Palácios,
palacetes e castelos são construções que fascinam pela imponência,
monumentalidade e estética dos estilos arquitetônicos nelas
utilizados. Réplicas ou tentativas de réplicas de palácios e
castelos existentes na Europa foram construídas em várias partes do
mundo. Em Manaus não foi diferente. Seus pequenos palácios,
castelos e palacetes, erguidos um pouco antes e durante o auge da
economia gomífera, ainda figuram de pé entre nosso patrimônio
histórico, embora muitos tenham sido criminosamente demolidos, como
foi o caso do Palacete Miranda Corrêa (1969). No presente texto,
comemorativo ao mês de aniversário da cidade, apresento essas
construções manauaras, suas histórias e estilos arquitetônicos.
Palacete da Família Nery. Foto: César Pinheiro
Fincado
entre a Avenida Joaquim Nabuco e a rua dos Andradas, no Centro, está
o antigo Palacete da Família Nery, construído em 1899 a
mando de Silvério José Nery (1858-1934), então Deputado Federal e
futuro Governador do Estado do Amazonas no período de 1900 a 1904.
Sobre seu estilo arquitetônico, escreveu o memorialista Luiz de
Miranda Corrêa que o prédio “nos parece suave e imponente em
seu neoclássico tranquilo, com frontão triangular decorado um tanto
à maneira shereaton”,
e que “sem dúvida, é a mansão manauense mais
castiçamente neoclássica, com janelas e portas
francesas, seu pátio com varandas, seus gradis forjados ao gosto de
Paris da época” (CORRÊA, 1969, p. 41). Foi projetado pelo
arquiteto e engenheiro italiano Filinto Santoro (1878-1927), com
experiência em construções no Rio de Janeiro e no Espírito Santo.
Nele foi hospedado, em 1906, o Presidente Afonso Pena, que veio a
Manaus para o lançamento da pedra fundamental da Alfândega.
Depois
de mais de quatro décadas servindo de residência da família Nery,
o palacete abrigou, posteriormente, diferentes repartições
públicas: “Fomento Agrícola Federal, a Delegacia do Ministério
da Agricultura e, provisoriamente, a Câmara Municipal de Manaus”
(INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DO AMAZONAS, 1985, p. 53). Entre
as décadas de 1980 e 2000 abrigou o Hotel Bela-Vista, sendo essa a
última utilização plena do espaço, entregue ao abandono até 2015
como estacionamento. O palacete começou a ser restaurado em 2015,
abrigando atualmente um salão de festas.
Palacete Mello Rezende. Foto: Terra Nova/Manaus Sorriso.
Não
muito distante do Palacete Nery, o Palacete Mello Rezende, na
rua Coronel Sérgio Pessoa, na Praça dos Remédios, é um raro
exemplo de construção da qual existe registro de seu embrião
estrutural. Uma fotografia de 1893 da Praça dos Remédios mostra a
construção com apenas um piso, com as janelas ogivais,
características das arquiteturas Gótica e Árabe. O segundo andar
possivelmente foi construído depois de 1900, tendo sido acrescidos
gradis de ferro em estilo Art Nouveau. Seu interior é ricamente
decorado com pinturas alegóricas à mitologia greco-romana feitas no
forro. Como o próprio nome indica, foi residência da família do
advogado Simplício Coelho de Mello Rezende (1873-1932).
A segunda casa depois da árvore, em direção ao Rio Negro. 1893. FOTO: George Huebner/Brasiliana Fotográfica/Instituto Moreira Salles.
Ele
foi uma das várias construções atingidas durante o famoso
Bombardeio de Manaus, ocorrido em 08 de outubro de 1910. Nele foram
hospedados, em 1927, Dom Pedro de Orleans e Bragança (1875-1940), a
Pricensa Elisabeth Dobrzensky de Dobrzenicz (1875-1951) e a Princesa
Isabel de Orleans e Bragança (1911-2003), durante visita realizada
em Manaus, último destino da rota de excursões da Família Imperial
Brasileira pelo Norte do país.
Palacete Mourisco. FOTO: Hyago Sena.
O
Palacete Mourisco, entre as ruas Simon Bolívar e Ferreira
Pena, na Praça da Saudade, é um raro exemplar de arquitetura com
influência árabe em Manaus, influência essa vista em suas janelas
e acrotérios ogivais. Datado de 1908, foi residência de Carlos de
Figueiredo, Presidente e sócio majoritário do Banco Amazonense,
popularmente conhecido como Banco do Tostão.
Nele também residiu o
dramaturgo paraense Benjamin Lima (1885-1948).Em
suas dependências foi
instalado, em 1944, no governo de Álvaro Botelho Maia (1893-1969), o
Departamento de Educação e Cultura. Antes, na década de 1930, foi o Juizado Federal. Décadas
mais tarde também abrigou a Reitoria da Universidade do Amazonas. O
historiador e artista plástico Otoni Moreira
Mesquita informa que nele
também funcionou a “Secretaria de Segurança Pública”
(MESQUITA, 2006, p. 269).
Há
mais de 20 anos foi cedido ao Tribunal de Justiça do Amazonas, que
nele instalou a ESMAM (Escola Superior de Magistratura do Amazonas),
construindo, nos anos 2000,
um anexo no mesmo estilo da construção original, para melhor
abrigar os alunos da escola de Magistratura.
O TJAM devolveu o prédio à Secretaria de Estado de Cultura do
Amazonas (SEC-AM) em 2015. Passados
3 anos, sem funcionalidade desde então, já começa a dar fortes
sinais de desgaste.
Palacete Afonso de Carvalho. FOTO: José Martins Rocha.
No mesmo logradouro, Praça da Saudade, entre as ruas Ramos Ferreira e Ferreira Pena, fica o Palacete Afonso de Carvalho, construído entre 1907 e 1908 para ser residência do Coronel da Guarda Nacional Raimundo Afonso de Carvalho, que assumiu o Governo do Estado quando da renúncia de Constantino Nery em 1907. Nele foi instalado, em 1922, a Casa Doutor Fajardo, hospital infantil. O nome é uma homenagem ao médico fluminense Francisco de Paula Fajardo Júnior (1864-1906). Posteriormente funcionou como Faculdade de Engenharia da antiga Universidade do Amazonas, Junta de Alistamento Militar e escritório.
Palacete Guabiraba. FOTO: Google Maps.
Escondido e esquecido na rua Leonardo Malcher, poucos notam o Palacete Guabiraba, antiga propriedade de Pedro Guabiraba, Promotor Público e Chefe de Polícia. Foi por muitas décadas sede da Imprensa Oficial. Seu estilo arquitetônico é o neogótico, evidenciado pelas pontas de lança na crista do telhado.
Palacete Provincial. FOTO: Gisele Rocha/Viajei Bonito.
Na
Praça Heliodoro Balbi, popularmente conhecida como da Polícia, o
Palacete Provincial
domina a paisagem. Originalmente
Palacete Garcia,
propriedade do Capitão da Guarda Nacional Custódio Pires Garcia,
foi adquirido pela Província por volta de 1867-68 para abrigar
repartições públicas, tendo sido concluído em 1874. Abrigou, de
acordo com o historiador Roberto Mendonça, “o Liceu, a
Biblioteca Pública, a Assembleia Provincial e a Repartição de
Obras Públicas. A mais destacada, pelo longo tempo de ocupação,
capaz de cunhar-lhe novo epíteto, foi a Polícia Militar”
(MENDONÇA, 2000, n. p.).
O prédio passou por reformas em 1880, 1884 e em 1898-1900, esta
última lhe dando as características atuais.
Palacete Garcia. Gravura de 1870. FONTE: Acervo de Roberto Mendonça.
O
palacete, então Quartel da Polícia Militar do Amazonas, recebeu
reparos na primeira administração estadual de Gilberto Mestrinho
(1959-1963) e, décadas mais tarde, em 1972, no governo de João
Walter de Andrade (1971-1975). No governo de Henoch da Silva Reis
(1975-1979), diz Roberto Mendonça, quando do desabamento de parte do
reboco frontal do prédio, tentou-se demoli-lo.
No entanto, “a divulgação do edito governamental […]
incitou manifestações da comunidade, tanto dos organismos técnicos,
quanto dos próprios manauenses habituados com o
quartel da Praça da Polícia”
(MENDONÇA, 2000, n. p.).
O prédio passou a ser
protegido no governo de José Bernardino Lindoso (1979-1982), quando
foi integrado parte do Conjunto Arquitetônico Ambiental da Praça
Heliodoro Balbi pela Comissão Permanente de Defesa do Patrimônio
Histórico e Artístico, decisão homologada
pelo Decreto N° 4.817 de 06/12/1980. Novas reformas foram feitas
entre 1985 e 1993. Nos anos 2000 o Quartel da Polícia Militar estava
em péssimas condições, com janelas e portas quebradas,
infiltrações e o risco constante de desabamento. Em
2007 foi fechado para restauro, sendo entregue em 2009, junto a Praça
da Polícia, como Centro Cultural Palacete Provincial, abrigando 5
museus.
Palacete Bretislau de Castro. FOTO: SEC/O El Dorado é aqui.
O
Palacete
Bretislau de Castro está
localizado na rua José Clemente, nas proximidades do Palácio da
Justiça e atrás da Santa Casa de Misericórdia.
Construído em meados de 1900, foi residência da família do engenheiro baiano
Bretislau Manoel de Castro Júnior (1872-1941) que, de acordo com o
historiador, geógrafo e professor Agnello Bittencourt, ocupou os
seguintes cargos na capital: “Diretor
dos Serviços Federais […]; Fiscal do Governo junto à Empresa
Manaus Tramways & Cia; Provedor da Santa Casa de Misericórdia
[…]; e Deputado Estadual, no Congresso Legislativo”
(BITTENCOURT, 1973, p.
147). A família Bretislau de Castro residiu no imóvel até 1961,
quando este foi desapropriado pela União, que
nele instalou
a Delegacia Federal de Saúde do Amazonas,
onde também passou a funcionar o Conselho Regional de Medicina. Na
década de 1970 tornou-se sede da SUCAM, Superintendência de
Campanhas da Saúde Pública. Transferida
a SUCAM para o bairro da Glória, no início da década de 1980, o
prédio ficou abandonado até 2002, quando o Governo Federal o cedeu
ao Governo do Estado do Amazonas, este último instalando no antigo
palacete a Academia Amazonense de Medicina. Após
8 longos anos de restauro, foi entregue ao público como Museu Casa
Eduardo Ribeiro, Palacete Bretislau de Castro, Academia Amazonense de
Medicina e Museu Virtual da Memória da Medicina. Luiz
de Miranda Corrêa o descreveu como um “casarão
português com certos maneirismos franceses, escadarias de mármore
italiano, grades e beirais enfeitados com flôres de lis”
(CORRÊA, 1969, p. 41).
Palácio da Justiça. FOTO: Manaus Ágil.
Por
mais de um século o Judiciário Amazonense esteve sediado no Palácio
da Justiça,
na Avenida Eduardo Ribeiro, atrás do Teatro Amazonas. O prédio foi
construído entre 1894 e 1900, nos governos de Eduardo Gonçalves
Ribeiro (1862-1900), Fileto Pires Ferreira (1866-1917) e José
Cardoso Ramalho Júnior (1866-1952), sendo ao lado do referido teatro
um dos marcos do embelezamento daquela área da cidade. Para
a sua construção foi firmado contrato com a empresa inglesa Moers &
Moreton. O contrato foi rescindido em 1897, cabendo o prosseguimento
das obras, a partir de 1898, ao empreiteiro José Gomes da Rocha. De
acordo com a historiadora Etelvina Norma Garcia, “o
projeto arquitetônico da fachada foi executado com pequenas
alterações que não interferiram na composição do edifício em
cinco blocos – três em avanço e dois em recuo, com janelas e
portas em arco pleno no andar térreo e janelas com verga reta no
piso superior”
(GARCIA, 2002, p. 67). Seu
interior é ricamente decorado, o mais decorado de todos os palácios
e palacetes da cidade, uma composição barroca em contraste com uma
fachada sóbria. Para
Otoni Mesquita, “o
Palácio da Justiça é, talvez, o prédio mais imponente e elegante
da arquitetura eclética de Manaus e nem mesmo sua desvantajosa
localização em relação ao Teatro Amazonas é capaz de ofuscar sua
beleza e elegância”
(MESQUITA, 2006, p. 235).
Assim
como os demais prédios históricos de destaque da capital, foi
Tombado pelo Estado do Amazonas, conforme ficou estabelecido pelo
Decreto Estadual N° 5.218 de 03/10/1980. Entre
2001 e 2002 o Palácio da Justiça passou por um processo de
restauração, sendo entregue em março de 2002. Quatro
anos mais tarde, em 2006, foi transformado em Centro Cultural Palácio
da Justiça, espaço destinado à visitação guiada, exposições de
arte etc. Mais recentemente passou a abrigar o Museu do Crime de
Manaus.
Palácio Rio Negro. FONTE: Manaus Day Night.
O
Palácio Rio Negro,
na Avenida Sete de Setembro, foi
construído em lugar privilegiado, à margem do Igarapé de Manaus.
Antes de ser conhecido como
Palácio Rio Negro, foi residência de Karl Waldemar Scholz,
comerciante alemão proprietário da Scholz & Cia, de importação
e exportação de gêneros variados, com sede em Manaus e filial em
Belém, no Pará, além de ter sido Cônsul da Áustria, Presidente
da Associação Comercial do Amazonas (ACA)
e membro da diretoria da
mesma. O
prédio foi construído entre 1903 e 1911. Por volta de 1911-12,
quando o cenário do sistema de produção gomífera da Amazônia já
apresentava sinais de enfraquecimento, Waldemar Scholz toma um
empréstimo de 400 contos réis do seringalista Luiz Gomes da Silva,
dando sua residência como garantia. Com a eclosão da Primeira
Guerra Mundial e a suspensão da navegação entre Hamburgo, na
Alemanha, e Manaus, o comerciante não consegue saldar suas dívidas,
e o palacete vai à venda. Luiz Gomes da Silva, credor de Scholz,
adquire a construção, alugando-a ao Governador Pedro de Alcântara
Bacellar (1835-1927), que decide comprá-la para nela instalar a
Residência dos Governadores do Estado do Amazonas. Sobre
suas características
arquitetônicas, escreveu Otoni Mesquita
“A
planta baixa do edifício seria simétrica se não houvesse o corpo
da extrema direita, que parece ter sido um acréscimo e que, até
1945, mantinha-se com apenas um pavimento. O equilíbrio da fachada é
suavemente perturbado pela existência de um torreão na lateral
esquerda do prédio, que deveria compor com o pavimento da extrema
direita antes de sua ampliação, quando se quebrou um pouco com a
harmonia da fachada. O prédio tem dois andares e três corpos, sendo
a fachada tratada com uma variação de
elementos decorativos que produz um rico movimento entre os cheios e
vazios. As paredes do primeiro pavimento são
tratadas com bossagem ou rusticação interrompida, enquanto que as
do segundo pavimento, com bossagem contínua. O acesso ao primeiro
pavimento é feito através de uma escada – com duas entradas e
guarda-corpo com balaustrada que apoiam duas esculturas em ferro
fundido sobre pedestais da ordem dórica – que leva a um pequeno
pórtico com quatro colunas dóricas sobre pedestais. A porta
principal é recortada em arco pleno e apresenta uma bandeira
decorada com círculos. Os corpos laterais apresentam janela de
púlpito em arco pleno e com balaustrada. Cada corpo lateral do
pavimento térreo é reforçado por quatro cunhais em forma de
pilastras dóricas. No
segundo pavimento, os três corpos são unidos por um terraço
cercado com balaustradas, interrompidas por pedestais que sustentam
colunas com fustes acanelados e capitéis compósitos. As três
portas que se abrem para o terraço possuem vergas retas, coroadas
com ornamentados frontões curvos. O entablamento do prédio ostenta
alguns elementos ornamentais, frequentes nas construções ecléticas;
no entanto, o seu uso é comedido. Sobre a cimalha do corpo central,
ergue-se a platibanda com balaustrada intercalada por uma cartela
contendo a tradicional estrela republicana. Sem dúvida, trata-se de
uma fachada eclética, porém, deve-se ressaltar o seu caráter
comedido, bem de acordo com o gosto que parece ter sido predominante
na cidade. Apesar da variação de elementos decorativos o conjunto
apresenta um aspecto que remete aos padrões clássicos”
(MESQUITA, 2006, p. 248-249).
O
Palácio Rio Negro foi sede do Poder Executivo de 1918 a 1996.
Desde 1997 funciona como Centro Cultural Palácio Rio Negro, onde
são realizadas exposições de arte, cinema e música. Também
está exposto o antigo mobiliário do palácio (mesas, cadeiras e
armários feitos com madeira de lei, e estatuetas importadas da
França). O Palácio Rio
Negro foi Tombado pelo Estado do Amazonas em 03/10/1980.
Palácio Rio Branco. Foto: César Pinheiro
Na
Praça Dom Pedro II, na parte inicial da Avenida Sete de Setembro,
vizinho do Paço da Liberdade, fica o Palácio
Rio Branco, projetado em
1904 pela empresa carioca Irmãos Rossi, com a construção iniciada
no ano seguinte. Nele seria
instalada a Chefatura de Polícia. No entanto, com a renúncia de
Constantino Nery (1859-1926), então governador, em 1907, as obras
ficaram paralisadas. As obras foram retomadas em 1937,
no Governo de Álvaro Botelho Maia, que
o inaugurou em 1938. “O
prédio serviu à Secretaria Geral do Estado, à Secretaria de
Justiça, à Daspa e ao Museu Numismático, e por último à sede da
Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas”
(JORNAL DO COMÉRCIO, 02/01/2004). Sobre
sua arquitetura eclética,
diz Otoni
Mesquita que
“É
um edifício de dois pavimentos, tratado com bossagem, e sua fachada
é composta por três corpos, sendo o central ligeiramente deslocado
à frente, ostentando um pórtico que, na parte superior, apresenta
colunas compósitas. Em seu interior, destacam-se o hall de entrada
com o seu jogo de colunas, a bela escada em ferro fundido, o salão
no pavimento superior, com seu estuque com motivo floral sobre o teto
e, nas paredes, oito paisagens amazônicas assinadas por Olímpio de
Menezes” (MESQUITA, 2006, p.
265-266).
O
prédio foi entregue à Secretaria de Estado de Cultura do
Amazonas em 2007, que o
transformou em Centro Cultural Palácio Rio Branco, espaço destinado
à preservação da história do Poder Legislativo no Amazonas. Nele
os visitantes são guiados pelas salas e
gabinetes, conhecem o mobiliário e a arquitetura da época.
Castelinho. FOTO: Tripadvisor.
Localizado
na rua Barroso, no Centro, o Castelinho
ainda não teve sua história totalmente esmiuçada. Sabe-se que foi
residência do médico
maranhense Francisco da Costa Fernandes e, posteriormente, de
Basílio Torreão Franco de Sá, médico e Superintendente
de Manaus entre 1920 e 1923. A partir de 1913 se tornou residência
do também médico Theogenes Beltrão. Funcionou, ainda, como
Consulado de Portugal e sede da Aliança Francesa. Desde
1999 funciona como Restaurante Castelinho.
O
Castelinho é um belo modelo
de arquitetura Art Nouveau. São
dois pavimentos e um porão, revestido na fachada por uma cobertura
que imita pedras. A platibanda é ornamentada com medalhões e
motivos florais em alto-relevo. O telhado de ardósia, característico
dos palacetes normandos, foi mantido. Sob
as janelas, barras de azulejos coloridos. Na
parte da fachada da rua Barroso, a sacada principal é feita de ferro
trabalhado com motivos florais, no mesmo estilo do portão. A sacada
da janela que dá para a rua 24 de Maio é balaustrada.
Castelinho da Vila Municipal. FOTO: Otoni Moreira Mesquita.
Dessa
lista, talvez o Castelinho
da rua São Luís ou
Castelinho da Vila Municipal,
no bairro Adrianópolis, seja o prédio mais conhecido. Inaugurado
em 1906, era propriedade do então Superintendente Municipal Adolpho
Guilherme de Miranda Lisboa (1862-1913).
Foi batizado de Vila Alcida, em homenagem à filha de Adolpho Lisboa,
Alcida Leduc Lisboa. Na década de 1950 a família Furtado, dona de
serrarias e outros negócios na capital e no interior, comandada
pelo Coronel Auton Furtado, adquiriu o prédio. Na década de 1970,
apresentando os primeiros sinais severos de desgaste, foi comprado do
Coronel Auton Furtado pelo
empresário
Mario Carlo Biaggi em
1978,
que mandou restaurá-lo e,
de acordo com matéria do colunismo social da época, o reinaugurou
em 02/06/1979 (JORNAL DO COMÉRCIO, 02/06/1979). O
Castelinho da Vila Municipal
possui linhas ecléticas e é mais sóbria
externamente que o Castelinho da rua Barroso. A
artista plástica Pollyanna D’Avila Gonçalves Dias
complementa, dizendo que a “construção
tem fundação e ornamentos em ferro fundido, além de possuir o
revestimento em cantaria”
(GONÇALVES,
2013, p. 52). O
piso é feito com acapu e pau amarelo e escadarias são de madeira.
Durante a reforma da família Biaggi, foi construída uma piscina na
parte de trás, assim como um muro mais alto. Em
seu aspecto formal, a construção se parece mais com um chalé
campestre. No entanto, os acrotérios em
formas de pontas, num
total de 9, lhe dão um aspecto apalaçado, lembrando mesmo um
pequeno castelo.
Em
1996 a família Biaggi o vendeu para o empresário Getúlio Viana,
proprietário da Sapataria Classe, que posteriormente o vendeu para o
Grupo Top, do ramo de bebidas. Atualmente nele funciona a Adega Top
Castelinho, com todas as características originais preservadas.
Castelo da Cervejaria Amazonense. FOTO: Oliveira Rodrigues.
O
Castelo da Cervejaria Amazonense, no bairro de Aparecida, onde
era fabricada a cerveja XPTO, guaraná e gelo, pode ser visto de
vários cantos da cidade. Às margens do Igarapé de São Raimundo, é
um exemplar único de prédio industrial com refinamento
arquitetônico. Sua construção, a cargo do mestre de obras
português Francisco Cunha, se deu entre 1910 e 1912, tendo o projeto
vindo da Alemanha. Seus idealizadores, Luiz Maximino de Miranda
Corrêa e Antonino Carlos de Miranda Corrêa, foram os pioneiros do
ramo cervejeiro no Amazonas, posição essa atestada pela magnitude
do empreendimento, único na região. Luiz de Miranda Corrêa
registrou que a fábrica,
“Vista
de longe, lembra certo tipo de castelo renano, com sua bela tôrre
encimada por beirais de chumbo trabalhado. Nessa tôrre foi instalado
o primeiro elevador do Amazonas, funcionando até hoje. Anexo à
parte principal do prédio, os escritórios, com escadarias de
mármore e outras de ferro forjado, imensos terraços, salões com
piso em “marquiterie” e forros de estuque pintados, e os salões
recepção, outrora cenário de grandes almoços, jantares ou
recepções, quando a firma ou a família recepcionavam visitantes
ilustres, ou comemoravam datas do calendário familiar. Salões
inaugurados pelo presidente Washington Luiz e que recepcionaram
Getúlio Vargas em sua primeira visita ao Amazonas” (CORRÊA,
1969, p. 50).
O
Castelo da Cervejaria Amazonense foi vendido
em 1970 à empresa
cearense J. Macedo S/A. Em
1972 a Brahma compra o controle acionário da Cervejaria Amazonense.
A partir daí, passaram pelo castelinho a Molson Coors, multinacional
cervejeira norte-americana
e canadense, em 2000; a Cervejaria Kaiser, brasileira, em 2002; a
FEMSA Cerveja Brasil, em 2006; e a Cervejaria Heineken, de 2010 a
2015, quando foi desativada.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
BITTENCOURT,
Agnello. Dicionário Amazonense de Biografias: Vultos do Passado.
Rio de Janeiro: Conquista, 1973.
CORRÊA,
Luiz de Miranda. Roteiro Histórico e Sentimental da Cidade do Rio
Negro. Manaus: Artenova, 1969.
DIAS,
Pollyanna D’Avila Gonçalves. A arquitetura Neogótica no
Período da Borracha: um estudo tipológico das construções de
Manaus. 2013. Dissertação (Mestrado em Letras e Artes). Manaus,
Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
GARCIA,
Etelvina. O Poder Judiciário da História do Amazonas.
Manaus: Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, 2002.
INSTITUTO
GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DO AMAZONAS. Manaus – Memória
Fotográfica. Manaus: Suframa, 1985.
MESQUITA,
Otoni Moreira. Manaus: História e Arquitetura – 1852-1910.
3. ed. Manaus: Editora Valer, 2006.
MENDONÇA,
Roberto. Quartel da Praça da Polícia. 4° ed. Manaus: SEC,
Série Memória, novembro de 2000.
FONTES:
Jornal
do Comércio, 02/06/1979.
Jornal
do Comércio, 02/01/2004.
CRÉDITO DAS IMAGENS:
César Pinheiro.
Manaus Sorriso.
Brasiliana Fotográfica/Instituto Moreira Salles.
Hyago Sena.
Tripadvisor.
José Martins Rocha.
Gisele Rocha.
SEC - AM.
Manaus Ágil.
Manaus Day Night
Roberto Mendonça.
Oliveira Rodrigues.