quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Eduardo Gonçalves Ribeiro (1862-1900): Administração e Consagração

Eduardo Gonçalves Ribeiro (1862-1900). FONTE: Blog Catador de Papéis.

Na galeria de homens ilustres do Amazonas, que contribuíram de diferentes formas para o seu engrandecimento, tornando-o reconhecido no Brasil e no mundo, figura em destaque Eduardo Gonçalves Ribeiro (1862-1900), personagem marcante na História do Estado no final do século XIX e que até hoje é lembrado pelo empenho que teve em transformar o Estado em um dos mais prósperos do país.

Eduardo Gonçalves Ribeiro (1862-1900) nasceu na cidade de São Luís, na Província do Maranhão, em 18 de setembro de 1862. De origem humilde, fez seus primeiros estudos no Liceu Maranhense, onde fez o curso de Humanidades. Em seu tempo de estudante dirigiu um jornal conhecido como O Pensador, apelido pelo qual ficaria conhecido. Após concluir o ensino secundário, sentou praça no Rio de Janeiro em 1881, na Escola Militar da Praia Vermelha. "Em 1884, Ribeiro foi promovido a alferes-aluno e, em 1886, a 2° tenente de artilharia, bacharelando-se em Matemática e Ciências Físicas e Naturais em janeiro de 1887" (MESQUITA, 2019, p. 24).

Posteriormente foi transferido para o Amazonas, onde exerceu, primeiramente, o cargo de secretário do Comando das Armas. Quando da nomeação da Junta Governativa do Amazonas, em 21 de novembro de 1889, foi nomeado Oficial de Gabinete. No Governo de Augusto Ximeno de Vilerroy, primeiro Governador do Amazonas, foi, além de Oficial de Gabinete, Diretor de Obras Públicas. Com a saída de Vilerroy em 1890, é nomeado Governador do Estado pelo Governo Central, assumindo em 02 de novembro. Essa primeira administração vai até 05 de maio de 1891. Era, até aquele momento, a pessoa mais jovem a governar o Amazonas, tendo apenas 28 anos. Era também o primeiro negro a assumir um cargo tão importante. Em pouco tempo, entre outras coisas, aumentou as rendas públicas, decretou uma constituição provisória e diminuiu pela metade a dívida pública.

O governo central destituiu Eduardo Ribeiro de seu cargo, nomeando para o governo o Coronel Gregório Thaumaturgo de Azevedo, antigo governador do Piauí entre 26/12/1889 e 04/06/1890, que naquele momento encontrava-se em Recife. A notícia da destituição de Eduardo Ribeiro não agradou a população: "O povo, convocado em boletim, reuniu-se à tarde, em frente ao palácio, não consentindo que Eduardo Ribeiro deixasse a governança. Aclamou-o entusiasticamente. Os oradores sucederam-se em vários pontos da cidade, protestando contra o ato dos altos poderes da República, lavrando-se uma ata (1884-1891), que foi assinada por centenas de pessoas de todas as classes sociais" (REIS, 1989, p. 249).

Após a destituição de Gregório Thaumaturgo de Azevedo, em 1892, seu segundo mandato como Governador foi de 1892 a 1896. Nesse período, considerado o melhor da História do Amazonas, aproveitando o aumento das rendas públicas, dotou o Estado e, principalmente, a capital, de moderna infraestrutura. Dentre outras coisas, foi responsável por:

"Nivelamento e embelezamento de dois terrenos na cidade de Manaus; Abertura e nivelamento dos bairros novos da Cachoeira Grande e Cachoeirinha; Pavimentação com paralelepípedo de granito das praças da República e da Constituição; Pavimentação a paralelepípedo das ruas da Instalação, Municipal e plataforma da Catedral; Pavimentação a pedra tosca de várias ruas adjacentes; Construção da avenida Eduardo Ribeiro; Construção do jardim da praça da República; Construção do jardim e gradeamento da Catedral; Levantamento da planta cadastral da cidade; Edifício do Diário Oficial e respectivo jornal; Edifício do Instituto Benjamin Constant para órfãs; Seis escolas públicas primárias em Manacapuru, Humaitá e Lábrea; Reorganização radical do ensino no Ginásio e Escola Normal; ereção não terminada do Instituto dos Educandos; Reorganização da Biblioteca Pública; Criação de um hospício para alienados - Hospício Eduardo Ribeiro - sob direção das irmãs de Santa Ana; Ereção não concluída do Palácio do Governo; Novo edifício do Quartel do Regimento Militar do Estado; Teatro Amazonas; Reservatório de água do Mocó; Contrato de navegação para o Mediterrâneo, com escalas; Distribuição das terras baldias do Estado para cultivo; Abertura da Estrada Manas - Campos Gerais do Rio Branco; Pontes de ferro da Cachoeirinha e Cachoeira Grande; Pontes romanas da rua Municipal; Ponte de madeira no bairro da Cachoeirinha; Fonte monumental da praça 15 de Novembro; Iluminação elétrica a arco voltaico, a primeira implantada no Brasil; Telégrafo subfluvial; Projeto do Código de Processo Criminal" (MONTEIRO, 1990, p. 96-97).

De acordo com o historiador Luiz de Miranda Corrêa (1935-2019), Eduardo Ribeiro foi o Governador certo no momento mais próspero do Estado - enriquecido pela exportação da borracha - pois "[...] tinha o élan necessário para realizar a transformação que sonhava. Dos problemas de educação aos de urbanismo e paisagismo, sua presença se fazia sentir-se. Ele e seus auxiliares não se prenderam a soluções rotineiras. Eram do tipo de homens que não se intimidam e ousam inovar" (CORRÊA, 2012, p. 28).

Padecendo há tempos das faculdades mentais, o que fazia com que se consultasse frequentemente com médicos na Europa, faleceu em sua chácara, conhecida como Chácara Pensador, localizada na Estrada de Flores, cometendo suicídio na madrugada do dia 13 de outubro de 1900, sendo declarado morto na manhã de 14 de outubro. Tinha apenas 38 anos. 

Conforme pesquisa do jornalista Júlio Benevides Uchôa, o corpo foi recomendado pelo Monsenhor Benedito da Fonseca Coutinho, acompanhado de quatro padres agostinianos. Carregaram o caixão até o carro fúnebre o Coronel Afonso de Carvalho, Presidente da Assembleia; Porfírio Nogueira; Coronel Emídio Pinheiro, Comandante da Polícia; e o Desembargador Joaquim Lisboa. O carro estava ricamente decorado, com veludo preto com franjas prateadas e bordas brancas. Falaram à beira do caixão Porfírio Nogueira, Secretário do Governo, representando o Estado; Major Domingos Andrade, representante da Maçonaria; Alberto Leal, representante da colônia portuguesa; Barbosa Lima, representante do jornal Amazonas, que fazia forte oposição ao falecido; Coronel Afonso de Carvalho, representando o Congresso de Representantes e também opositor de Eduardo Ribeiro; Leonel Mota, representante da Loja Maçônica Esperança e Porvir; e José dos Anjos Traíra, representante da classe operária (UCHÔA, 1949).

O carro fúnebre saiu da chácara às 17:15, chegando ao cemitério às 18 horas. Seu enterro foi de uma grandeza jamais antes vista. Até aquele momento nada de igual tinha ocorrido na História do Estado do Amazonas. Quem recuperou esse momento foi o historiador Mário Ypiranga Monteiro no livro Negritude e Modernidade:

"Foi uma apoteose, ritual menos político do que espontâneo, que alvoroçou a população e levou-a em tumulto à distante Chácara Pensador. O governo pôs à disposição do público dez bondes sem ônus, que ficaram lotados e vieram deixar as centenas de passageiros na curva da via da Vila Municipal, ao lado do Cemitério de São João Batista. Além disso, a multidão que se comprimia nas cercanias da necrópole e de dentro só poderia explicar o grau de simpatia humana que aquele homem desfrutava" (MONTEIRO, 1990, p. 51).

O historiador João Felipe Gonçalves, pesquisador sobre a construção fúnebre de personagens da Primeira República, identificou algumas características que davam o tom cívico a esse tipo de funeral, contribuindo para a consagração de suas trajetórias:

"Longos cortejos com uma rígida ordem hierárquica, a assistência de numerosos populares e a participação de autoridades e pessoas de destaque [...] são os traços mais evidentes. Com maior ou menor concorrência, mas sempre com grande pompa, repetiam-se em todos os casos os luxuosos carros fúnebres, os carros com figuras importantes, as bandas militares tocando marchas fúnebres, os tiros de canhão dos navios e fortalezas, os batalhões militares em trajes de honra, os postes cobertos de crepe negro e as ruas repletas de populares" (GONÇALVES, 2000, p. 149).

O registro mais marcante sobre a consagração de Eduardo Ribeiro como personagem histórico, grande vulto amazonense, foi produzido em 1923 durante uma romaria de membros da colônia maranhense que vivia em Manaus ao Cemitério de São João Batista para visitar seu túmulo. Eduardo Gonçalves Ribeiro conseguiu um feito que poucos alcançaram: o de ser consagrado, ainda em vida, um vulto insigne da História, potencializado após a morte, tornando-se um símbolo da administração pública ideal, da superação e resistência.

Membros da colônia maranhense de Manaus ao redor do túmulo de Eduardo Gonçalves Ribeiro durante romaria ao Cemitério de São João Batista. FONTE: Revista Fon-Fon, RJ, 01/09/1923.

Busto de Eduardo Gonçalves Ribeiro localizado em seu túmulo no Cemitério de São João Batista. FOTO: Roberto Mendonça, 2012.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


CORRÊA, Luiz de Miranda. O Nascimento de uma Cidade: Manaus 1890 a 1900. 2° Ed. Manaus: Academia Amazonense de Letras/Governo do Estado do Amazonas - Secretaria de Estado de Cultura, 2012.

GONÇALVES, João Felipe. Enterrando Rui Barbosa: um estudo de caso da construção fúnebre de heróis nacionais na Primeira República. Estudos Históricos. Vol. 14, n° 25, p. 135-161, 2000.

MESQUITA, Otoni Moreira de. Eduardo Ribeiro (1862-1900) – O artífice da cidade. In: UGARTE, Auxiliomar Silva (org.). Trajetórias políticas na Amazônia Republicana. Manaus: Editora Valer, 2019.

MONTEIRO, Mário Ypiranga. Negritude e Modernidade: A trajetória de Eduardo Gonçalves Ribeiro. Manaus: Governo do Estado do Amazonas, 1990.

REIS, Arthur Cezar Ferreira. História do Amazonas. 2° Ed. Belo Horizonte: Itatiaia; Manaus: Superintendência Cultural do Amazonas, 1989.

UCHÔA, Júlio Benevides. Eduardo Ribeiro, o Construtor de Manaus. O Jornal, 14/10/1949.

sábado, 25 de setembro de 2021

Cemitério de São João Batista: Jazigo da Família Salem José

Jazigo da família Salem José, no Cemitério de São João Batista, em Manaus. FOTOS: Fábio Augusto de C. Pedrosa, 2019.

O jazigo da família Salem José está localizado na quadra 08 do Cemitério de São João Batista, em Manaus. Ele possui a escultura de um cachorro que chama bastante atenção dos frequentadores. Essa peça possui uma interessante História como veremos a seguir...

Em 1953 o jovem Waldemar Salem José, conhecido como Vavá, morre após sofrer um acidente de carro na rua Recife, no bairro Parque 10 de Novembro. Seu animal de estimação, o cachorro Douglas, passou a viver no jazigo da família desde que seu dono foi sepultado. Familiares contam que os dois possuíam uma ligação muito forte:

"Eles eram apaixonados e companheiros. Tio Vavá era um playboy da época, mas com um coração enorme, contava a minha mãe. Ele era o caçula e o segundo filho homem entre várias irmãs. Ele pegou o Douglas para criar bem pequeno e foi uma amizade que só quem tem um companheiro assim sabe".

A administração do cemitério o retirou do local algumas vezes, mas ele sempre voltava. De acordo com sobrinhos de Waldemar, ele se recusava a comer e beber, e acabou falecendo no local. Em sua homenagem, Odete Salem, irmã de Waldemar, mandou fazer, entre 1954 e 1955, uma escultura em bronze e em tamanho natural do fiel amigo de seu irmão.


Convite para a missa de 1° aniversário de falecimento de Waldemar Salem José. FONTE: Jornal do Commercio, 18/09/1954.



sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Projeto ACA

Os membros do LABUHTA (Laboratório de Estudos sobre História Política e do Trabalho), laboratório do curso de História da Universidade Federal do Amazonas, estão desenvolvendo um importante projeto de digitalização dos documentos da ACA (Associação Comercial do Amazonas), uma das mais antigas instituições do Amazonas, criada em 1871. Essa iniciativa é digna de todo reconhecimento da sociedade, pois visa a preservação de um valioso acervo para a reconstituição da História do nosso Estado. Os pesquisadores, para angariar fundos para a compra de equipamentos, estão realizando uma rifa que tem como prêmio 12 livros de História. Ela custa 3,00 reais.

A rifa pode ser comprada pelo Pix 012.972.592-70 e entrando em contato através dos números 98241-5531 e 98439-6859.






domingo, 12 de setembro de 2021

Caram Abrahim & Cia, em Manaus

Prédio da firma Caram Abrahim & Cia. FOTO: Fábio Augusto, 2021.

Caram, Abrahim & Cia é um dos estabelecimentos comerciais mais tradicionais da cidade de Manaus, localizado na rua Barão de São Domingos, n° 60, no Centro. Propriedade da família Caram Abrahim, de origem sírio-libanesa, foi fundada pelo empresário Caram Abrahim, antigo sócio da firma Abrahim, Irmão & Cia. Caram saiu dessa empresa em 03 de março de 1939, conforme registrado em anúncio publicado no Jornal do Commercio:

"Communico ao commercio e ás repartições publicas, que tendo me retirado da firma commercial Abrahim, Irmão & Cia, da qual era sócio, estabeleci-me na rua Barão de São Domingos, n. 60, com o commercio de estivas, sob a firma de Caram Abrahim & Cia, da qual faz parte como socia solidaria a sra. d. Helena Abrahim, conforme contracto archivado na Junta Commercial. Manáos, 3 de março de 1939. Caram Abrahim" (Jornal do Commercio, 04/03/1939, p. 02).

A sócia, Helena Abrahim, era esposa de Caram Abrahim. Especializada, atualmente, em ferramentas e utilidades, iniciou suas atividades em 1939 como armazém de estivas, ferramentas e miudezas, também comprando e exportando produtos como borracha, cacau e castanha.

Anúncio de Caram Abrahim & Cia. FONTE: Jornal do Commercio, 02/01/1945.


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Kikão, um sanduíche que tem História

Kikão, o sanduíche mais famoso de Manaus. FONTE: viptable.com.br

No dia 09 de setembro é comemorado o dia internacional do cachorro-quente. Nós amazonenses temos nossa própria variação desse lanche: o kikão, que possui uma interessante História, como veremos a seguir...

O Kikão é talvez o sanduíche mais famoso de Manaus, possuindo diferentes variações na cidade, atendendo a todos os gostos e bolsos. Pode ser o kikão de festa, com salsichas cortadas para render; o kikão com o pão chapado, vendido a 4 unidades por 10 reais; ou o kikão mais refinado, dito gourmet, com salsichas artesanais.

O tradicional possui receita simples. Não tem mistério. Molho de tomate, creme de leite, verduras (cebola, milho, ervilha e repolho), ketchup, maionese, queijo ralado e batata palha. O pão é o massa fina, mas não tem problema se usar o massa grossa, pois fica bom do mesmo jeito. Qual a origem dessa iguaria? O Kikão é uma iguaria de quase 50 anos de idade. Em julho de 1974 o casal de gaúchos Alceu Thomaz Pereira e Cândida Dorneles inauguraram, na Praça da Polícia, em frente ao Colégio Amazonense Dom Pedro II, o "carro-bar Kikão", onde vendiam o lanche que trouxeram do Sul do país. O colunista social Nogar, do Jornal do Commercio, assim descreveu a inauguração do empreendimento:

"Meu amigo Alceu Thomaz Pereira inaugurou em frente ao Colégio Estadual do Amazonas o luxuoso carro-bar Kikão, que serve refrigerantes super-gelados, sanduíches, empadas e o delicioso Ki-kão, além de outras guloseimas, primando pela higiene e limpeza. Tratamento fidalgo!" (NOGAR, Convivência Social. Jornal do Commercio, 06/07/1974, p. 10).

E o nome Kikão? Qual sua origem? A filha do Sr. Alceu, Dr. Marcia Gabrielle Pereira, explica que quando ele abriu o primeiro lanche, na Praça da Polícia, tinha em mente dar um nome que representasse a expressão "que cão", em referência à salsicha do lanche (semelhante em comprimento ao cachorro da raça dachshund, o popular cachorro salsicha). A expressão Que Cão não seria chamativa. Dessa forma, decidiu escrever Kikão, com dois 'k', propositalmente.

Kikão do Largo de São Sebastião. Foto de 1975-76 de Ricardo Conte.

Posteriormente o Sr. Alceu, em companhia de sua nova esposa, dona Maria Júlia Lucena, mudou-se para o Largo de São Sebastião, na esquina da rua José Clemente com a Costa Azevedo, em frente à escola de inglês Yazigi, aí ficando até o início da década de 1990. Não demorou para que, em pouco tempo, começassem a surgir, em diferentes pontos da cidade, carrinhos e trailers especializados na venda desse lanche, utilizando o nome criado pelo casal de empresários gaúchos.

Deve-se destacar que o "cachorro-quente" já era vendido em Manaus pelo menos desde a década de 1960, mas diferente do norte-americano, era preparado com pão massa grossa e carne moída temperada. A novidade trazida pelo casal gaúcho, além do nome Kikão, foi a salsicha no lugar da carne moída e os outros acompanhamentos, que até hoje se fazem presentes.

Alceu Thomaz Pereira faleceu em 04 de fevereiro de 2021, aos 71 anos. Deixou uma legião de fãs apaixonados por sua deliciosa e marcante criação.

Alceu Thomaz Pereira (1949-2021). Foto da família.



terça-feira, 7 de setembro de 2021

Play Center, em Manaus

Play Center. FONTE: A Notícia, 26/08/1981 - Instituto Durango Duarte.

Antes do surgimento do primeiro shopping da cidade, o Cecomiz (Centro Comercial da Indústria da Zona Franca), Manaus teve, entre 1981 e 1986, um moderno espaço de lazer: o Play Center. Ele foi uma casa de diversões que ficava localizada entre as ruas Ramos Ferreira e Tapajós, no Centro. Primeira do gênero na região Norte, foi inaugurada em 26 de agosto de 1981 pelo casal de empresários Francisco e Lola Boscá. 

Pista de patinação do Play Center. FOTO: Paulo José Romário.

Contava com uma pista de patinação, sorveteria, lanchonete, fliperama, restaurante e adega. Fez bastante sucesso, atraindo jovens e adultos, contando sempre com a presença dos alunos do Instituto Benjamin Constant, do Instituto de Educação do Amazonas (IEA) e da Escola Estadual Antenor Sarmento. Encerrou suas atividades em 1986 após ser destruído por um incêndio em 18 de novembro daquele ano.



segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Bar Avenida, em Manaus

Bar Avenida, 1938. FONTE: Revista Rionegrino, nov. 1938, p. 05.

O Bar Avenida estava localizado na Avenida Eduardo Ribeiro, esquina com a rua Saldanha Marinho, no Centro de Manaus. Foi um dos principais points da boemia manauara do século XX. Nele se reuniam estudantes, intelectuais, jornalistas e políticos em busca de bebidas, refeições e diversão. Sua inauguração ocorreu em 01 de outubro de 1938, sendo seus proprietários Fonseca & Cia e o gerente Waldemiro Lustosa. Ele foi instalado no prédio em que funcionou, no início do século XX, o Hotel Restaurant Français. A Revista Rionegrino, por ocasião de sua inauguração, o descreveu como um "estabelecimento de primeira ordem, obedecendo os requisitos de hygiene e conforto, num local bem situado, o novo Bar está apto a satisfazer as exigências do publico manauense, com os seus serviços os mais aperfeiçoados no genero" (REVISTA RIONEGRINO, NOV., 1938, p. 05). No dia 04 de fevereiro de 1939 foi colocado no salão principal um quadro de Getúlio Vargas. Na ocasião discursaram autoridades civis e militares. Em 08 de abril de 1939 foi inaugurado um moderno refrigerador elétrico automático da marca Norge. 

Os anúncios da década de 1940 o descreviam como um estabelecimento especialista em leite, sorvete, chocolate, nescau, doces finos, sanduíches, canjas, frangos assados, frios, bebidas finas, artigos de mercearia e confeitaria. Possuía, ainda, uma cozinha americana à minuta (JORNAL DO COMMERCIO, 14/12/1944, p. 03). Nele eram realizados grandiosos almoços e jantares de aniversário, recepções de visitantes ilustres e políticos. Assim como outros bares da cidade, era palco de brigas com direito a "cadeiradas e garrafadas no ar" (JORNAL DO COMMERCIO, 31/10/1947, p. 04). O historiador Aguinaldo Nascimento Figueiredo descreve o funcionamento do Bar Avenida da seguinte forma: 

"A rotina do Avenida se iniciava no final da tarde, quando grupos de políticos, de intelectuais e de gente importante da cidade se reunia nas mesinhas de tampo de mármore e cadeiras de madeira para bater papo e degustar seus quitutes como a isca do legítimo "queijo bola" português, bolinhos de bacalhau, cerveja "casco escuro" e um tira gosto muito especial feito de chouriço que era esquentado numa pequena trempe com álcool no balcão mesmo, na frente do freguês" (FIGUEIREDO, 2021, p. 44).

Fonseca & Cia foram seus proprietários até 1944, quando ele foi adquirido por Júlio Rodrigues Fernandes. De acordo com o historiador Aguinaldo Nascimento Figueiredo, Júlio Rodrigues dividiu o espaço do bar em duas partes, instalando em uma delas a Confeitaria Avenida, "especialista em doces finos e os deliciosos bolos, se destacando entre eles o Inglês, o Mármore e o Amanteigado, mas o carro chefe da casa era o não menos famoso Bolo Rei" (FIGUEIREDO, 2021, p. 48).

Júlio Rodrigues esteve à frente do negócio até 1952, ano em que vendeu o bar para Giovanni Meneghini, seu último proprietário. Além de bar, também funcionava como hotel. Em 1955 passou por reformas internas para melhor acomodar seus hóspedes. O político e escritor Jefferson Péres recuperou uma interessante história ocorrida no bar na administração desse proprietário. Ele não gostava da presença de engraxates em seu estabelecimento, os expulsando com violência e humilhação verbal. Um dos frequentadores, Alfredo Aguiar, Inspetor da Alfândega e "valentão" conhecido na cidade, não gostando do tratamento dado a esses trabalhadores, em sua maioria menores de idade, vingou-se encomendado um grande jantar para 30 ou 40 pessoas. Meneghini, acreditando tratar-se de um evento para pessoas ilustres, organizou o bar e preparou um enorme banquete. No dia do jantar, para a sua surpresa, os convidados de Alfredo Aguiar eram os engraxates, que logo tomaram seus lugares à mesa, deliciando-se com a refeição. O dono cobrou o dobro do valor, pago com satisfação por Alfredo (PÉRES, 2002, p. 131). Em matéria de 1957 o articulista do Jornal do Commercio registrou que existia na entrada do bar um aviso proibindo a entrada dos engraxates (JORNAL DO COMMERCIO, 30/10/1957, p. 10). A partir da década de 1960 o bar passou a trabalhar não só com a cozinha americana, mas também com a italiana e a regional.

O Bar Avenida fechou suas portas em 10 de novembro de 1968, após 30 anos de funcionamento, dando lugar a uma agência do Banco Mineiro do Oeste, posteriormente banco Bradesco (O JORNAL, 12/11/1968).

Salão principal do Bar Avenida, 1938. FONTE: Revista Rionegrino, nov. 1938, p. 05.

FONTES:

Revista Rionegrino, nov. 1938.

Jornal do Commercio, 05/02/1939.

Jornal do Commercio, 14/12/1944.

Jornal do Commercio, 31/10/1947.

Jornal do Commercio, 30/10/1957.

O Jornal, 12/11/1968. (Instituto Durango Duarte).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


FIGUEIREDO, Aguinaldo Nascimento. Nos caminhos da alegria: roteiro histórico e sentimental da boemia de Manaus. Manaus: edição do autor, 2021.

PÉRES, Jefferson. Evocação de Manaus: como eu a vi ou sonhei. 2° ed. revista e ampliada. Manaus: Editora Valer, 2002.