custa 3,00 reais.
A rifa pode ser comprada pelo Pix 012.972.592-70 e entrando em contato através dos números 98241-5531 e 98439-6859.
domingo, 12 de setembro de 2021
Caram Abrahim & Cia, em Manaus
Caram, Abrahim & Cia é um dos estabelecimentos comerciais mais tradicionais da cidade de Manaus, localizado na rua Barão de São Domingos, n° 60, no Centro. Propriedade da família Caram Abrahim, de origem sírio-libanesa, foi fundada pelo empresário Caram Abrahim, antigo sócio da firma Abrahim, Irmão & Cia. Caram saiu dessa empresa em 03 de março de 1939, conforme registrado em anúncio publicado no Jornal do Commercio:
"Communico ao commercio e ás repartições publicas, que tendo me retirado da firma commercial Abrahim, Irmão & Cia, da qual era sócio, estabeleci-me na rua Barão de São Domingos, n. 60, com o commercio de estivas, sob a firma de Caram Abrahim & Cia, da qual faz parte como socia solidaria a sra. d. Helena Abrahim, conforme contracto archivado na Junta Commercial. Manáos, 3 de março de 1939. Caram Abrahim" (Jornal do Commercio, 04/03/1939, p. 02).
A sócia, Helena Abrahim, era esposa de Caram Abrahim. Especializada, atualmente, em ferramentas e utilidades, iniciou suas atividades em 1939 como armazém de estivas, ferramentas e miudezas, também comprando e exportando produtos como borracha, cacau e castanha.
quinta-feira, 9 de setembro de 2021
Kikão, um sanduíche que tem História
No dia 09 de setembro é comemorado o dia internacional do cachorro-quente. Nós amazonenses temos nossa própria variação desse lanche: o kikão, que possui uma interessante História, como veremos a seguir...
O Kikão é talvez o sanduíche mais famoso de Manaus, possuindo diferentes variações na cidade, atendendo a todos os gostos e bolsos. Pode ser o kikão de festa, com salsichas cortadas para render; o kikão com o pão chapado, vendido a 4 unidades por 10 reais; ou o kikão mais refinado, dito gourmet, com salsichas artesanais.
O
tradicional possui receita simples. Não tem mistério. Molho de
tomate, creme de leite, verduras (cebola, milho, ervilha e repolho),
ketchup, maionese, queijo ralado e batata palha. O pão é o massa
fina, mas não tem problema se usar o massa grossa, pois fica bom do
mesmo jeito. Qual a origem dessa iguaria? O Kikão é uma iguaria de
quase 50 anos de idade. Em julho de 1974 o casal de gaúchos Alceu
Thomaz Pereira e Cândida Dorneles inauguraram, na Praça da Polícia,
em frente ao Colégio Amazonense Dom Pedro II, o "carro-bar
Kikão", onde vendiam o lanche que trouxeram do Sul do país. O
colunista social Nogar, do Jornal do Commercio, assim descreveu a
inauguração do empreendimento:
"Meu
amigo Alceu Thomaz Pereira inaugurou em frente ao Colégio Estadual
do Amazonas o luxuoso carro-bar Kikão, que serve refrigerantes
super-gelados, sanduíches, empadas e o delicioso Ki-kão, além de
outras guloseimas, primando pela higiene e limpeza. Tratamento
fidalgo!" (NOGAR, Convivência Social. Jornal do Commercio,
06/07/1974, p. 10).
E o nome Kikão? Qual sua origem? A filha do Sr. Alceu, Dr. Marcia Gabrielle Pereira, explica que quando ele abriu o primeiro lanche, na Praça da Polícia, tinha em mente dar um nome que representasse a expressão "que cão", em referência à salsicha do lanche (semelhante em comprimento ao cachorro da raça dachshund, o popular cachorro salsicha). A expressão Que Cão não seria chamativa. Dessa forma, decidiu escrever Kikão, com dois 'k', propositalmente.
Posteriormente
o Sr. Alceu, em companhia de sua nova esposa, dona Maria Júlia
Lucena, mudou-se para o Largo de São Sebastião, na esquina da rua
José Clemente com a Costa Azevedo, em frente à escola de inglês
Yazigi, aí ficando até o início da década de 1990. Não demorou
para que, em pouco tempo, começassem a surgir, em diferentes pontos
da cidade, carrinhos e trailers especializados na venda desse lanche,
utilizando o nome criado pelo casal de empresários gaúchos.
Deve-se
destacar que o "cachorro-quente" já era vendido em Manaus
pelo menos desde a década de 1960, mas diferente do norte-americano,
era preparado com pão massa grossa e carne moída temperada. A
novidade trazida pelo casal gaúcho, além do nome Kikão, foi a
salsicha no lugar da carne moída e os outros acompanhamentos, que
até hoje se fazem presentes.
Alceu Thomaz Pereira faleceu em 04 de fevereiro de 2021, aos 71 anos. Deixou uma legião de fãs apaixonados por sua deliciosa e marcante criação.
terça-feira, 7 de setembro de 2021
Play Center, em Manaus
Antes do surgimento do primeiro shopping da cidade, o Cecomiz (Centro Comercial da Indústria da Zona Franca), Manaus teve, entre 1981 e 1986, um moderno espaço de lazer: o Play Center. Ele foi uma casa de diversões que ficava localizada entre as ruas Ramos Ferreira e Tapajós, no Centro. Primeira do gênero na região Norte, foi inaugurada em 26 de agosto de 1981 pelo casal de empresários Francisco e Lola Boscá.
Contava com uma pista de patinação, sorveteria, lanchonete, fliperama, restaurante e adega. Fez bastante sucesso, atraindo jovens e adultos, contando sempre com a presença dos alunos do Instituto Benjamin Constant, do Instituto de Educação do Amazonas (IEA) e da Escola Estadual Antenor Sarmento. Encerrou suas atividades em 1986 após ser destruído por um incêndio em 18 de novembro daquele ano.
segunda-feira, 6 de setembro de 2021
Bar Avenida, em Manaus
sábado, 4 de setembro de 2021
A antiga Casa da Câmara Municipal e a Instalação da Província do Amazonas
A Elevação do Amazonas à Categoria de Província é a data maior da História do Estado do Amazonas. Apesar desse destaque, a capital, Manaus, possui poucos elementos que remetem a esse fato. Um deles poderia ter chegado até os dias de hoje se tivesse sido preservado no passado: a Casa da Câmara Municipal, prédio onde a Província foi Instalada em 01 de Janeiro de 1852.
A Comarca do Alto Amazonas, como se sabe, foi elevada à categoria de Província em 05 de Setembro de 1850 por força da Lei N° 582 de 05 de Setembro daquele ano, desmembrando-se da Província do Grão-Pará. A Instalação ocorreu somente em 01 de Janeiro de 1852. Ela teve lugar em um sobrado localizado entre a ruas Oriental (posteriormente Rua da Instalação), Frei José dos Inocentes e Henrique Antony - na então cidade de Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro (Manaus) - que funcionava como a Casa da Câmara Municipal. Estiveram presentes autoridades civis, militares e eclesiásticas, bem como grande número de populares. A população da cidade era estimada em pouco mais de 4.000 habitantes.
O prédio pertencia ao Vereador e comerciante Alexandrino Magno Taveira Pau-Brazil (1797-1862), proprietário de alguns dos melhores estabelecimentos da cidade. As poucas fotos antigas que existem nos permitem visualizar uma construção de estilo simples, com dois andares, poucas janelas e portas. O historiador Mário Ypiranga Monteiro (1909-2004), descendente de Alexandrino Magno Taveira Pau-Brazil, afirma que ele era de "[..] de taipa socada em pilão arcado" (MONTEIRO, 1998, p. 351).
Com o passar dos anos, a antiga Casa da Câmara, cujas paredes estavam revestidas de glórias de um passado de lutas por emancipação, ganhou outros usos. Instalou-se no local, em 1902, o Café Suisso, de Chaves & Cia, café e botequim de primeira classe onde eram servidas bebidas e refeições. O Café Suisso foi um empreendimento longevo, chegando até meados da década de 1940-50. À essa altura o prédio já estava em ruínas, necessitando de reparos urgentes. Posteriormente funcionaram uma tabacaria e uma barbearia. O último estabelecimento a funcionar no recinto foi o escritório de representações J. A. Castro, entre 1947 e 1960 (PERET, 1982).
Em 1950, durante o primeiro centenário da Elevação do Amazonas à Categoria de Província, a antiga Casa da Câmara foi parcialmente recuperada e recebeu uma placa comemorativa de mármore com os seguintes dizeres: "1850-1950. Nesta casa, a 1° de Janeiro de 1852 foi instalada a Província do Amazonas (Lei 582 de 5-9-1850), sendo seu primeiro Presidente João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha. Governador atual - Júlio F. de Carvalho Filho. Em 5 - IX - 950" (DINIZ, 1960).
A recuperação parcial feita em 1950 não foi o bastante. As marcas do tempo estavam bastante visíveis. Parte da estrutura, feita com pau a pique, estava à mostra. O restante estava ruindo. A sociedade e a imprensa, vendo o estado em que o prédio se encontrava, correndo risco de desabar a qualquer momento, protestou e apelou ao poder público para que este intervisse, recuperando e dando ao prédio uma finalidade digna da sua importância histórica. De acordo com o jornalista Almir Diniz de Carvalho (1929-2021), autor da premiada reportagem Relíquias sem teto, publicada em 02 de maio de 1960 no Diário da Tarde,
"De nada adiantaram nossos gritos de alerta. Pedimos, imploramos que o Govêrno adquirisse o imóvel e o remodelasse, guardando com zêlo e carinho suas linhas gerais, para servir de sede ao nosso Museu Histórico, sendo êle próprio a peça mais preciosa, rara e querida do projetado templo de relíquias. Tudo em vão. Ninguém quis atender nossos apêlos, e todos fecharam os ouvidos ao nosso pedido forrado de altruística justificação" (DINIZ, 1960).
Os apelos, os protestos, como registrou Diniz, não surtiram efeito. O novo Governo que se anunciava dinâmico, renovador, o de Gilberto Mestrinho, não deu atenção a esse templo da memória amazonense. Com a justificativa de que o prédio oferecia perigo aos transeuntes, dado o seu estado, a Prefeitura realizou a sua demolição ainda em maio de 1960. No terreno vazio passou a funcionar uma movimentada feira de frutas. Encerrada a feira, em 1982, na administração municipal de João Mendonça Furtado, foi construída uma réplica da fachada da antiga Casa da Câmara Municipal. A réplica, infelizmente, tornou-se um estacionamento mal organizado, também sofrendo com o desgaste causado pelo uso do local como banheiro público e o crescimento da vegetação.
Assim ficou, mais uma vez, o Amazonas, destituído de seus monumentos. Nesse caso, destituído do seu principal, símbolo de sua independência política, dos anseios políticos e populares por novos tempos. Continuamos esperando por novos tempos, tempos em que o que é nosso, nosso patrimônio, seja cada vez mais valorizado e protegido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DINIZ, Almir. Relíquias sem teto. Diário da Tarde, 02/05/1960.
MONTEIRO, Mário Ypiranga. Roteiro Histórico de Manaus. 2 vol. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1998.
PERET, J. Américo. Crime contra a História do Amazonas. A Crítica, 04/07/1982.
sexta-feira, 3 de setembro de 2021
Jornalismo Literário: Recordando Beruri
A 23 horas de Manaus, 10 horas acima de Manacapuru, 3 horas subindo o rio Purus. Em lancha em marcha regular. Esse é o percurso para se atingir um lugarejo de altas barrancas, duas dezenas de casas e quatro ruas.
Às vezes, em alguns mapas geográficos se encontra marcado, na margem direita do abundante rio Purus, cujo entrelaçamento e comunicação se faz com afluentes como o Rio Iaco e o Rio Acre ao desaguar no Brasil, na margem direita do Purus, na cidade de Boca do Acre. Cerca de mil habitantes moram na cidade, vivendo do plantio e colheita da castanha, da pesca artesanal e da indústria manual. O delegado e a professora são os símbolos do saber acadêmico naquela região.
O comércio de venda e revenda dos produtos alimentícios é um dos mais promissores. Alguns comerciantes prosperaram naquele local. Na década de 30 havia uma serraria de beneficiamento de madeiras e uma usina de extração de óleo de pau rosa fundada por Álvaro Fachina da Silva, Dalila Batalha sua esposa e Izaura Batalha sua sogra.
Existe uma possibilidade que seja encontrado petróleo no seu solo. Uma equipe da Petrobras está trabalhando. O povo tem esperanças de que se encontre o ouro negro, movido das mesmas esperanças do povo de Nova Olinda, houve grandes expectativas noticiadas nos jornais da capital, porém, o ouro negro desapareceu misteriosamente. Beruri talvez tenha maior sorte. Talvez jorre petróleo do seu solo, talvez seja manchete nos jornais. Talvez os mandatários da nação criem coragem e resolvam de uma vez por todas as calamidades de Beruri, de Manaus, do Amazonas, do Brasil.
A terra onde nasci, onde dei os primeiros passos, onde estive nos primeiros nove anos de vida. Local de natureza exuberante e agradável. Existem os problemas como em qualquer outra pequena cidade do mundo, mas, as pestes das plantações, os ladrões do colarinho branco, os estelionatários, a juventude transviada – inspirada no filme lançado em 1955, “Rebel without a cause”, com James Dean – com moto (ou lambreta), casaco de couro, comportamento rebelde, prisão etc., os costumes norte-americanos e nem tampouco se assiste filmes de faroeste. Beruri é livre de tudo isso.
Pequenino lugar encravado no barro vermelho do Purus. Beruri está longe do barulho da cidade grande, das noites intermináveis, da very kar society. Livre dos jipes atropeladores, esses monstros de rodas que matam, que atrofiam os pedestres. Livre da vaidade, da descompostura e do fingimento. É esquecida pelos forasteiros, mas sempre é lembrada pelos seus filhos.
Lugar abençoado, como é abençoado tudo aquilo que é sincero. Não parece diferente de muitos outros lugares espalhados por este imenso Amazonas, perdidos também em muitas barrancas vermelhas. Beruri lembra a cidade do dramaturgo grego Aristófanes, nascido em Atenas, considerado o maior representante da comédia antiga “escravo marcado com ferro em brasa”. Os seus filhos nunca te esqueceram, recordam os momentos vividos em seu chão. O campo de futebol, as peladas de todas as tardes. A igreja com o enorme cruzeiro na frente. A velha Mãe Joana que ainda pega os meninos da redondeza. Os amigos Mário Andrade, Chico Miranda e outros. Beruri tem fama no coração dos seus filhos que a amam.
A Princesinha do Purus jamais sofreu com o desabastecimento de água, nem tampouco de energia elétrica. O imenso Rio Purus, caudaloso, manso nos dias calmos, terrível e furioso ao sopro do menor vento, qual manancial diluviano, mata a sede dos seus filhos e lava o corpo dos seus descendentes. O pequenino conjugado elétrico, impotente para qualquer outra função, ilumina suas ruas nas noites escuras, assegurando o caminhar seguro daqueles que percorrem suas ruas. Os berurienses jamais foram às boates com seus salões banhados a meia luz, desconhecem as rodas literárias e as crônicas sociais.
Os berurienses talvez não entendam o britanismo e o americanismo da chamada High Society. Talvez a própria High Society nunca entendeu tudo isso, apenas repete os termos da língua inglesa pela moda, pela vaidade, pelo alardeio de grandeza, pela ostentação fantasiosa, pelo atrofiamento dos sentimentos, pela pequenez do espírito.
Tu estás livre de tudo isso
Minha querida Beruri,
Estás livre, limpa, sem mancha alguma,
Em reconhecimento a ti, digo assim:
Ó minha mimosa terra
Eu te tenho muito amor
Eu vivi feliz
Sem sentir amarga dor.
Amo teu povo hospitaleiro,
Lá destas terras benditas,
Amo o prado, o chão e o céu
De tuas belezas infinitas.
Ó minha mimosa terra
Eu te tenho muito amor,
Eu aí vivi feliz
Sem sentir nenhuma dor.
(Guilherme Aluízio de Oliveira Silva. Jornalista filiado à Fenaj com registro profissional no 136. Recordando Beruri. Publicado originalmente no jornal A Gazeta, Manaus, 1955).
(Edição de texto por Elcias Moreira, 2 de setembro de 2021).