sábado, 13 de março de 2021

Manaus na década de 1920

Nesse vídeo, através de fotografias, são apresentados diferentes lugares da cidade de Manaus na década de 1920. São registros de prédios públicos e particulares, praças, bairros, ruas, locais de lazer e personagens da capital amazonense durante a crise econômica da borracha.

Trilha sonora:

Charleston - Royalty Free Music (Disponível em Ghoulish Grin Films).



domingo, 28 de fevereiro de 2021

Zona Franca de Manaus: 54 anos no coração da Amazônia

Vista aérea do Distrito Industrial de Manaus na década de 1970. FONTE: Instituto Durango Duarte.

Terminado o ‘boom’ da economia gomífera (1890-1920), o Amazonas se viu mergulhado em uma crise sem precedentes. A borracha asiática dominava o mercado mundial desde 1913. Em 1920 a produção de borracha brasileira foi de 30.790 toneladas, enquanto a asiática foi de 304.816 toneladas (LOUREIRO, Antonio José Souto. A Grande Crise. 2° Ed. Manaus: Valer, 2008, p. 23). O cenário era desolador, mas uma breve recuperação veio com a Segunda Guerra Mundial. Entre 1942 e 1945 o Amazonas se viu inserido nesse conflito. Em 1941 o Japão atacou bases Aliadas americanas e britânicas no Pacífico, dominando logo depois as colônias asiáticas produtoras de borracha. Sem acesso a essa matéria-prima, útil à indústria bélica e manufatureira, os Aliados voltaram suas atenções para o Amazonas. Em 1942, navios brasileiros foram torpedeados pelos alemães, o que fez o país declarar guerra ao Eixo.

O Estado, através de acordos firmados entre o Brasil e os Aliados, entrou no conflito como fornecedor de borracha. Mais uma vez ocorreria um surto de imigração nordestina para a Amazônia. Através dos “Acordos de Washington”, ficou estabelecido que os Estados Unidos investiriam no financiamento da produção de borracha na Amazônia, enquanto que o governo brasileiro se encarregaria de recrutar o maior contingente possível de trabalhadores. Estima-se que, entre 1942 e 1945, o governo conseguiu enviar do Nordeste, que passava por uma terrível seca, cerca de 60.000 retirantes para a região Norte.

O governo norte-americano ficou de pagar 100$ por trabalhador instalado nos seringais. Manaus se tornou uma das subsedes da Rubber Development Company, órgão criado para administrar os serviços no Estado. A exportação da borracha, a circulação monetária, a construção de um aeroporto, os investimentos na capital e a especulação imobiliária criaram um momento de recuperação e alimentaram a esperança de dirigentes e empresários locais. Esse pequeno surto de desenvolvimento teve seu fim paralelo ao término da Guerra. O antigo mercado asiático estava novamente aberto, novas técnicas aperfeiçoaram o uso da borracha sintética. Já não existia mais a necessidade da borracha amazônica. O conflito acabara e, com ele, o Amazonas caiu novamente no esquecimento.


Deputado Federal Francisco Pereira da Silva (1890-1973). FONTE: Blog 'Antonio Miranda'.

Francisco Pereira da Silva (1890-1973), Deputado Federal pelo Amazonas (1946-1963), buscando soluções para a crise econômica a tempos se abatia sobre o Estado, apresentou à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei n° 1.310, de 23 de outubro de 1951, propondo a criação de um porto-franco na capital amazonense nos moldes dos existentes no México e no Panamá. Esse projeto, após ser emendado pelo Deputado Federal Maurício Joppert da Silva (1890-1985), relator da matéria na Câmara, foi convertido, quase seis anos mais tarde, em Lei n° 3.173, de 06 de junho de 1957, criando um porto livre destinado ao armazenamento, beneficiamento e retirada de produtos vindos do exterior. Nesse mesmo ano, estampou a primeira página da edição do dia 31 de julho do Jornal do Commercio de Manaus a matéria "Zona Franca em Manaus na ordem do dia", que discorria sobre as expectativas que a medida gerava nos empresariados local, nacional e internacional, interessados nas importações e exportações (Jornal do Commercio, 31/07/1957, p. 01). Apesar da movimentação que já estava causando, a Zona Franca seguiu sem regulamentação pelo Governo Federal.

Foi somente no Regime Militar (1964-1985), período em que uma nova política de integração nacional foi pensada para a região, que a Zona Franca de Manaus foi regulada e implementada. No Governo do Presidente Humberto de Alencar Castello Branco, o Decreto-Lei n° 288, de 28 de fevereiro de 1967, alterou as disposições da Lei n° 3173 de 6 de junho de 1957 e regulou a Zona Franca de Manaus. O primeiro artigo desse Decreto-Lei define bem o modelo econômico a entrar em vigor: “Art 1º A Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário dotado de condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatôres locais e da grande distância, a que se encontram, os centros consumidores de seus produtos” (Decreto-Lei n° 288, de 28 de fevereiro de 1967). Para administrá-la foi criada a SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca de Manaus). No dia 01 de março daquele ano era publicada na primeira página do Jornal do Commercio de Manaus a matéria "Nova fase para o Amazonas. Manaus dentro da Zona Franca", em que o autor afirmava que "A transformação da cidade de Manaus em Zona Franca provocou justificado entusiasmo nos circulos administrativos, industriais, comerciais e, enfim, em todos os setores das mais diversas atividades, sendo saudada com a maior euforia" (Jornal do Commercio, 01/03/1967, p. 01).


Loja de artigos importados no Centro de Manaus. Foto de 1968. FONTE: Revista O Cruzeiro, 18/05/1968, p. 04.

Era chegada a hora do Amazonas se reerguer. Apenas em seu primeiro ano de existência, a Zona Franca fez surgir 1.339 novos estabelecimentos comerciais. Eram empresas dos ramos de eletrodomésticos, alimentos, tecidos e hotelaria. Sua primeira indústria foi a IPLAM – Indústria de Pasteurização de Leite do Amazonas. O projeto para a construção de sua usina, na Avenida Constantino Nery, foi aprovado pela SUFRAMA entre 1967 e 1968, pois enquadrava-se no plano de desenvolvimento do Amazonas mediante incentivos fiscais. Ela era especializada na pasteurização de leite e produção de seus derivados.

No Centro de Manaus, antigos prédios do tempo da borracha eram adaptados ou demolidos para dar lugar a novos empreendimentos. Estrangeiros de diferentes partes do mundo e brasileiros de outros Estados vinham em busca dos artigos regionais e internacionais. Faziam sucesso as calças Lee, His, Lewis, as televisões, as câmeras fotográficas, os brinquedos chineses e japoneses e as vitrolas portáteis. Cada turista tinha direito a trazer 100 dólares em artigos e mais 25 dólares em produtos comestíveis (CORRÊA, Luiz de Miranda. Roteiro Histórico e Sentimental da Cidade do Rio Negro. Manaus: Artenova, 1969, p. 100-101). Em 1960 a população de Manaus era estimada em 175.343 habitantes. Em 1970, com a criação de novas vagas de emprego, esse número saltou para 314.197 (IBGE, censos de 1960 e 1970). A cidade se expandiu. Surgiram novos bairros, em sua maioria frutos de invasões inopinadas.

O Distrito Industrial de Manaus, localizado entre as zonas Sul e Leste da cidade, teve a sua pedra fundamental lançada no dia 30 de setembro de 1968. Foi planejado pelos arquitetos Luís Carlos Antony e Fernando Pereira da Cunha, da ‘Antony & Pereira da Cunha – Arquitetos Associados Ltda’. Junto ao marco foi fixada uma faixa com a frase ‘Distrito Industrial: marco da redenção da Amazônia Ocidental”. A tradicional revista Manchete, do Rio de Janeiro, assim descreveu a paisagem das obras: “Tratores abrem caminho na selva, derrubando árvores e deixando o sulco de futuras estradas. Pesados caminhões transportam homens e máquinas. Vista do alto, a bordo de um avião de carreira que chega a Manaus, a área mostra a presença definitiva do homem da cidade até a margem do Rio Negro, numa grande faixa de terra onde a mata deixou de existir e o progresso já chegou” (Manchete, 30/11/1968, p. 110). Em 1972 o Distrito Industrial recebeu sua primeira indústria, a CIA – Companhia Industrial Amazonense. Ocupando uma área de 45.416 m², produzia boa parte do estanho e das ligas metálicas consumidas no Brasil.

O artigo 42 do Decreto-Lei n° 288 determinou que as isenções da Zona Franca vigorariam por 30 anos, indo até 1997, podendo ser prorrogadas por decreto do Poder Executivo. A primeira prorrogação ocorreu em 1986, por 10 anos, vigorando até 1997. Em seguida, em 1988, a Zona Franca foi prorrogada por mais 25 anos, até 2013. Em 2003 ocorre nova prorrogação, de mais 10 anos, garantindo os incentivos até 2023. A última foi decretada em 2014, por mais 50 anos, até 2073 (COSTA, José Alberto Machado da; PONTES, Rosa Oliveira de. Zona Franca de Manaus (ZFM): circunstâncias históricas, cenário contemporâneo e agenda de aperfeiçoamento, p. 227 In: SILVA, Osíris M. A. da. HOMMA, Alfredo Kingo Oyama. Pan-Amazônia: Visão histórica, perspectivas de integração e crescimento. Manaus, 2016, p. 221-267).

Entre 1975 e 1976, o Governo Federal implementou na Zona Franca o Índice Mínimo de Nacionalização. As empresas sediadas na Zona Franca estavam autorizadas a importar apenas peças, componentes e matérias-primas que não eram produzidas no mercado interno, sendo o restante adquirido localmente. Também foi imposto um limite anual de importação. A liberdade de importação foi restringida, mas o mercado interno foi estimulado. No Governo do Presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) o mercado brasileiro foi aberto às importações, cujas tarifas eram extremamente baixas. A Zona Franca, desde 1975 vinha nacionalizando sua produção, se viu diante de uma concorrência desigual, pois os produtos nacionais, dadas as tarifas e carências tecnológicas, passaram a ser menos visados que os importados. A diminuição da competitividade foi superada no final da década de 1990 e início dos anos 2000 com medidas como a redução de 88% do Imposto de Importação, a implantação de normas técnicas de qualidade, automação das fábricas, reestruturação fabril, criação do Centro de Ciência, Tecnologia e Inovação do Polo Industrial de Manaus e do Centro de Biotecnologia da Amazônia.

Atualmente existem 600 empresas instaladas no Polo Industrial de Manaus, que geram mais de meio milhão de empregos diretos e indiretos. Esse modelo econômico, que completa 54 anos, segue sendo o sustentáculo não só do Amazonas, mas da região Norte como um todo, seja no comércio, na indústria ou na agropecuária.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Vida cultural na Manaus provincial: Sociedade Harmonia Amazonense

Arte do anúncio da Sociedade Harmonia Amazonense. FONTE: Amazonas, 19/11/1869, p. 06.

A Sociedade Harmonia Amazonense foi instalada na noite do dia 04 de abril de 1869 na casa do Sr. José Antonio da Costa, seu primeiro Presidente. O evento foi bastante concorrido, contando com a presença de seleto grupo. O jornal Amazonas registrou que as jovens disputavam entre si o título de Rainha do Baile, e os jovens aproveitavam para se deleitar com suas belezas, além de convidá-las para contradanças. Foram servidos doces, chás e licores. O baile terminou às 2 horas da madrugada (AMAZONAS, 06/04/1869, p. 04).

Naquelas longínquas décadas de 1860 e 1870, constituía-se em um dos poucos, senão raríssimos, espaços de divertimento da cidade. O jornal Commercio do Amazonas assim informa o baile dançante do mês de julho: "Harmonia Amazonense - Deve hoje ter logar a partida mensal da sociedade Harmonia. E' de suppor que seja bastante concurrida, visto ser actualmente a unica distracção que ainda resta nesta cidade para as famílias" (COMMERCIO DO AMAZONAS, 02/07/1870, p. 01). O professor, geógrafo e historiador Agnello Bittencourt registrou que nesse período existiam apenas "[...] quatro sociedades diversas, recreativas ou filantrópicas, que eram: a 'Ateneu das Artes', fundada em 1869; a 'Nacional Beneficente do Amazonas', criada naquele mesmo ano; a 'Harmonia Amazonense', e a 'Emancipadora Amazonense', esta para o fim precípuo de lutar pela libertação dos escravos" (BITTENCOURT, 1969, p. 63).

O jornalista, cronista e pesquisador Genesino Braga (1906-1988) descreveu a Sociedade Harmonia Amazonense como um espaço destinado à elegância e mundanismo, já que ali "[...] se reuniam as famílias que constituíam o escol social, presentes sempre os oficiais do 3° Batalhão de Engenheiros, da Flotilha de Guerra e da Escola de Aprendizes Marinheiros. Muitas valsas ali rodopiaram, ainda coronel e capitão, respectivamente, Tibúrcio e Floriano Peixoto" (BRAGA, 1973, p. 17).

A elite amazonense, assim como as de outras Províncias do Império Brasileiro, estava cada vez mais se familiarizando, à sua maneira, com os hábitos e costumes oriundos da Europa, sobretudo da França, como explica a historiadora Mary Del Priore em artigo sobre bailes brasileiros do século XIX:

"As 'partidas' ou reuniões noturnas, moda importada de Paris onde recebeu o nome inglês de 'rout', congregavam levas enormes de convidados, vestidos na última moda, para uma reunião mundana. Ali, copo à mão, se conversava. O objetivo? Ver e ser visto" (PRIORE, 2017).

Buscava-se não apenas a recreação, mas também a distinção de classe, o reconhecimento e pertencimento a um grupo restrito da sociedade, no qual os membros estavam unidos pelos capitais financeiro e político e também pelos novos modos e modas que praticavam e consumiam.

Esmiuçando as fontes jornalísticas, nos vemos diante de uma sociedade bastante organizada, regida por um estatuto, do qual foram encontrados alguns artigos. Conforme o artigo 11, "o socio effectivo que tiver deixado de pagar a sua mensalidade perde o direito de entrada na partida ou baile desse mez se não effectuar o pagamento até a vespera". No artigo 12 ficou determinado que "o que deixar de pagar duas mensalidades seguidas será considerado como despedido da sociedade, e perderá o direito a tudo aquillo com que houver concorrido para ella, o que também se entenderá á respeito do sócio que deixar de fazer parte da sociedade por outro qualquer motivo" (AMAZONAS, 06/08/1870, p. 03). O artigo 42 "prohibe o ingresso de famulos [criados] na casa das partidas, que não sejam os determinados pela directoria para o serviço daquellas" (AMAZONAS, 21/08/1869, p. 04). Os sócios só poderiam entrar nos bailes após a apresentação, para o porteiro, do cartão de ingresso que lhes eram entregues durante o pagamento das mensalidades (AMAZONAS, 05/04/1878, p. 04).

Em 1878, conforme anúncio anteriormente citado, os bailes passaram a ser realizados em um prédio na Rua da Instalação (AMAZONAS, 05/04/1878, p. 04). Inúmeras foram as festas realizadas em seus salões. Destacam-se a de despedida do Presidente da Província do Amazonas, Tenente-Coronel João Wilkens de Mattos, realizada em 10 de abril de 1870. Na ocasião, "os salões do predio da sociedade Harmonia, brilhando de decorações e admiravelmente illuminados, regorgitavam de convivas, que se desvaneciam de concorrer para o brilhantismo desta festa dada em honra de s. exc, como pura homenagem de apreço e reconhecimento" (AMAZONAS, 22/04/1870, p. 01); e a oferecida por João Carlos da Silva Pinheiro e Torquato Xavier Monteiro Tapajós, no dia 17 de julho de 1872, ao General José Miranda da Silva Reis (Presidente e Comandante das Armas da Província de 08 de junho de 1870 a 08 de julho de 1872) e sua família, de partida para o Rio de Janeiro:

"[...] a casa do baile esteve decorada com bastante esmero e illuminada na frente; com grandes e refolhadas cortinas brancas que pendiam em todas as portas lateraes, tal qual se pode imaginar um lugar primorosamente preparado para receber o bello sexo. Às 9 horas já passeava nos salões o sexo feio com algumas mademoiselles cada qual mais bem trajada, disputando cada uma d' entre si qual dellas deveria ser a ranha do baile" (AMAZONAS, 20/07/1872, p. 03).

Também eram realizados eventos em homenagem a pessoas que eram promovidas em seus empregos, como ocorreu com o Tenente Coronel Felinto Gomes de Araújo, promovido a um novo posto em novembro de 1879:

"Manifestação de apreço. - Informam-nos que os amigos do distincto sr. tenente coronel Felinto Gomes de Araujo, pretendem offerecer á s. s. na noite de 8 de novembro, em regosijo pela sua merecida promoção ao posto de tenente coronel commandante do 1° regimento d' artilharia a cavallo, uma soirée nos salões da sociedade - Harmonia Amazonense" (AMAZONAS, 31/10/1879, p. 02).

Foram reunidos abaixo, com base nos informes do jornal Amazonas de 1869 a 1880, os nomes de alguns de seus Presidentes, Diretores, Secretários e Tesoureiros:

Presidentes: José Antonio da Costa, João E. Nery da Fonseca Junior, A. Roberto Alves (interino), Adriano X. d' O Pimentel e Manoel Joaquim Machado e Silva.

Diretores: Rodolpho Sergio Ferreira, Rosalino Alvares Ribeiro, Francisco Leopoldo de Mattos Ribeiro, Marçal Gonçalves Ferreira, João M. de S. Coelho e Adriano F. Jorge.

Secretários: João Antonio da Silva Egues, A. Roberto Alves, Henrique Barboza de Amorim e Manoel da Silva Campello.

Tesoureiros: Manoel Joaquim Machado e Silva.

Em dezembro de 1879, o então Presidente da sociedade, Adriano X. d' O Pimentel, convocou os sócios para uma assembleia geral "afim de tratar de negocio que affecta a existencia da sociedade" (AMAZONAS, 21/12/1879, p. 07). Em 1880, após pouco mais de 1 ano de existência, a Harmonia Amazonense foi extinta. Quais os motivos? Pode-se especular diferentes causas,  como os altos custos para a sua manutenção, a simples decisão de encerrá-la e a concorrência com novos espaços recreativos.


FONTES:

Amazonas, 06/04/1869.

Amazonas, 21/08/1869.

Amazonas, 22/04/1870.

Commercio do Amazonas, 02/07/1870.

Amazonas, 06/08/1870.

Amazonas, 20/07/1872.

Amazonas, 05/04/1878.

Amazonas, 23/04/1880.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


BITTENCOURT, Agnello. Fundação de Manaus - Pródromos e Sequências. Manaus: Editora Sérgio Cardoso, 1969.

BRAGA, Genesino. A Manaus de 1871. Pintura Vertical da Paisagem. Jornal do Commercio, Edição Especial do 69° aniversário, 31/01/1973, p. 17.

PRIORE, Mary Lucy Murray Del. Bailes, bailados, soirées e saraus: regras e diversão. História Hoje, 11 de fevereiro de 2017. Disponível em: https://historiahoje.com/bailes-bailados-soirees-e-saraus-regras-e-diversao/ Acesso em 21 de fevereiro de 2021.

sábado, 2 de janeiro de 2021

A trajetória de um jornal centenário

Major Joaquim Rocha dos Santos (1851-1905), Vicente Torres da Silva Reis (1870-1947), Guilherme Aluízio de Oliveira Silva (1937-2019), a antiga sede do Jornal do Commercio na Avenida Eduardo Ribeiro, o local após as modificações ocorridas na década de 1940 e a atual sede na Avenida Tefé, no bairro Japiim. FONTES: Commercio do Amazonas; Acervo de Evaldo Ferreira; Acervo de Ed Lincon; Blog do Coronel Roberto; e Google Maps.

São poucas as empresas que chegam aos 100 anos. Mais raras ainda são as que ultrapassam essa marca. Deve-se refletir sobre a importância dessas instituições, que por gerações contribuem para o desenvolvimento socioeconômico das sociedades que lhes deram origem e das quais fazem parte. Uma delas é o Jornal do Commercio de Manaus. Fundado em 02 de janeiro de 1904, é o periódico mais antigo da região Norte e um dos antigos do Brasil.

Surgiu pelas mãos do Major Joaquim Rocha dos Santos (1851-1905), português radicado no Brasil desde 1862 (BITTENCOURT, Agnello. Dicionário Amazonense de Biografias: vultos do passado. Rio de Janeiro: Conquista, 1973). Não havia período melhor que aquele para a sua criação. O Amazonas, através das atividades ligadas direta e indiretamente à extração do látex, despontava como uma das principais economias do país. A capital estava passando por rápidas transformações, ganhando nova infraestrutura e atraindo a cada dia novos investimentos. Percebendo essas mudanças, Rocha dos Santos, que também era comerciante, funcionário público e anteriormente fora proprietário do jornal Commercio do Amazonas, sentiu a necessidade de uma nova folha especializada na atividade comercial. Reunindo o capital necessário para tal empreitada, apresentou à sociedade amazonense, no dia 02 de janeiro de 1904, o Jornal do Commercio, com sede na Avenida Eduardo Ribeiro, que em sua primeira edição foi anunciado da seguinte forma:

"Fazendo-se orgão do principal elemento de ordem e de progresso, que é o commercio, este jornal vem, innegavelmente, satisfaser a uma das mais palpitantes necessidades de nosso meio social e supprir uma lacuna que, já ha muito, se recente a vida manauense - um diario que preferentemente advogue e defenda os interesses comerciaes d' esta vasta e rica região do Brasil" (Jornal do Commercio, 02/01/1904, p. 01).

Como o nome e o editorial sugeriam, predominavam os assuntos ligados às atividades comerciais. Nele eram publicadas as cotações da borracha nos mercados nacionais e estrangeiros, os anúncios de casas comerciais e os serviços de profissionais liberais, os resumos das atividades políticas municipais, estaduais e nacionais, as movimentações no Porto, as matérias sobre as obras que eram realizadas em Manaus e no interior, as notas sobre a abertura de novas empresas, os informes sobre espetáculos no teatro e nos cinemas, as denúncias sobre crimes e práticas que deveriam ser combatidas para manter a ordem urbana. Em outras palavras, o Jornal do Commercio apresentava-se como um agente da modernidade na capital amazonense.

O aparecimento de um novo jornal no Amazonas foi comentado por veículos de imprensa de outros Estados. O Jornal do Commercio do Rio de Janeiro registrou que o congênere manauara “contém copioso noticiário, serviço telegraphico e excellentes informações sobre vários assumptos de interesse”, desejando “longa vida ao novo collega da imprensa amazonense” (Jornal do Commercio, RJ, 1904, p. 02). O jornal A Cidade, do Ceará, o descreveu como um “brilhante diario que acaba de apparecer em Manáos sob a habil direcção do illustre cidadão J. Rocha dos Santos. E’ um jornal artistico e magnificamente elaborado” (A Cidade, CE, 08/03/1904, p. 02).

Infelizmente Rocha dos Santos não viu toda a grandiosidade de seu jornal. Faleceu no dia 09 de dezembro de 1905, aos 54 anos, vítima de um infarto fulminante. Após sua morte o jornal não circulou por alguns meses, reaparecendo apenas em abril de 1906, quando seus herdeiros o venderam para o Superintendente Adolpho Guilherme de Miranda Lisboa. Entre 1906 e 1907 teve como diretores Alcides Bahia, Henrique Rubim, Francisco Tavares da Cunha Mello e Vicente Torres da Silva Reis (Jornal do Commercio, 02/01/1913, p. 01).

Em abril de 1907 Vicente Torres da Silva Reis (1870-1947) compra o jornal. Natural do Rio de Janeiro, foi advogado, teatrólogo e jornalista. Com larga experiência na arena jornalística, com atuação em jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo, Vicente Reis inaugurou uma nova fase do Jornal do Commercio, dotando-o de moderna infraestrutura. Em 1912 importou dos Estados Unidos três máquinas de linotipo, duas n° 10 e uma n° 05, fabricadas pela empresa Mergenthaler Linotype Company, de Nova York. Foram montadas pelo engenheiro norte-americano Mariano Alfredo Walderrama. O linotipo era uma máquina de composição em chumbo. O texto era produzido primeiro sobre placas desse metal, que em seguida eram organizadas e levadas para a impressão sobre o papel. Foi uma revolução no meio jornalístico, pois substituiu a produção manual.

Vicente Reis foi proprietário do Jornal do Commercio por mais de três décadas, de 1907 a 1943. Nesse período, de 1907 a 1943, foram de grande repercussão nas páginas do JC a valorização da borracha amazônica, sua desvalorização com a entrada da borracha asiática no mercado internacional, as beligerâncias entre os países europeus, culminando na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a chegada da Gripe Espanhola na cidade, em 1918, a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, e a Revolução de 1930 articulada por Getúlio Dornelles Vargas. O jornal sempre esteve atento aos eventos internacionais, pois estes poderiam influenciar as relações comerciais regionais e nacionais. Entre 1930 e 1939, foram noticiados o surgimento e ascensão do Nazismo na Alemanha e do Fascismo na Itália, bem como o retorno dos embates entre as nações europeias, dando origem a um novo conflito de proporções mundiais (1939-1945). Todas essas informações chegavam através de correspondentes em Portugal e no interior do Estado (FREIRE, José Ribamar Bessa (Org.). Cem anos de imprensa no Amazonas (1851-1950). Manaus: Umberto Calderaro Ltda, 1990, p. 120).

Com bem vividos 73 anos e buscando descansar após décadas de trabalho, Vicente Reis vende o Jornal em 1943 para os Diários Associados, na época o maior conglomerado de mídia da América Latina, propriedade do jornalista, escritor e empresário Assis Chateaubriand (1892-1968). Chateaubriand também adquiriu a Rádio Baré, criada em 1938, administrando de forma conjunta as duas empresas. Na edição de 09 de fevereiro de 1943 foi publicado o aviso de que

"Não houve nenhuma majoração no preço do JORNAL DO COMÉRCIO com a sua incorporação aos "Diarios Associados", continuando cada exemplar a custar Cr $0,40, exceto aos domingos, quando é vendido a Cr $0,50. Fazemos este aviso para evitar explorações de qualquer natureza, contando com o concurso do publico para coibir abusos que por ventura se verifiquem na venda deste matutino" (Jornal do Commercio, 09/02/1943, p. 01).

Nesse momento, marcado pela Segunda Guerra Mundial, ganhavam as páginas do Jornal do Comércio, agora dos Diários Associados, as vitórias e derrotas dos Aliados, o retorno da exportação de borracha em grande escala, através dos Acordos de Washington, as notícias sobre a chegada de migrantes nordestinos, os Soldados da Borracha, para trabalhar nos seringais, os decretos federais e estaduais restringindo as atividades de súditos do Eixo no país, as campanhas da FEB (Força Expedicionária Brasileira) e a participação de amazonenses nos campos de batalha. O palacete da sede na Avenida Eduardo Ribeiro foi modificado e reinaugurado no mesmo ano da aquisição pelos Diários Associados. Era um edifício de linhas modernas que sofreu um incêndio em 1977, sendo demolido em 1982.

Vencida a Guerra pelos Aliados, as décadas seguintes seriam de incertezas no cenário econômico regional. Entre 1950 e 1960 o Estado encontrava-se com a economia combalida. O déficit orçamentário municipal e estadual era crescente, e os pagamentos do funcionalismo público há muito estavam atrasados. Em 1957, o Deputado Federal Francisco Pereira da Silva idealiza a Zona Franca de Manaus, à época um Porto Livre, através da Lei N° 3.173 de 06 de junho de 1957. Nesse mesmo ano, estampou a primeira página da edição do dia 31 de julho a matéria "Zona Franca em Manaus na ordem do dia", que discorria sobre as expectativas que a medida gerava nos empresariados local, nacional e internacional, interessado nas importações e exportações” (Jornal do Commercio, 31/07/1957, p. 01). 10 anos depois, em 1967, a Zona Franca de Manaus é oficialmente criada através do Decreto Lei N° 288, de 28 de fevereiro. No dia 01 de março daquele ano era publicada na primeira página do Jornal do Commercio a matéria "Nova fase para o Amazonas. Manaus dentro da Zona Franca", em que o autor afirmava que "A transformação da cidade de Manaus em Zona Franca provocou justificado entusiasmo nos circulos administrativos, industriais, comerciais e, enfim, em todos os setores das mais diversas atividades, sendo saudada com a maior euforia" (Jornal do Commercio, 01/03/1967, p. 01).

Ao longo de sua História o Jornal do Commercio teve inúmeros colaboradores, nomes célebres que iniciaram suas atividades intelectuais na imprensa e mais tarde ingressaram nas cadeiras do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), da Academia Amazonense de Letras (AAL) e de outras instituições culturais: Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha (1841-1919), Bertino de Miranda Lima, Agnello Bittencourt (1876-1975), Arthur Cezar Ferreira Reis (1906-1993), Genesino Braga (1906-1988), Ildefonso Pinheiro, Padre Raimundo Nonato Pinheiro (1922-1994), Mário Ypiranga Monteiro (1909-2004), Mario Jorge Couto Lopes, João Chrysóstomo de Oliveira, Phelippe Daou (1928-2016), Moacir Andrade (1927-2016), Geraldo de Macedo Pinheiro (1920-1996) e tantos outros pesquisadores e escritores.

Entre 1906 e 1984 teve como diretores, além dos já citados Alcides Bahia, Henrique Rubim, Francisco Tavares da Cunha Mello e Vicente Torres da Silva Reis, Josué Cláudio de Souza, João Calmon (1943-1946), Frederico Barata (1947-1961), João Calmon novamente (1962-1966) e Epaminondas Barahuna (1959-1984) (DUARTE, Durango Martins. A Imprensa Amazonense: chantagem, politicagem e lama. Manaus: DDC Comunicações LTDA-EPP, 2015, p. 17).

Em 04 de dezembro de 1984, depois de mais de 40 anos como propriedade dos Diários Associados, é comprado pelo empresário amazonense Guilherme Aluízio de Oliveira Silva (1937-2019), que também adquiriu a Rádio Baré. Foi com Guilherme Aluízio que o jornal ficou restrito ao tripé economia, política e entretenimento, afastando-se de aspectos comuns em outros periódicos, como as páginas policiais, circulando principalmente através de assinaturas mensais e anuais. Após sua morte, em 2019, passou a ser administrado, com muita competência, por seu filho, Sócrates Bonfim Neto. Nos últimos anos o Jornal do Commercio vêm se modernizando, buscando novas formas de abordagem, no caso as mídias digitais, com a produção de conteúdos dinâmicos e a interação nas redes sociais, mas sem perder as referências do passado através do jornal impresso, dando oportunidades a novos autores, que buscam em suas páginas fazer parte dessa brilhante e inigualável trajetória.


sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Almanaque Administrativo, Histórico, Estatístico e Mercantil da Província do Amazonas (1884)

Capa do Almanaque de 1884.

O ‘Almanaque Administrativo, Histórico, Estatístico e Mercantil da Província do Amazonas (1884)’ é um interessante e importante documento histórico sobre nosso Estado. Nele se encontram valiosas informações sobre a administração, o comércio, a política e a História do Amazonas nos anos finais do Império.

Um documento de sua importância era há muito aguardado pelos administradores públicos, pois a economia do Amazonas, graças às atividades ligadas à extração do látex, começava a se expandir. Para que essa expansão fosse contínua, atraindo investimentos, tornou-se necessário divulgar informações detalhadas sobre a Província. O almanaque só não fora produzido antes dados os avultados custos para a sua publicação.

Para contornar esse problema, a Assembleia Legislativa Provincial acresceu no orçamento uma verba destinada ao custeio da obra. A concorrência para a sua produção foi aberta, sendo escolhido o trabalho aprovado pela comissão formada por Joaquim Leovigildo de Souza Coelho, Jonathas de Freitas Pedrosa e o Tenente Coronel Joaquim José da Silva Meirelles. Com isso, fazia-se “[…] propaganda dos largos recursos de que dispõe esta vasta região, os quaes são em sua maior parte desconhecidos fóra e, o que é mais doloroso dizer-se, dentro do paiz”. Perto de sua publicação, foi anunciado na imprensa:

Almanach Amazonense para o anno de 1884. Publicação instructiva e utilissima para todos e principalmente para os commerciantes, quer desta provincia e das demais do Imperio, quer para os do estrangeiro. Está no prelo este Almanach. Recebem-se annuncios para elle n’ esta typographia” (AMAZONAS, 27/01/1884, p. 04).

A impressão foi realizada na tipografia do jornal ‘Amazonas’, propriedade do Coronel José Carneiro dos Santos (1852-1928), localizada na então Praça 28 de Setembro, atual Heliodoro Balbi (da Polícia).

O Almanaque do Amazonas seguia a mesma divisão dos congêneres publicados em outras Províncias. A primeira parte traz informações sobre as datas comemorativas e feriados, as estações do ano, a Geografia do Império, os chefes de Estado do mundo e a genealogia da Casa Imperial. Em seguida vêm a parte administrativa, onde estão registrados dados sobre o Chefe de Estado, o Ministério, o Conselho de Estado, o Senado, a Câmara dos Deputados, o Tribunal de Justiça e o corpo administrativo da Província.

A terceira parte é uma das mais importantes: nela consta a ‘História da Província do Amazonas entre os anos de 1540 e 1883’. Foi escrita pelo médico e historiador baiano Aprígio Martins de Menezes (1844-1891), aqui radicado desde 1869. Ele foi o primeiro autor a sistematizar a História do Amazonas, propondo divisões e marcos cronológicos para seu estudo. Ele é de grande importância para a compreensão dos primeiros passos de nossa historiografia regional. Na quarta parte, sobre estatística, temos os números referentes à quantidade de habitantes, escravos, escolas, embarcações, receitas, despesas e eleitores.

A quinta e última parte é a mercantil, “industrial, scientifica, profissional, philantropica e recreativa”. As informações sobre o comércio, navegação e estado financeiro da Província foram escritas em português, francês e inglês. Nela são apresentados os tipos de estabelecimentos comerciais e seus proprietários, os profissionais liberais e seus serviços, as sociedades, instituições, companhias e corporações, e documentos como regulamentos e contratos para a construção de obras públicas e concessões de serviços. Todos os capítulos são intercalados por anúncios.

Para deleite dos pesquisadores e entusiastas da História do Amazonas, o almanaque encontra-se disponível para consulta online na Hemeroteca Digital Brasileira, da Biblioteca Nacional.

sábado, 12 de dezembro de 2020

O ossuário do antigo Cemitério de São José

Ossuário do antigo Cemitério de São José. FOTOS: Fábio Augusto, 2018 e 2019.

Quase quatro décadas após a desativação do antigo Cemitério de São José, em frente a Praça da Saudade, ocorrida em 1891, os restos mortais e monumentos funerários das pessoas nele enterradas começaram a ser transferidos, após a abertura de editais, para o Cemitério de São João Batista, na Vila Municipal (Adrianópolis). Os restos não reclamados por familiares foram depositados em um ossuário construído em 1932 na administração municipal de Emmanuel de Moraes. Obra simples, em pedra, com duas placas de mármore, uma frontal, com o nome do ossuário, e outra traseira, com os nomes dos encerrados. Na parte inferior da frente consta o ano da construção. Os jazigos e o ossuário estão localizados na quadra 04 do cemitério, em uma fileira que nos leva, entre os mármores de Carrara e Lioz, à Manaus da segunda metade do século XIX.

Ali repousam os despojos fúnebres de 48 pessoas, naturais da terra e também oriundas de outras paragens nacionais e internacionais. São elas, em ordem: Antônio Manoel Soares; Anna Feio de Souza Franco; Astrogildo de Magalhães e Cresolina de Magalhães (2 anjos); Antônio Pereira da Silva; Antônia, filha de Matheus Antônio Silveira; Anna Rodrigues Palmeira; Augusto, filho de A. Ximenes de Villeroy; Avelino José de Campos; Anna Maria de Carvalho, Anna Rita de Moraes Sarmento; Arthur Ezequiel de Pinho; Estephanio, filho de José Gonçalves L. Rosas; Enilia Guimarães Ribeiro; Francisco Agapito da Veiga; Felisberto Castro e Costa; F. Leopoldo M. Ribeiro (Major); Francisco Ramon Castro Alves; Giberto de Carvalho; Gaston Victor Griffett de la Baume; Geralda Francisca Vaz; Hermenegildo de Souza Barbosa; Henriqueta Fallegmen; Heloisa, filha legítima de Herminio; João Mario da Costa; José Joaquim da Silva Pingarilho; João Carlos Ferreira Fleury; Joaquim Rita de Cla Afonso; João Velloso Barreto; João Ribeiro da Silva; Padre José Antônio Barbosa; João Cassella; Luiz Felippe Cavalcante de Albuquerque; Luiza Amelia Ribeiro e Silva; Luiz Gonçalves de Castro; Maria Castro e Costa; Maria S. Sá e Manoel; Maria Francisca C. Conceição; Manoel J. G. de Freitas; Raymundo José Rabello; Roclman Mac Avone; Raymundo de Sá Correia (Capitão); Raymundo José Ferreira de Alcântara; Theodosia Amelia Alves; Violante Mario Gonçalves; Padre Vitaliani A. Ciani; Augusto A. Santos, filho de João Alves dos Santos; e Manoel Ignacio Teixeira.

Consultando jornais e relatórios do século XIX podemos encontrar informações sobre alguns dos falecidos. Antônio Manoel Soares foi sobrinho e caixeiro dos comerciantes Antônio Joaquim da Costa & Irmão. Faleceu ainda jovem, em 1872. Astrogildo e Cresolina de Magalhães, como indicado no ossuário, foram 2 anjos, isto é, crianças falecidas precocemente. Era uma crença no Brasil daquele período de que as crianças, ao morrerem, tornavam-se anjos que passariam a proteger a família. Antônio Pereira da Silva trabalhou como comerciante e militar. Antônia foi filha de Matheus Antônio Silveira, despachante geral e guarda-livros. Augusto era filho de Augusto Ximeno de Villeroy, primeiro Governador Republicano do Amazonas. Avelino José de Campos faleceu em 1888. Francisco Agapito da Veiga foi 1° Tenente da Marinha. Francisco Leopoldo de Mattos Ribeiro foi Major, Secretário, 1° Escriturário do Tesouro Público Provincial e Deputado.

Hermenegildo de Souza Barbosa tinha uma loja e taverna que funcionou na antiga Travessa da Imperatriz (rua da Instalação) e na rua 5 de Setembro. Além de comerciante, José Joaquim Pingarilho organizava grandes bailes de Carnaval, sendo um dos pioneiros nessa área. João Velloso Barreto, proprietário de uma loja de tecidos, pertencia à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia e à Sociedade Portuguesa Beneficente, atuando como 2° Secretário nesta última. Foi também Diretor da Associação Comercial do Amazonas (ACA). Faleceu em 1886. João Ribeiro da Silva foi Engenheiro, Capitão, Coronel Inspetor das fortificações e outras obras militares da Província, Subdelegado de Polícia em Tabatinga, Professor de Matemáticas do Liceu Provincial e membro da Loja Maçônica Esperança e Porvir. Escreveu o trabalho Melhoramentos do Amazonas, comprada de sua viúva pelo Governo da Província em 1874. Raymundo José Ferreira de Alcântara foi Tenente, Procurador Fiscal da Tesouraria da Fazenda Provincial e Subdelegado de Polícia em Manaus.

Esses nomes fizeram parte da sociedade amazonense de antanho. Eram comerciantes, militares de alta patente, engenheiros, funcionários e administradores públicos. Deve-se destacar que nem todos os moradores da antiga necrópole da Saudade puderam ter um novo local de descanso. Um bom número deles “desapareceu” por completo, sem que se pudesse conhecer seus nomes e origens. Durante os trabalhos de construção da sede do Atlético Rio Negro Clubeno terreno que outrora fora ocupado pelo cemitériorealizados entre 1938 e 1942, foram encontradas ossadas, a lembrar que onde passaria a reinar a diversão, outrora imperou a saudade e o culto à memória dos que ajudaram a construir o Amazonas.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Genesino Braga (1906-1988): um apaixonado pelo chão e graça de Manaus

À esquerda, Genesino Braga (1906-1988). À direita, um de seus livros mais famosos, 'Chão e Graça de Manaus'.

No dia 06 de dezembro de 1906 nasceu em Santarém, no Pará, o acadêmico, cronista, jornalista e professor Genesino Braga (1906-1988), filho de Genésio dos Santos Braga e Silvina Pedroso Braga. Realizou seus primeiros estudos na cidade natal, concluindo-os em Belém. Aos 21 anos, em 1927, mudou-se para Manaus, conseguindo nesse ano seu primeiro emprego, o de repórter do Jornal do Commercio (MENDONÇA, 2020, p. 16-20). Uma de suas primeiras grandes reportagens foi a entrevista realizada com D. Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança (1875-1940) durante sua chegada à cidade, em 23 de maio daquele ano. O ilustre visitante disse estar maravilhado com os aspectos amazônicos que pôde observar durante a viagem.

Em 1930 passou a trabalhar como auxiliar de Gabinete no Palácio Negro. Nesse mesmo ano, em maio, foi nomeado pelo Interventor Federal Álvaro Botelho Maia (1893-1969) para o cargo de Praticante Interino do Arquivo, Biblioteca e Imprensa Pública. Assumiu a direção da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas em 1931, ficando à sua frente até 1965 (MENDONÇA, 2020, p. 25). Na madrugada do dia 22 de agosto de 1945 um incêndio de grandes proporções destruiu por completo o acervo da biblioteca. Coube a Genesino recuperá-la, reunindo livros de outros acervos da cidade e recebendo doações de várias partes do mundo, o que possibilitou que ela voltasse a funcionar pouco tempo depois, em 1947.

As décadas de trabalho nessa instituição ficaram refletidas em suas crônicas, livros e conferências, evidenciando o pesquisador metódico que foi, que dominava como poucos a historiografia regional, nacional e internacional, além das fontes, como os relatórios dos Presidentes da Província, os jornais do século XIX e também as memórias, as suas e as das pessoas que entrevistava. À pesquisa minuciosa unia a escrita leve, agradável. Seus textos eram sobre diversos assuntos relacionados, em sua maioria, à Amazônia, sobretudo sua História: costumes, reflexões, resenhas, biografias, datas comemorativas, construções, instituições, política e economia. Ao explicar o título de seu terceiro livro, Chão e Graça de Manaus, afirmou que o chão se referia à cidade, e a graça 

"[...] provém do quanto de fascinante, de poético, de sentimento e de beleza envolve aqueles episódios; e, ainda, nos modos de fraternizar, no encanto da hospitalidade, na sensibilidade artística e no requinte de civilização da nossa gente do passado, - em tudo o hálito de um clima espiritual que nunca envelheceu e não mudou, uma espécie de primavera cuja seiva o tempo não conseguiu estancar" (BRAGA, 1987, p. 14).

De acordo com Moacir Andrade, Genesino foi repórter do Jornal do Commercio de 1927 a 1930; Redator do mesmo jornal de 1931 a 1932; Diretor da Revista Mensal Cabocla de 1935 a 1950; e Redator Secretário do jornal A Tarde de 1937 a 1943 (ANDRADE, 1995, p. 75). Teve uma breve passagem pela política como Deputado Estadual, eleito para o quatriênio de 1935 a 1939, interrompido em 1937 pela instalação do Estado Novo. Foi membro fundador, em 1937, da Associação Amazonense de Imprensa (SOUZA, 1987, s. p.) e Presidente da Associação dos Funcionários Públicos.

Em fins da década de 1930 Genesino Braga já era considerado um dos intelectuais mais expressivos do Estado do Amazonas. O escritor espanhol Álvaro de Las Casas Blanco (1901-1950), de passagem por Manaus em 1938 para a realização de uma conferência, assim descreveu o panorama intelectual da época:

"Da Manáos que eu vi e vivi, devo confessar que em poucas cidades de quantas percorri na minha vida, encontrei um grupo de intellectuaes de tanta valia. Juristas como Sá Peixoto e Waldemar Pedrosa, poetas como Violeta Branca e Antony, oradores como Leopoldo Péres e Huascar de Figueiredo, chronistas como Aristophano Antony, Genesino Braga e Caio Góes, ensaistas como Clovis Barbosa e Ramayana de Chevalier, eruditos como Vivaldo Lima, historiadores como Arthur Reis e geographos como A. Bittencourt, ahi engrandecem a literatura brasileira com livros que não devem nem podem ser ignorados" (CASAS BLANCO, 1938, p. 111).

Genesino sempre procurou se especializar e se atualizar em sua área. Realizou em 1941 o curso de Biblioteconomia do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), no Rio de Janeiro. Em 1949 realiza novo curso de Biblioteconomia, dessa vez ofertado pela Biblioteca Nacional. Entre 1950 e 1951 faz uma especialização. O diploma de graduado em Ciências Biblioteconômicas conferido pela Biblioteca Nacional foi registrado no MEC em 1962.

Em 1951 fez parte da Delegação do Brasil à Conferência Regional dos Bibliotecários Profissionais da América Latina, promovida pela UNESCO e pela OEA e em 1954 integrou a Comissão Nacional de Bibliografia, formada pelo Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (SOUZA, 1987, s. p.).

Sua consagração intelectual se dá em 1951, quando foi eleito membro da Academia Amazonense de Letras. Na Casa de Adriano Jorge atuou como Secretário e Presidente, além de contribuir com sua revista em diferentes números, de 1955 a 1985.

Como professor, ministrou o curso de Biblioteconomia no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Na então Universidade do Amazonas, atual Universidade Federal do Amazonas (UFAM), foi docente do curso de Biblioteconomia, ministrando as disciplinas História do Livro e das Bibliotecas I e II e Paleografia e Arquivística (MENDONÇA, 2020, p. 70).

Publicou quatro livros: Nascença e Vivência da Biblioteca do Amazonas; Fastígio e Sensibilidade do Amazonas de Ontem; Chão e Graça de Manaus; e Assim Nasceu o Ideal. No primeiro, publicado em 1957, discorreu sobre as origens da Biblioteca Pública, desde seus primórdios enquanto uma simples sala de leitura criada em 1871. O trabalho seguinte, de 1960, é de caráter saudosista, relembrando o autor dos tempos de fausto e luxo proporcionados pela economia gomífera. No terceiro, publicado em 1975, reuniu as melhores crônicas que publicou no Jornal do Commercio sobre diferentes episódios da História da cidade. Em seu último livro, de 1980, narrou a história de um dos mais tradicionais e aristocráticos clubes de Manaus, o Ideal.

Entre 1958 e 1979 recebeu 17 condecorações. A primeira, de Sócio Benemérito do Atlético Rio Negro Clube, foi recebida em 8 de maio de 1958. Em fins de 1965 foi escolhido o Jornalista do Ano pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas, o sendo novamente em 1973. Antes, em 1970, recebeu do Governo do Pará a Medalha Cultural Paulino de Brito, do Conselho Estadual de Cultura. Em 25 de março de 1971 lhe foi concedida a Medalha do Mérito Jornalístico. No ano do sesquicentenário da Independência do Brasil, em 07 de setembro de 1972, recebeu do Governo Federal o diploma do Sesquicentenário. Nesse mesmo ano, através de portaria do dia 13 de outubro, o Ministério do Exército lhe conferiu a Medalha do Pacificador (MENDONÇA, 2020, p. 31-32).

A Associação Amazonense de Bibliotecários, em 19 de março de 1973, lhe outorgou o título de Sócio Benemérito. No ano seguinte, em 23 de abril, foi titulado Sócio Honorário da Associação dos Servidores Públicos do Amazonas (ASPA). Em 1975 aufere três medalhas: a da Ordem do Mérito Militar, em 06 de agosto; a Medalha de Honra Dom Pedro II, pelo Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), em 02 de dezembro; e a Medalha Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. Em 01 de maio de 1977 o Luso Sporting Club conferiu-lhe o título de Sócio Honorário. O Comando Militar da Amazônia, em 06 de janeiro de 1978, entregou o Diploma Concurso do Serviço Militar. Da Polícia Militar do Amazonas recebeu no mesmo ano a Medalha Tiradentes, por ocasião da homenagem ao líder da Inconfidência Mineira. As últimas medalhas foram recebidas em 1979, em Belém: a Ordem do Mérito do Grão-Pará, através de decreto de 14 de março, e a Medalha do Centenário 'A Província do Pará', conferida pelo periódico homônimo na mesma data (MENDONÇA, 2020, p. 32-36). 

Genesino Braga faz parte do hall de paraenses ilustres que entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX escolheram Manaus como local de moradia e trabalho, contribuindo para o engrandecimento da capital amazonense. O afamado intelectual partiu na manhã de 19 de junho de 1988, aos 81 anos, dos quais mais de 50 foram dedicados à pesquisa e à escrita. Foi um grande homem de letras, bibliófilo e cronista incansável, apaixonado que foi pelo chão e graça de Manaus.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


ANDRADE, Moacir. Antologia Biográfica de Personalidades Ilustres do Amazonas. Manaus: Imprensa Oficial do Estado, 1995.

CASAS BLANCO, Álvaro de las. Visão Intelectual de Manáos. Aspectos: Mensário de ciências, letras e artes. Rio de Janeiro, nov. - dez, n° 15, 1938, p. 109-112.

MENDONÇA, Manoel Roberto de Lima. As Artes de Genesino Braga. Manaus: s. n. 2020.

SOUZA, João Mendonça de. [orelha do livro]. In: BRAGA, Genesino. Chão e Graça de Manaus. 2° ed. Manaus: Imprensa Oficial do Estado, 1987.


CRÉDITO DAS IMAGENS:


Blog do Coronel Roberto.

Fábio Augusto, 06/12/2020.