Ruínas romanas. Giovanni Paolo Panini, século XVIII.
Os
termos abaixo são de essencial importância para a compreensão
histórica e social do Império Romano. Eles foram retirados do livro
O Império Romano (1993), do historiador e latinista francês
Pierre Grimal. O glossário foi entregue aos alunos da graduação de
História da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), sob o comando
da professora de História Antiga II, Maria Eugênia Matos.
Academia:
Jardim sagrado do herói Akadêmor, nos arredores de Atenas. Era
ali que Platão, e depois os seus discípulos, ministravam o seu
ensino.
Apocoloquintose:
Esta palavra significa <<transformação em abóbora>>.
Paródia da palavra (e da noção) de apoteose. Título de uma sátira
redigida por Sêneca em 54, destinada a ridicularizar Cláudio, que
acaba de morrer e é divinizado e, sobretudo, a prometer aos
senadores que o jovem Nero não cometerá os excessos de que o Senado
se queixara no reinado anterior.
Apoteose:
Reconhecimento oficial, pelo Senado, da divinização de um
imperador defunto. Origina, em cada caso, a organização de um
culto, com um clero especial, e, muitas vezes, a construção de um
templo consagrado ao novo deus.
Auctoritas:
O fato de uma pessoa ou um grupo constituído possuir a eficácia
necessária para assegurar o sucesso de uma empresa projetada. Assim,
o Senado garante que determinada lei, apresentada ao povo, será boa.
Autoridade moral.
Casa
das Vestais: Edifício de peristilo existente no Fórum
Romano, perto do Templo de Vesta. Ali se alojava o Colégio das
Vestais (em número de sete durante o Império). Esta casa, muito
aumentada com o decorrer dos séculos, remonta, no seu estado atual,
ao reinado de Sétimo Severo.
Cicerianismo:
Nome dado por S. Jerônimo à cultura pagã, simbolizada pela
obra de Cícero, em que a preocupação com a forma literária
prevalece sobre o conteúdo do pensamento.
Comícios
curiata: A mais antiga assembleia, formada por membros
das cúrias e representando o populus, fonte de poder, exatamente
como o Senado. São estes comícios que conferem o imperium,
primeiro aos reis, depois aos magistrados saídos da realeza,
cônsules e pretores. Também tratam de casos de adoção. A sua
natureza é de essência religiosa.
Congiário:
Distribuição ao povo de vinho, trigo, azeite, etc. Por
extensão, distribuição de dinheiro. Quando se trata de dinheiro
dado aos soldados também se emprega o termo donativum.
Constituição
serviana: Organização da cidade atribuída ao rei
Sérvio Túlio, no século VI a.C. Divisão dos cidadãos em cinco
classes censitárias, estas mesmas divididas em centúrias, em função
do seu papel no exército.
Cônsul:
Nome de dois magistrados supremos saídos do desmembramento do
poder real, em 509 a.C. Estes magistrados ficaram inicialmente
conhecidos por praetores (de prae-ire, ir à frente,
preceder); a palavra cônsul realça a ideia de deliberação
e também de previdência, de desígnio cuidadosamente premeditado.
Os cônsules, primeiramente escolhidos pelos patrícios, possuem o
imperium. Cada um deles tem o direito de se opor a uma decisão
do outro.
Cúria:
Na Roma arcaica, divisão do corpo dos cidadãos, espécie de
<<paróquias>> que os reúnem. Havia dez cúrias por
tribo. Por extensão, local onde se reúne uma cúria. Por fim, a
cúria por excelência é o local onde se reúne o senado. É o
sentido da palavra na época clássica e durante o Império.
Cursus
honorum: Série de magistraturas que um Romano devia
exercer no âmbito das instituições, antes de atingir o consulado.
São a questura, a edilidade (patrícia ou plebeia), o tribunado da
plebe (para os plebeus), a pretura, o consulado. Deve haver um
intervalo de dois anos entre duas magistraturas consecutivas, de tal
modo que, durante a República, não se podia ser cônsul antes dos
quarenta e um anos. Durante o Império, o cursus devia ser precedido
por um serviço militar e uma magistratura menor, seguindo-se a
questura exercida aos vinte e cinco anos, dois anos mais tarde a
pretura, e o consulado aos trinta e dois anos. A censura não está
integrada no cursus.
Digesto:
Coletânea de textos provenientes das obras dos jurisconsultos,
criada em 533, por ordem de Justiniano.
Dioniso:
Também chamado Baco (Bacchus em terras latinas). Assimilado ao
itálico Liber Pater. Divindade grega da vegetação, em particular
da vinha e, por conseguinte, do vinho. Preside ainda à fecundidade
animal e humana. É apresentado rodeado de sátiros e de Bacantes (ou
Ménades). O seu culto está na origem da tragédia. Uma lenda muito
tardia apresentava-o como um triunfador vindo dos confins da Índia,
onde teria sido educado pelas Ninfas, no monte Nisa. A sua presença
na Grécia é muito remota, segundo a confirmação.
Donatismo:
Cisma da Igreja Cristã de África, formada em redor do bispo de
Cartago Donat (312). A questão estava em saber se seria necessário
excluir aqueles que haviam traído a fé divulgando os livros
sagrados durante a perseguição de Diocleciano. Donat e os seus
partidários recusavam-se a admiti-los na Igreja. O donatismo foi por
diversas vezes condenado, por um sínodo, depois por um concílio
gaulês, finalmente por Constantino, mas os donatistas resistiram até
ao fim da África Romana (invasão dos Vândalos, em 429).
Epicuristas:
Discípulos do filósofo Epicuro (341-270). Nascido em Samos,
ensinou em Atenas uma doutrina materialista, baseada numa física
atomista. Mas a sua preocupação principal não consiste em fornecer
uma explicação do mundo; é essencialmente moral. Trata-se de
assegurar a felicidade dos homens. O Bem supremo é o prazer, menos o
dos sentidos do que a tranquilidade da alma, isto é, a ausência de
perturbações (ataraxia). Epicuro acredita que a alma humana é
inteiramente material e que não contém nenhuma possibilidade de
sobrevivência. Os relatos referentes ao além-túmulo não passam de
fábulas ilusórias. Para ele, os deuses existem, mas só comunicam
conosco através do sonho e não intervêm no comportamento do mundo
nem nos assuntos humanos.
Filosofia
do Jardim: Nome muitas vezes atribuído ao epicurismo,
desde que o fundador da escola, Epicuro, se instalou num parque que
comprara nos arredores de Atenas.
Gens:
Grupo social que, na Roma arcaica, se considerava descendente de
um antepassado comum. Com o decorrer do tempo, a gens dividiu-se
em familiae, cada uma delas caracterizada por um cognomen
(apelido) hereditário (por exemplo os Cornelli: além dos
Cornelli Scipiones, existiam Cornelli Cethegi, Cornelli Lentuli,
etc.). Mas entre os diferentes ramos subsistia um laço místico, o
sentimento de um parentesco profundo.
Humanitas:
Noção (a palavra deriva de homo, ser humano) que implica
o reconhecimento das particularidades espirituais próprias do ser
humano e, consequentemente, o respeito deste pelo outro. Esta noção
parece ter existido, em Roma, antes da influência dos filósofos.
Está implícita nas formas mais arcaicas do direito, em particular o
ius gentium, que reconhecia direitos aos não-cidadãos.
Idos:
Divisão do mês. O primeiro dia do mês tem o nome de calendas.
Seguem-se as nonas, que são a 7 de Março, de Maio, de Julho e de
Outubro, e a 5 nos restantes meses. Os idos, que são a 15 nos meses
de Março, Maio, Julho e Outubro, e a 13 nos outros meses. As datas
formulam-se em função dos dias que faltam para uma destas
referências. Assim, diremos: o 5 antes das calendas (ou, mais
frequentemente: o 5 das calendas), o 3 das nonas (o mesmo que o 5 ou
o 3 consoante o mês).
Intercessio:
Direito reconhecido aos tribunos da plebe que podem vetar as
decisões de um magistrado, seja este quem for, e mesmo,
eventualmente, de um senátus-consulto. Por este ato, o tribuno
interpunha-se entre o magistrado e o cidadão em causa. O
objetivo consistia em subtrair os cidadãos às arbitrariedades.
Ísis:
Divindade egípcia, mulher de Osíris. Como este tivesse sido
condenado à morte por Tifão (o deus das trevas) e o seu cadáver
cortado em pedaços, Ísis tentou reconstituí-lo e restituiu-lhe a
vida. Ísis é uma divindade do mar. Dedicaram-lhe um culto em todo o
contorno do Mediterrâneo, em particular na Campânia, por onde
penetrou no mundo itálico. Teve um templo no Campo de Marte. O seu
culto é assegurado por um clero sujeito a obrigações muito
precisas (vestes de linho, sem nenhuma matéria de natureza animal,
alimentação, etc.), que cumprem cerimônias diárias. A religião
isíaca parece ter exercido uma grande atração sobre as mulheres.
Ius
Fetiale: Os Feciais eram um colégio de dois
sacerdotes encarregados das relações, de ordem religiosa, com os
povos estrangeiros. Estavam encarregados, em particular, de proceder
às declarações de guerra, mas também da conclusão dos tratados
de paz. O <<chefe>> dos Feciais usava o nome de Pater
patratus. O conjunto das regras que presidia às suas atividades
era o ius fetiale.
Jogos:
Tradição itálica muito antiga, muito viva entre os Etruscos,
em que dançarinos e mimos estão encarregados de evocar todo um
mundo místico e, ao mesmo tempo, de provocar a alegria, o prazer de
viver. Este cortejo forma-se para os funerais. Mas existem jogos em
honra de todas as divindades (Flora, etc.). As divindades satisfeitas
só podem ser favoráveis aos mortais. Havia jogos que consistiam em
corridas de cavalos, de carros, que exaltavam uma religião da
Vitória. Os Jogos da Vitória de César tinham por desígnio
agradecer às divindades, saudar o novo deus e acompanhá-lo
alegremente na subida ao céu.
Larário:
Capela onde, em cada casa, se colocam as estatuetas representando
as dividades que as protegem. Estas divindades começam por ser os
Lares, antiga palavra etrusca que designava os <<Senhores>>,
e depois todas aquelas por quem os habitantes da casa sentem uma
devoção em particular. Esta capela encontrava-se, em geral, no
tablinum (o compartimento que se abria ao fundo do atrium),
e muitas vezes também na cozinha.
Legião:
O termo significa um corpo de tropas formado entre os cidadãos
(e só estes). Durante a República, compreende 4.200 homens; a
partir de C. Mário (pelo ano 100. a.C.), é de 6.000 homens. A
legião está dividida em centúrias reunidas duas a duas num
manípulo. Desenvolve-se em três linhas: à frente, os hastati,
seguem-se os príncipes, e, por fim, na terceira fila, os
triarii. Importa acrescentar os vélites, mal armados e que
combatem foram da legião assim formada, e uma cavalaria legionária
de 600 homens.
Libertas:
Palavra que designa a República, durante o Império.
Liceu:
Pórtico consagrado a Apolo Liciano, em Atenas, e o ginásio
contíguo, onde ensinaram Aristóteles e os discípulos. A doutrina
do Liceu é o aristotelismo.
Liga
Acaica: Confederação que compreende cidades do
Peloponeso (na Acaia), depois da conquista macedônica, na segunda
metade do século IV a.C. A capital é Corinto. As cidades acaicas
eram hostis a Esparta, que favoreciam os Romanos. Mummius obteve uma
vitória decisiva contra a Liga em Leucóptera, em 146. Corinto,
capital da Liga, foi tomada e pilhada.
Limes:
Literalmente <<passagem>> entre dois campos. Depois,
zona defensiva estabelecida ao longo de uma fronteira em que
consistia numa estrada paralela à linha de combates que ligava entre
si fortalezas e campos. Base de partida para uma defesa efetiva.
Existia um limes ao longo do Reno, outro na Síria, outro em
África, etc.
Livros
Sibilinos: Coletânea de receitas religiosas e mágicas
encontrada, segundo constava, na sepultura do rei Numa, em Roma.
Atribuída à Sibila de Cumes, personagem meio lendária. Conservada
por um colégio de dez sacerdotes, era consultada em caso de crise ou
quando se produzia algum prodígio. Augusto mandou encerrá-la no
pedestal do Apolo Palatino.
Municípios:
Cidades já existentes antes da conquista romana e que conservam
as suas instituições tradicionais ou às quais foram atribuídos
magistrados e assembleias análogas às de Roma. Na prática,
designam-se por municípios as cidades de direito latino, que não
possuem o direito de cidade romana, mas uma forma inferior. Só os
magistrados destas cidades recebem o título de cidadão romano.
Olimpianos
e Titãs: Antiga lenda, decerto vinda do Oriente,
recolhida por Hesíodo na Teogonia. Os Titãs, nascidos da
união do Céu (Urano) e da Terra (Gaia), personificam forças
naturais. São em número de seis, com seis Titânides. O mais novo é
Cronos, que será o pai de Zeus, origem dos Olimpianos. Os Titãs
revoltar-se-ão contra Zeus, que os precipitará no Tártaro.
Ordo
senatorius: Classe de cidadãos formada por pessoas
que possuem o censo senatorial, isto é, a fortuna necessária para
serem senadores; mas esta situação não dá lugar à entrada no
Senado.
Otium:
O fato de não sofrer nenhum constrangimento, nenhuma obrigação.
Lazer (o contrário é negotium, <<negócio>>).
Designa a paz no conjunto da cidade.
Poder
tribunício: Conjunto dos poderes pertencentes aos
tribunos da plebe, essencialmente a sacrossantidade e o direito de
intercessio.
Pontifex
Maximus: Sumo Pontífice, presidente do colégio dos
pontífices, sacerdote de caráter arcaico, de origem e de funções
obscuras. O Sumo Pontífice é eleito pelo povo, por toda a vida.
Mora numa residência oficial, a Domus Publica, perto da Casa
das Vestais. Controla o conjunto da religião, o que lhe confere um
grande poder. Exerce uma autoridade absoluta no Colégio das Vestais.
Pretor:
Magistratura desligada do consulado, a partir de 367 a.C., quando
foi criado um pretor urbano, encarregado de <<dizer o direito>>
na cidade (a urbs). Em 242 é criado um praetor peregrinus,
cuja jurisdição se estende aos estrangeiros residentes em Roma
(peregrini). Os pretores possuem o imperium, o que lhes
confere o direito de promulgar editos (ius edicendi). A partir
de 227, os pretores, eleitos para este fim, são encarregados de
governar províncias recém-criadas. A partir de César, os pretores
serão em número de dezesseis.
Procônsul:
Cônsul prorrogado na sua magistratura e encarregado do governo
de uma província.
Propretor:
Pretor prorrogado, ao terminar o cargo, e a quem é confiado o
governo de uma província.
Província:
A palavra designa, em primeiro lugar, uma missão, de uma ordem
qualquer, da qual é encarregado um magistrado, e depois, mais
particularmente, o território no qual é exercida esta missão.
Durante a República, um general vencedor tem como <<província>>
o território que conquistou; com a ajuda de uma comissão
senatorial, e sob o seu controlo, fica encarregado de estabelecer a
lex provinciae, o estatuto jurídico da sua <<província>>.
Queruscos:
Povo germano estabelecido na região do Hesse.
Quirites:
Nome dado aos cidadãos romanos de condição privada. Opõe-se a
milites (soldados). Segundo a tradição, foram primeiramente
designados Sabinos, vindos da cidade de Cures e estabelecidos em Roma
no tempo do rei Numa.
Res
Gestae: Literalmente, <<ações cumpridas>>.
Augusto estabelecera ele próprio o balanço da sua ação, capítulo
por capítulo, e este texto foi afixado em frente do seu mausoléu,
no Campo de Marte, por volta do ano I d.C. Contém uma justificação
da sua política, desde a tomada do poder. A inscrição comportava
uma versão em língua latina, outra em língua grega. Foi descoberto
um exemplar em Ankara, a antiga Ancira. Tinham sido enviadas réplicas
para todas as grandes cidades do Império.
Sacrossantidade:
Caráter inviolável da pessoa de um magistrado, em princípio,
durante a República, um tribuno da plebe. Qualquer tentativa de
violência para com um tribuno coloca o culpado fora da lei.
Saepta:
Conjunto de recintos ao ar livre, destinados a reunir,
materialmente, por unidades de voto, os eleitores que, em seguida,
passavam um a um sobre uma ponte para depor o seu boletim de voto.
Dizia-se saepta ou, por vezes, ovilia, redis de
carneiros.
Senátus-consulto:
Decisão tomada oficialmente pelo Senado para resolver um
problema particular como, por exemplo, tomar medidas policiais, cuja
responsabilidade nenhum magistrado queria assumir. Estas medidas não
podiam ser contestadas tão facilmente como o seria a decisão de um
magistrado.
Sumo
Pontífice: Ver Pontifex Maximus.
Tabularium:
Grande monumento, ainda existente, destinado a guardar os
arquivos oficiais (as tabulae, as tábulas), construído no
tempo de Sila entre o Capitólio propriamente dito e o Arx, a
Cidadela, fechando assim a depressão existente entre os dois cumes
da colina.
Término:
Divindade que assegura o caráter sagrado e inviolável dos
limites legalmente estabelecidos: de uma propriedade privada, de uma
fronteira, etc. O deus é figurado por uma pedra solidamente fixada
ao solo.
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